O último quartel do século XIX expõe o continente africano à ideologia colonial europeia. A conferência de Berlim (1884-1885) corresponde à face mais visível de um processo de partilha, que vai redefinir o desenho político-administrativo do espaço africano.
Iniciava-se um processo de expansão económica dos países mais industrializados, fosse pela exploração de matérias-primas, ou através da criação de mercados para exportação.
O europeu da segunda metade do século dezanove classifica as instituições económicas, políticas e sociais africanas como rudimentares. Nos momentos em que foram determinados limites fronteiriços foi esquecido o “outro”, o conhecimento que este detinha do espaço, determinante para a sua organização, cultura, história, etc. «Mais de 28 milhões de quilómetros quadrados e muitas dezenas de milhões de africanos ficaram submetidos à administração colonial europeia, no interior de parcelas que cada potência foi talhando em seu proveito!»
Ao longo de décadas constituiu-se uma rede de fronteiras que obedeceu a critérios de ordem física, não se recorrendo às realidades políticas e sociais africanas. Determinaram-se fronteiras onde predominaram os traçados rectilíneos, saídos de convénios, onde se construíram consensos, utilizando paralelos e meridianos.
A importância do controle de territórios costeiros ajuda-nos a compreender a configuração territorial do interior africano, onde territórios de grande dimensão exigiam uma ligação marítima.
A rede hidrográfica assume importância, quer enquanto via de comunicação, no caso dos grandes rios, ou como barreira física. Neste contexto, também os grandes acidentes geográficos assumem papel de destaque na construção do mapa político.
Estes critérios determinam a definição das fronteiras coloniais no início do século XX.
O desenho físico que então se constituiu mantém-se no presente com a maioria dos traços primitivos. Mas, não devemos confundir manutenção com definição, pois: «Por volta de 1920 já estava quase tudo sob administração ou protecção colonial, ou era reclamado por uma ou outra potência. A demarcação das fronteiras no terreno prosseguiria até mais tarde, mesmo depois da Primeira Grande Guerra. Todavia, estima-se que cerca de 50% das fronteiras ainda hoje estejam por demarcar. E quanto às fronteiras marítimas, quase tudo está por resolver.
Jorge Macieirinha
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