quarta-feira, abril 22, 2009

VITÓRIA EM TRÊS ACTOS


Às 19:50 sentei-me em frente ao palco. Armadilhada do sentido crítico próprio de quem não quer andar ao sabor do vento, acomodei-me confortavelmente à espera do espectáculo em três actos.

Primeiro Acto. Prenúncio imediato que iríamos assistir a uma Peça de mau gosto, mal redigida, mal dirigida e pior encenada. A personagem principal revelava-se excelente mas a história ensombrava as suas qualidades. À medida que o enredo se desenrolava percebíamos que os autores estavam apostados em destruir a personagem que lutava vigorosamente contra a pobreza do texto. Tentava salvar a Peça, adicionando-lhe o seu rigor e profissionalismo aqui e acolá. Muitas vezes os espectadores batiam palmas sempre que o toque pessoal da personagem principal era imposto ao texto.

Segundo Acto. Verificou-se o mais difícil de contornar. Os autores interferiam nas deixas da personagem. Não o deixavam falar, não o deixavam expressar livremente as suas potencialidades, todo o seu árduo trabalho de bastidores. A espaços estrategicamente concedidos lá foi possível assistir a alguns momentos brilhantes e muito bem aproveitados pela personagem principal. Os espectadores gostaram e perceberam, aplaudiram o esforço e mantiveram-se atentos. Estavam conquistados os espectadores neste Acto, público que lutava ao lado da personagem para deixá-la fluir em todo o seu esplendor. O espectáculo não estava perdido. A personagem ganhou a estima e respeito do público durante este Acto, invertendo o negativo prognóstico inicial.

Terceiro Acto. Mais uma vez os autores queriam levar a personagem a mau porto. Mas esta aproveitou a oportunidade de se recriar e não se deixou cair na armadilha tão ardilosamente preparada. Percorreu o palco da direita à esquerda e aí se manteve, intransigente, inflexível, incorruptível, até ao explodir entusiasmado e justo de palmas de um público reconhecido, agradecido e confiante por ter resistido e acreditado, apesar de todos os obstáculos colocados pelos autores com o objectivo de destruir a personagem.

À saída muitos eram os comentários. Uns visivelmente satisfeitos e gratos pela prestação da personagem brilhantemente interpretada. Outros, aqueles que pretendiam a falência da Peça, os opositores ao sucesso da personagem, esbracejavam descontentes. Perderam!

Deambulei entre os demais, entregue às minhas reflexões…

Moral da história: No dia em que Políticos na oposição conseguirem aplaudir medidas do Governo e ainda acrescentarem contributos importantes para melhorar o que está a ser feito, todos vamos aplaudir a ousadia e a verdade.

6 comentários:

José Reis Santos disse...

clara,
do melhor que tenho lido. A sério. Muitos parabens.

Clara Pinto disse...

Ainda bem que gostaste, Zé! é pena não poder publicar no Eleições2009...mas espero que alguns venham cá ler;)

é urgente despertar consciências!

José Reis Santos disse...

mas porquê nao publicar no eleicoes?

Paulo Dias disse...

Achei a critica simplesmente brutal...

Descreve tudo aquilo que senti, ouvi e vi...

Vale a pena dar oportunidade a quem quer responsabilizar-se por um Portugal muito perdido em questões... Morais...

Considerando que o contra-poder serve de equilibrio para uma sociedade democratica, assumindo que esse contra-poder poderia ser feito pela comunicação Social, ou pelo menos seria um dos principais vigentes, considerando que quem executa o Poder será na primeira instancia o governo, achei que este pseudo contra-poder de equilibrio esteve... Podre...
É pena que só utilizem a livre expressão para quando lhes dá jeito, nunca mostrando responsabilização pelo que se diz... O que importa é dizer... Encontrei esta definição de Comunicação Social " A Comunicação Social é um campo de conhecimento acadêmico que estuda a comunicação humana e questões que envolvem a interação entre os sujeitos em sociedade. A comunicação social lida com as técnicas de transmissão da informação, o formato com que a informação é transmitida, e os impactos que a informação terá na sociedade e a relação entre os sujeitos numa situação comunicativa"...

Não sei se foi o que se passou ontem? Tentou fazer-se passar uma informação, tentou-se estabelecer um impacto dessa informação... Mas obviamente para aquelas pessoas que estão numa situação de duvida, com tudo isto, com toda esta orientação... Só fizeram com que o Primeiro Ministro saisse em grande...

Não revi as imagens, mas a alusão ao Presidente da Republica foi mais que notoria... Como disse a Clara, não o deixaram expressar -se livremente... Tinham um plano de sessão estrategico e estavam tão "cegos" nessa orientação que conduziram a entrevista na forma que todos assistiram...

Provavelmente tiveram medo dos dons oratorios do Primeiro Ministro...

Muita demagogia se respira em Portugal... Tenho pena que os castigados sejam sempre os mesmos...

Lutemos pela verdade...

Clara Pinto disse...

Paulo,

muito bem leste a minha metáfora!Concordo com tudo o que expressas e que tão bem se entrelaça no meu texto!

é uma vergonha o que temos vindo a assistir em Portugal, utilizar o poder da comunicação com o intuito de destruir quem luta por um Portugal melhor merece que o feitiço se vire contra o feiticeiro, tal como aconteceu nestes tês Actos.

Vera Santana disse...

That´s the question: em democracia há poderes, no plural, e não O PODER.

Por isso há fortíssimas relações de poder, entre actores (grupos, organizações, instituições).

Assim, é normal que sejam louvados e/ou criticados OS PODERES. Todos e cada um dos vários poderes: Legislativo, Executivo, Judicial e, last but not least, o Mediático, o Partidário (no poder ou na oposição)o Sindical, o dos Gate-keepers and so on.

Em Portugal, bem ao contrário de países como França, há muito que não há Movimentos Sociais exteriores aos poderes institucionalizados. As "massas" estão "enquadradas" e são "conduzidas" por caminhos convenientes para a manutenção de determinados poderes.

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