sábado, dezembro 03, 2005

Fraquinho, fraquinho…

Bem sei que os tempos não estão fáceis, mas a quantidade de papel que é cheio com barbaridades acumula-se perigosamente. E já não falo dos que ocupam paginas de jornais com assuntos cuja banalidade na magoa, não. Refiro-me àqueles que, advogando títulos e posições universitárias, se assumem como líderes de opinião e promotores de projectos políticos próprios (se bem que dúbios, eu sei). A esses é exigida uma maior clareza. Uma maior consistência discursiva. É que nem tudo vale para marcar a agenda política.

Refiro-me ao último texto, publicado no DN, do Luciano Amaral. É verdade que não partilho quase nada com os seus escritos, de maneira geral; mas, dessa forma, também não partilho com os do Rui Ramos, mas esses procuram argumentar-se, por vezes, de uma forma séria, inteligente e consistente. Não é o caso deste outro senhor.

Neste último texto, ele apresenta-nos uma interessante fábula sobra a importante posição de Spínola em todo o movimento dos capitães. Eu não o sabia comandante de toda a operação, como líder de toda a movimentação dos capitães revoltosos, colocando estes sob sua alçada. Sempre pensei que ele, Spínola, tinha sido um convidado de última hora, empurrado por Costa Gomes (esse sim, calculista e manipulador) e impulsionado por uma soberba sem controlo. Mas, que sei eu… esse senhor deve ter informação privilegiada sobre estes processos. Aliás, parece advogar-se de uma verdade sem mácula. E, no fundo, nem entendeu o que foi o 25 de Novembro…

Que bom ser de direita. Desta nova direita.

Outro erro, ou melhor, falta de informação demonstrada pelo Luciano Amaral prende-se com a sua impressão sobre a desimportância que atribui aos 30 anos do 25 de Novembro. Pois bem, uma vez que fui responsável por um ciclo de conferências sobre o tema (intitulado «30/25. Ciclo de conferências sobre o 25 de Novembro de 1975. Percursos, Leituras e Reflexões» e organizado pelo Clube «Loja de Ideias» em parceria com a Biblioteca-museu República e Resistência), tenho a dizer que não só se pretendeu reflectir, a 30 anos de distância, sobre os acontecimentos, como se procurou apresentar esses mesmos acontecimentos de uma forma complexa e completa. Para esse efeito, apresentámos 7 conferências: uma sobre a independência de Angola, outra sobre o 12 de Novembro (sequestro à Constituinte), o 19 de Novembro (a greve do VI governo provisório) e o 25 de Novembro. Também apresentámos três níveis de leituras: académicas, políticas e jornalísticas; e convidámos para este efeito diversos actores, de políticos actuais a académicos, passando por militares, jornalistas e jovens investigadores. Esta iniciativa foi devidamente publicitada em sítios como o «Publico», a «Visão» e mesmo o «Expresso», sem contar com a Blogosfera.

Talvez não sejam esses os canais de informação do nosso ilustre Luciano…

Além deste nosso humilde contributo, devo também destacar o belíssimo trabalho com que a RTP nos presenteou neste último mês – os retratos do PREC – e as referencias diárias que alguns órgãos de comunicação social dedicavam ao tema.

Mas, enfim, o que importa é marcar a agenda. Vir a terreiro repor Spínola na História. Denunciar a historiografia oficial, sempre de esquerda, e liderar a vanguarda desta direita moderna, não passadista, que se projecta num futuro sem Abril só com Novembro (como se Novembro fosse uma data de direita ….).

Fraquinho, fraquinho. De quem se aperalta e canta novas trovas a novos ventos, pede-se mais, muito mais! Se não ao nível da coerência de discurso, ao menos ao nível da verdade. Nem tudo vale para ocupar espaço publicado, senhor Luciano. Nem tudo vale à autopromoção.
E o revisionismo não é, nem de todo, monopólio de esquerda. Não desde que os senhores o compraram…

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