quinta-feira, dezembro 29, 2005

And the winner is...

Já entenderam que temos andado a meio gás… é que não é fácil manter o ritmo durante esta semana…

Seria sempre fácil ocupar algum espaço na blogosfera escrevendo sobre os «mais» e os «menos» de 2006, como tantos fazem, caindo nesse cliché tão in e intelectual. É um processo deveras interessante, se o analisarmos um pouco: não só mostramos toda a nossa erudição e atenção ao novo, como aproveitamos para vender este ou aquele novo produto cultural/académico/social – este escritor, aquele filme, o outro livro –, no meio disso afirmamos a nossa insubstituível presença no meio.

Pois, para mim, «Natal é todos os dias» … não necessito de ter estes espaços criados, sempre artificiais, para poder retirar algum tempo de reflexão sobre o que de bom e de mau se fez…

Desculpem a confidência, mas irritam-me estes «balanços» da época. Assemelham-se àqueles sorrisos e abraços de jantares de família. Temos, na altura prevista, todos sorrir e mostrar muito afecto. Pois esta é a altura de mostrar a erudição, o conhecimento, a pertinência das nossas escolhas.

Não estou nessa.

Até já.

Vergonha - Parte 2

Depois da ex-sede da PIDE/DGS, é a vez da casa onde viveu e morreu Almeida Garrett ser demolida para dar lugar a mais apartamentos de luxo. Sinceramente não tenho vontade de dizer mais nada... por agora...

No entanto, peço a todos que assinem a petição para salvar a casa de Almeida Garrett em http://www.petitiononline.com/casaag/petition.html e que passem a palavra.

P. S. - O actual proprietário da casa é o ministro da Economia Manuel Pinho, o que torna o caso ainda mais vergonhoso.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Foi bom. Até que foi bom

Espero que tenham passado umas boas festas.

Apesar de não ser nada dado a estes ares festivos – este ano nem fiz a «mensagem de Natal – devo confessar que até me soube bem. Partilhei-o, pela primeira vez com a minha família, com a minha mulher (que nunca tinha passado fora da família dela). Talvez pela novidade, talvez pelo brilho que constantemente emanava dela, pelos seus olhos e pelo seu sorriso, a verdade é que, contagiado, entrei no espírito. Correu bem.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Sobre eleições

Não sabia nem que já tinha sido aprovada, nem que tinha estas «caracteristicas»; mas segundo Vital Moreira Berlusconi já se precaveu de eventuais supresas indesejadas.
Ao se confirmarem as observações feitas no Causa Nossa, estaremos perante uma Democracia a gosto, escolhida e medida segundo a conveniência do Chefe. Ali, Itália, pátria de Verdi, foi possivel criar um Berlusconi. E cá, nesta nossa terra, estaremos a salvo de populismos exclusivistas só porque a experiência Santanista falhou? Não estarão alguns alinhados, de gatas, por detrás de Cavaco, esperando a altura certa para o assalto constitucional desejado há 30 anos?
Eu receio, pelo que tenho lido da alguma opinião publicada, que se escorregue para situações de tipo italiano, em Portugal. Bem sei que Cavaco não é Berlusconi, mas também sei que há na direira portuguesa quem gostaria que fosse...
Bom, muito bom.

É por estas e outras que há que lhe retirar a pele...

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Para reflectirmos...


Dada a época em que nos encontramos, onde o egoísmo proprio de quem olha só pra dentro é colocado a descoberto, por aqueles que nos avivam a consciência para todos aqueles que procuramos ignorar, os pedintes, os desajustados do sistema, os desafortunados, os sobriviventes á esperança, resolvi partilhar a mensagem que é transportada nesta imagem...

Bom natal

Cama de Gato

As coisas acontecem, sucedem e a gente aproveita ou não. Há um jogo de meninos que, em Portugal, se chama cama de gato: os meninos atam um cordel em círculo, depois fazem assim com a mão, vem outro e faz uma complicação qualquer, mete o dedo e faz outra complicação, vem outro ainda e quanto aos dedos faz assim e tira, e forma outra figura. Este jogo chama-se cama de gato. Então, eu acho que na vida o que há, é um jogo perpétuo de crianças com a cama de gato, que a vida vem de vez em quando e apresenta-nos o problema, olhamos e vemos como havemos de tirar, depois metemos os dedos, fazemos assim e sai outra coisa. È que toda a nossa habilidade é tornar a ser crianças para ver como é que sai a cama de gato.


Agostinho da Silva



Bom Natal.
Até 2006.

Pensei não dizer nada…

Não sei se deveria dizer alguma coisa… não tenho noção de «espectadores» ou de leitores que aqui se liguem, num trajecto diário, à procura do que eu possa ter escrito, na hora, sobre isto ou aquilo. Não tenho nenhuma ideia de mim.

Por isso, quando refreei a minha participação fi-lo de forma não só inconsciente como, admito, egoísta e individualista. Não dei nenhuma satisfação aos meus «leitores» (talvez por não me considerar, como já referi, importante…). Fá-lo-ei agora. (sempre quis escrever fá-lo-ei…).

A razão por que não tenho escrito com a regularidade com que o fazia prende-se somente por razões profissionais: escrever diariamente toma-nos tempo, tempo esse que, por vezes, torna-se difícil de encontrar. E como tenho uma tese para acabar, tenho privilegiado a investigação arquivística da mesma (na Torre do Tombo); de forma que não só não estou «ligado» durante o dia como quando chego a casa trabalho os resultados da pesquisa diária (releitura de copias, tratamento de base de dados, preparação do próximo dia, etc.). Ou seja, não tenho tido nem o tempo nem a cabeça necessária, se não para escrever com pertinência, para dizer alguma coisa de interesse.
Esta escolha, quero deixa-lo bem claro, nada tem que ver com o projecto do Clube «Loja de Ideias», muito pelo contrário. Acho que o que já fizemos granjeia-nos um capital de confiança para encontrarmos no futuro vontades e ambições colectivas de (julgamos) consequência.
Sei, também, que devemos fazer um esforço suplementar para estarmos mais em contacto com este (e outros) projecto. É por isso que dizemos sim. É por isso que nos comprometemos. É por isso que nos responsabilizamos. E por isso continuarei por cá. Até breve.

Voltei…

Após uma programada ausência (onde aproveitei para avançar decididamente na investigação da minha tese), voltei…

E para falar dos debates.

Muitos, para diversos gostos e para diversas percepções.

Para os analisar, como o espero fazer nos próximos dias (voltei, mas ainda com pouco gás), teremos que nos posicionar não só na contenda em causa como também na multidimensionalidade analítica envolvente.

É dizer: eu apoio Soares. É afirmar: para mim, uma vitória de Cavaco pode ser muito perigosa. É saber afirmar, positivamente, e à priori, o posicionamento próprio, condicionador, sempre, da opinião. Nada nem ninguém é neutro ou amorfo. Não nestas eleições. E quem assim se procura assumir, sem o fazer, disfarça e engana. Eu não.

Agora, não é por ter uma posição assumida que me coíbo de opinar.

(voltarei, muito em breve, ao assunto)

terça-feira, dezembro 20, 2005

Opinião em sociedade

Falta magnetismo, é isso, pouco se aproxima, a divergência parece um princípio, forma de marcar posição, sem que na prática esteja solidificada no mínimo de conhecimento, mas por norma, essa divergência pretende alcançar objectivos bem definidos.
Muito se fala na troca de experiências, na vontade de aprender com os outros... Grandiosa falácia!!!
Tudo se sabe (não conhece), e é sempre um bom momento para mostrar a invulgar sapiência. Mas na verdade, dai não se constroi riqueza.
Como sabe bem o silêncio nesses momentos.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

...

Deambulando por ruas de padrões variáveis, enriquecidas por um punhado de residentes, pela rotina dos movimentos pendulares, pelos que se saciam de um prolongado jejum natalício, ou simples turistas curiosos e uns quantos curiosos turistas, a baixa de Lisboa assume uma multiculturalidade de cariz ainda mais popular.

O olhar não deixa escapar a mecanicidade dos movimentos, apenas disfarçados pela multiplicidade de cores, que preenchem os espaços de uma noite fria. Profanam-se aos recantos da cidade os seus ambientes, atractivos ou repulsivos, variáveis com o estado de espírito que nos caracteriza na volátil passagem do momento.

Existe uma uniformidade visual, meramente aparente, secundarizada quando percepcionados os cheiros, sons, e movimentos característicos de algumas ruas. É isso que nos localiza.

O olhar é agora atraído por um espectro festivo, intensamente popular, com intentos pouco virtuosos. Para resistir à ludibriação torna-se necessário activar todos os sentidos, para fruir “conscientemente” o presente, mas sem deixarmos de recorrer ao auxílio das imagens e experiências, que guardamos de cada rua, praça, dos olhares mais genuínos, das sensações que nos identificam com os lugares. Prática necessária, apenas porque o desconhecimento é maior.

Assim é mais fácil prosseguir o deambular, apenas por ser simples o discernir.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Arthur Schopenhauer

"Quanto mais uma pessoa tem em si, tanto menos os outros podem ser alguma coisa para ela. Um certo sentimento de auto-suficiência é o que impede os indivíduos de riqueza e valor intrínseco de fazerem os sacrifícios importantes, exigidos pela vida em comum com os outros, para não falar em procurá-la às custas de uma considerável auto-abnegação. O oposto disso é o que torna os indivíduos comuns tão sociáveis e acomodáveis: para eles, é mais fácil suportar os outros do que eles mesmo. Acrescente-se a isso que aquilo que possui um valor real não é apreciado no mundo, e aquilo que é apreciado não tem valor. A prova e consequência disso estão no retraimento de todo o homem digno e distinto. Assim sendo, será genuína sabedoria de vida de quem possui algo de justo em si mesmo, se, em caso de necessidade, souber limitar as suas próprias carências, a fim de preservar ou ampliar a sua liberdade, isto é, se souber contentar-se com o menos possível para a sua pessoa nas relações inevitáveis com o universo humano.
Por outro lado, o que faz dos homens seres sociáveis é a sua incapacidade de suportar a solidão e, nesta, a si mesmos. Vazio interior e fastio: eis o que os impele tanto para a sociedade quanto para os lugares exóticos e as viagens."


In: Aforismos para a Sabedoria de Vida

Pollock



O Olho e o Espírito


“Imerso no visível graças ao seu corpo, também ele visível, aquele que vê não se apropria daquilo que vê: apenas se abeira com o olhar, acede ao mundo, e por seu lado, esse mundo, do qual faz parte, não é em si ou matéria. O meu movimento não é uma decisão do espírito, um fazer absoluto que decretaria, do fundo do isolamento subjectivo, qualquer mudança de lugar miraculosamente executada no espaço. Ele é a sequência natural e a maturação de uma visão. Digo de uma coisa que ela é movida, mas o meu corpo, ele, move-se, o meu movimento desdobra-se. Ele não está na ignorância de si, não é cego para si, resplandece de um si… O enigma consiste em que o meu corpo é ao mesmo tempo vidente e visível. Ele, que mira todas as coisas, pode também olhar-se, e reconhecer então naquilo que vê o «outro lado» do seu poder vidente. Ele vê-se vendo, toca-se tocando, é visível e sensível para si mesmo. É um si, não por transparência, como o pensamento, que não pensa o que quer que seja sem o assimilar, constituindo-o, transformando-o em pensamento – mas um si por confusão, narcisismo, inerência daquele que vê em relação àquilo que vê, daquele que toca em relação àquilo que toca, do que sente ao que é sentido – um si. Portanto, que se compreende no meio das coisas, que tem um verso e um reverso, um passado e um futuro…”

Merleau-Ponty

Humor negro com algum fundamento...

Aqui vai uma sugestão para ser atendido com prioridade nos Hospitais Portugueses.

Está doente?
Dirija-se a um hospital.
E diga que lhe morreram as galinhas todas.

Fazem-lhe todos os exames....e com sorte ainda aparece na televisão.

P.S. – Reflexão também publicada no Geosapiens.

Campanha da Greenpeace...

A Greenpeace de França lançou esta campanha:
http://www.etopia.be/IMG/wmv/enpanne.wmv
Gostava de partilhar convosco o activismo com inteligência, que foi demonstrado neste vídeo, sobre um problema que infelizmente todos nós conhecemos bem.

P.S. – Reflexão também publicada no Geosapiens.

Pena de Morte.

Aproveitando o facto de o meu caro amigo Fernando B. do Blog: Fraternidade ter referido o assunto com um interessante e muito completo post sobre os Corredores da Morte, mas dando uma ênfase aos E.U.A. (sem esquecer outras realidades) com a qual concordo na sua totalidade.
Falarei do mesmo assunto mas dentro do aspecto da ética e dos valores civilizacionais que um estado de direito, independentemente da sua organização politica deve ter em relação a este assunto e apontando casos de estados, para além dos E.U.A., que se contradizem na sua opção de manutenção da Pena de Morte.
Matar legalmente!!!
É o que se fala quando falamos em Pena de Morte, ou seja na atribuição através de uma decisão jurídica e também politica, pois os recursos ou eventuais perdões são sempre uma decisão politica de âmbito pessoal, na qual a comunidade e a pessoa por si eleita ou que exerce o poder por esta e/ou ficticiamente em nome desta, como nos estados Monárquicos e ditatoriais sejam fascistas ou pertençamente marxistas, opta por retirar a vida a outro ser humano.
Existem vários argumentos pró pena de morte que são basto conhecidos, por exemplo:
A Morte é a única maneira de reparar o mal que a outra pessoa fez!!!
Pela Morte teremos a remissão dos pecados que essa pessoa cometeu pela as outras pessoas!!!
Melhor que eu este Blog sobre a Pena de Morte, na sua área Porquê Abolir a Pena de Morte rebate de forma correcta e metódica todos os argumentos que poderão sequer ser utilizados na sua defesa.
Num dos muitos argumentos que este apresenta fala-se por exemplo da descriminação na sua aplicação, este assunto já referi anteriormente num meu post: Quando a opção sexual é um crime !!! em que refiro e denuncio precisamente o facto de que os homossexuais masculinos no Irão são condenados à morte e sumariamente executados pelas suas opções sexuais, este caso que poderemos achar bárbaro não é diferente do relato no post Corredores da Morte, pois a pena não é diferente, apenas há uma aparente maior legitimidade, mas esta é aparente, pois os recursos apenas adiam a pena e aumentam a tortura física e psicológica da pessoa visada pela pena e a maneira de morrer é apenas um pormenor pois o objectivo, que é provocar a morte, consuma-se.
É interessante ver que assistimos a uma regressão do seu uso, tal deve-se não só mas também ao facto da grande pressão da União Europeia, e das suas opiniões públicas bem como de várias organizações, na qual destaco por razões óbvias a Amnistia Internacional, mas também porque os seres humanos quando vivem em estados democráticos terem alguma renitência em apoiar a existência desta pena.
Pois a ética democrática quando interiorizada gera através de uma compreensão dos limites e do reconhecimento das falhas humanas, que forçosamente a aplicação da Pena de Morte implica, nem que seja pelo facto de poder ser injustamente aplicada, levando através disso ao reconhecimento que esta deve ser abolida.
Subsistem na área Retencionista, ou seja países e territórios que mantém a pena de morte, mesmo para crimes vulgares e que activamente a praticam (pois existem países onde embora esta seja legal já não é aplicada à mais de dez anos) muitas ditaduras sejam fascistas, como a Jordânia, a Republica Democrática do Congo, a Arábia Saudita ou a Suazilândia ou pertençamente marxistas (quase todas) inclusive a coqueluche dos intelectuais ocidentais, ou seja Cuba, nada que não seja algo que esperemos pois quem decide nestes casos ou é uma figura ditatorial ou uma elite que pertençamente representa a sua população.

Também existem países em que sob a tutela dos E.U.A. patrocinam a pena de morte como o Paquistão, o Afeganistão, o Iraque ou a Jamaica, tomando como exemplo o seu tutor, são bons "filhos" por esse motivo.

Na área das democracias não aquelas apenas formais, como o Zimbabué, a Tanzânia ou Singapura, mas as já de facto implantadas temos vários casos que podemos considerar como gritantes entre eles o já citado caso dos Estados Unidos da América, a que podemos juntar a Autoridade Palestiniana, a Índia, o Japão, a Coreia do Sul e Taiwan.
E porquê?
Nos casos do Japão, a Coreia do Sul e Taiwan porque cada um à sua maneira tenta ser um exemplo de motor económico, social, ético e politico na Ásia e no mundo, opondo-se inclusivamente tanto a Coreia do Sul como Taiwan a regimes (Coreia do Norte e Republica Popular da China) que estes consideram errados, não obstante estes aplicam a pena dos que criticam com tanta desenvoltura. Não sendo por esse motivo tão diferentes eticamente destes últimos.
A Índia é a maior democracia do mundo e pretende num futuro próximo ser um dos motores da economia mundial e entrar no jogo mundial da liderança económica, social, ética e politica, mas tem imensos problemas já conhecidos como a explosão demográfica descontrolada, a concentração maciça e desordenada da maioria da sua população em cidades e a pobreza num dos países em que a diferença entre os ricos e os pobres é gritantemente demonstrada a estes podemos juntar a aplicação da pena de morte, que aqui mais do que em outro país do mundo só é aplicada a pessoas desfavorecidas que não tem acesso a bons advogados. No país de Mahatma Gandhi, o campeão do pacifismo e da independência pela acção pacifica, presta-se assim tributo ao seu fundador.

Por fim a Autoridade Palestiniana, este estado (que segundo muitos ainda não o é), afirma-se contra Israel e a sua politica de assassinatos selectivos, é apoiado pela União Europeia tanto em termos sentimento popular como em financiamento e promove com esse apoio a pena de morte nos seus territórios e aplica-a essencialmente a pertenços colaboradores palestinianos com o estado de Israel. Onde temos então a diferença!!! Será que o meu dinheiro como contribuinte activo do IVA serve para patrocinar tais actuações!!!
Em relação à Pena de Morte, embora se esteja mais próximo da sua erradicação em termos mundiais, só será passado quando for um valor ético assumido mundialmente, através de uma Confederação ou Federação Mundial de povos e estados, até lá está dependente dos poderes políticos ocasionais que vão governado os respectivos estados nacionais.
P.S. – Reflexão também publicada no Geosapiens.

terça-feira, dezembro 13, 2005

TERMINARTOR 4




Já estreou numa sala perto de si. A última versão de Arnie que desta vez poupou-nos de lutas incríveis contra máquinas milaborantes que vieram do futuro. As armas escolhidas para o combate épico deixaram de fora as bazucas, as M-60, facas de mato, as bombas e os F-16. Desta vez, o pull the trigger foi um perigoso engenho explosivo incontrolável que criou uma catástrofe. O único electrão que gravitava na cabeça oca de Arnie colidiu com o único protão que por lá existia. Resultado, o homem pensou e deu asneira. Arnie o Implacável, austríaco de 59 anos, pensa nos seus delírios imbecis de um dia escalar à casa branca à imagem de Reagan, e nada melhor que começar a mostrar serviço. A avaliar por Bush, o método compensa.

Não sei porque ainda tinha esperança se ao longo de duas décadas o sujeito já nos vinha a enviar mensagens subliminares com as suas obras-primas, onde a violência e o músculo se substituíam à arte dramática. Conam o Bárbaro, Terminator, The Running Man, só para mencionar os “clássicos”. Em todos eles sempre com a mesma frase ridícula “I’ll be back”. Todos lhe achávamos piada, e agora o gajo voltou mesmo. E que bonito resultado.

O comportamento selvagem e primário deste governador é preocupante. Quem se julga ele? César em pleno Coliseu romano, onde apenas um polegar fazia a diferença entre a vida e a morte?

No caso de Stanley Williams, um perigoso líder de gang, assistimos a um verdadeiro milagre no sistema prisional americano. O homem regenerou-se e a partir de uma cela deu um valiosíssimo contributo para a sociedade civil. Quantas vidas terá salvo, ou melhor, quantas mortes terá evitado ao negociar tréguas de gangs ou a promover palestras e livros para jovens?

Numa sociedade onde o telelixo e substitui aos modelos familiares, fulanos do calibre de Schwarzenegger ou Eminem têm tempo de antena para publicitarem a sua mediocridade, apelando à violência básica e estúpida, encenando a morte através dos seus filmes e músicas. Ao pé destes, Stanley Williams tinha classe. Fora um ganster de verdade, tinha curriculum e talvez por isso mesmo, percebeu o perigo real que a violência constitui. De facto, não era nenhum palhaço como Arnie que só matava na tela, e agora também por decreto.

O meu consolo é que sem saber, com o seu provincianismo pacóvio, Arnie acabou por fazer um mártir. Calculo que os livros de Williams vendam mais do que nunca.
Só me resta apelar aos californianos: Nas próximas eleições, exterminem o Exterminador.

N’Dalo Rocha

Debates!!!

Objectivamente, e esquecendo modelos, debater define-se como o acto de «discutir; contestar (...) agitar-se com violência procurando resistir.»
Todos conhecemos exemplos em que se aplica a terminologia anteriormente empregue. É curiosa a facilidade com que a expressão «agitar-se com violência procurando resistir», também se adapta à política. Na verdade o que mais se gosta de fazer e ver por cá são debates.
Um dos problemas destas presidenciais, e de todos os anteriores actos eleitorais, é que ninguém revela, nem quer revelar ao eleitorado o que pretende fazer (os que pretendem alguma coisa), principalmente se implica mudança.
Em Portugal mudar é sucessivamente interpretado como sinónimo de piorar, não se promete um futuro que não esteja cravado pelo recurso à boa tradição e costumes. Evoluir sim, mas com calma, o ideal é apenas parecer que muda alguma coisa, uma qualquer sensação de movimento. Vivemos apegados ao passado, e tememos o futuro por falta de confiança, e seguramente alguma autoestima, não somos capazes de idealizar e por em prática algo de bom, que seja na sua essência novo. Já chega de prometer o mundo e não ser capaz de sair da província.
Façam os debates que quiserem, porque esses nunca irão dar a conhecer ideias e propostas concretas. Esse tipo de espaços servem unicamente para exercícios de retórica e demagogia.
O discurso será sempre dirigido ao “desgraçadinho”, que deverá ver no político o seu caracter messiânico. O ancestral pressagio do salvador promete não desaparecer tão cedo. E o cidadão que é pouco exigente consigo próprio, não pode, nem quer exigir competência aos detentores de cargos políticos. Deposita-lhes apenas uma triste esperança.
De que servem os debates senão para alimentar por mais alguns momentos o circo mediato da política.

Conan, O Bárbaro

Stanley Tookie Williams, de 51 anos, foi executado na madrugada desta Terça-Feira. De nada valeu os pedidos de clemência, ou o assumir do erro, ou os livros que escreveu sobre a violência perpetrada por gangs, ou ter servido de moderador entre gangs rivais, ou ter contribuído para ajudar a parar com a violência nas ruas americanas, de tal forma que foi considerado para o nobel da paz. Não! Para Conan, O Bárbaro, Stanley Tookie Williams não estava a ser honesto na sua redenção, porque não pediu desculpa pelos assassinatos cometidos, assassinatos esses de que o condenado sempre se considerou inocente, mesmo admitindo a sua condição de líder de gang.

Conan, O Bárbaro realiza assim mais uma sequela destes seus filmes. Depois de Conan, O Bárbaro e de Conan, O Destruidor, temos agora Conan, o Executor!

E ainda há quem queira transformar Portugal numa Califórnia...

P.S. - Post colocado também em
Esquerdices!

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Debates

O modelo adoptado pelas televisões portuguesas para os debates entre os candidatos à Presidência da República tem sido alvo de múltiplas críticas nos últimos dias pelo facto de promover uma espécie de “entrevistas paralelas” e não desencadear uma verdadeira discussão de ideias.

Deixem-me partilhar algumas das reflexões que tenho feito sobre o assunto.

À partida, este modelo anglo-saxónico seria o ideal. Cada candidato podia expôr calmamente as suas ideias e sem interrupções constantes – o que acabaria com o lema “quando mais alto falar, mais zangado pareço e quanto mais zangado parecer, mais parece que tenho razão” – e contribuiria para um maior esclarecimento. No entanto, o que se viu, até agora, foi a tentativa de falar muito e dizer pouco, de ser o mais ambíguo possível para agradar a todos, de usar o discurso do lugar-comum e da “cassette”.

Porém, o modelo que se usava antigamente em Portugal e de que todos sentem uma imensa nostalgia, o do “tudo ao molho e fé em Deus”, também não me parece solução. A impressão com que sempre fiquei desse tipo de debates foi a da confusão, do ataque pessoal, da retórica e do fait divers, ou seja, do pouco ou nenhum esclarecimento, mas sim, do favorecimento de quem tem o dom da palavra em detrimento de quem tem o dom da ideia. E digo isto fora de qualquer suspeição. Mário Soares, o candidato que apoio, teria claramente vantagem sobre o seu mais directo adversário num debate deste tipo, pois domina a arte da confrontação oral. Aliás, se houvesse mesmo um debate entre todos os candidatos, Cavaco Silva estaria em grande minoria, maior ainda do que se fossem eleições legislativas, isto porque, tratando-se de eleições presidenciais, os candidatos de esquerda sem nenhuma hipótese de ganhar têm apenas o objectivo de derrotar a direita e não a conquista de votos uns aos outros. Seria, assim, um “tiro ao boneco” desigual e injusto.

O pior de tudo isto é que os políticos portugueses parecem não ter a maturidade cultural e mental (no sentido de mentalidade) suficiente para aproveitarem as características deste tipo de debate e esclarecerem os eleitores. A forma dos debates mudou, mas o conteúdo continua o mesmo, ou melhor continua a não haver conteúdo. Agora, em vez de se interromperem uns aos outros constantemente, falam com tranquilidade, mas continuam a não dizer nada, a não serem objectivos, assertivos, claros. José Júdice dizia, de forma crítica, na última emissão de O Eixo do Mal, que esta situação tinha a ver com o facto de sermos latinos e de, por isso, não nos conseguirmos adaptar a um modelo de origem anglo-saxónica e nórdica. Isto fez-me pensar que esta história de que o sermos latinos serve para desculpar toda a incompetência, desleixo, falta de rigor e mediocridade que reina neste país tem que acabar de vez. São esses mitos que criámos sobre nós próprios que têm que ser destruídos, caso contrário, continuaremos presos a uma falsa identidade que nos impede de sermos melhores.

Voltando ao tema principal, parece-me que, ainda assim, o modelo das chamadas “entrevistas paralelas” é melhor que o da “peixarada” pelo qual clamam as mentes sedentas de “sangue” na praça pública. Isto porque ajuda a revelar mais claramente os políticos que têm poucas ou nenhumas ideias a apresentar. Se for este o caso, a tentativa de falar de uma forma vaga ou ambígua, de fugir às questões, de repetir os mesmos chavões vazios de conteúdo, é mais perceptível do que no modelo antigo que vigorava em Portugal. Neste último caso, o que tendia a prender a atenção e a fixar-se na memória dos telespectadores eram as ninharias, as ofensas, a confusão, a agressividade de alguns candidatos, e o facto de não ter havido debate de ideias passava despercebido.

Assim, com este novo formato de debate, não há desculpas. Quem tem realmente ideias a apresentar, só não o faz se não quiser. Não há interrupções, nem gritaria. O político vazio fica sozinho e exposto, sem a protecção do ruído de fundo produzido pelos exaltados oponentes.
Poder-se-ía dizer: mas, desse modo, não há confronto. Não é bem verdade. Se duas pessoas tem duas ideias diferentes sobre um assunto e as expressam uma de cada vez, percebe-se essa divergência, não é estritamente necessário que tenham que se interpelar. Os filósofos John Locke e René Descartes tinham ideias opostas sobre a origem do conhecimento e, que eu saiba, nunca o debateram em público. Basta ler o que cada um disse e ver que há diferenças.

De qualquer maneira, o confronto em debates políticos televisivos em Portugal não é esclarecedor. Raramente o foi. Resvala para campos que nada têm a ver com o que interessa aos eleitores e de que já falei atrás. Talvez num futuro próximo, possam existir em Portugal debates frente-a-frente, com discussão de ideias de uma maneira civilizada. Por enquanto, os nossos políticos ainda não sairam do infantário e, por isso, teremos que nos contentar com o mal menor.

domingo, dezembro 11, 2005

Dia Nacional do Tango


Comemoram-se em tudo o mundo, no dia 11 de Dezembro, o nascimento dos criadores das vertentes do tango Argentino.

La voz, Carlos Gardel, nascido a 11 de Dezembro de 1890, ídolo e figura do tango argentino, e,
La Música, Julio De Caro, director de orquestra e renovador do genéro, nascido a 11 de Dezembro de 1899.


tango

Dança de origem africana, levada talvez pelos escravos negros, durante o século XVIII, para a América Espanhola, donde lhe provêm certas características espanholas, tendo tido maior desenvolvimento na Argentina, donde veio para a Europa, por volta de 1915, sob o nome de tango argentino;

Os medos do senhor Aníbal


Agora que a minha televisão deu o berro, (já tinha 25 anos) limito-me a ver os debates presidenciais pela Internet. Pelo menos aqueles que posso, já que inexplicavelmente, as rádios resolveram não se entender com as televisões. Resultado, sexta-feira em vez de transmitirem o debate ouvia um locutor eufórico que anunciava que o jogo de abertura do mundial seria o Alemanha Afganistão, ou Turquistão ou outro ão qualquer.

Por força das necessidades, lá me liguei ao site da TVI e segui com atenção a segunda parte do debate Louçã / Cavaco. E foi com perplexidade que ouvi algumas pérolas da boca de um tal senhor Aníbal, o homem que domina os números e a economia.

Entre outras ideias expressas, afirmava que um dos seus medos em relação à imigração seria que não se poderiam abrir as portas, senão correríamos o risco de amanhã sermos menos portugueses do que estrangeiros. Entrarem 10 milhões de estrangeiros assim de rajada, dá vontade de rir e demonstra um total desconhecimento, para não dizer ignorância sobre o funcionamento do S.E.F. e das restantes polícias. Ao inverso daquilo que é percebido pelo senso comum, a Europa está cada vez mais controlada, restringido o acesso das suas fronteiras, mesmo quando todos os governos dos 15 (e não ainda 25) já admitiram a necessidade anual da entrada de milhares de pessoas para poder manter os fluxos económicos actuais.

A brilhante afirmação do senhor Aníbal, o wizard da economia, teria até graça pelo ridículo que pinta, se não escondesse veladamente atrás das suas palavras, um preocupante indício de xenofobia. Como dizia o filósofo Innerarity, os políticos dizem realmente aquilo o que pensam quando fogem aos discursos programáticos delineados pelos partidos e programas eleitorais. O senhor Aníbal parece que confirma a regra. Oxalá me equivoque, pois este arrisca-se a ser o “nosso” próximo presidente. Mas só dos portugueses. Imigrantes, pelos vistos, não! (Especialmente se até Janeiro passarem a ser a maioria da população. Grande medo!).

Vem-me à memória uma viagem que fiz há 10 anos a um pequeno enclave na Europa central chamado Luxemburgo. No segundo dia, enquanto caminhava pela rua, parei uns instantes a observar as obras de uma conduta de gás. De repente, qual não é o meu espanto quando oiço: Ó Zé, passa-me o martelo, caralh… Fod.-s. Quim, cuidado com essa merd.. que está quente. De facto eram todos portugueses mas não só aqueles, mas pelos vistos mais de 15% da população do Luxemburgo. Repito, 15%. Será que os Luxamburgueses também têm medo que os trabalhadores portugueses lhes venham usurpar a sua identidade nacional? Pelos vistos perceberam já há muito a importância dos fluxos migratórios na economia, especialmente para fazerem os trabalhos que já nenhum nacional se quer dedicar.
E nós por cá? Parece que o senhor Aníbal ainda não vislumbrou isto. Ou provavelmente gostaria de prepetuar as políticas do abre a porta do cavalo que temos umas obras para fazer, mas depois essas pessoas não passam de números e por sinal clandestinos. Uma vez findadas as obras que fazer com elas? É assim, com esse tipo de desresponsabilização social que se criam os focos de tensão.
Seria bom que o senhor Aníbal se deixasse de demagocias baratas e que olhe com atenção para a mal sucedida experiência de integração social francesa.

N’Dalo Rocha

sábado, dezembro 10, 2005

Daniel Innerarity




Não o conhecia. Na verdade, nunca tinha ouvido falar deste filósofo basco nascido em Bilbau. Do lado de lá, os nuestros hermanos já se habituaram às suas opiniões através dos regulares artigos que publica no El País. Nós por cá, ainda não.

Tinha sintonizado a Antena 2 quando de repente, fiquei colado ao rádio a ouvir com muito prazer um discurso sensato, equilibrado e sobretudo, inteligente. Confesso que já há muito que tal não me acontecia, por isso foi com satisfação e atenção que escutei ao longo de uma hora porquê que Aznar perdeu as eleições, quais os novos desafios sociais na Europa, porquê que o discurso belicista de Sarkozy é inútil, tal como inúteis são as barreiras de Ceuta e Melilla.

Foi também interessante saber o que pensa sobre a nova dicotomia esquerda/direita, diferente dos modelos passados. Hoje as posições inverteram-se estando a direita associada ao progresso tecnológico e assumindo um discurso globalizado, por vezes utópico; ao passo que a esquerda transformou-se num movimento idelógico mais conservador e realista do que era. Porquê que os políticos fazem um discurso inócuo, formatado por directivas partidárias e esquivam-se a afirmar o que pensam. (Onde é que já vimos isto? Alô, Aníbal?)

Enquanto o locutor pronunciava mais uma vez o seu nome, não resisti a vasculhar na net até descobrir o seu site oficial. Pequeno mas com conteúdo, pena é que esteja só disponível em espanhol e com mais dois artigos em euskera.
http://www.daniel-innerarity.net/




A Filosofia como uma das Belas Artes
• Teorema, Lisboa, pp. 143-145
Daniel Innerarity





N’Dalo Rocha

sexta-feira, dezembro 09, 2005

"Sociedade de Informação": ou talvez não.

Qual a novidade! O que têm para oferecer hoje? Façam o favor de me concentrarem no universo das notícias, boatos, ruídos ou ecos. Quero ser um cidadão motivado para as grandes causas nacionais. Também quero ter opinião.

Já não me lembro onde estava quando Deus distribuiu a “adrenalina social”. Estaria a ouvir um discurso político, a ver publicidade ou simplesmente a tentar adormecer. Não sei…tenho má memória.

Deve existir uma fórmula qualquer, aplica-se e o ser humano fica conectado à rede. Será hipnose?
Algo parecido com a técnica de contar carneirinhos para adormecer, onde o desfalecimento surge por exaustão. Neste caso entre políticos, jornalistas e comediantes (a comparação não é feliz, bem sei...), a paulada é tal, que qualquer cidadão incauto fica desorientado, a partir dai, o cansaço fica a um curto passo, grave é que ninguém adormece. Será por isso que anda sempre meio mundo mal disposto?

O melhor seria deixar adormecer o já referido cidadão, e depois colocar a cassete para decorar durante o sono. Andam por aí uns estudos científicos que comprovam a validade do método. A grande vantagem está no acordar, recheado de novidades, que aparentemente não ouviu em lado nenhum. Podíamos-lhe chamar “ideias luminosas”, na falta de melhor termo.

Mas, a terapia mais usada para convocar o cidadão perante os seus direitos e deveres, não tem propriamente maus resultados. A técnica é simples, senão vejamos. Bombardeia-se a vida de cada um com aquilo que é externo a sua existência (boatos, ruídos, ecos, e muito mais, repetidos até desorientar), fazendo acreditar que a vida é aquilo que não é, e que somos todos essências para o bem comum, somos parte do “todo social”, que afinal, da forma como o estamos a conceber não existe, é apenas uma ilusão. Na melhor das hipóteses podemos-lhe chamar uma “realidade paralela”, apenas para sossegar alguns espíritos. O fenómeno torna-se mais grave porque vivemos a ilusão dos outros. Construída com esse propósito. Não é novidade, mas...

E assim sobrevivemos uns quantos…

Qual a novidade! O que têm para oferecer hoje? Façam o favor de me concentrarem no universo das notícias, boatos, ruídos, ecos…

terça-feira, dezembro 06, 2005

Nacionalismo

Em primeiro lugar, o nacionalismo crê e faz crêr no carácter único das suas características. Uma nação acredita na originalidade e na unidade dos seus traços constituintes - sociais, culturais, e até biológicos.

Em segundo lugar, a nação promove o isolacionismo, levado até ao ponto da autosuficiência nos mais diversos domínios. Tal isolacionismo é também transferido para o passado, fazendo crêr na sua antiguidade histórica como legitimação da construção nacional.

Em terceiro lugar, a nação promove o geocentrismo, fazendo uma comunidade crêr que se encontra no centro do cosmos, e que o resto do mundo gira na sua periferia.

Em quarto lugar, a nação é concebida em termos de sociabilidade horizontal, onde a hierarquia de poder e de prestígio são supostos não existir - sendo substituída por uma profunda camaradagem capaz de gerar e albergar sentimentos e emoções de grupo muito significativos.

Em quinto lugar, os sinais de nação manifestam-se a grupos específicos intra-nacionais como réplicas deles próprios. Os diversos grupos intranacionais são capazes de reconhecer a sua própria identidade através de muitos dos traços constituintes da materialização do nacionalismo.

Em sexto lugar, o nacionalismo afirma a bondade e generosidade do povo, até mesmo a sua ingenuidade. São pronunciados juízos de valor auto-referenciais, sempre positivos, e moralmente estruturantes.

Finalmente, em sétimo lugar, o nacionalismo promove o anonimato e recusa o individualismo em prol do mito do esforço e da criação colectivos. O exemplo mais evidente são os túmulos dos soldados desconhecidos, um dos emblemas mais poderosos dos nacionalismos.
João Soeiro de Carvalho

Imigração, Urbanidade e Identidade

Os fluxos migratórios na Europa da segunda metade do século vinte colocaram novas questões de mobilidade, interacção e integração entre outras. Conceitos que necessitam de diferentes abordagens em função da escala de análise.

Tecnologia e trabalho, são exemplos, de novos ou renovados factores que vão contribuir para a alteração do paradigma social europeu. A Europa permanece um espaço de atracção para não europeus, culturalmente distintos, mas com objectivos idênticos. Melhores condições de vida, promoção individual ou colectiva.

Se é no espaço urbano que estas práticas se tornam mais visíveis, não será de todo desinteressante estabelecer a comparação de práticas idênticas entre meio urbano e rural. Pensando mais uma vez nas escalas de analise e nas redes interpretativas que estas nos proporcionam.

A compreensão do fenómeno ao nível europeu assume-se como uma importante fonte para interpretar o fenómeno em Portugal. Existem factos semelhantes, momentos de um passado recente do centro europeu, a verificar com indisfarçáveis parecenças em Portugal, no presente e futuro não muito distante. Este zoom obriga-nos a recorrer a um nível de abordagem que recorre ao pormenor (regional), e compreender como interagimos no espaço que habitamos, nos aspectos políticos, sociais e culturais.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

É Hoje...

Começa hoje o campeonato presidencial com um Alegre x Cavaco.

É o pontapé de saída para o que se quer que sejam 10 debates esclarecedores, onde os candidatos possam expor os seus diversos projectos e onde os posicionamentos mano-a-mano de decidirão. É o início, semi-oficial, da campanha eleitoral. É o abrir da época de caça a Cavaco; é o decidir do candidato da esquerda e a entrega do troféu da 2ª divisão (Louçã x Jerónimo).

Alguns pontos prévios:
1- Apoio Mário Soares, por várias razões (sobre as quais já escrevi), e que aqui não vou repetir.
2- Todos os candidatos têm, à partida, expectativas criadas, cabendo a uns superá-las e a outros não desiludir.

Em relação às expectativas já criadas sobre os debates reconheço o seguinte:
1- Espera-se que Cavaco perca todos os confrontos.
2- Espera-se que Soares ganhe todos os debates.
3- Espera-se que Alegre seja «entalado» entre Soares, Jerónimo e Louçã.
4- Espera-se que Jerónimo aguente o eleitorado comunista, e que prepare uma eventual segunda volta. Espera-se que ganhe a Louçã.
5- Espera-se que Louçã ataque a todo o lado, menos a Soares, que defenda a segunda volta e que melhore a votação do BE.

Qualquer saída das primeiras duas estimativas (Soares perder algum debate e/ou Cavaco ganhar algum) significará, para Soares, pôr em risco toda a sua estratégia (ganhar à esquerda e passar à segunda volta); e a Cavaco poder ser eleito à primeira. Caso corra muito mal para Soares, e bem para Alegre, pode Soares perder a liderança da esquerda. Louçã e Jerónimo, em princípio, apenas jogarão um contra o outro, podendo desempenhar um papel importante (e com certeza propagandeado) de desgaste a Cavaco e de preparação de uma segunda volta Soares x Cavaco.

Por isto se depreende que Soares é quem tem um caminho mais árduo pela frente, pois não só não poderá perder nenhum confronto (que lhe seria apontado como perca de capacidades, «ah, se fosse há 10 anos…») como terá que ganhar em três tabuleiros: contra Cavaco, por uma segunda volta; contra Alegre nesse estranho jogo autofágico que assola o PS; e contra Louçã e Jerónimo por uma clara liderança à esquerda. É quem despenderá mais energias (irónico, não?).
Para Cavaco, jogar para o empate será bom. Será claramente com Alegre que procurará atacar (e, na teoria, o candidato que mais facilmente poderá perder com ele) e o seu maior temor é o de uma derrocada com Soares. Com Louçã e Jerónimo procurará «partir» o debate, apostando numa vitória clara à primeira volta. Se ganhar um dos quatro debates, poderá arrancar para uma vitória à primeira volta.

Alegre terá com Soares o seu grande momento. Terá também o papel importante de abrir as hostilidades a Cavaco. Como está no centro dos cinco, e não transmite dinâmica de vitória, será aproveitado por todos como saco de pancada.

Já Jerónimo de Sousa terá a tarefa mais simplificada, uma vez que terá somente dois debates, com Cavaco e com Louçã. Não lhe interessa nem Soares nem Alegre. Como Louçã terá a vantagem de poder empatar.

Por fim, Francisco Louçã apostará nos debates com Jerónimo (por razões naturais), Alegre (que lhe disputa o eleitorado anti-sistémico) e com Cavaco (com quem partilha uma visão privilegiada da economia). Não lhe interessa Soares. A seguir a Soares, é quem despenderá mais energia.

Espero, em suma, 10 bons debates, destacando os derbys Louçã x Jerónimo e Soares x Alegre, e o assumido jogo do titulo Soares x Cavaco. Talvez o Jerónimo x Alegre jogo seja o menos interessante (há pouco em disputa).

Espero também que nos proporcionem bons momentos de televisão, mexidos e imprevisíveis q.b., que corram dentro dos limites da agressividade democrática e da clareza argumentativa. Espero que decidam alguma coisa, não tudo. Que nos empolguem de volta ao mundo da política, e que voltemos a ter noção que as grandes opções deste nosso país passam pelas nossas mãos, através do nosso voto. Este será, em parte, decidido nos próximos dias. Boa sorte a todos.

Vai começar o campeonato.

Aqui vai oprograma dos jogos completo

1 - Hoje [Sic], Alegre x Cavaco

2 - Dia 8 [RTP], Soares x Jerónimo

3 - Dia 9 [TVI], Cavaco x Louçã

4 - Dia 12 [RTP], Alegre x Louçã

5 - Dia 13 [Sic], Cavaco x Jerónimo

6 - Dia 14 [TVI], Alegre x Soares

7 - Dia 15 [RTP], Louçã x Jerónimo

8 - Dia 16 [Sic], Soares x Louçã

9 - Dia 19 [TVI], Alegre x Jerónimo

10 - Dia 20 [RTP), Soares x Cavaco

Aceitam-se apostas, prognósticos, considerações.

[já ca venho falar mais um pouco sobre isto...]

domingo, dezembro 04, 2005


Desde que foi "presenteado" com inúmeras críticas ao seu primeiro ano de mandato à frente da Comissão Europeia, os primeiros sinais de Durão Barroso foram positivos. Falta de carisma, de liderança, imbróglio na constituição da sua equipa, férias com milionário grego (filme já visto no burgo em versão João Pereira Coutinho), tudo isto se passou num ano conturbado.
Pelos vistos, a critica fez-lhe bem. Apelou numa conferência à importância dos intelectuais e dos mais qualificados para ajudar a combater o marasmo, a tristeza e o sentimento de impotência que se sente em relação ao estado das coisas na UE. Os problemas avolumam-se e os europeus não só não se revêem nos corpos dirigentes, como acham que eles não defendem os interesses dos cidadãos comuns, aumentando assim o distanciamento entre uns e outros. No fundo, o projecto comum da UE tem muito pouco de comum, reveste-se de uma falta de identificação em relação aos objectivos preconizados. O impasse, a desconfiança e a falta de unanimidade na construção de uma Constituição Europeia são o exemplo ideal disso mesmo.
Também em relação ao papel da presidência britânica da UE esteve bem. Apelou a que Tony Blair desempenhasse mais o papel de líder no processo do financiamento comunitário, secundarizando um possível egoísmo do seu país em detrimento do que se reveste de mais positivo para um conjunto de 25 países e para o projecto comum que devem defender. O impasse vem-se arrastando, e está sempre associado ao famoso "cheque britânico", contrapartida negociada por Margaret Thatcher em 1984 pela fraca comparticipação nos benefícios da Política Agrícola Comum (PAC). A intransigência tem que ser desfeita, com base na nova realidade de uma Europa a 25 (com 10 novos membros muito recentes e com um largo atraso em termos económicos e de infraestruturas em relação aos demais parceiros), revestindo-se assim como um sinal de aproximação entre os países mais ricos e os menos afortunados da UE. Caso contrário, as diferenças acentuar-se-ão e o acordo sobre o financiamento comunitário fica mais uma vez adiado.
Era bom que o Presidente da Comissão Europeia desempenhasse bem o cargo para o qual foi eleito. De nada serve termos portugueses em posições de destaque na cena internacional (Durão na UE, Guterres como ACNUR, Freitas do Amaral na MAG da ONU em tempos idos) se for para fazer má figura. Para isso juntavam-se a alguma da mediocridade já existente na política nacional.

sábado, dezembro 03, 2005

E ninguém comenta a entrevista de Cavaco???

Assim se vê... de Soares é no imediato, quase em directo...

Engasganço…

Por razoes futebolistas só pude ver a repetição da entrevista de Judite de Sousa ao candidato do PSD. E esta acabou de passar na RTP N (antes dera em directo na RTP 1). Como não sabia a que horas repetiam (na verdade, nem sabia que repetia…), só tive a oportunidade de assistir aos últimos 10 minutos.

E neles, para espanto meu, assisti a engasganços simultâneos por parte do professor-de-finanças-que-não-é-político perante uma bem preparada, agressiva e acutilante Judite. Em 10 minutos apenas, Vimo-lo ser desmentido (com gráficos, números e afirmações), contradizer-se e a ficar repetidamente sem palavras. Se esta era uma entrevista com um presidente… por favor… haja critério de qualidade…

E o mais incrível é que este não foi dos casos onde o entrevistado é levado, através de sucessivos ataques, a cometer erros que não esperava; não. Nesta entrevista, pelo que vi, a Judite de Sousa só teve de esperar por aquelas afirmações demagógicas a que Cavaco nos vem habituando, tipo: «eu nunca entrevi na vida do PSD», ao que a replica foi: «e então na AD? E com os artigos nos jornais? E com Santana?...»; ou então, «há 10 anos que não faço política activa», ao que mereceu: «e então nas autárquicas? E em referendos? E…».

Já chegava. A fragilidade era imensa e notava-se.

Pena é que tenha concorrido com o Porto x Sporting (dizem que foi mais um acto brilhante da sua campanha…). O país merecia ter ouvido Cavaco. Até eu, hoje, concordo com isso. Talvez o conhecessem melhor.

Se antes já tinha dúvidas, hoje esclareci-me: este homem não pode ser presidente de Portugal. Ele não o sabe ser. Hoje, o desejado perdeu. Amanhã perderá mais.

Fraquinho, fraquinho…

Bem sei que os tempos não estão fáceis, mas a quantidade de papel que é cheio com barbaridades acumula-se perigosamente. E já não falo dos que ocupam paginas de jornais com assuntos cuja banalidade na magoa, não. Refiro-me àqueles que, advogando títulos e posições universitárias, se assumem como líderes de opinião e promotores de projectos políticos próprios (se bem que dúbios, eu sei). A esses é exigida uma maior clareza. Uma maior consistência discursiva. É que nem tudo vale para marcar a agenda política.

Refiro-me ao último texto, publicado no DN, do Luciano Amaral. É verdade que não partilho quase nada com os seus escritos, de maneira geral; mas, dessa forma, também não partilho com os do Rui Ramos, mas esses procuram argumentar-se, por vezes, de uma forma séria, inteligente e consistente. Não é o caso deste outro senhor.

Neste último texto, ele apresenta-nos uma interessante fábula sobra a importante posição de Spínola em todo o movimento dos capitães. Eu não o sabia comandante de toda a operação, como líder de toda a movimentação dos capitães revoltosos, colocando estes sob sua alçada. Sempre pensei que ele, Spínola, tinha sido um convidado de última hora, empurrado por Costa Gomes (esse sim, calculista e manipulador) e impulsionado por uma soberba sem controlo. Mas, que sei eu… esse senhor deve ter informação privilegiada sobre estes processos. Aliás, parece advogar-se de uma verdade sem mácula. E, no fundo, nem entendeu o que foi o 25 de Novembro…

Que bom ser de direita. Desta nova direita.

Outro erro, ou melhor, falta de informação demonstrada pelo Luciano Amaral prende-se com a sua impressão sobre a desimportância que atribui aos 30 anos do 25 de Novembro. Pois bem, uma vez que fui responsável por um ciclo de conferências sobre o tema (intitulado «30/25. Ciclo de conferências sobre o 25 de Novembro de 1975. Percursos, Leituras e Reflexões» e organizado pelo Clube «Loja de Ideias» em parceria com a Biblioteca-museu República e Resistência), tenho a dizer que não só se pretendeu reflectir, a 30 anos de distância, sobre os acontecimentos, como se procurou apresentar esses mesmos acontecimentos de uma forma complexa e completa. Para esse efeito, apresentámos 7 conferências: uma sobre a independência de Angola, outra sobre o 12 de Novembro (sequestro à Constituinte), o 19 de Novembro (a greve do VI governo provisório) e o 25 de Novembro. Também apresentámos três níveis de leituras: académicas, políticas e jornalísticas; e convidámos para este efeito diversos actores, de políticos actuais a académicos, passando por militares, jornalistas e jovens investigadores. Esta iniciativa foi devidamente publicitada em sítios como o «Publico», a «Visão» e mesmo o «Expresso», sem contar com a Blogosfera.

Talvez não sejam esses os canais de informação do nosso ilustre Luciano…

Além deste nosso humilde contributo, devo também destacar o belíssimo trabalho com que a RTP nos presenteou neste último mês – os retratos do PREC – e as referencias diárias que alguns órgãos de comunicação social dedicavam ao tema.

Mas, enfim, o que importa é marcar a agenda. Vir a terreiro repor Spínola na História. Denunciar a historiografia oficial, sempre de esquerda, e liderar a vanguarda desta direita moderna, não passadista, que se projecta num futuro sem Abril só com Novembro (como se Novembro fosse uma data de direita ….).

Fraquinho, fraquinho. De quem se aperalta e canta novas trovas a novos ventos, pede-se mais, muito mais! Se não ao nível da coerência de discurso, ao menos ao nível da verdade. Nem tudo vale para ocupar espaço publicado, senhor Luciano. Nem tudo vale à autopromoção.
E o revisionismo não é, nem de todo, monopólio de esquerda. Não desde que os senhores o compraram…

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Eu votei em quem?...

É importante denunciar estes «movimentos», sejam eles do Partido Socialista ou de outro partido qualquer. É que, ao depositarmos o nosso voto em urna, legitimamos um grupo de pessoas que comnosco se comprometem. O que acontece quando essas pessoas falham o seu compromisso? Quem lhes retira a confiança política?

O Deputado que foge às suas responsabilidades



Aquando da saída de Ferro Rodrigues da liderança do PS, quando se haviam perfilado José Sócrates, Manuel Alegre e João Soares para disputarem a sua sucessão como secretário-geral, eu cheguei a afirmar a colegas deste blog que se tivesse possibilidade de votar nessas eleições, o meu voto teria sido para Alegre.

Obviamente, como os factos recentes demonstram, tal opinião, expressa por mim há menos de um ano, só era fruto da minha ignorância sobre o verdadeiro carácter de Manuel Alegre.

Manuel Alegre, lembremo-nos, passou meses a dizer na comunicação social que queria ser candidato do PS, sem no entanto possuir a coragem, que teve Sampaio, de avançar sem que o partido o apoiasse. Nas suas próprias palavras à TVI, apenas quando Mário Soares avançou, é que lhe deu vontade de avançar.

Mas isso, já de si um indicador de falta de coragem política, não tem qualquer importância com o desprezo que Manuel Alegre denota pela Assembleia da República e pela sua condição de Deputado, do qual foi eleito pelo voto popular.

Manuel Alegre há um mês que não põe os pés na AR, para não ter-se de confrontar com o proposta de orçamento do Governo e dela não ter que efectuar um juízo de voto favorável ou contrário. As suas justificações são porque 1) está em campanha presidencial e 2) não quer ser Presidente da República com o ónus de ter aprovado o orçamento de estado no Governo, que é do seu partido, porque isso poderia pôr em causa a “independência do PR”.

Não é preciso muito para desmontar argumentos ridículos como estes. O PR possui a possibilidade de vetar os Orçamentos de Estado, por isso qualquer OE em vigor está-lo porque o PR não o considera contrário ao interesse nacional (excluindo aqui juízos políticos que a prática constitucional diz que o PR não faz sobre os OE).

Mas sobre a questão de estar em campanha presidencial, porque é que o Deputado Manuel Alegre não suspende o mandato, como tantos deputados fazem pelas mais variadas razões? A razão é simples: se o fizesse deixaria de ser Vice-Presidente da AR, e assim perderia as benesses e o maior salário que vem com tal posição. E isso Manuel Alegre, pelos vistos, não quer perder.

Mas o ponto fundamental desta questão reside no hipotético voto que Manuel Alegre teria perante este orçamento. Ou acha que o orçamento é mau para o país e votaria contra, ou acha que o orçamento é bom e votaria a favor. O que se revelou nestes dias é que Manuel Alegre não tem a coragem política de assumir as consequências dos seus actos, e por isso não os faz. Seja por medo do partido, seja por medo da opinião pública.

Em qualquer dos casos, queremos uma pessoa destas para PR?

Dito isto, caso ele passe à 2ªvolta, contra Cavaco, ele tem o meu voto. Embora seja a quarta escolha...

A Noite

Chegou... suave de descrição invulgar, nem sempre desejada, mas capaz de nos fazer partilhar na envolvência dos silêncios.
Aprecio-lhe a liberdade, a pontualidade inconsciente, e a serenidade com que afaga a ideia. Com cordialidade convida à viagem, e nós aceitamos ou não. Escolhemos ficar subjugados ao dia, ou viajar através dela.
Por vezes, aparece e pronto. Agora recria-te mortal, supera-te, quando a manhã chegar terás tudo o resto. Principalmente, o que te faz desejar a noite.
O desafio é saber até quando lhe somos capazes de resistir. Na verdade não resistimos, rendemo-nos perante a curiosidade que desperta no espírito, aquela janela que se vai abrindo, revelando formas por entre as sombras, tonalidades que aqui e ali se formalizam em incondicionais divagações.
Se assistimos à sua partida, lamentamos a sua fugaz passagem. Porque lhe admiramos a intensidade.
Boa noite e bom fim-de-semana.

O Jardim

Subindo uma escada em espiral, o homem aproxima-se de um estreito corredor onde gravitam objectos pilhados, o seu final anuncia-se através de uma intensa luz, originada num salão prateado de tecto cor de chumbo. Ai, deposita tudo o que o liga ao real para que não lhe seja vedado o acesso ao jardim.
Despojado do que o afasta da sua essência, desce a longa escada de ferro que o conduz a um portão enegrecido, entra e contempla a generosidade com que se depara.
O jardim resplandece de sumptuosidades, revela segredos, proporciona utensilagens para novas criações, assume-se intemporal, liberta o olhar até ai rendido ao pensamento.
Os percursos que encerra, e através dos quais permite vaguear, apenas encobrem a sua infinitude.

Guerra Civil?


Eu tentei. Juro que tentei. Afinal de contas, em democracia é do mais elementar bom senso ouvir os adversários, as suas propostas, a única forma, aliás, de podermos criticar com o mínimo de seriedade. Bem sei que nem toda a gente pensa da mesma forma, mas ser do contra só por ser, desculpem lá, não contem comigo.

Onde é que eu ia? Ah, a entrevista do trotskista com Judite de Sousa. Não vi grande coisa. O homem ao fim de meia dúzia de frases referiu-se ao diferendo que opõe Mário Soares a Manuel Alegre como "guerra civil". Desliguei o televisor. Achei que era o melhor que tinha a fazer. Dali não ia retirar grandes ensinamentos. Oxalá a vida fosse sempre feita de escolhas tão simples como esta.

quarta-feira, novembro 30, 2005

Fernando Pessoa II

Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.

Alberto Caeiro

Fernando Pessoa (13/06/88 – 30/11/35)

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

Representações do Porto

Cidade do Porto, dedicada ao Brigadeiro Sir Nicolao Trant, George Balck, 1813


Cais da ribeira do Porto no início do último quartel do século XIX


Paisagem do Douro, Simão César Dórdio Gomes, 1936.


terça-feira, novembro 29, 2005

Tantas voltas para dizer tanta merda…

Não entendo como dão espaço a gente desta. Mais valia aluga-lo ao «senhor desejado», e colar, semanalmente com a nova crónica, o novo poster aprovado nos gabinetes de decisão estratégia (tu, Lomba, esta semana colas lá no DN a foto onde o Cavaco está ainda sem cabelos brancos, tá… para dar-lhe aquele ar de cinquentão, tas a ver…é para o contraste com o Soares...).

Haja vergonha. E assina este tipo como «geração de 70» (ou algo parecido). Eu sou de 74, e desassocio-me, total e publicamente, desse gajo.

O fim de um ciclo. 25 de Novembro.


Meus amigos, na noite de 25 de Novembro acabámos o nosso ciclo 30/25. Propusemos novas leituras, reflexões e caminhos para os acontecimentos de Novembro de 1975, há 30 anos portanto, e que tanto ajudaram a moldar a nossa contemporaneidade.
Foi, no meu ponto de vista, um sucesso. Se há dois ou três meses me dissessem que iríamos organizar algo com o António Reis, Sottomayor Cardia, Anacoreta Correia, Luis Fazenda, Inácia Rezola, Maria Manuela Cruzeiro, Carlos Brito, Pezarat Correia, Loureiro dos Santos, Isabel do Carmo, Duram Clemente, Tiago Moreira de Sá, António Costa Pinto, Vitor Alves, Avelino Gonçalves, José Manuel Barroso, António Louçã, Cistina Sizifredo, Diogo Moreira e Ricardo Revez (sem esquecer os moderadores: Luis de Sousa, Paulo Dias, Joao Mário Mascarenhas, Vicente Paiva Brandão, Ricardo Fresco – um abraço amigo – e a Rita Castel-Branco). Eu diria para não brincassem.

Se me dissessem que desta gente viriam uns do Algarve, de Coimbra, do Porto; eu diria: para nós? Não me parece…

Se, há dois ou três meses me dissessem que iríamos sair no Público, Visão, Sábado, Expresso, Bloguítica, Bicho Carpinteiro, Acidental, Independências, Correio-mor, Esquerdices, Geosapiens, Boina Frigia, Circunstancias, etc. Eu diria; quê? Não…

E se, há dois ou três meses me dissessem que iríamos atrair largas dezenas de pessoas, perto das três centenas, para esta nossa iniciativa; eu dizia: não gozem! Nos somos meia dúzia de gatos-pingados, super amadores, sem experiência e nome, só atrás de uma ideia, de um projecto, de uma vontade.

Acho que foi um sucesso.

E foi bom ter terminado com sala cheia (70 pessoas). Com o Carlos Brito, o António Reis, o Duran Clemente, a Isabel do Carmo e o Loureiro dos Santos (que, impossibilitado por razoes de saúde de estar presente, mandou um texto), numa sala plena de interesse, polvilhada por capitães de Abril, em exposições consecutivas até à uma da manhã - numa sessão que se alongou por quase três horas…

Foi mesmo muito bom…

[aqui espero por outras opiniões deste evento…]

Sobre balanços, apesar de algumas coisas terem corrido mal – como a comunicação, que não chegou a todo o lado, como a logística, como uma melhor preparação para as conferências em si – eu penso que fomos, nós Clube «Loja de Ideias», bafejados pela fortuna de termos podido partilhar espaços de exposição e de debate com aquelas pessoas acima citadas, e com elas viajar pelas recantos da nossa história recente, em sugestões de leituras plurais, divergentes (memorável sessão entre o Anacoreta Correia e o Luis Fazenda), apaixonadas, respeitosas. Nem sempre enchemos a sala. Não era essa a nossa ideia. Sempre apelámos à qualidade. Conseguimo-la.
Sobre o ciclo em si, devo dizer que quem frequentou a maioria das nossas conferências (deste ciclo) nos perguntou: onde levanto o certificado? Tão forte foi a impressão registada. Para um leigo, para um historiador, para um engenheiro ou para um estrangeiro (como tivemos alguns na nossa plateia) ter seguido todo o ciclo foi ter a oportunidade de mergulhar na nossa contemporaneidade, nos nossos trilhos definidores. E eu, como «Presidente» do Clube «Loja de Ideias» e coordenador científico do ciclo 30/25 tive muito orgulho de poder partilhar com um conjunto de pessoas, amigos, com quem reparto este projecto: o Diogo, o N’dalo, o Rui Pedro, os Ricardos – o Fresco e o Revez – a Kindala, a Rita, o Paulo, o Sandro, as gémeas – a Alexandra e a Catarina – o Pedro, a Vandinha, o Macieirinha, o Boa, a Nanda e sem esquecer, claro, a Gati. Foi com eles que tudo começou. Foi por eles que tudo se fez.

A todos, uma vez mais, o meu muito obrigado.

Risos, ahahahahahahah, já chega…

Sobre a próximas iniciativas, em breve daremos noticias. Não esqueçam que o ciclo sobre a reforma do sistema eleitoral continua a decorrer, e teremos o Call for papers pronto muito em breve… Inté.

Ponto de Cultura


Como prometido, aqui vai.

Terminou recentemente a AntecipArte 2005.
Vi por duas vezes a exposição. Uma na inauguração, outra numa conferencia sobre «Arte contemporânea e públicos» (de que falarei de seguida). E devo dizer que no geral gostei.

Tenho a mania de dizer aos meus amigos que «sou um experimentalista», que gosto de me aventurar, academicamente, sensorialmente e intelectualmente em terrenos que não domino, onde me levam, puxam e guiam perante construções alheias. Gosto dessa sensação de descoberta. Gosto de me ausentar das minhas especialidades e olhar ingenuamente para o trabalho de outros. É um processo bastante reconfortante.

Assim sendo, foi com natural curiosidade que me apresentei à nata da classe artística alfacinha. O tema era «uma selecção da mais jovem expressão artística nacional». O espaço da intervenção era a Estufa-Fria. A organização cabia ao BLUG, com alto patrocínio do Millennium BCP.

Das obras e dos artistas expostos algumas considerações. Desconstruindo o tema, jovens nacionais, verificámos que além de termos artistas estrangeiros representados (um basco) tivemos idades entre os 25 anos (os mais novos) e os 37 anos (a mais velha). Eu pensava ir ver teenagers – do IADE, da FBAUL ou algo do género – e que me tentariam surpreender com o carácter irreverente, directo e inconsequente; o que não aconteceu. Deparei-me com obras já com alguma reflexão, com alguma maturidade e com muito sentido.
Não se pense, no entanto, que gostei de todas.

Gostei dos Abraçatórios, de Susana Pires, pelo aspecto moderno e contemporâneo com que ela ultrapassou o conceito de peluche. Os seus Abraçatórios, de varias séries, assumiam aspectos de preguiças que, colando-se a nós, assumiam uma estranheza simples de quem partilhava conforto com a peça em causa. Poderá ser um caso sério de popularidade, caso pegue a moda. Pensada numa vertente de Marketing.

Gostei também bastante d’ Os Reflexos de Prazer na Dor do Outro, de Eva Alves, lembrando-me uma evolução de veludo de um estranho sonho de Sade, esse Marquês tão incompreendido. Eva Alves, cobrindo objectos de fetiche, de dor e de prazer com um veludo sensual e erótico, transmuta a Dor em Prazer e assume o Olhar como peça de Tacto. Queria essas peças…

Por fim, gostei também da instalação de David Etxeberria, o basco convidado para a exposição. Talvez por se sentir estranho e estrangeiro, talvez por ser «o convidado», ou talvez simplesmente porque lhe tenha apetecido, a verdade é que a sua instalação vídeo nos convidava a partilharmos da sua natalidade, da sua terra, do seu país Basco. E aí retribui-nos o convite. Éramos puxados para uma mole de sons e imagens, ora transportando-nos para o clima da sempre traumática guerra civil espanhola, ora colocando-nos como espectadores expectantes de um aparentemente simples jogo de pelota basca. No meio, por trás, por baixo das imagens, como notas escondidas, uma panóplia de sons que nos guiavam os sentimentos. Falava da contemporaneidade basca. Da sua simplicidade. Da sua complexidade. Gostei.

Não gostei nada do T-zero do Nuno Sousa, fraco, básico e sem imaginação; da Folia da Joana Conceição, muito previsível, sem escapes imaginativos e sem vida. A Parábola do Feminino do Daniel Velez também a achei para o fraco. Talvez por gostar muito de fotografia. A madeira da Alexandra Aguiar, o trabalho do Francisco Vidal, da Maria Joao Alves, da Sofia Leitão e da Susana Anágua sem destoarem também não surpreenderam.

Apesar de não a ter seguido toda, gostei de alguns pormenores da intervenção do dia.

Em suma, um fim de tarde chuvoso muito bem passado. Vi-me envolvido em tramas não totalmente compreendidos, tomando os canapés da praxe, q.b., com a companhia de quem por dentro sente estas coisas.
É sempre bom quando assim é. Ser penetra de luxo, com direito a comentários insiders in loco e em directo. Obrigado Rita.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Notas de Viagem

Por entre vegetação rasteira e castanheiros reveladores de um Outono assumido na caducidade das folhas, uma estrada de montanha avança pelo sopé da serra, fazendo-nos crer que o tempo passa um pouco mais devagar. Viajamos através do Marão.

Ao fundo, uma rechã acolhe um pequeno povoado de xisto, rodeado por um olival que lhe é contemporâneo. Esta aldeia continua a perder a sua alma, na ausência dos que emigram, e com o esventramento provocado por aqueles que regressam, incapazes de a fazerem evoluir à luz do seu contexto espacial.

O nevoeiro dissipa-se por alguns momentos, sendo agora visível a neve que uniformiza a paisagem nos pontos mais altos da serra. Tudo parece mais calmo. Existe espaço para a tranquilidade.

Mais alguns quilómetros, mais uma mudança de estrada, e a paisagem anuncia o silêncio, este apodera-se do tempo, que corre ainda mais devagar, com uma intensidade que convida a permanecer.

A viagem continua num trajecto irreversível em direcção ao litoral, os traços são agora de uma outra ruralidade. O povoamento é mais disperso, culturas semelhantes revelam diferentes práticas agrícolas, as ruínas da indústria de outrora afloram a cada momento, são terras de identidades confusas. Não me agrada o que vejo, nunca gostei desta fronteira.

As indicações insistem num só destino, já se deslumbra o Porto, e com o aproximar desta urbanidade decido abandonar a escrita.

Reflectir

António: Boa crónica. Bom texto. Boa refelxão.

Miguel: Boa crónica. Bom texto. Boa refelxão.

De facto, ao Domingo o DN está bom. E eu hoje que comprei o Público (também com a boa crónica do custume do António Barreto e do Mário Mesquita).

Enquanto poder ler um na net...

Postas em falta

Sobre cultura: [1] a exposição na Estufa-fria (AntecipArte); [2] a conferencia aí assistida (sobre Arte e Públicos); [3] colóquio sobre «pensar a democracia», no CCB, dia 26.
Balanço de um ciclo: [4] a conferencia de 25 de Novembro, [5] balanços, [6] Futuro.
Sobre política: [7] Momento.

Amanhã ponho mais. Prometo.

Ponto de Cultura


Ainda antes dos acontecimentos do post anterior, tive a oportunidade de poder estar presente na inauguração da exposição (ou melhor na instalação, nas palavras do seu coordenador) fotográfica relativa à «memória fundadora das suas carreiras» de Rui Mendes e Cármen Dolores, no Teatro da Trindade. E refiro não só o prazer como o privilégio de poder estar ali presente pois tive a possibilidade de por instantes conviver com estes vultos da nossa cultura contemporânea e de poder com eles reviver, através das diversas intervenções desse fim de tarde, muita da nossa história do Teatro Nacional, com especial atenção para a segunda metade do século XX.

Começo com o Rui Mendes. É sobejamente conhecida a sua carreira, nomeadamente na televisão. E, sinceramente, dava pouco por ele. Depois, em tempos recentes, descobri-o no teatro, sempre no Trindade, em peças como o Proof, Picasso e Einstein (onde também encena), e, especialmente, no Magnifico Reitor (de Freitas do Amaral). Aqui descobri-lhe algum talento. Entretanto conheci mais sobre a sua pessoa, o seu lado humano. Passei então a respeitá-lo. Na passada segunda feira, ouvi deambular sobre a sua carreira, sobre os seus anos rebeldes (do Grupo 4 e nomeadamente do Ádóque (pós 1974), sobre a sua proibição de trabalhar na Emissora Nacional, o facto de ter recusado um premio do SNI (na altura já SEIT) de melhor actor do ano em teatro musicado, em 1971, o ter participado no Teatro Moderno de Lisboa e no Teatro Popular; enfim o de ter estado, directamente o indirectamente ligado aos principais momentos culturais do nosso teatro contemporâneo, na sua dimensão alfacinha. Ao me transportarem assim para esse mundo, revivendo a carreira do Rui Mendes, para lá de me ter reforçado as ideias que vinha construindo acerca do actor e da pessoa fizeram-me crer que estava na presença de um Grande. Um dos nossos Grandes.

Sobre Cármen Dolores a escrita torna-se mais aguda. Não só porque não me lembro dela, não só porque dela nada vi, mas especialmente por ter andado muito desatento não só ao seu trabalho como à sua importância e à sua relevância para a nossa identidade e valia cultural. Eu era daqueles que a via muito longe, ainda sem cor; a preto-e-branco. No entanto, ouvir falar dela, em primeiro lugar, e ouvi-la falar de si, em segundo, significou para mim o colorir de páginas e páginas de histórias pensadas como já idas, mas ainda muito vivas. Explico. Esta senhora, vulto das artes de palco, estreou-se em cinema em 1942 com o Amor de Perdição de António Lopes Ribeiro, cuja première foi também no Teatro da Trindade (antigamente com duas «épocas» uma de cinema e outra de Teatro). Em 1945 pisava os palcos do Teatro da Trindade na peça Electra, A Mensageira dos Deuses. Na altura estava ligada aos «Comediantes de Lisboa». Rapidamente transita para o Teatro Nacional e se transforma numa das mais aclamadas e queridas actrizes nacionais. Toda a sua vida artística foi marcada pelo sucesso, pela emoção do desafio (frequentemente abandonava os cânones tradicionais e dava azo a novas experiências teatrais), é pelo desprendimento da vida material em prol da vivência cultural da arte teatral. Recentemente esteve com o Teatro Aberto, com projectos de récitas de poesias (edição de um CD de poesia Poemas da Minha Vida), e à APOIARTE, associação de apoio aos artistas (onde pertence aos corpos gerentes) e à casa do Artista. É demasiadamente premiada para que se esqueça: Ordem de Santiago e Espada (1999), Medalha de Mérito Cultural, da SEC (1991), e, recentemente, recebeu das mãos de Jorge Sampaio o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. É, hoje, cultura viva. Cultura portuguesa.

Quando, segunda-feira, dia 21, foi inaugurada a placa conjunta relativa a ambos (no salão nobre do teatro) arrepiei-me. Tanto se critica o esquecimento, o imediatismo dos consumos culturais contemporâneos. Por momentos o Tempo parou, e naquela sala repuseram os pretos e os cinzas. Homenagearam-se vivos. Analisou-se discurso. Pensou-se Cultura.

A exposição que se inaugurou conta de fotografias da ambas as carreiras aqui retratadas. Moldam-se ao Teatro, ás suas salas e paredes, como que serpenteando pelos andares e pelas formas – curvas, grandes, rectas, simples –. Os retratados surgem-nos no seu esplendor, ocupando palcos e transbordando vidas, não suas, mas de personagens estranhas e simultaneamente acolhedoras. A experiência partilhada com esta instalação é múltipla: agradável, forte, delicada, saudosista, descobridora.

Recomendo, de preferência antes ou depois de uma peça.

Ponto de Cultura


















Depois do dia agitado que passei, nada como um bom concerto para baixar a adrenalina, o stress, enfim, para relaxar e deixar o pensamento ir-se (o concerto foi no dia 23)

E assim aconteceu.

Primeiro com Goldfrapp, depois com Coldplay.

Sinceramente, era de qualquer coisa destas que necessitava.

Os Goldfrapp, no seu estilo neo-Disco, apresentando-se como Gloria Summer mets Blondie, e liderado pela inconfundível Alison Goldfrapp, deixaram-nos com um up beat muito interessante, e que, de certa maneira, nos marcaria a noite. No entanto, é bom que se diga, é sempre muito perigoso deixar que bandas desta categoria apresentem-se como primeira parte: é que depois de nos aquecerem e de nos terem posto agua na boca, queremos mais…e aí, que o acto principal se cuide (e o facto de já estar cheio o pavilhão quando entrei – pelas 21 h – justo no inicio da segunda musica do alinhamento dos britânicos, mostra que muita gente foi também vê-los…). Enfim, muito bom; a pedir um concerto a solo…

Sobre os Coldplay, duas ideias prévias: demasiada colagem aos U2, por um lado, e como banda, e aos Verve – e ao Richard Ashcroft – por parte do Cris Martin. E, devo dizê-lo, de nada necessitam de se estarem a colar a estas referências. É que tem personalidade para se apresentarem por si sós. Pena é que, talvez por se auto-intitularem herdeiros dessa tradição musical (é comum as comparações aos U2, e é reconhecida a amizade e o respeito que o líder dos Coldplay tem aos ex-líder dos Verve). Não foi ver o outro concerto, também no Atlântico, e tive pena. Apesar das críticas e das insatisfações criadas, os britânicos estão de boa saúde e recomendam-se. Não são génios, nota-se; mas entretêem. E bem. Tem boas canções (por vezes um pouco repetitivas), e uma boa presença em palco. O alinhamento foi bom, e as duas horas do concerto passaram-se bem, pecando talvez por não terem feito (outro) encore (tinham feito um, previsto), dando ao concerto um toque de imprevisíbilidade que o colocaria mais acima no meu ranking pessoal.

Em suma, um sólido 14. Se por cá estivessem para a semana, ia vê-los outra vez. Boa onda.

sexta-feira, novembro 25, 2005

Erich Heckel




Bom fim-de-semana.

Johann Wolfgang von Goethe

Pensar é mais interessante
que saber, mas é menos
interessante que olhar.


Lastimo os que atribuem grande importância ao tema do transitório das coisas e que se perdem em minudências terrenas sem valor. Porque nós existimos precisamente para transformar o transitório em duradouro, e tal só acontece quando somos capazes de apreciar ambas as coisas.A vida, por mais vulgar que pareça ser, por mais que dê a ideia de se satisfazer com coisas triviais e quotidianas, nunca deixa de se ocupar atentamente, ainda que em silêncio, de certas exigências superiores e de procurar os meios necessários à respectiva satisfação.

Pesquisar neste blogue