quarta-feira, novembro 02, 2005

Quem quer o Bloco Central?

Como se pode ver aqui, e sobretudo acolá, a famosa “Grande Coligação” alemã, composta pela união da CDU-CSU com o SPD, parece morrer antes de começar. Para horror dos neo-liberais dominantes na nossa comunicação social (ex: José Manuel Fernandes e Martim Avillez Figueiredo), parece que o exemplo que deveria iluminar as pobres cabeças da nossa elite partidária vai cair em chamas!

E ainda bem!

Porque a ideia de Bloco Central, e deixemo-nos de ilusões a “Grande Coligação” é o Bloco Central alemão, é contrária ao ideal democrático. Tentar criar um governo composto pelos dois partidos de poder é basicamente criar um governo ao qual não haja alternativa. Um governo que se mantenha no poder enquanto os partidos, que dele fazem parte, o desejem. Mantendo as ilusões de uma democracia formal, mas não real, este é o sonho dos tecnocratas. Derivado do princípio de que as soluções dos problemas da governação são conhecidos, e que basta haver coragem política para implementar as soluções neo-liberais, o Bloco Central seria o instrumento privilegiado para ultrapassar a fortíssima oposição na população que a implementação que tal programa de destruição do Estado Social que tem sustentado a democracia na Europa.

A democracia é o sistema pelo qual as populações exprimem as suas preferências em termos de políticas públicas. A ideologia é sobretudo um referencial heurístico que permite sintetizar essas preferências numa forma simples. Ao juntarmos partidos que tem visões ideológicas diferentes num mesmo governo, e sobretudo partidos que representam, entre si, a única alternativa um ao outro, estaremos a violar essas preferências.

O Bloco Central é de Esquerda ou de Direita?

A resposta dos neo-liberais é de que é de Centro. Mas o Centro não existe. Ninguém tem uma posição ideológica central: tem-se posições de Esquerda ou de Direita, consoante os assuntos. Uma pessoa é contra ou a favor da intervenção do Estado na economia. Uma pessoa é contra ou a favor da diminuição da função pública. Uma pessoa é contra ou a favor da guerra do Iraque. O meio-termo não existe nas dicotomias. E a política é uma questão de dicotomia. Ou queremos a Esquerda ou queremos a Direita.

Não existe o Centro ideológico!

A outra componente do Compasso Político é, como muitos de vós sabem, a dicotomia Liberdade/Autoridade. Num extremo temos a liberdade máxima do indivíduo (anarquia), no outro temos o poder máximo do Estado (autoritarismo). Também aqui temos uma questão de escolha política por parte dos eleitores, que está subsumida na dicotomia Esquerda/Direita. Os neo-liberais vs os conservadores à Direita, e os socialistas/comunistas vs liberais/anarquistas à Esquerda.

A escolha é entre aqueles que privilegiam o Individuo sobre o Estado, e aqueles que privilegiam o Estado sobre o Individuo. No actual clima hegemónico neo-liberal, parece que só existe uma escolha popular. Mas lembrem-se sempre que é o Estado o principal instrumento de defesa das minorias, dos pobres e todos aqueles que seriam devorados e destruídos pelo neo-liberalismo.

No fundo, é o Estado que nos separa dos animais e da lei da selva!

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