sexta-feira, abril 03, 2009

Barroso? Não sei não...


À conta do que por aqui se tem escrito (Nuno Gouveia, Vitor Dias, Gabriel Silva), tenho-me interrogado se há alguma inevitabilidade na recondução do José Manuel Durão Barroso no leme da Comissão da União Europeia. E a verdade é que não. Não há.
Pelo contrário, acrescento. Se se entender a Europa como uma entidade política madura, com instituições consolidadas e com um corpo político próprio devidamente legitimado e regularmente sufragado, então tenho a dizer que a reeleição do senhor Barroso tem algumas dificuldades.
Como bem recordou o Presidente do PES em entrevista recente ao Le Monde, « Si nous avons une majorité, ou une coalition majoritaire au sein du Parlement, nous ferons en sorte d’avoir notre candidat pour la présidence de la Commission. Il est clair que si la droite n’est pas majoritaire, mais qu’une autre majorité se dégage autour des socialistes, des Verts et de la Gauche unitaire européenne, alors José Manuel Barroso ne pourra pas être reconduit».
Neste momento, este é o cenário que se espera. Mais ainda com o anuncio dos conservadores britânicos de abandonarem o Grupo Parlamentar do PPE-ED. Assim, se os resultados das eleições forem respeitados - e o PES for a força maioritária – Barroso deverá ter dificuldades em garantir a reeleição.
Não respeitar esta análise, será reduzir a Europa às decisões dos Estados, e dar um bom par de passos para trás no processo de integração política da União, colocando ao mesmo tempo em causa o papel e o poder das instituições europeias sufragadas directamente (como é o Parlamento Europeu).
Entendo que os governos actuem na defesa dos seus interesses nacionais, e que nesse sentido seja legítimo a quem queira apoiar a reeleição do actual Presidente da Comissão; mas a política europeia não se faz, hoje, somente do que os Estados querem e podem. Há, felizmente, mais. Os Partidos Europeus, ainda que em alguns casos fracos, existem e tem consolidado o seu espaço político. E o Presidente do PES foi muito claro a este respeito, quando refere que ele «parle au nom du PSE. Pas des gouvernements nationaux ! Une chose est sûre : le PSE ne soutiendra pas M. Barroso. C’est le candidat du Parti populaire européen (PPE). Il ne représentera jamais les opinions de la famille socialiste, même si certains gouvernements sociaux-démocrates le soutiennent, pour des raisons nationales. Le dernier mot doit revenir au Parlement après les élections».
Também acredito nisso.

(achei estranho que há quem pense que as propostas políticas apresentadas pelos partidos às eleições que concorrem não tem muito interesse. Bom, olhando para a generalidade da oposição portuguesa até entendo isso, mas julgar que toda a política se faz pela tarimba nacional é, no mínimo, ser muito pouco exigente. Tema a voltar)
(aproveito ainda para referir que a iniciativa anyone but Barroso partiu de três bloggers activistas do PES, Jon Worth, o impulsionador da ideia, Jan Seifert e Valéry-Xavier Lentz. E ainda há quem diga que não existe política à escala europeia).
[imagem retirada do blogue do Jon Worth]
[texto publicado no eleições 2009 e no Les Canards Libertaires]

2 comentários:

Vera Santana disse...

Sendo eu um estranho ser "estrangeirado", apesar de amante da minha Pátria, concordo com uma visão mais europeísta do que nacionalista. Porque construir a Europa é construir harmoniosamente cada região europeia. Como numa Orquestra, cuja boa interpretração musical depende em muito do saber do maestro (ou da maestrina, como a nossa Joana Carneiro).

Eu prefiro uma Europa conduzida pela batuta de um Maestro do PES. Que, por ser a pessoa que está indicada, não me deixa dúvidas quanto ao espaço que dará para improvisações concertadas, em gamas de sons e tons que vão da música clássica ao jazz e às world music.

Pedro Cardoso disse...

Eu também prefiro um maestro esquerdino, pouco comprometido com as políticas neoliberais.

Nestas questões temos que deixar o nacionalismo de parte e defender o que é melhor para a Europa e consequentemente para Portugal.

O Barroso não se portou mal neste mandato, penso até que o balanço é positivo, mas tendo em conta a "crise" que atravessamos, com as suas causas, reconduzir alguém com fortes ligações à direita conservadora e neoliberal, não parece boa ideia...

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