Vi por duas vezes a exposição. Uma na inauguração, outra numa conferencia sobre «Arte contemporânea e públicos» (de que falarei de seguida). E devo dizer que no geral gostei.
Tenho a mania de dizer aos meus amigos que «sou um experimentalista», que gosto de me aventurar, academicamente, sensorialmente e intelectualmente em terrenos que não domino, onde me levam, puxam e guiam perante construções alheias. Gosto dessa sensação de descoberta. Gosto de me ausentar das minhas especialidades e olhar ingenuamente para o trabalho de outros. É um processo bastante reconfortante.
Assim sendo, foi com natural curiosidade que me apresentei à nata da classe artística alfacinha. O tema era «uma selecção da mais jovem expressão artística nacional». O espaço da intervenção era a Estufa-Fria. A organização cabia ao BLUG, com alto patrocínio do Millennium BCP.
Das obras e dos artistas expostos algumas considerações. Desconstruindo o tema, jovens nacionais, verificámos que além de termos artistas estrangeiros representados (um basco) tivemos idades entre os 25 anos (os mais novos) e os 37 anos (a mais velha). Eu pensava ir ver teenagers – do IADE, da FBAUL ou algo do género – e que me tentariam surpreender com o carácter irreverente, directo e inconsequente; o que não aconteceu. Deparei-me com obras já com alguma reflexão, com alguma maturidade e com muito sentido.
Não se pense, no entanto, que gostei de todas.
Gostei dos Abraçatórios, de Susana Pires, pelo aspecto moderno e contemporâneo com que ela ultrapassou o conceito de peluche. Os seus Abraçatórios, de varias séries, assumiam aspectos de preguiças que, colando-se a nós, assumiam uma estranheza simples de quem partilhava conforto com a peça em causa. Poderá ser um caso sério de popularidade, caso pegue a moda. Pensada numa vertente de Marketing.
Gostei também bastante d’ Os Reflexos de Prazer na Dor do Outro, de Eva Alves, lembrando-me uma evolução de veludo de um estranho sonho de Sade, esse Marquês tão incompreendido. Eva Alves, cobrindo objectos de fetiche, de dor e de prazer com um veludo sensual e erótico, transmuta a Dor em Prazer e assume o Olhar como peça de Tacto. Queria essas peças…
Por fim, gostei também da instalação de David Etxeberria, o basco convidado para a exposição. Talvez por se sentir estranho e estrangeiro, talvez por ser «o convidado», ou talvez simplesmente porque lhe tenha apetecido, a verdade é que a sua instalação vídeo nos convidava a partilharmos da sua natalidade, da sua terra, do seu país Basco. E aí retribui-nos o convite. Éramos puxados para uma mole de sons e imagens, ora transportando-nos para o clima da sempre traumática guerra civil espanhola, ora colocando-nos como espectadores expectantes de um aparentemente simples jogo de pelota basca. No meio, por trás, por baixo das imagens, como notas escondidas, uma panóplia de sons que nos guiavam os sentimentos. Falava da contemporaneidade basca. Da sua simplicidade. Da sua complexidade. Gostei.
Não gostei nada do T-zero do Nuno Sousa, fraco, básico e sem imaginação; da Folia da Joana Conceição, muito previsível, sem escapes imaginativos e sem vida. A Parábola do Feminino do Daniel Velez também a achei para o fraco. Talvez por gostar muito de fotografia. A madeira da Alexandra Aguiar, o trabalho do Francisco Vidal, da Maria Joao Alves, da Sofia Leitão e da Susana Anágua sem destoarem também não surpreenderam.
Apesar de não a ter seguido toda, gostei de alguns pormenores da intervenção do dia.
Em suma, um fim de tarde chuvoso muito bem passado. Vi-me envolvido em tramas não totalmente compreendidos, tomando os canapés da praxe, q.b., com a companhia de quem por dentro sente estas coisas.
É sempre bom quando assim é. Ser penetra de luxo, com direito a comentários insiders in loco e em directo. Obrigado Rita.
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