Por entre vegetação rasteira e castanheiros reveladores de um Outono assumido na caducidade das folhas, uma estrada de montanha avança pelo sopé da serra, fazendo-nos crer que o tempo passa um pouco mais devagar. Viajamos através do Marão.
Ao fundo, uma rechã acolhe um pequeno povoado de xisto, rodeado por um olival que lhe é contemporâneo. Esta aldeia continua a perder a sua alma, na ausência dos que emigram, e com o esventramento provocado por aqueles que regressam, incapazes de a fazerem evoluir à luz do seu contexto espacial.
O nevoeiro dissipa-se por alguns momentos, sendo agora visível a neve que uniformiza a paisagem nos pontos mais altos da serra. Tudo parece mais calmo. Existe espaço para a tranquilidade.
Mais alguns quilómetros, mais uma mudança de estrada, e a paisagem anuncia o silêncio, este apodera-se do tempo, que corre ainda mais devagar, com uma intensidade que convida a permanecer.
A viagem continua num trajecto irreversível em direcção ao litoral, os traços são agora de uma outra ruralidade. O povoamento é mais disperso, culturas semelhantes revelam diferentes práticas agrícolas, as ruínas da indústria de outrora afloram a cada momento, são terras de identidades confusas. Não me agrada o que vejo, nunca gostei desta fronteira.
As indicações insistem num só destino, já se deslumbra o Porto, e com o aproximar desta urbanidade decido abandonar a escrita.
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