quarta-feira, novembro 30, 2005

Fernando Pessoa II

Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.

Alberto Caeiro

Fernando Pessoa (13/06/88 – 30/11/35)

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

Representações do Porto

Cidade do Porto, dedicada ao Brigadeiro Sir Nicolao Trant, George Balck, 1813


Cais da ribeira do Porto no início do último quartel do século XIX


Paisagem do Douro, Simão César Dórdio Gomes, 1936.


terça-feira, novembro 29, 2005

Tantas voltas para dizer tanta merda…

Não entendo como dão espaço a gente desta. Mais valia aluga-lo ao «senhor desejado», e colar, semanalmente com a nova crónica, o novo poster aprovado nos gabinetes de decisão estratégia (tu, Lomba, esta semana colas lá no DN a foto onde o Cavaco está ainda sem cabelos brancos, tá… para dar-lhe aquele ar de cinquentão, tas a ver…é para o contraste com o Soares...).

Haja vergonha. E assina este tipo como «geração de 70» (ou algo parecido). Eu sou de 74, e desassocio-me, total e publicamente, desse gajo.

O fim de um ciclo. 25 de Novembro.


Meus amigos, na noite de 25 de Novembro acabámos o nosso ciclo 30/25. Propusemos novas leituras, reflexões e caminhos para os acontecimentos de Novembro de 1975, há 30 anos portanto, e que tanto ajudaram a moldar a nossa contemporaneidade.
Foi, no meu ponto de vista, um sucesso. Se há dois ou três meses me dissessem que iríamos organizar algo com o António Reis, Sottomayor Cardia, Anacoreta Correia, Luis Fazenda, Inácia Rezola, Maria Manuela Cruzeiro, Carlos Brito, Pezarat Correia, Loureiro dos Santos, Isabel do Carmo, Duram Clemente, Tiago Moreira de Sá, António Costa Pinto, Vitor Alves, Avelino Gonçalves, José Manuel Barroso, António Louçã, Cistina Sizifredo, Diogo Moreira e Ricardo Revez (sem esquecer os moderadores: Luis de Sousa, Paulo Dias, Joao Mário Mascarenhas, Vicente Paiva Brandão, Ricardo Fresco – um abraço amigo – e a Rita Castel-Branco). Eu diria para não brincassem.

Se me dissessem que desta gente viriam uns do Algarve, de Coimbra, do Porto; eu diria: para nós? Não me parece…

Se, há dois ou três meses me dissessem que iríamos sair no Público, Visão, Sábado, Expresso, Bloguítica, Bicho Carpinteiro, Acidental, Independências, Correio-mor, Esquerdices, Geosapiens, Boina Frigia, Circunstancias, etc. Eu diria; quê? Não…

E se, há dois ou três meses me dissessem que iríamos atrair largas dezenas de pessoas, perto das três centenas, para esta nossa iniciativa; eu dizia: não gozem! Nos somos meia dúzia de gatos-pingados, super amadores, sem experiência e nome, só atrás de uma ideia, de um projecto, de uma vontade.

Acho que foi um sucesso.

E foi bom ter terminado com sala cheia (70 pessoas). Com o Carlos Brito, o António Reis, o Duran Clemente, a Isabel do Carmo e o Loureiro dos Santos (que, impossibilitado por razoes de saúde de estar presente, mandou um texto), numa sala plena de interesse, polvilhada por capitães de Abril, em exposições consecutivas até à uma da manhã - numa sessão que se alongou por quase três horas…

Foi mesmo muito bom…

[aqui espero por outras opiniões deste evento…]

Sobre balanços, apesar de algumas coisas terem corrido mal – como a comunicação, que não chegou a todo o lado, como a logística, como uma melhor preparação para as conferências em si – eu penso que fomos, nós Clube «Loja de Ideias», bafejados pela fortuna de termos podido partilhar espaços de exposição e de debate com aquelas pessoas acima citadas, e com elas viajar pelas recantos da nossa história recente, em sugestões de leituras plurais, divergentes (memorável sessão entre o Anacoreta Correia e o Luis Fazenda), apaixonadas, respeitosas. Nem sempre enchemos a sala. Não era essa a nossa ideia. Sempre apelámos à qualidade. Conseguimo-la.
Sobre o ciclo em si, devo dizer que quem frequentou a maioria das nossas conferências (deste ciclo) nos perguntou: onde levanto o certificado? Tão forte foi a impressão registada. Para um leigo, para um historiador, para um engenheiro ou para um estrangeiro (como tivemos alguns na nossa plateia) ter seguido todo o ciclo foi ter a oportunidade de mergulhar na nossa contemporaneidade, nos nossos trilhos definidores. E eu, como «Presidente» do Clube «Loja de Ideias» e coordenador científico do ciclo 30/25 tive muito orgulho de poder partilhar com um conjunto de pessoas, amigos, com quem reparto este projecto: o Diogo, o N’dalo, o Rui Pedro, os Ricardos – o Fresco e o Revez – a Kindala, a Rita, o Paulo, o Sandro, as gémeas – a Alexandra e a Catarina – o Pedro, a Vandinha, o Macieirinha, o Boa, a Nanda e sem esquecer, claro, a Gati. Foi com eles que tudo começou. Foi por eles que tudo se fez.

A todos, uma vez mais, o meu muito obrigado.

Risos, ahahahahahahah, já chega…

Sobre a próximas iniciativas, em breve daremos noticias. Não esqueçam que o ciclo sobre a reforma do sistema eleitoral continua a decorrer, e teremos o Call for papers pronto muito em breve… Inté.

Ponto de Cultura


Como prometido, aqui vai.

Terminou recentemente a AntecipArte 2005.
Vi por duas vezes a exposição. Uma na inauguração, outra numa conferencia sobre «Arte contemporânea e públicos» (de que falarei de seguida). E devo dizer que no geral gostei.

Tenho a mania de dizer aos meus amigos que «sou um experimentalista», que gosto de me aventurar, academicamente, sensorialmente e intelectualmente em terrenos que não domino, onde me levam, puxam e guiam perante construções alheias. Gosto dessa sensação de descoberta. Gosto de me ausentar das minhas especialidades e olhar ingenuamente para o trabalho de outros. É um processo bastante reconfortante.

Assim sendo, foi com natural curiosidade que me apresentei à nata da classe artística alfacinha. O tema era «uma selecção da mais jovem expressão artística nacional». O espaço da intervenção era a Estufa-Fria. A organização cabia ao BLUG, com alto patrocínio do Millennium BCP.

Das obras e dos artistas expostos algumas considerações. Desconstruindo o tema, jovens nacionais, verificámos que além de termos artistas estrangeiros representados (um basco) tivemos idades entre os 25 anos (os mais novos) e os 37 anos (a mais velha). Eu pensava ir ver teenagers – do IADE, da FBAUL ou algo do género – e que me tentariam surpreender com o carácter irreverente, directo e inconsequente; o que não aconteceu. Deparei-me com obras já com alguma reflexão, com alguma maturidade e com muito sentido.
Não se pense, no entanto, que gostei de todas.

Gostei dos Abraçatórios, de Susana Pires, pelo aspecto moderno e contemporâneo com que ela ultrapassou o conceito de peluche. Os seus Abraçatórios, de varias séries, assumiam aspectos de preguiças que, colando-se a nós, assumiam uma estranheza simples de quem partilhava conforto com a peça em causa. Poderá ser um caso sério de popularidade, caso pegue a moda. Pensada numa vertente de Marketing.

Gostei também bastante d’ Os Reflexos de Prazer na Dor do Outro, de Eva Alves, lembrando-me uma evolução de veludo de um estranho sonho de Sade, esse Marquês tão incompreendido. Eva Alves, cobrindo objectos de fetiche, de dor e de prazer com um veludo sensual e erótico, transmuta a Dor em Prazer e assume o Olhar como peça de Tacto. Queria essas peças…

Por fim, gostei também da instalação de David Etxeberria, o basco convidado para a exposição. Talvez por se sentir estranho e estrangeiro, talvez por ser «o convidado», ou talvez simplesmente porque lhe tenha apetecido, a verdade é que a sua instalação vídeo nos convidava a partilharmos da sua natalidade, da sua terra, do seu país Basco. E aí retribui-nos o convite. Éramos puxados para uma mole de sons e imagens, ora transportando-nos para o clima da sempre traumática guerra civil espanhola, ora colocando-nos como espectadores expectantes de um aparentemente simples jogo de pelota basca. No meio, por trás, por baixo das imagens, como notas escondidas, uma panóplia de sons que nos guiavam os sentimentos. Falava da contemporaneidade basca. Da sua simplicidade. Da sua complexidade. Gostei.

Não gostei nada do T-zero do Nuno Sousa, fraco, básico e sem imaginação; da Folia da Joana Conceição, muito previsível, sem escapes imaginativos e sem vida. A Parábola do Feminino do Daniel Velez também a achei para o fraco. Talvez por gostar muito de fotografia. A madeira da Alexandra Aguiar, o trabalho do Francisco Vidal, da Maria Joao Alves, da Sofia Leitão e da Susana Anágua sem destoarem também não surpreenderam.

Apesar de não a ter seguido toda, gostei de alguns pormenores da intervenção do dia.

Em suma, um fim de tarde chuvoso muito bem passado. Vi-me envolvido em tramas não totalmente compreendidos, tomando os canapés da praxe, q.b., com a companhia de quem por dentro sente estas coisas.
É sempre bom quando assim é. Ser penetra de luxo, com direito a comentários insiders in loco e em directo. Obrigado Rita.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Notas de Viagem

Por entre vegetação rasteira e castanheiros reveladores de um Outono assumido na caducidade das folhas, uma estrada de montanha avança pelo sopé da serra, fazendo-nos crer que o tempo passa um pouco mais devagar. Viajamos através do Marão.

Ao fundo, uma rechã acolhe um pequeno povoado de xisto, rodeado por um olival que lhe é contemporâneo. Esta aldeia continua a perder a sua alma, na ausência dos que emigram, e com o esventramento provocado por aqueles que regressam, incapazes de a fazerem evoluir à luz do seu contexto espacial.

O nevoeiro dissipa-se por alguns momentos, sendo agora visível a neve que uniformiza a paisagem nos pontos mais altos da serra. Tudo parece mais calmo. Existe espaço para a tranquilidade.

Mais alguns quilómetros, mais uma mudança de estrada, e a paisagem anuncia o silêncio, este apodera-se do tempo, que corre ainda mais devagar, com uma intensidade que convida a permanecer.

A viagem continua num trajecto irreversível em direcção ao litoral, os traços são agora de uma outra ruralidade. O povoamento é mais disperso, culturas semelhantes revelam diferentes práticas agrícolas, as ruínas da indústria de outrora afloram a cada momento, são terras de identidades confusas. Não me agrada o que vejo, nunca gostei desta fronteira.

As indicações insistem num só destino, já se deslumbra o Porto, e com o aproximar desta urbanidade decido abandonar a escrita.

Reflectir

António: Boa crónica. Bom texto. Boa refelxão.

Miguel: Boa crónica. Bom texto. Boa refelxão.

De facto, ao Domingo o DN está bom. E eu hoje que comprei o Público (também com a boa crónica do custume do António Barreto e do Mário Mesquita).

Enquanto poder ler um na net...

Postas em falta

Sobre cultura: [1] a exposição na Estufa-fria (AntecipArte); [2] a conferencia aí assistida (sobre Arte e Públicos); [3] colóquio sobre «pensar a democracia», no CCB, dia 26.
Balanço de um ciclo: [4] a conferencia de 25 de Novembro, [5] balanços, [6] Futuro.
Sobre política: [7] Momento.

Amanhã ponho mais. Prometo.

Ponto de Cultura


Ainda antes dos acontecimentos do post anterior, tive a oportunidade de poder estar presente na inauguração da exposição (ou melhor na instalação, nas palavras do seu coordenador) fotográfica relativa à «memória fundadora das suas carreiras» de Rui Mendes e Cármen Dolores, no Teatro da Trindade. E refiro não só o prazer como o privilégio de poder estar ali presente pois tive a possibilidade de por instantes conviver com estes vultos da nossa cultura contemporânea e de poder com eles reviver, através das diversas intervenções desse fim de tarde, muita da nossa história do Teatro Nacional, com especial atenção para a segunda metade do século XX.

Começo com o Rui Mendes. É sobejamente conhecida a sua carreira, nomeadamente na televisão. E, sinceramente, dava pouco por ele. Depois, em tempos recentes, descobri-o no teatro, sempre no Trindade, em peças como o Proof, Picasso e Einstein (onde também encena), e, especialmente, no Magnifico Reitor (de Freitas do Amaral). Aqui descobri-lhe algum talento. Entretanto conheci mais sobre a sua pessoa, o seu lado humano. Passei então a respeitá-lo. Na passada segunda feira, ouvi deambular sobre a sua carreira, sobre os seus anos rebeldes (do Grupo 4 e nomeadamente do Ádóque (pós 1974), sobre a sua proibição de trabalhar na Emissora Nacional, o facto de ter recusado um premio do SNI (na altura já SEIT) de melhor actor do ano em teatro musicado, em 1971, o ter participado no Teatro Moderno de Lisboa e no Teatro Popular; enfim o de ter estado, directamente o indirectamente ligado aos principais momentos culturais do nosso teatro contemporâneo, na sua dimensão alfacinha. Ao me transportarem assim para esse mundo, revivendo a carreira do Rui Mendes, para lá de me ter reforçado as ideias que vinha construindo acerca do actor e da pessoa fizeram-me crer que estava na presença de um Grande. Um dos nossos Grandes.

Sobre Cármen Dolores a escrita torna-se mais aguda. Não só porque não me lembro dela, não só porque dela nada vi, mas especialmente por ter andado muito desatento não só ao seu trabalho como à sua importância e à sua relevância para a nossa identidade e valia cultural. Eu era daqueles que a via muito longe, ainda sem cor; a preto-e-branco. No entanto, ouvir falar dela, em primeiro lugar, e ouvi-la falar de si, em segundo, significou para mim o colorir de páginas e páginas de histórias pensadas como já idas, mas ainda muito vivas. Explico. Esta senhora, vulto das artes de palco, estreou-se em cinema em 1942 com o Amor de Perdição de António Lopes Ribeiro, cuja première foi também no Teatro da Trindade (antigamente com duas «épocas» uma de cinema e outra de Teatro). Em 1945 pisava os palcos do Teatro da Trindade na peça Electra, A Mensageira dos Deuses. Na altura estava ligada aos «Comediantes de Lisboa». Rapidamente transita para o Teatro Nacional e se transforma numa das mais aclamadas e queridas actrizes nacionais. Toda a sua vida artística foi marcada pelo sucesso, pela emoção do desafio (frequentemente abandonava os cânones tradicionais e dava azo a novas experiências teatrais), é pelo desprendimento da vida material em prol da vivência cultural da arte teatral. Recentemente esteve com o Teatro Aberto, com projectos de récitas de poesias (edição de um CD de poesia Poemas da Minha Vida), e à APOIARTE, associação de apoio aos artistas (onde pertence aos corpos gerentes) e à casa do Artista. É demasiadamente premiada para que se esqueça: Ordem de Santiago e Espada (1999), Medalha de Mérito Cultural, da SEC (1991), e, recentemente, recebeu das mãos de Jorge Sampaio o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. É, hoje, cultura viva. Cultura portuguesa.

Quando, segunda-feira, dia 21, foi inaugurada a placa conjunta relativa a ambos (no salão nobre do teatro) arrepiei-me. Tanto se critica o esquecimento, o imediatismo dos consumos culturais contemporâneos. Por momentos o Tempo parou, e naquela sala repuseram os pretos e os cinzas. Homenagearam-se vivos. Analisou-se discurso. Pensou-se Cultura.

A exposição que se inaugurou conta de fotografias da ambas as carreiras aqui retratadas. Moldam-se ao Teatro, ás suas salas e paredes, como que serpenteando pelos andares e pelas formas – curvas, grandes, rectas, simples –. Os retratados surgem-nos no seu esplendor, ocupando palcos e transbordando vidas, não suas, mas de personagens estranhas e simultaneamente acolhedoras. A experiência partilhada com esta instalação é múltipla: agradável, forte, delicada, saudosista, descobridora.

Recomendo, de preferência antes ou depois de uma peça.

Ponto de Cultura


















Depois do dia agitado que passei, nada como um bom concerto para baixar a adrenalina, o stress, enfim, para relaxar e deixar o pensamento ir-se (o concerto foi no dia 23)

E assim aconteceu.

Primeiro com Goldfrapp, depois com Coldplay.

Sinceramente, era de qualquer coisa destas que necessitava.

Os Goldfrapp, no seu estilo neo-Disco, apresentando-se como Gloria Summer mets Blondie, e liderado pela inconfundível Alison Goldfrapp, deixaram-nos com um up beat muito interessante, e que, de certa maneira, nos marcaria a noite. No entanto, é bom que se diga, é sempre muito perigoso deixar que bandas desta categoria apresentem-se como primeira parte: é que depois de nos aquecerem e de nos terem posto agua na boca, queremos mais…e aí, que o acto principal se cuide (e o facto de já estar cheio o pavilhão quando entrei – pelas 21 h – justo no inicio da segunda musica do alinhamento dos britânicos, mostra que muita gente foi também vê-los…). Enfim, muito bom; a pedir um concerto a solo…

Sobre os Coldplay, duas ideias prévias: demasiada colagem aos U2, por um lado, e como banda, e aos Verve – e ao Richard Ashcroft – por parte do Cris Martin. E, devo dizê-lo, de nada necessitam de se estarem a colar a estas referências. É que tem personalidade para se apresentarem por si sós. Pena é que, talvez por se auto-intitularem herdeiros dessa tradição musical (é comum as comparações aos U2, e é reconhecida a amizade e o respeito que o líder dos Coldplay tem aos ex-líder dos Verve). Não foi ver o outro concerto, também no Atlântico, e tive pena. Apesar das críticas e das insatisfações criadas, os britânicos estão de boa saúde e recomendam-se. Não são génios, nota-se; mas entretêem. E bem. Tem boas canções (por vezes um pouco repetitivas), e uma boa presença em palco. O alinhamento foi bom, e as duas horas do concerto passaram-se bem, pecando talvez por não terem feito (outro) encore (tinham feito um, previsto), dando ao concerto um toque de imprevisíbilidade que o colocaria mais acima no meu ranking pessoal.

Em suma, um sólido 14. Se por cá estivessem para a semana, ia vê-los outra vez. Boa onda.

sexta-feira, novembro 25, 2005

Erich Heckel




Bom fim-de-semana.

Johann Wolfgang von Goethe

Pensar é mais interessante
que saber, mas é menos
interessante que olhar.


Lastimo os que atribuem grande importância ao tema do transitório das coisas e que se perdem em minudências terrenas sem valor. Porque nós existimos precisamente para transformar o transitório em duradouro, e tal só acontece quando somos capazes de apreciar ambas as coisas.A vida, por mais vulgar que pareça ser, por mais que dê a ideia de se satisfazer com coisas triviais e quotidianas, nunca deixa de se ocupar atentamente, ainda que em silêncio, de certas exigências superiores e de procurar os meios necessários à respectiva satisfação.

A decisão de um caminho.

Já o dissemos, eu sei, mas não custa repetir:


O Clube «Loja de Ideias» fecha o ciclo 30/25 com a sessão:

«A decisão de um caminho.
30 anos do 25 de Novembro de 1975 »

Sexta-feira dia 25 de Novembro, pelas 21 Horas
Oradores:
António Reis
Carlos Brito
Duram Clemente
Isabel do Carmo
General Loureiro dos Santos

Moderador:
Jose Reis Santos
Debate aberto ao público.
Biblioteca-Museu República e Resistência
(Rua Alberto de Sousa, 10-A à zona B do Rego)

quinta-feira, novembro 24, 2005

Sempre actual

"Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o Estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadriio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?"
(Eça de Queiroz, 1867 in "O distrito de évora")


Depois nós jovens ficamos surpreendidos do porquê de Portugal não evoluir...
Cabe-nos a nós jovens mudar esta forma de actuar... De estar... De existir...
Tenho esperança nisso...

Deus.

“1. Existe um Deus que é o conjunto de tudo quanto apercebemos no Universo. Tudo o que existe contém Deus, Deus contém tudo o que existe. Pode-se, sem blasfémia, considerar o aspecto imanente ou o aspecto transcendente de Deus; pode-se, sem blasfémia, falar não de Deus mas apenas do Universo, com Espírito e Matéria, formando um todo indissolúvel. A doutrina de Deus, tal como a pôs Cristo, permite considerar todas as religiões como boas, embora em graus diferentes, todos os homens como religiosos. Não poderá, portanto, fazer-se em nome de Deus qualquer perseguição: todo o homem é livre para examinar e escolher; a maior ou menor capacidade de exame e o resultado da escolha serão, em qualquer caso, a expressão do que ele é e do máximo a que pode chegar segundo as suas capacidades.
2. A visão mais alta que podemos ter de Deus, nós que somos apenas uma parte do Universo, é uma visão de Inteligência e de Amor; os pecados fundamentais que o homem poderá cometer são as limitações da Inteligência ou do Amor: toda a doutrina estreita, sem tolerância e sem compreensão da variedade do mundo, toda a ignorância voluntária, todo o impedimento posto ao progresso intelectual da humanidade, toda a violência, todo o ódio, limitam o nosso espírito e o dos outros, impedem que sintamos a grandeza, a universalidade de Deus.
3. Deus não exige de nós nenhum culto; prestamos a nossa homenagem a Deus, entramos em contacto pleno com o Universo, quando desenvolvemos a nossa inteligência e o nosso Amor: um laboratório, uma biblioteca são templos de Deus; uma escola é um templo de Deus, e o mais belo de todos. Todos podemos ser sacerdotes, porque todos temos capacidades de Inteligência e de Amor; e praticamos o mais elevado dos cultos a Deus quando propagamos a cultura, o que significa o derrubamento de todas as barreiras que se opõem ao Espírito. Estão ainda longe de Deus, de uma visão ampla de Deus, os que fazem consistir o seu culto em palavras e ritos; mas dos que subirem mais alto não pode haver outra atitude senão a de os ajudar a transpor o longo caminho que ainda têm adiante. Ninguém reprovará o seu irmão por ele ser o que é; mas com paciência e persistência, com inteligência e com amor, procurará levá-lo ao nível mais alto.
4. Para que possa compreender Deus, para que possa, melhorando-se, melhorar também os outros, o homem precisa de ser livre; as liberdades essenciais são três: liberdade de cultura, liberdade de organização social, liberdade económica. Pela liberdade de cultura, o homem poderá desenvolver ao máximo o seu espírito crítico e criador; ninguém lhe fechará nenhum domínio; ninguém impedirá que transmita aos outros o que tiver aprendido ou pensado. Pela liberdade de organização social, o homem intervém no arranjo da sua vida em sociedade, administrando e guiando, em sistemas cada vez mais perfeitos à medida que a sua cultura se for alargando; para o bom governante, cada cidadão não é uma cabeça do rebanho; é como que o aluno de uma escola de humanidade: tem de se educar para o melhor dos regimes, através dos regimes possíveis. Pela liberdade económica, o homem assegura o necessário para que o seu espírito se liberte das preocupações materiais e possa dedicar-se ao que existe de mais belo e de mais amplo; nenhum homem deve ser explorado por outro homem; ninguém deve, pela posse dos meios de exploração e de transporte, que permitem explorar, pôr em perigo a sua liberdade de Espírito ou a liberdade de Espírito dos outros. No Reino Divino, na organização humana mais perfeita, não haverá nenhuma restrição de cultura, nenhuma propriedade. A tudo isto se poderá chegar gradualmente e pelo esforço fraterno de todos”.
Agostinho da Silva

Gustav Klimt

A todos, obrigado.

Avó

Avó:

Na pureza da tua transformação, enquanto te dirigias para um naturalismo primitivo e escondido na tua doença, desenhaste traços de um talento embutido na tua portugalidade original. Do teu útero, qual mão natura, pariste meu pai. Germinavas uma linha que, cozida na Ranha de Baixo, no meu pai vive, e em mim perdura. É uma linha de orgulho, de cepa, de corpo.

Sei que me esperas, sentada num banco simples, de madeira. Estás com os braços cruzados, com o teu lenço lavado à cabeça, e olhas-me com aquela ansiedade escondida com que me marcavas e costumavas olhar. Nunca sabias bem o que transmitir. Eu nunca sabia. Ao teu lado, o teu Zé. Está encostado à parede, do lado esquerdo, apoiado na sua bengala favorita, sempre pela mão esquerda. Olha para mim. Olha para ti. Já te esperava há algum tempo, nota-se.

Olham para nós. Olhas para mim, e suspiras. Sabes que te iremos encontrar nessa fama etérea para onde te remeteste. Sabes que não é para agora. Por agora tens de esperar.

Vai esperando, velhota. Prepara uma sopa e uma broa doce para o nosso reencontro. Dá um beijo ao avô…

Por agora existes em mim.


JRS

Rosa Maria

Rosa Maria.

Contida, deixaste Memória. (Logo tu, que a perdeste tão amiúde).
Deixaste dois filhos calcados de ti. Para mim um Pai e um Tio.
Definiste a Terra que acalcanhaste. Suaste nela a inscrição da tua rudeza.
Asfaltaste estradas que nem terra justificavam. Assim fostes.

De finuras, pouco sabias. Não te interessavam.
A vida, sempre despida e crua, cozinhava-la com as mãos. Com as tuas.
Dos outros pouco querias. Não te interessavam.
Dos teus, para os teus, tudo davas, tudo sentias. Assim és.

Contigo levaste esta Terra.
A sua aspereza. A sua simplicidade. A sua brutalidade.
Bem dizias tu que não verias bodas de netos.
Premonições sagazes. Tinhas bem calibrado esse teu relógio da vida.

JRS

Rosa

«Rosa

Soube agora que nos tinhas deixado.
Foi um choque.

Não questiono a tua decisão. Sei que por isto ansiavas há já algum tempo.
Não foi surpresa.
Foi confronto. Frio.

Partiste para nos dizeres que existias. Para reclamares de nós.
Partiste para te lembrares do que perdeste.
Partiste para encontrar. O que tinhas perdido.
(O Zé. O teu Zé. Dá-lhe o beijo meu)»


JRS

A decisão de um caminho.

O Clube «Loja de Ideias» fecha o ciclo 30/25 com a sessão:

«A decisão de um caminho.
30 anos do 25 de Novembro de 1975 »

Sexta-feira dia 25 de Novembro, pelas 21 Horas


Oradores:
António Reis
Carlos Brito
Duram Clemente
Isabel do Carmo

General Loureiro dos Santos

Moderador
Jose Reis Santos


Debate aberto ao público.

Biblioteca-Museu República e Resistência
(Rua Alberto de Sousa, 10-A à zona B do Rego)


Nesta conferência propomos, afinal, propomos uma análise retrospectiva acerca dos acontecimentos de dia 25 de Novembro. Para o efeito convidámos diferentes actores, com diferentes responsabilidades e diferentes visões sobre as ocorrências verificadas. Uns dão-se por vencidos, outros reclamaram vitória. Todos queremos ouvir.

quarta-feira, novembro 23, 2005

Rescaldo de (mais uma) grande noite!

30 anos depois. Que leituras jornalisticas?

Oradores:

António Louçã
Eduardo Dâmaso
José Manuel Barroso
Ricardo Revez

Moderador:

Ricardo Fresco

21 Horas

Debate aberto ao público.

Biblioteca-Museu República e Resistência
(Rua Alberto de Sousa, 10-A à zona B do Rego)


Tendo que competir injustamente com o jogo do Benfica para a Liga dos Campeões, agradeço a todos aqueles que, mais uma vez, puderam fazer desta mais uma conferência inesquecível para o clube “Loja de Ideias”.

Primeiro, ao N’dalo Rocha, cuja apresentação de grande nível começou logo por criar uma atmosfera de grande simbologia para os acontecimentos que lá se iriam discutir, e mais tarde pelo seu grande contributo na interpelação aos nossos oradores.

Ao nosso grandioso moderador Ricardo Fresco, que foi muito para além do dever, tendo conseguido lidar com calma e elegância com um orador que manifestamente não se sentia muito à vontade para falar nesta conferência. Um grande abraço Ricardo!

Passando aos nossos oradores: o Eduardo Dâmaso, infelizmente não pôde comparecer, mas, como diz o ditado, só fez falta quem lá esteve! (à excepção de uma pessoa que será mencionada no fim).

Abrimos com o Ricardo Revez, que nos fez uma exposição muito boa sobre os jornais do tempo da revolução, com especial ênfase para Novembro de 1975, fazendo uma categorização académica entre os jornais monopartidários e pluralistas, que procurava correlacionar as identificações partidárias com conteúdos editoriais e noticiosos, tendo sido referidos o caso Renascença e República (tendo o Ricardo Revez publicado recentemente obra sobre esta questão). Avisado de antemão que estaria nas suas mãos ocupar o tempo do Eduardo Dâmaso, a sua exposição revelou-se bastante mais proveitosa do que teria sido em circunstâncias normais.

Falou a seguir o José Manuel Barroso, que demonstrou um admirável “jogo de cintura”, no sentido positivo, não só na sua exposição, que versou sobre as diferenças e a evolução entre o jornalismo do PREC e a contemporaneidade, mas sobretudo na forma como respondeu às incessantes questões do Público, sobre acontecimentos e visões jornalísticas recentes, que o procuravam colocar em falso. Grande parte do clima agradável e descontraído deveu-se às suas respostas.

Depois interveio o António Louçã, o qual foi notório que não se sentia à vontade como orador, mas não obstante isso, deu-nos um contributo interessante sobre a visão da extrema-esquerda sobre o jornalismo da revolução, embora tal o colocasse em direita oposição aos restantes oradores e à maioria da audiência. Porventura, daí viria o seu desconforto.

Quando passamos às excelentes e variadas contribuições do publico, especial menção terá de ser feita a Sandro Pires, cujas perguntas incisivas, marcantes e muito corajosas, serviram para colocar o debate num nível muito mais avançado do que o normal, tendo-se discutido tabus e afirmações ditas politicamente correctas.

Resta-me salientar também os inestimáveis contributos de Rita Castel Branco e Jorge Macieirinha, sobre os quais recaíram a maioria do planeamento e operacionalidade desta sessão. Um Bem Hajam!

Mas claro, que tudo isto é inútil sem a presença daquilo que engrandece e torna possível tais empreendimentos. A presença do grande público, que queremos que deixe de ser anónimo, que torna isto válido. Um muito obrigado a todos aqueles que vieram.

Finalmente, poderão estar a estranhar o porquê de ter sido eu, e não o meu colega José Reis Santos, a fazer este rescaldo. Infelizmente, por motivos de ordem familiar, ele não pôde estar presente. Quem nos têm acompanhado desta larga aventura que é a “Loja de Ideias” sabe que ele tem sido o mentor, dinamizador e principal executante da quase totalidade destas iniciativas. Se não fosse ele, nós não estaríamos aqui. A ele se deve tudo isto...

Zé, muita força para ti, e um grande abraço de todos nós.

terça-feira, novembro 22, 2005

Quem somos...

Resolvi transcrever este texto por concordar integralmente com o mesmo... Antes de olharmos para quem nos governa era bom olharmos para nós...
Para quem nós somos...

Eduardo do Prado Coelho, in Público


A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós.
Nós como povo. Nós como matéria-prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clipes e tudo
o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos. Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde
fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes. Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não. Já basta.

Como "matéria-prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa
desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...

Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria-prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada...

Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier.
Qual é a alternativa?

Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados!
É muito bom ser português.
Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um Messias.

Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.

E você, o que pensa?... MEDITE!

Eduardo do Prado Coelho

segunda-feira, novembro 21, 2005

Recém descoberta

Vejam esta descoberta recente.

Do outro lado do Atlantico, do mesmo lado do interesse.

Noely, falaremos em breve...

JRS

Corrupção Cultural

O que aqui se iniciou (se bem com algum atraso) aqui se conclui (se bem que mantendo o atraso..).
Passo a transcrever:
«Segunda-feira, Outubro 24, 2005
Mais do mesmo

As actas para o concurso directo já foram divulgadas. Manoel de Oliveira conseguiu o subsídio. O projecto em que estive envolvido ficou em 4º lugar (apenas os três primeiros são aprovados), a uma distância de 0,07 pontos do 3º. Sabendo que o júri se voltou a reunir depois de alegadas pressões, imagino que o tenham feito com uma máquina calculadora na mão. Ou talvez apenas tenham acrescentado um número, deslocado uma vírgula, um '5' que se transforma num '6' com um simples movimento de caneta. Ler as actas do júri (escrevo a palavra com letra pequena mas não é um erro) à espera de critérios objectivos é como procurar amor nos braços de uma prostituta. Uma perca de tempo. Afinal, para estas pessoas, para este grupo, para este buraco negro da criatividade, o produtor de Manoel de Oliveira, Miguel Cadilhe, tem mais experiência e capacidade do que o produtor Tino Navarro. O que é fantástico, considerando que Cadilhe produziu, até ao momento, exactamente um (1) filme, 'O Espelho Mágico', que ainda nem sequer estreou. Tino Navarro, por seu lado, tem vinte (20) filmes no curriculum. Bem vindos ao outro lado do espelho, um mundo onde Luís Galvão Telles, o realizador do memorável 'Tudo Isto é Fado', tem mais 'capacidade de comunicação' do que António-Pedro Vasconcelos.

Já foi legislada a nova lei do cinema. Ainda a estou a estudar mas, para ser sincero, parece-me apenas mais do mesmo. O cinema português continuará refém do 'sistema', essa expressão tão frequente que parece englobar tudo o que é obscuro e corrupto no nosso país.Ainda não houve desmentidos quando à notícia do Independente. Ninguém apareceu a defender a sua honra, não entraram processos por difamação no tribunal. Nem sequer uma conferência de imprensa, ou murros na mesa, ou artigos inflamados. Estas pessoas vivem do silêncio.

Tiago R. Santos»

Ponto de Cultura

[Os sonhos de Einstein. Teatro da Trindade, 4ª a Domingo]

Esta peça musicada, inserida nas comemorações do ano da ciência (ancorados a 2005 em virtude da publicação da teoria da relatividade em 1905), mostra-se muito simpática, muito bem construída e muitíssimo bem interpretada.

Com estreia mundial em Portugal (coisa rara nos dias que correm…), o texto adaptado do original homónimo de Alan Lightman oferece-nos uma imagem de um jovem Einstein enquanto funcionário de departamento de registro de Patentes em Vienna, Áustria. Enquanto confirmava as banalidades científicas que lhe chegavam às mãos (onde muitas vezes ainda corrigia os evidentes defeitos das propostas), o jovem cientista austríaco sonhava. Saia desse mundo banal e cativo onde rotinava a sua existência, mergulhado num trabalho não estimulante, numa relação nada entusiasta, num mundo não seu. Nos sonhos encontrava-se em permanentes viagens, para além do espaço e do tempo, e sempre guiado por uma inspiração corpórea encarnada num corpo de musa. E essa musa, jogando com definições e expectativas, puxava o génio austríaco para perto da sua mais celebre «descoberta»: a teoria da relatividade.

É esta busca que se apresenta musicalizada, como que se esse espaço de sonho, de descoberta e de criatividade, só pudesse existir para lá das fronteiras do comum e do palpável. É no sonho que o nosso protagonista canta, junto da sua inspiração, e atinge, ao longo da peça, o objecto final da sua viagem, essa peça estruturante da ciência moderna.

A peça em si, não procurando arrogantemente espaços que não domina, apresenta-se simples, com boas músicas e boas interpretações (a musica ao vivo é boa, e transmite uma outra dimensão ao espaço cénico), onde as duas horas do espectáculo são vividas numa harmonia equilibrada, passando o tempo relativamente por nós. É, em suma, uma noite bem passada. Bons momentos de humor, boas canções e uma boa história, em crescendo. O Teatro da Trindade, no seguimento do que vem feito nos últimos anos (e saúde-se o Carlos Fragateiro e a sua equipa pelo seu bom trabalho – Catarina outra chapa), apresenta-nos com mais uma obra musicalizada, fora dos trâmites fáceis de La Férias ou de Revistas muito revisteiras e brejas. Mostra-nos que existem bons actores/cantores no nosso país (quase todo o elenco provem do conservatório), que se pode dispersar cenicamente por temas diversos (nem tudo tem de ser super intelectualizado) e que se pode trabalhar não para a crítica, não para os sponsors oficiais do Estado, não para os seus amigos, mas (também) para um público que gosta de sair e de ir ao Teatro. Eu gostei. Foram duas horas bem passadas.

Riso. Ahahahah. Já chega…

[Música e Letras: Joshua Rosenblum; Argumento e Letras: Joanne Sydney Lessner; Baseado no romance de Alan Lightman; Encenação: Cláudio Hochman; Versão Portuguesa: César Viana; Direcção Musical: Francisco Cardoso Movimento, Jean Paul Bucchieri; Cenografia: José Manuel Castanheira; Figurinos: Rafaela Mapril; Vídeo: Laboratório Multimédia do Teatro da Trindade; Design Gráfico e Fotografia: Clementina Cabral; Interpretação: Alexandra Filipe, Isabel Campelo, Margarida Marecos, Mário Redondo, Miguel Coelho, Paulo Carrilho, Pessoa Júnior, Sara Belo e Sílvia Filipe; Produção: Teatro da Trindade/INATEL 2005; Os comissários e criadores originais: Brian Schwartz e Linda Merman, The Graduate Center of the City University of New York]

Preços 4ª e 5ª feira: Plateia Móvel 12.00€; 1ª Plateia 12.00€; 2ªPlateia 12.00€; 1º Balcão Central 12.00€;1º Balcão Lateral 7.00€; 2º Balcão 7.00€. Preço 6ª feira, Sábado e Domingo; Plateia Móvel 15.00€; 1ª Plateia 15.00€; 2ªPlateia 15.00€; 1º Balcão Central 15.00€; 1º Balcão Lateral 10.00€; 2º Balcão 10.00€

Amanhã, 22 Novembro

30 anos depois. Que leituras jornalisticas?

Oradores:
António Louçã
Eduardo Dâmaso
José Manuel Barroso
Ricardo Revez
Moderador:
Ricardo Fresco
21 Horas

Debate aberto ao público.
Biblioteca-Museu República e Resistência
(Rua Alberto de Sousa, 10-A à zona B do Rego)

Sigur Rós

Três momentos.

(tenho de começar a levar a máquina... isto de fotos de telemóveis...)















Pontos de Cultura

Hoje irei inaugurar uma nova coluna, chamada «pontos de Cultura». Nela procurarei dar a minha opinião acerca de algum espectáculo ou iniciativa cultural que tenha assistido recentemente.

É óbvio se assume «Cultura» na sua concepção mais universal e lata, abrangendo toda e qualquer produção criativa com o intuito de existência. Neste sentido, poderei falar de artes, de movimentos culturais, colóquios, conferencias, jogos de futebol, bares de strip, etc. O ponto é que se fale, que se exteriorize, sobre uma experiência que tenha considerado por cultural.

E começarei por vos relatar acerca de uns tipos islandeses que tive o privilégio de estar com por um par de horas. Estes tipos, quatro, com quem já tinha estado, são facilmente descritos por superlativos. Do género: FANTASTICOS, INACREDITÁVEIS, ANGELICAIS, EXTRA ORDINÀRIOS; numa palavra, SUBLIMES.

Refiro-me, caso ainda não tenham apanhado, aos Sigur Rós.

O episódio relatado refere-se ao inacreditável concerto do Coliseu. Duas horas de intimidade com os céus. Duas horas de comunhão com essa Alma boreal que transportam estes tipos islandeses. Duas horas de infinitos orgasmos colectivos, manipulados pela musicalidade e orquestração de quem toca notas e tons como quem nos massaja mentalmente. Duas horas de massagens.

Hoje Lisboa foi presenteada com mais uma noite mágica, daquelas que só as grandes cidades podem ter. Como em tantas outras noites de explosão criativa, estes quatro rapazes, muito bem acompanhados por quatro fiéis acompanhantes femininas – que nos presentearam com uma primeira parte fabulosa –, transformaram a atmosfera pesada da capital, a sua chuva incessante, numa osmose estranha e sentida entre mensagens de outros mundos (os Sigur Rós cantam numa língua por eles inventada) e uma colectividade lusa sincera. Foi incrível a despedida, nem uma palavra ao público. Só palmas.

Gostei.

JRS

Próximos pontos: [1] «Os sonhos de Einstein», no Teatro da Trindade; [2] «AntecipArte2005», na Estufa-fria; e [3] «A Arte contemporânea e os seus públicos», conferencia na Estufa-fria, domingo, 20.

domingo, novembro 20, 2005

5000

5000...
Não sou nada dado a estas coisas de comemorações de marcos ou de metas, mas, para um pequeno projecto como o nosso, tem piada atingir, pela primeira vez, um destes numeros tão redondinhos...
Assim sendo, e quase como uma pequena apreciação a estes últimos meses de blog, obrigado a todos: os que aqui vieram, os que aqui quase vieram parar, os que escreveram, os que pensaram comentar mas não o fizeram, os que publicitaram, os que o poderiam ter feito e não o fizeram, aos que comentaram, os que... os que estarão para vir...
Cá vos espero
JRS

30 anos depois. Que leituras jornalisticas?

Inserida no âmbito do ciclo 30/25, o Clube «Loja de Ideias» apresenta na terça-feira dia 22 de Novembro a sessão:

«30 anos depois. Que leituras jornalísticas»


Oradores:
José Manuel Barroso
Eduardo Dâmaso
António Louçã
Ricardo Revez


Moderador
Ricardo Fresco


Pelas 21 Horas

Debate aberto ao público.

Biblioteca-Museu República e Resistência
(Rua Alberto de Sousa, 10-A à zona B do Rego)

Temos para nós três momentos definidores da contemporaneidade portuguesa: Abril de 1974, Novembro de 1975 e Junho de 1985. Em 25 de Abril de 1974 iniciámos a ruptura necessária para transportar Portugal para a modernidade europeia e mundial. Nesse momento rompemos irreversivelmente com o Estado Novo e com o seu regime politicamente castrador. Abriram-se portas de possibilidades. Avançavam-se rumos e sonhos. Em Junho de 1985, em pleno Mosteiros dos Jerónimos, ao assinarmos o tratado de adesão à (então) CEE, concretizávamos um dos sonhos de Abril: estar na Europa, e com a Europa. Ambicionávamos a Democraticidade e o Desenvolvimento. Já tínhamos Descolonizado.

Entre estes dois momentos, e finalizando o verão de todos os projectos, Novembro de 1975. É este o mês das nossas decisões. É este o mês do confronto final. Político, militar e social. É este o pináculo do conflito latente entre as realidades propostas. São as manifestações e contra manifestações; é a independência de Angola; é o cerco à Constituinte; é o debate dentro e fora dos plenários; são as grandes parangonas dos jornais anunciando novas auroras e denunciando velhos crimes; é a greve do VI Governo Provisório; é o 25 de Novembro.

Este ciclo de conferências propõe, assim, um olhar para esse decisivo mês. A 30 anos já iniciámos o processo de descompressão que permite a observação fria e descomprometida. O ciclo está fechado.

Nesta conferência propomos uma análise «jornalística». Esta é baseada quer numa extensa experiência acumulada pelos nossos oradores quer nas diversas obras já produzidas sob esta temática pelos mesmos (de caris jornalístico e mesmo académico). Pretendemos desta maneira completar o leque de leituras que temos vindo a apresentar, privilegiando a análise de quem transcreve a vivência pessoal de uma forma muito especial: os jornalistas.

O Clube «Loja de Ideias» apresenta-se como uma iniciativa não partidária e não ideológica e tem como objectivos contribuir para a construção de novos espaços de debate e intervenção política, fora dos círculos institucionais, visando uma melhor articulação entre a sociedade civil e a sociedade política e partidária. Em suma, ambiciona acrescentar planos interpretativos que possam contribuir para melhorar a definição de espaços públicos, partindo do estudo das relações de quem neles intervêm e procurando aperfeiçoar a relação entre o cidadão e a Cidade.

Sobre a dupla sessão de 19 de Novembro

















O nosso humilde clube teve hoje mais uma dupla sessão.

O dia de hoje escalava, para a conversa, o tema da greve do VI Governo Provisório e leituras políticas a 30 anos de distância.

Às 16 horas começava a primeira conferência. Esta contava na mesa com o Comandante Vitor Crespo, com Diogo Moreira e como moderador o Luis de Sousa. Iniciou as «hostilidades» o membro do grupo dos 9, explanando a sua vivência testemunhal com uma vivida e dinâmica apresentação. Já o Diogo Moreira, num registo académico, completou muito bem a apresentação do Comandante, introduzindo alguns aspectos teóricos às experiências práticas vividas pelo antigo Ministro da Cooperação. O moderador esteve muito bem.

A sessão nocturna, inicialmente planeada para albergar todos os partidos com assento parlamentar, esteve reduzida à presença de Luis Fazenda e Anacoreta Correia, respectivamente do BE e do CDS/PP. E com sinceridade vos digo que deve de ter sido das mais completas sessões que temos tido a oportunidade de assistir. Não só pelas intervenções dos nossos convidados (os dois já bastantes interactivos na transição), não só pela boa presença de público (que primou pela qualidade e interesse demonstrado), mas pela «aura» que se instalou na sala. O ambiente fluía, causando entre a mesa e a plateia uma interessante simbiose e sentimento de partilha. O nosso Paulo Dias, como coordenador, e sem surpreender, esteve muito bem. Correu mesmo muito bem esta sessão, e podemos mesmo aferir que muitos estarão já esperando as transcrições e publicação futura do conteúdo destas conferências.

Sobre os conteúdos das intervenções, o Jorge falará mais tarde.

Resta-me agradecer à Kindala Rocha, que «abriu» o dia, a todos os nossos convidados e ao nosso público, que já vem ganhando o calibre de «habitue» …

Para quem não teve a oportunidade de estar presente, não se preocupe, ainda sob o tema 30/25 iremos ter mais duas sessões: a de terça-feira, dia 22, sobre «Leituras jornalísticas» (a anunciar muito em breve) e o grand finale de sexta-feira dia 25 de Novembro.

Até breve.

sexta-feira, novembro 18, 2005

Algures...

Vincent van Gogh, Cypresses

Vincent van Gogh, Wheatfield with Cypresses



Bom fim-de-semana.

Comunidades de Leitores

Longe de serem escritores, fundadores de um lugar próprio, herdeiros de lavradores de outros tempos mas no solo da linguagem, cavadores de poços e construtores de casas, os leitores são viajantes; andam pelas terras dos outros, nómadas caçando furtivamente através dos campos que não escreveram, arrebatando as riquezas do Egipto para as desfrutarem. A escrita acumula, armazena, resiste ao tempo estabelecendo um lugar e multiplica a sua produção através do expansionismo da reprodução.

A leitura não é garantida contra o desgaste do tempo (esquecemo-nos e esquecemo-la), não conserva ou conserva mal o seu saber, e cada um dos lugares por onde passa é a repetição do paraíso perdido.

Michel de Certeau

Luto Nacional!





O 1º Sargento de Comandos João Paulo Roma Pereira faleceu hoje, no cumprimento do seu dever de serviço à Pátria, vítima de uma mina terrestre no Afeganistão.

O 1º Cabo Horácio da Silva Mourão permance em estado crítico, e está a ser sujeito a uma intervenção cirúrgica.

Em meu nome pessoal, votos de melhoras para o cabo Horácio da Silva Mourão; e as minhas sinceras condolências aos familiares e amigos do sargento João Paulo Roma Pereira.




quinta-feira, novembro 17, 2005

Sessão dupla

Inserida no âmbito do seu ciclo 30/25, o Clube «Loja de Ideias» apresenta
sábado dia 19 de Novembro a dupla sessão:


Pelas 16 Horas
«O dia em que o Governo parou»
A greve de 19 de Novembro de 1975


Oradores:

Diogo Moreira
Comandante Vitor Crespo


Moderador
Luis de Sousa



Pelas 19 Horas
«30 anos depois. Que leituras Políticas»


Oradores:

Luis Fazenda
Jaime Serra (a confirmar)
Anacoreta Correia
Joao Cravinho


Moderador
Paulo Dias

Debates abertos ao público.

Biblioteca-Museu República e Resistência
(Rua Alberto de Sousa, 10-A à zona B do Rego)

Temos para nós três momentos definidores da contemporaneidade portuguesa: Abril de 1974, Novembro de 1975 e Junho de 1985. Em 25 de Abril de 1974 iniciámos a ruptura necessária para transportar Portugal para a modernidade europeia e mundial. Nesse momento rompemos irreversivelmente com o Estado Novo e com o seu regime politicamente castrador. Abriram-se portas de possibilidades. Avançavam-se rumos e sonhos. Em Junho de 1985, em pleno Mosteiros dos Jerónimos, ao assinarmos o tratado de adesão à (então) CEE, concretizávamos um dos sonhos de Abril: estar na Europa, e com a Europa. Ambicionávamos a Democraticidade e o Desenvolvimento. Já tínhamos Descolonizado.

Entre estes dois momentos, e finalizando o verão de todos os projectos, Novembro de 1975. É este o mês das nossas decisões. É este o mês do confronto final. Político, militar e social. É este o pináculo do conflito latente entre as realidades propostas. São as manifestações e contra manifestações; é a independência de Angola; é o cerco à Constituinte; é o debate dentro e fora dos plenários; são as grandes parangonas dos jornais anunciando novas auroras e denunciando velhos crimes; é a greve do VI Governo Provisório; é o 25 de Novembro.

Este ciclo de conferências propõe, assim, um olhar para esse decisivo mês. A 30 anos já iniciámos o processo de descompressão que permite a observação fria e descomprometida. O ciclo está fechado.
Nestas conferências, propomos duas dimensões de análise: uma apoiada na factualidade dos acontecimentos – e baseada nos episódios de 19 de Novembro –, e outra assente na visão política, proferida a 30 anos de distância.

O Clube «Loja de Ideias» apresenta-se como uma iniciativa não partidária e não ideológica e tem como objectivos contribuir para a construção de novos espaços de debate e intervenção política, fora dos círculos institucionais, visando uma melhor articulação entre a sociedade civil e a sociedade política e partidária. Em suma, ambiciona acrescentar planos interpretativos que possam contribuir para melhorar a definição de espaços públicos, partindo do estudo das relações de quem neles intervêm e procurando aperfeiçoar a relação entre o cidadão e a Cidade.

Bilhete de Identidade de Filomena Mónica


Aconselho vivamente que leiam o "Bilhete de Identidade" de Filomena Mónica. Faz um retrato bastante interessante da élite intelectual portuguesa do final do Estado Novo, visto pelos olhos de uma das mulheres mais inteligentes de Portugal.

Contudo, o livro tem um sabor especial nos chamados capítulos das intimidades... tudo PG claro!

Vamos só dizer que o Vasco Pulido Valente tem razões suficientes para mandar queimar todas as cópias que conseguir encontrar...

Tempestade num copo de água

IMPERDÍVEL!

Os Bauhaus vêm a Portugal para um concerto único no Coliseu do Porto a 17 de Fevereiro de 2006.

Bilhetes à venda em http://www.plateia.iol.pt/

quarta-feira, novembro 16, 2005

Os inconvenientes da honestidade

« COMPRADOS
“O Tatu tá comprado”. A frase percorreu o vestiário, dita baixinho, antes de o time entrar em campo. Significava que o goleiro do time adversário tinha concordado em facilitar a entrada da bola no seu gol mediante uma compensação financeira. Ou, resumindo: o Tatu tava comprado. Bastava chutarem contra o gol do Tatu, de qualquer distância, que o Tatu aceitaria. O jogo estava ganho.

Como o jogo estava ganho, o pessoal relaxou. Não só não chutou nenhuma bola, de qualquer distância, contra o gol do Tatu, como levou dois gols, em poucos minutos, do adversário. Aliás, gols estranhíssimos. Que provocaram suspeita: assim como o goleiro do outro time tinha sido subornado, o deles também poderia ter sido. O Valmor também estava comprado! Começaram a pressionar para diminuir a diferença. Chutaram quatro bolas contra o gol do Tatu. Duas foram para fora, uma bateu na trave e a outra o Tatu defendeu sem querer. Enquanto isso, o Valmor deixava passar outra bola pelo meio das pernas. Três a zero para o adversário. O jogo estava quase perdido.

No vestiário, no intervalo, o Valmor reagiu com violência à insinuação de que estava comprado só porque deixara passar três bolas pelo meio das pernas. Se estivesse comprado, falharia de modo tão evidente para não deixar dúvidas? Podia ser ruim, mas não era burro e muito menos desonesto. O argumento do Valmor foi aceite, todos se desculparam por terem desconfiado dele, e ele foi substituído pelo Nono, que tinha sido comprado e prometera dez por cento do que ganharia ao Valmor por provocar a sua própria substituição.

O técnico Bentinho puxou o centroavante Ramiro para um lado. Iam mudar de táctica. Em vez de chutar contra o gol do Tatu de qualquer distância, o Ramiro deveria tentar entrar na área a drible. Assim daria oportunidade ao Tatu de sair do gol e derrubá-lo. Penalti. Quatro penaltis como aquele e o jogo estava ganho.

A ordem era: bola para o Ramiro. Para ele entrar na área a drible e ser derrubado pelo Tatu. Mas o Ramiro recebia a bola e a devolvia. Ou pegava a bola na entrada da área e, em vez de arrancar para o gol, recuava. O Bentinho aos berros: “Entra na área! Entra na área!” O Tatu aos berros: “Entra na área! Entra na área!” E o Ramiro recuando, passando para os lados, fazendo tudo menos entrar na área para sofrer o penalti. O Tatu ficou tão impaciente que a certa altura saiu do gol e foi derrubar o Ramiro lá na intermediária. Não era penalti mas funcionou. Quem bateu a bola chutou fraco mas acertou o gol, o Tatu fingiu fazer golpe de vista e a bola entrou no canto, três a um. Cinco minutos depois, a defesa atrasou a bola para o Tatu, que a deixou passar. Três a dois. Só faltava Ramiro entrar na área e sofrer um penalti e o jogo estava ganho.

Desde que Nono, comprado, não aceitasse nenhum gol do adversário. Nono aceitou duas bolas chutadas de longe, mas nos dois casos o bandeirinha daquele lado, que também estava comprado, deu impedimento. Ramiro se surpreendeu ao ouvir o juiz lhe dizer, num cochicho: “Entra na área! Entra na área!” Ele não podia entrar na área e sofrer o penalti. Estava comprado. Mas qual era a do juiz? O juiz: “Entra na área ou eu te expulso!” Bentinho, de fora do campo: “Entra na área ou eu te arrebento!” Tatu, do gol: “Entra na área ou eu vou aí te quebrar!” O Ramiro não sabia o que fazer.

Ramiro entrou na área. Quando o Tatu saiu do gol e quis derrubá-lo, pulou por cima do Tatu e chutou para fora. Mas o juiz deu o penalti assim mesmo! Também estava comprado. Ramiro fingiu que se tinha machucado para não precisar chutar. Quem chutou foi o Massaroca. Para fora. Também estava comprado. Mas o juiz mandou bater de novo. O Massaroca errou de novo. O juiz mandou repetir. O Massaroca caiu no chão, simulando uma síncope. Grande confusão. Massaroca retirado do campo. Chegou correndo o Nono, gritando: “Deixa que eu bato!” Chutou fraco e em cima do Tatu, que foi obrigado a pegar. Mas, ao fingir que ia repor a bola em jogo, Tatu deixou-a cair dentro do gol. Três a três. Bom para todo o mundo. O bandeirinha daquele lado ainda quis insistir que havia irregularidades: no lance, invasão da área pelo time atacante, o Ramiro dando uma voadora no juiz, os padioleiros, que estavam comprados, despejando o Massaroca no chão só de raiva, etc. Mas ninguém lhe deu atenção. O empate estava bom. Era só o que faltava, um honesto querendo estragar tudo. O juiz apitou. Mesmo faltando quinze minutos, o jogo estava encerrado. »

Luís Fernando Veríssimo, in Actual, Expresso, 12 Novembro de 2005

Não vos soa vagamente familiar, mas um pouco mais flagrante?

Sobre França, leia-se

O texto de Fareed Zakaria na Newsweek.

(via Raposo)

Não concordo, obviamente, com tudo. Mas que é um bom contributo ao debate é.

Ainda voltaremos a falar dessas coisas de «Cultura», «Identidade», «Contemporaneidade», «Integração», «Integração»

à alemã ou à portuguesa?

Tiago, não é a primeira vez que te vejo defender isto...

Achas possivel? achas desejável?

Blocos centrais? à alemã ou à portuguesa?

Achas mesmo que as elites dos dois unicos partidos de poder em Portugal estariam dispostas a abdicar do «poder absoluto»? de ter a oportunidade de governar a solo (como tem agora o PS) e de colocar a sua gente nos sitios? (lembro que antes do PS já o PSD tinha tido o seu tempo, e que no próximo ciclo o terá novamente).

É que, para que haja acordo, alguém terá de ceder. Quem?

Corrupção Cultural

Já é um pouco antigo, mas mantem toda a actualidade. ´
Reproduzo:
Muitas outras questões ficam por fazer. Sei também que este é apenas mais um episódio de uma história triste. Um país define-se pela sua cultura e, nesse aspecto, Portugal está podre. Esta não é uma meritocracia. Não é sequer uma Democracia. É o país do Status Quo. Não há lugar ao dinamismo cultural, às novas ideias ou a talentos emergentes. Mas este não é o alerta. O verdadeiro problema é que vamos desistindo. Alguns saem do país, como exilados culturais. Os que ficam são atacados pela estupidez do sistema. A criatividade deixa de existir. Ligo a televisão, abro um livro, entro numa sala de cinema escura e vazia, e sei que a batalha está perdida. Estamos em inferioridade numérica e não temos aliados. A ficção portuguesa está morta. E como é uma guerra invisível, ninguém dá por isso.»
Tiago R. Santos

É a cultura, estúpido

Pois é Henrique, bora lá definir essa política oficial, de cariz ocidental. E de preferência que sejam só indivíduos a fazê-lo; qual noção de sociedade, qual subjectividade cultural, qual «direito à diferença». Bora lá fazer leis, duras de preferência, que cristalizem a hegemonia cultural que se quer defender: a nossa, a dita ocidental. Universalismos? O que é isso? Diálogo, para quê? Se «nós» já temos a «Verdade» do nosso lado. Não é esta, afinal, a nossa civilização, Henrique?...

Bons textos

Este, do Luís Miguel Viana contribuindo para uma análise moderna da esquerda liberal.

Este da menina fetiche do senhor Ferreira.

O do Vital Moreira de hoje, no Publico (sem link).

terça-feira, novembro 15, 2005

OE 2006


A notícia política que me parece mais relevante dos últimos tempos prende-se em meu entender, com o chumbo do Orçamento de Estado por parte do grupo parlamentar do PSD. A relevância não é devido ao chumbo em si, mas à sua envolvente e ao (mau) sinal político que foi dado.

O Orçamento de Estado para 2006 não é um documento milagroso, não responde de imediato às dificuldades económicas que o país atravessa, mas é sério, é rigoroso, e não se reveste do logro dos anteriores, que primavam pela utilização de receitas extraordinárias para esconder o buraco do défice. Buraco esse que, como todos sabemos hoje (se é que alguém tinha dúvidas antes), tinha uma dimensão divulgada pelo Governo ilusória, a rondar os 3%, meta definida no PEC, mas que na realidade estava na casa dos actuais 6%. Acho curioso como é que nenhum investigador ou jornalista ainda se lembrou, ou quis divulgar, o valor do défice quando Guterres saiu, e como ele ficou após a passagem duma frustrada “Dama de Ferro”, que de tão séria, o aumentou em cerca de 2% após o sua passagem pelo Ministério das Finanças onde adoptou a postura de que todos nos recordamos como um episódio triste do nosso passado recente. Gostava de reforçar a palavra passado. Espero sinceramente que ela fique por lá, como uma memória cada vez mais ténue.

De volta ao OE, que enuncia também medidas de estímulo. Estímulo à poupança, através da dedução fiscal para quem invista em PPR/E´s, o que, para além do intrínseco à própria poupança, revela um sentido mais amplo e mais apostado no médio e longo prazo da sustentação da Segurança Social, mais concretamente através de complementos de reforma. O reforço de dotações orçamentais no Ministério da Segurança Social também se reveste como uma aposta em políticas sociais, privilegiando-as em detrimento de políticas de Defesa e os seus gastos em submarinos, falácia absoluta e despropositada perante o conhecimento das características do país em causa. Ainda nos sinais políticos que se quer dar, o aumento proposto de 3% para o salário mínimo (que de acordo com o líder do maior partido da oposição anda nos 300 e tal euros, na moeda antiga qualquer coisa como 150 contos (alguém ajude o senhor na matemática, por favor)), ficando acima da inflação prevista, reforça o carácter de combate à pobreza e de tentativa, ainda que ligeira, de encurtar espaço relativamente a patamares salariais acima colocados.

A generalidade da opinião pública, pelo menos daquela que não fala mal por falar e que vota contra porque sim, classificou-o como um bom Orçamento, deixando alguma margem de manobra para o alcance de algumas propostas mais árduas, como a redução do défice, só para dar um exemplo. Neste caso, pode-se dizer que a proposta é ambiciosa e que não explica em pormenor os meios para atingir tal fim, mas também podemos ver por experiências anteriores que muito pouco é imutável e estanque, e que a capacidade de previsão de campos como o das receitas fiscais e do preço do petróleo, só para citar os mais evidentes, têm-se revelado desastrosas, e este último não é um mal que tenha atingido apenas Portugal, mas que sofremos de uma forma acentuada pela nossa reduzida dimensão e por nos encontrarmos numa periferia geográfica.

Para chegar ao âmago da questão enunciada no início deste texto, o PSD classificou o OE para 2006 de “globalmente positivo” e na altura da votação pendeu para o contra. As justificações encontradas (aeroporto da Ota, TGV) são de fraca expressão, porque todos sabemos que o aeroporto da Portela está a chegar a uma situação-limite de falta de capacidades e não consegue competir com os seus mais directos adversários, e o TGV, para quem tem memória curta, os seus trajectos foram discutidos à mesa por Durão Barroso e José Maria Aznar. O mau sinal que é dado, para além da incoerência óbvia com os seus próprios ditames, prende-se com um renunciar aos tantas vezes anunciados e prometidos acordos para um Plano Estratégico Nacional, a passar por uma conjugação de esforços mútuos. Já se percebeu que também não se consegue contar com o PSD para tal, nem sequer para uma discussão séria dos assuntos que requerem sentido de Estado. É pena. É Portugal que fica a perder.

«30 anos depois. Leituras académicas»


A segunda conferência do dia proponha um debate sobre «30 anos depois. Leituras académicas». E, devo confessar, fomos privilegiados por um painel de irrepetível qualidade.

Apesar da falta do Fernando Rosas – muito bem «substituído» pelo António Costa Pinto – contámos com a presença da Inácia Rezola, da Manuela Cruzeiro e do Tiago Moreira de Sá. Entre eles, bem mais de uma dezena de publicações, só sobre o tema em debate, o que atesta bem da qualificação do painel. Muito boas apresentações pecando, talvez, por ter o painel quatro elementos e não os ter permitido explanar totalmente os seus pontos de vista. Esta é, sem duvida, das situações a rever no futuro. Eram quatro oradores e investigadores excepcionais, sem questão, mas a verdade é que 15 minutos são não só difíceis de cumprir como curtos para expor um argumento sólido e consistente.

E ainda por mais com Sottomayor Cardia na plateia… (bom trabalho o da oradora, Rita Castel-Branco, limitando as suas intervenções…).

Assim, Costa Pinto iniciou as hostilidades, apresentando uma visão geral sobre os diversos trabalhos académicos já produzidos sobre o tema (cumpriu, à risca, o seu tempo). Seguiu-se Inácia Rezola, preparando-nos para os dias finais de Novembro com uma contextualização de impar sapiência e análise. Postas as peças, Manuela Cruzeiro desenvolveu uma verdadeira investigação policial relativa aos acontecimentos do próprio dia 25 de Novembro (em investigação a publicar em breve), procurando seguir os diversos actores na verdadeira trama que se teceu entretanto. Para isso procurou definir as diversas forças em confronto, os seus projectos, planos e principais actores, e prostra-los nessas horas de definição. Por acaso do tempo, descreveu todas as forças menos as que sairiam vitoriosas: os moderados (liderados por Ramalho Eanes e Vasco Lourenço). Por fim, o Tiago Moreira de Sá presenteou-os com os aspectos internacionais dos episódios em causa, com especial dedicação aos EUA; numa apresentação recheada de investigação nova, inédita e ainda «secreta» (o que se disse lá ficou…).

A plateia, mais interventora que na sessão anterior, aguentou bem a sessão, explorando aspectos pouco desenvolvidos nas apresentações. Destacou-se, naturalmente, Sottomayor Cardia.

A todos, e em especial à nossa moderadora Rita Castel-Branco, o nosso muito obrigado.

Sábado, dia 19 há mais…

Paris em Lisboa


















Estas imagens foram recolhidas no Sábado à noite, no Bairro Alto.

«deve de ter sido uma beata», dizia um dos 10 bombeiros presentes.

E eu à espera da polícia de choque.

Cardia



















(1973)




















(1971)

Memórias de quando Cardia marcava a política portuguesa. Para que não se esqueça.

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