quarta-feira, janeiro 26, 2011

Rui Pereira não é um estadista.

 

O Partido Socialista já produziu grandes ministros que, quando a situação assim o exigia, tiveram a atitude digna de saírem para que um determinado evento, ou conjunto de eventos, não manchasse o cargo, o Governo, ou a República.

António Vitorino abandonou o Governo por causa de uma alegação falsa sobre o não pagamento de parte dos impostos de uma propriedade que tinha adquirido no Alentejo.

Jorge Coelho, no seguimento dos trágicos acontecimentos que resultaram da queda da ponte de Entre-os-Rios, apresentou a demissão para que a “culpa não morresse solteira”, apesar de ser por mais evidente para todos que nenhuma responsabilidade possuía, para alem de ser o ministro da pasta.

António Vitorino e Jorge Coelho eram estadistas. E ainda hoje são bem recordados no partido.

Rui Pereira não é um estadista.

Rui Pereira parece agarrar-se ao cargo de Ministro como uma lapa. Incapaz de compreender que já há muito que a sua situação se tornou insustentável, tendo sido o inaceitável escândalo de um número indeterminado de cidadãos serem privados do seu direito de voto nas presidenciais de Domingo, o mais elevado direito que uma democracia possui, a coroa de miséria de um mandato tenebroso à frente do Ministério da Administração Interna, pautado ainda pela compra inútil de blindados para as forças de segurança, que ainda hoje não estão explicados.

Com os pedidos de demissão de hoje, segurar Rui Pereira começa a ser um risco demasiado elevado para o Governo e para o PS.

Rui Pereira podia sair pelo seu próprio pé. Escolheu não o fazer. Em vez da atitude nobre, escondeu-se, à boa maneira portuguesa, atrás de um inquérito.

Alguém terá que lhe apontar a porta de saída. Talvez José Sócrates. Talvez o Presidente da República. Será “empurrado” para sair.

E a culpa não morrerá solteira.

A culpa será sua.

 

 

 

A "Verdade" das Presidenciais*

Cavaco Silva é o Presidente de todos os Portugueses.

Foi eleito pela maioria absoluta dos eleitores que quiseram, ou puderam, ir votar. Como é óbvio, detém todos os poderes que a Constituição atribui ao cargo de Presidente da República.

Tudo o resto, sobre maior ou menor legitimidade, sobre “magistratura activa” ou “interventiva”, sobre dissolver ou não dissolver a AR, etc..., é simplesmente conversa da treta.

Pode entreter, via comentadores na televisão, ou vender jornais e revistas, via artigos de opinião.

Mas não deixa de ser conversa da treta.

Cavaco Silva fará aquilo que quiser fazer. Já não tem que prestar contas a ninguém, a não ser à sua consciência, ou ao seu legado histórico.

* em homenagem a Manuela Ferreira Leite, que abriu o trilho em que outros agora caminham. 

Curtas sobre as Presidenciais

1) Como é possível que o candidato que disse "que só não seria Presidente se lhe dessem um tiro na cabeça", tenha tantos, na opinião publicada, a dizer que fez a melhor campanha de todos os candidatos? De qualquer forma, a moda dos candidatos independentes parece ter pegado e acredito, como alguns, que teremos novo candidato extra-partidário, talvez o mesmo, em 2016.

2) Os dois discursos de vitória de Cavaco Silva são a prova que o terceiro-mundismo está a bater-nos à porta. Ele ganhou, logo todos os portugueses sabem que as "calúnias" sobre BPN, vivenda da Coelha e afins, são todas inventadas. Aliás, vai andar atrás dos jornalistas para que lhe revelem as fontes dessas notícias. Não sabia que tínhamos eleito um misto de Isaltino Morais, Fátima Felgueiras e Alberto João Jardim como Presidente da República.

3) Parece que se tornou moda dizer que o "fracasso" da campanha de Alegre demonstrou que o PS e o BE não conseguem funcionar em conjunto. Isso é cómico, se tivermos em atenção que a máquina do PS esteve completamente ausente da campanha do Alegre. Ou alguém no seu perfeito juízo acha que o PS não consegue encher o Coliseu dos Recreios no penúltimo dia de campanha, se quisesse? Onde é que andavam os autocarros das últimas legislativas? O que aconteceu foi simples: o PS socrático tramou a ala esquerda, dando-lhes nenhum apoio, para que depois pudessem ser enterrados no “day after”. Dito e feito.

4) Independentemente na ausência da máquina partidária, tornou-se óbvio que muitos socialistas não perdoaram a Alegre a desfaçatez de ir contra o candidato do partido em 2006. Que fique de memoria para “futuros Alegres”.

5) José Manuel Coelho, assim como a subida avassaladora de votos brancos e nulos, que, respectivamente, quadruplicaram e duplicaram face à 2006, representam um potencial de descontentamento que existe à margem do sistema politico, e que apenas ainda não se materializa com mais força devido à não existência de candidaturas independentes à Assembleia da República. Mas eles existem e “andam por aí”.

6) Defensor Moura foi a "lebre" de Alegre. Cumpriu a sua missão. É pena que não tenham decidido levantar também o célebre caso das escutas. Acho que foi um erro não o ter incluído na campanha. E ao contrário de muitos, acho que as perguntas sobre o carácter dos candidatos vieram para ficar na política portuguesa. É um sinal de modernidade política, como as campanhas americanas atestam. E em parte foram bem sucedidas. Afinal, Cavaco Silva foi reeleito com a mais baixa votação em presidenciais de sempre.



segunda-feira, janeiro 24, 2011

O meu candidato. Espírito zen.



Não quero entrar em polémicas mas não posso deixar de afirmar publicamente e neste espaço que apoiei Manuel Alegre em 2006 e voltei a apoiá-lo em 2011. Fi-lo com a convicção de ser o melhor candidato para unir as esquerdas.

Manuel Alegre não conseguiu o objectivo a que se propusera, de forçar uma 2ª volta. Assumiu a derrota como sendo exclusivamente sua.

Não traçarei cenários hipotéticos nem retrospectivos nem tecerei críticas. Temos pela frente muito trabalho que não vai passar por aqui, pelo blog Loja de Ideias, no que a mim me diz respeito. Não me estou a despedir do blog mas tão somente a fazer um exercício de auto-contenção, muito zen.

domingo, janeiro 23, 2011

Presidenciais 2011 (9)


Cavaco lá continua na Presidência. O entusiasmo do país revela tudo. O mais alto magistrado é eleito (no caso, reeleito) e parece que nada acontece. O estado a que isto chegou. Cavaco é a personagem que inseriu a tecnocracia na vida política portuguesa. Conseguiu, com isso, sair da penumbra a que estava sujeito e, com a ajuda dos milhões que começaram a entrar vindos da então CEE - verdadeira novidade na altura - ajudaram a criar uma imagem da qual ainda hoje vive. Cavaco volta a ganhar uma eleição, a sua última. Fez o percurso que estaria "reservado" a Sá Carneiro. Cavaco esteve quase sempre no sítio certo à hora certa (falhou na primeira campanha presidencial que participou). Beneficiou sempre da complacência da comunicação social.

Começa, assim, o final da sua vida política. Finalmente.

P.S. - Cavaco discursou e não saudou os outros candidatos. Revela muito (mais uma vez) do nível do Presidente que Portugal tem. Mas tem o que merece.

Presidenciais 2011 (8)


Manuel Alegre termina hoje a sua vida política. Com uma derrota confrangedora. Podia ter sido diferente, mas isso obrigaria a que Manuel Alegre tivesse outra personalidade. Mas como tem a personalidade que tem, teve que usar o famoso "milhão de votos" para chantagear o partido a que pertencia. Essa vaidade, usando os mesmos no PS como isso lhe desse uma qualquer legitimidade presidencial, serviu-lhe para desmobilizar um partido, um eleitorado, uma máquina partidária. E isso, numa altura de eleições cada vez mais profissionais, paga-se caro. Muito caro.

Que a derrota de Alegre sirva de lição para o futuro. Mais que assumir as críticas, o tom e o nível das mesmas têm consequências. Há certos níveis de crítica que obrigam a acções. Alegre sempre procurou o melhor dos dois mundos. A independência e a militância. Os eleitores não lhe perdoaram essa incoerência. Alguns dos militantes do PS muito menos.

Parece-me prematuro extrair desta votação que PS e BE não possam estar do mesmo lado da barricada. Assumir isso nesta votação tem o mesmo valor que assumir o contrário, que o PS e o BE poderiam ser parceiros naturais após a votação do referendo para a Interrupção Voluntária da Gravidez. Mas lança dados que não devem ser desprezados.

Presidenciais 2011 (7)


Francisco Lopes foi a jogo e mostrou que consegue aguentar a votação comunista. Mostrou-se preparado embora de carisma baixo. Se o partido pretender substituir Jerónimo de Sousa por alguém que fale exclusivamente para dentro, encontrou o seu homem. Se pretender algo mais, não. A acompanhar.

Presidenciais 2011 (6)

Fernando Nobre fez uma campanha cheia de entusiasmo. Por vezes populista - e o populismo não faz parte da campanha? - por vezes com frases que demonstravam claramente o quão verde estava, e está, nestas andanças - a história da galinha com um grão no bico, por exemplo - mas fez uma campanha em crescendo. Fosse esta uma campanha de outros tempos, em que as campanhas eram mais demoradas e mais interessantes, e talvez tivessemos a ver uma surpresa a acontecer. Assim, neste tempos, só foi agradável de ver.
Fica a declaração de alguns jovens que fizeram parte da sua campanha de se manterem interventivos na vida polítca. Já é uma vitória significativa.

Presidenciais 2011 (5)

José Manuel Coelho consegue entre 2% a 4%. É, a partir de hoje, o militante mais importante do PND. Manuel Monteiro já se reformou, não?

Presidenciais 2011 (4)

Apoiantes de Fernando Nobre fazem mini-festa. Porquê?

Presidenciais 2011 (3)

Segundo a RTP, Cavaco renova o mandato. Sem surpresas, portanto.

Presidenciais 2011 (2)

O problema do Cartão do Cidadão é algo para analisar, mas não terá qualquer interferência no resultado final. Qualquer candidatura poderá dizer-se prejudicada pelo problema, mas ninguém poderá garantir que foi o real prejudicado.
Os únicos prejudicados foram aqueles que quiseram ir votar e não puderam. A democracia foi beliscada, mas a única coisa a fazer e perceber qual foi o problema e resolvê-lo.

Presidenciais 2011

Prevê-se que a abstenção seja por volta dos 50%. Para ponderar, esta cada vez maior desistência de participação.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Provavelmente... O melhor programa da manhã do Mundo (o da Rádio Comercial, pois claro)

Para mim, e vale o que vale, o Programa da Manhã da Rádio Comercial - com Pedro Ribeiro, Vasco Palmeirim, Vanda Miranda e Nuno Markl - é, de longe, o melhor programa de rádio do mundo. É parte importante do meu dia, no pequeno espaço de tempo que ocupa, entre a casa e o trabalho. Mas é um espaço que me deixa sempre bem disposto para o dia inteiro, e tornei-me inseparável deles e dos seus podcasts.

São, aliás, os únicos locutores de rádio (e, no caso deles, acho "locutores de rádio" um nome tão pequeno para tanto talento) que conseguem fazer tornée's, seguindo com a rubrica "Caderneta de Cromos" o sucesso de "O Homem que mordeu o cão" dessa outra Dream Team composta por Pedro Ribeiro, Nuno Markl e Maria de Vasconcelos, não deixando esquecer aqui a minha equipa original (ou seja, a equipa que, na altura, compunha o programa da manhã quando os descobri): Pedro Ribeiro, Nuno Markl, Ana Lamy e José Carlos Malato.

Mas (e há sempre um mas) há alturas em que eles "esmagam" as já altas expectativas que se auto-colocam e fazem pequenos excertos de rádio que ficam para a posteridade.


Nome da Criança
by vpalmeirim

Enquanto houver rádio feita com esta paixão e com este gosto, haverá sempre lugar para as ondas hertzianas. Isto, meus amigos, é rádio do mais alto nível.

P.S. - E para quando um Best Of em CD? Fica o pedido...

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Em cada buraco da calçada em que tropeçamos...

... ou encontramos uma história esquisita, e mal explicada, sobre o património ou vida de Cavaco Silva...

... ou encontramos um putativo candidato a presidente do Sporting.

Pobre clube o meu,...

... pobre país o meu!

O melhor texto sobre as presidenciais que já li

Os imbecis da esquerda imbecil são imbecis precisamente por causa das imbecilidades que fazem, não por serem menos inteligentes do que o comum dos mortais. Terem apostado no BPN em vez de no caso das escutas é apenas mais uma das manifestações da sua endógena imbecilidade. A causa de tal imbecil escolha por um tema que permitia vitimizações, os dinheiros privados num tempo de pousio da actividade política, poderá ser a mesma que explica o silenciamento das operações do duo Lima-Zé Manel, as quais igualmente serviam os interesses do BE e PCP para as eleições de Setembro. Tudo o que fosse munição para deitar abaixo Sócrates era festejado pelos imbecis, viesse donde viesse, até dos reaças mais fanáticos. Por isso não vimos a legião de histéricos comentadores da esquerda imbecil a pedir explicações ao Presidente da República, muito menos responsabilidades. Preferiram juntar-se à Manela e ao Pacheco para explorar outras escutas no Parlamento, essas reais e com sabor a caldeirada de enguias à moda de Aveiro.

(...)

Alegre devia ter feito da sua candidatura a continuação do tal tantas vezes incensado movimento cívico com que andou a pavonear-se 5 anos. Mesmo que continuasse a querer o apoio do PS, que mendigou, e o dos imbecis do BE, que abraçou, foi pura estultícia ter ostracizado o centro. E era canja garantir tranquilamente uma 2ª volta, posto que já levava 1 milhão de votos de avanço: bastava fazer das questões da Justiça o núcleo temático da sua estratégia. Esse é o território mais universalista, e importante, para quem se candidata ao único órgão de soberania unipessoal, aquele onde se representa o Estado ao mais alto nível da hierarquia. E esse é um território onde Cavaco é cúmplice das disfunções e perversões do sistema. Os portugueses desesperam com a ausência de líderes que assumam o desafio de enfrentar o poder de magistrados em roda-livre, apostados em fazer aos políticos que não se vergarem o que já fazem aos cidadãos: subalternizá-los aos interesses da corporação. O Presidente da República é a única figura que tem uma autoridade sufragada que lhe permite enfrentar os agentes da Justiça com um poder que lhes é fundamentalmente superior: a representação suprapartidária do Povo. Quer dizer, o Chefe de Estado tem a legitimidade para lembrar à Justiça que deve respeito ao Soberano.

terça-feira, janeiro 18, 2011

É sempre mais cómodo ser treinador de bancada

Filipe Santos Costa disse hoje na SIC Notícias que esta campanha presidencial revela a pobreza franciscana da política portuguesa, porque, na sua opinião, a política em Portugal normalmente não é muito diferente do vazio de ideias e das banalidades que estamos a ser bombardeados, via comunicação social, desde o início desta campanha.

A diferença é que agora levamos com a política desde o pequeno-almoço até à ceia, devido à missão dos media de "esclarecer" os eleitores.

Isto levanta várias interrogações:

1) Desde quando é missão dos media ser corrente acéfala de transmissão da propaganda, e "banalidades", de candidatos? Porque não os confrontam com os reais problemas do país?

2) É de uma profunda hipocrisia que a comunicação social que permite que o candidato mais bem colocado não tenha até agora respondido, ou explicado, UMA das múltiplas acusações e escândalos em que está envolvido.

3) Se os media acham que os políticos não discutem os reais problemas do país, porque não promovem eles próprios essa discussão junto da sociedade? Sem envolver políticos, ou ex-políticos, claro. Talvez porque também estejam interessados no status quo?

Como diria Freitas do Amaral: é preciso ter topete!

Há quem tenha nascido duas vezes, Sr. Silva.

Cavaco fez permuta com Fantasia
A casa de férias de Cavaco Silva foi adquirida a uma empresa subsidiária da Opi 92, de Fernando Fantasia. O Presidente da República continua sem dizer onde está a escritura pública da transação          

No dia 17 de fevereiro de 1999, quarta-feira de cinzas, dava entrada na Conservatória do Registo Predial de Albufeira a aquisição do lote 18 da Urbanização da Aldeia da Coelha. Uma permuta entre o casal Aníbal e Maria Cavaco Silva e a empresa Constralmada - Sociedade de Construções, Lda, atesta a passagem da propriedade para o atual Presidente da República. No registo não se encontra, como a VISÃO noticiou na edição de 13 deste mês , a escritura pública que contratualiza a permuta. Ou seja, não se pode apurar, e Cavaco Silva não esclarece, o que deu em troca dos dois lotes de terreno (os antigos lotes 18 e 19 do loteamento inicial, correspondentes ao atual lote 18, e o "edifício composto por cave, rés-do-chão e 1º andar, do tipo T-6, com logradouro" de 1891 metros quadrados).

A VISÃO enviou várias perguntas para Cavaco Silva (ver caixa no final desta página), que receberam, às 16h00 desta terça-feira, 18, uma resposta de fonte oficial da direção da sua campanha para a re-eleição na Presidência da República: "O Professor Cavaco Silva já disse o que tinha a dizer sobre o assunto." E da Presidência não nos chegou qualquer resposta.

Na sequência do trabalho publicado pela VISÃO na semana passada , quando confrontado por outros jornalistas, Cavaco Silva disse apenas: "O desespero já é muito grande. Façam as investigações que quiserem, publiquem tudo que talvez depois do dia 23 talvez eu possa ler."

O que se sabe é que a permuta foi feita com uma empresa de construção, a Constralmada. E que essa empresa era uma sociedade por quotas fundada por Fernando Fantasia e detida em 33,3% pela sua empresa Opi 92, SA. Era, porque foi dissolvida em Janeiro de 2004.

Fernando Fantasia é um dos moradores no restrito aldeamento da Coelha. Viria a ser, também, um dos rostos de algumas das mais complexas operações durante a gestão de Oliveira e Costa no BPN/SLN. Mas isto aconteceu alguns anos após o negócio com Cavaco Silva. Muito embora não se consiga situar, precisamente, quando é que a Opi deixou de ser exclusivamente detida por Fernando Fantasia para passar a ser mais uma das "participadas" do grupo do BPN.

O mistério Opi
Nuno Melo, deputado do CDS, durante os trabalhos da Comissão de Inquérito do Parlamento ao caso BPN, chegou a declarar que "a OPI e as sociedades que gravitam à volta desta, como a Pluripar e outras, são um problema grande que temos para compreender. E são um problema grande porque refletem o que no BPN funcionava à margem da transparência das contas, à margem da consolidação, à margem das informações ao Banco de Portugal." (ata da reunião de 24/3/2009)

Fernando Cordeiro, acionista da SLN, declarou aos deputados, por seu turno, que "Oliveira Costa falou-nos que 100% da OPI eram da SLN Valor".

E Franquelim Alves, o administrador da área não-financeira da Sociedade Lusa de Negócios, que se demitiu em 2008 por discordar da gestão do grupo, adensou ainda mais as dúvidas, no Parlamento: "Quanto à OPI 92 e à relação de domínio, de facto, nesta matéria, e este foi mais um dossier que se prolongou ao longo do tempo, a perceção do que é que era a OPI 92 e de quem era a OPI 92 e quem eram os beneficiários da OPI, não era possível alcançar porque não havia nada escrito que o comprovasse. Eu nunca vi nada escrito. Havia declarações que diziam que esta sociedade era detida pelo Sr. Fantasia, mas, na realidade, em última instância, o beneficiário da sociedade deve ser a SLN ou a SLN Valor."

Esta ausência de registos escritos, e a dúvida sobre quem era, de facto, o dono da Opi, originou este curioso diálogo, na reunião da Comissão parlamentar de Inquérito, do dia 24 de Março de 2009. O deputado Nuno Melo questiona Fernando Fantasia, administrador da Opi (citação da ata da reunião):
"O Sr. Nuno Teixeira de Melo (CDS-PP): - (...) Surge-nos aqui a OPI como... Bom, basicamente, transformam o Sr. Dr. numa espécie de testa-de-ferro, grosso modo...
O Sr. Dr. Fernando Fantasia: - Como?
O Sr. Nuno Teixeira de Melo (CDS-PP): - Porque aqui no documento estabelecem... 
O Sr. Dr. Fernando Fantasia: - Sim, mas não me assumi como tal. Quer dizer, eu fui acionista e fui-o de empresas do Grupo CUF, sou gestor e se se considerar como testas-de-ferro dos acionistas todos os gestores, então, todos os gestores o são... É como eu me sinto. A minha vida foi de gestor de empresas e de gestor de empresas do setor imobiliário e representei os acionistas e, por vezes, eu próprio porque também era acionista. Mas, na maior parte dos casos, eu fui sempre minoritário.
O Sr. Nuno Teixeira de Melo (CDS-PP): - O Sr. Dr. compreenda que não é uma imputação que lhe estou a fazer!
O Sr. Dr. Fernando Fantasia: - Mas também compreenderá que depende do conceito que tenham de testa-de-ferro. Se testa-de-ferro é representar os acionistas, então, terei sido testa-de-ferro sempre toda a minha vida."

A curiosidade dos deputados devia-se, sobretudo, à famosa compra de terrenos na zona de Alcochete. A aquisição dos últimos 4.000 hectares da chamada herdade de Rio Frio 2, a poucos dias da decisão governamental de instalar o novo aeroporto de Lisboa nas imediações, por empresas ligadas à Opi, de Fernando Fantasia e da SLN, continuou a ser investigada. Mas a suspeita de que teria havido informação "privilegiada" nunca passou disso mesmo. Fernando Fantasia chamou-lhes "insinuações". E garantiu aos deputados que o seu interesse naqueles terrenos era bem anterior ao da polémica Ota/Alcochete, e era sobretudo "turístico".
Perguntas sem resposta

Estas são algumas das questões enviadas a Cavaco Silva, para Belém e para a sua direção de campanha. 



  • Pode o senhor Presidente da República confirmar que adquiriu a propriedade do actual lote 18 da Urbanização da Coelha (Sesmarias, Albufeira) à empresa Constralmada?
  • Essa transacção foi feita através de uma permuta de terrenos?
  • Por que valores foram avaliados os terrenos que adquiriu, e os que cedeu?
  • Recorda-se do ano em que foi feita a escritura pública desta transacção?
  • Tinha conhecimento que a referida empresa, a Constralmada, era detida pela Opi-92, empresa de que eram accionista o Dr. Fernando Fantasia?
  • Quem lhe propôs a permuta?
  • Recorda-se do cartório notarial onde foi firmada a escritura pública desta transacção?

MAIS DESENVOLVIMENTOS NA VISÃO DA PRÓXIMA QUINTA FEIRA, 20

http://aeiou.visao.pt/cavaco-fez-permuta-com-fantasia=f586476

Desenrascanço é o nome do jogo

De modo que, mais uma vez, funcionou na perfeição a táctica portuguesa de nos safarmos empurrando para debaixo dos holofotes o país que está mais a jeito. Depois da Grécia e da Irlanda, foi agora a vez dos nossos vizinhos. Desculpem, rapazes, mas é a vida.

(...)

Resta só o problema de inventar para os bois designações eufemísticas que não choquem a mentalidade obtusa da Srª Merkel e do seu gabinete: a criatividade semântica ao estilo latino ao serviço da obsessiva lógica germânica revela-se mais uma vez a metodologia pan-europeia adequada para fomentar a convergência de visões políticas nacionais conflituantes. Quem diria?

Vamos então deixar trabalhar tranquilamente os assessores da Comissão Europeia, e daqui a dois meses estará pronto um texto que nos nossos países periféricos seria alinhavado em 48 horas.

Quem tem boca vai a Pequim e às Arábias

Muito se tem falado que o nosso governo anda a "mendigar" para que outros países comprem a nossa dívida pública. Essas notícias, posts, tweets e afins, ditos pelo "mainstream do costume", parecem afirmar que tal estratégia é um erro, ou é uma humilhação, ou, vade retro, uma abominação à luz dos "Mercados" (!!!).

Para mim, acho que o governo está a ser esperto.

Também, no tempo das Descobertas, fomos atrás das especiarias para sermos nós a trazé-las para a Europa, em vez de serem outros a lucrar com isso.

Quem tem boca vai a Roma. Somos um país de desenrascados. Quando é para resolver uma situação bicuda, em que outros desistem ou tentam soluções ditas clássicas e formais, um português arranja maneira de se safar. Pode não ser ortodoxo, pode até não funcionar, mas numa situação desesperada, é sempre arriscado apostar contra um português.

A Europa não nos ajuda? Há muito dinheiro na China, no Brasil e nas Arábias. Ir à procura dele é uma das coisas mais espertas que podemos fazer.

O que quererão em troca? Bem, não há almoços grátis, mas também não temos alternativa.

É da vida.

sábado, janeiro 15, 2011

Cavaco e Isaltino - Irmãos na fuga para a frente

Já Isaltino de Morais também tem o hábito de dizer que quem o julga (e estamos a falar de "casos esquisitos" com dinheiro, não de julgamento político) é a população.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

... Hoje é o dia

Há dias assim. Dias em que estamos mesmo com a convicção de tomarmos uma decisão típica de pacote de açucar (de café Nicola, passe a possibilidade).

Foi com esta convicção que João Miranda acordou hoje: "Um dia ainda vou citar Paul Krugman. Hoje é o dia!"

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Olha que malta que se encontrou -'The West Wing' EW.com Reunion 2010

America's Headlines

Primeira Página do Wall Street Journal na tomada de posse do Congresso Americano, agora maioritariamente Republicano

Primeira Página do New York Times na tomada de posse do Congresso Americano, agora maioritariamente Republicano

Há gente que, tendo por hábito comprar os jornais mais representativos dos sítios que visita, por vezes tem a sorte de "apanhar" edições com o seu quê de histórico

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