sexta-feira, setembro 30, 2005

Nada de novo

Fátima Felgueiras regressou à vida política activa. Já todos sabemos que o seu regresso se volta a prender a mais um conjunto de coincidências, semelhantes às que determinaram a sua saída de Portugal à mais de dois anos.

Até aqui, nada de novo. Na verdade, este caso já não consegue surpreender, só temos de imaginar o cenário político mais inaceitável e para que este se concretize só é preciso algum tempo.

Se alguém ficciona-se tais acontecimentos num passado ainda não muito distante, poucos seriam aqueles que os julgariam possíveis de ultrapassar essa afinal ténue barreira da ficção.

O que é mais confrangedor no discurso de Fátima Felgueiras é a miséria intelectual que este encera, que ganha dimensão pela "quase" total ausência de valores éticos e morais.

Mais penoso que observar o deambular desta pobre alma, é assistir ao rosário de fiéis felgueirenses que seguem a sua salvadora, dominados pela propaganda que vitimiza a filha da terra, vergonhosamente atacada pelos papões que desejam assistir ao definhar de tão próspero conselho. Também aqui, nada de novo.

Talvez surpreenda o recurso demasiado fácil à mentira, a máxima parece simples, mentir o número de vezes necessário para que esta se assuma como verdade.

Fátima Felgueiras, não é mais que um exemplo mediático das tortuosas relações entre o poder político e económico, ou se preferirem entre os interesses público e privado, permanentemente observados por uma sociedade cansada ou dominada pela política (de forma consciente ou não), sociedade essa que dá corpo a instituições inertes. Excepções são aqueles não se mostram resignados e permissivos perante a burocratização e compadrio, que não olham a mediocridade como inevitável e a responsabilidade como papel a desempenhar por terceiros.

Todos sabemos que estas questões nunca serão discutidas na sua essência pelos meios de comunicação social, porque também estes estão cansados ou dominados. Não serão atalhadas pelo poder político, pois ninguém espera pelo tiro no próprio pé. E quanto à justiça, esta afinal é cega, só tendo tacto para uma rigorosa interpretação das palavras que determinam a lei.

Infelizmente, e à demasiado tempo, nada de novo.
Jorge Macieirinha

Olha o tripeiro...

Jorge,

Que acasos de geografia se revelem promotores de colaborações prolíferas.

Bem vindo

Já existem candidatos para 2009!!!

O ainda recente e inesquecível choque titânico entre os candidatos, altamente inflamáveis do PS e PSD (se preferirem independentes), à Câmara Municipal de Lisboa, gerou um "Cosmos" de ideias de exigente reflexão.

Tal como o comum apostador do totobola, também o cidadão lisboeta se encontra mergulhado no dilema de ter de apostar no vencedor (não se trata de uma escolha, pois ninguém assume tal responsabilidade), tendo neste caso a agravante de apenas poder fazer nova aposta passados quatro anos.

Mas, o eleitor mais atento está consciente do início de um processo irreversível de mudança no perfil dos candidatos com reais possibilidades de vencer tão resplandecente autarquia. O combate que agora se trava, não é mais que o de desbravar de terreno para o combate, esse sim, letal… a decorrer já em 2009. Nessa altura, mais dois candidatos irão surgir na corrida vindos das enriquecedoras fileiras independentes. A saber: do mundo da distribuição dos electrodomésticos e viagens para a terceira idade, irá irromper o homem dos sete instrumentos, que fará frente a qualquer sistema seja ele eleitoral, empresarial ou mesmo dourado. Tendo este como mais severo opositor, o ex-marcuense, actual amarantino e futuro lisboeta, "O homem do vernáculo", para quem o governo regional da Madeira é o limite (algures entre 2030 e 2040). Até lá, os seus munícipes ficaram a conhecer o verdadeiro significado de termos como gestão autárquica, empreiteiro, América latina ou manequim.

Não existem, motivos validos para que estes dois brilhantes espécimes não ocupem o lugar de destaque que merecem, pois tal como os actuais candidatos à vitória da presidência da capital, obedecem aos rigorosos critérios da "selecção natural autárquica"

Critérios:
- Ser capaz de estar pelo menos uma hora a debater problemas que não conhece.
- Ser capaz de estar pelo menos uma hora a repetir as palavras ideia e projecto sem apresentar qualquer exemplo.
- Ser capaz de estar pelo menos uma hora a falar com o opositor como se de um árbitro de futebol se tratasse.

Muito Bom!!!

Já só faltam quatro anos…
Jorge Macieirinha

Ronda Nocturna

Belíssima análise de Pacheco Pereira, mais uma vez. Desta vez procura confundir o leitor com a sua erudição, testemunho e discurso político, usando a comparação entre 1985 e 2005 para «puxar» as primárias à direita (entre Cavaco e Portas e/ou Santana). O que Pacheco Pereira não refere é que, como em 1985, essas primárias serviriam para fortalecer o vencedor (antecipadamente Cavaco) e para contribuir para a extinção dos seus oponentes, como acabou por acontecer quer ao «projecto basista-MÊS-PREC-Pintassilguista» quer a «Zenha-PRD-Eanes» quer mesmo ao PCP (que inicia nessa altura a sua perda de influencia nacional). Que queira vangloriar «O Chefe» ainda se entende, agora que queira aniquilar a oposição…

(Falando em JPP, grande resposta esta do António Tabucchi)

Num outro registo, e correndo o risco de repetição, alguém que explica isto? Que mal lhe terá feito Soares? E que sentido têm estas últimas considerações? O curioso é que, aparentemente, não está sozinho. Tem companhia diversa.

Interessante observar este estranho conjunto. Que medo ou temor terão de Soares? Que ganhe? Que mal poderia daí advir? Que se veja na derrota de Soares a necessidade revanchista de uma direita imberbe e ansiosa, entende-se; agora que se veja parte da esquerda sedenta de um protagonismo empurrado e marginal, estranha-se.
E Soares ainda nem começou...

quinta-feira, setembro 29, 2005

Madrid - Lisboa

Acabado de chegar de Madrid, onde estive quase uma semana, contacto com a tão distinta realidade lusa: Alegre, Felgueiras, greves, autárquicas. Tudo igual, tudo diferente.

Já sei que começou a campanha eleitoral. Já não tinha começado? O que era antes? Pré-campanha? Ante-campanha? Como refere o Diogo, e bem, tudo me parece muito igual. Já não foram feitos os comícios? E os debates? Eu iria jurar já ter visto, por aí, os tradicionais e arregimentados jotas com as bandeiras e os crachás, apregoando palavras de ordem futebolisticamente construídas.

Em Madrid segui a pertinência da política lusa na sua não referência. No «El País» lá estavam as eleições na Polónia, o desenlace alemão, a crise israelita, a política norte americana, a habitual atenção à América Latina, Portugal? Nada. Autárquicas? Nem uma linha. Só na edição de ontem, dia 28, Margarida Pinto reporta de Lisboa a anunciar a candidatura de Soares (?), e como a esquerda portuguesa se divide contra um ainda-não-assumido-mas-já-ganhador-candidato-da-direita-Cavaco-Silva.

Por curiosidade, à saída de Portugal, era dada grande importância cultural à recente obra de ampliação do Museu Rainha Sofia, em Madrid. Esta obra, orquestrada por Jean Nouvel, teve honras de largas páginas nos dois diários de referência portugueses: o Diário de Notícias e o Público. Ambos, convidados a apreciarem de antemão o resultado final, com enviados especiais e «entrevistas exclusivas» com Jean Nouvel, realçaram a importância da obra destacando dois pontos: a referência arquitectónica agora existente, procurando um «efeito Bilbau» para a capital espanhola, e as novas condições de acolhimento a obras de arte.

A nova cara do «Reina» foi inaugurada, com a pompa devida, na segunda-feira, com a presença toda a gente, Rainha incluída. Terça esteve fechada, como normalmente o faz, e ontem vim para Lisboa. Não vi, portanto, a nova ampliação por dentro. Vi, e com alguma atenção, por fora. E não fiquei impressionado. Nada. Mais, perante a monumentalidade da estação de Atocha (as dos atentados do 11 de Março), do Passeio da Castillana ou do Museu do Prado (pertíssimo, do outro lado da rua), penso mesmo que a parte ampliada pareceu modesta. Diria que se enquadra muito bem na paisagem urbana da zona, assumindo uma continuidade estética e arquitectónica interessante, arrogando-se de uma volumetria discreta e integrada.

Bilbau espanta, choca e suscita emoção. A nova roupa do «Reina» sente-se natural, estilizada e apurada. Não a penso nem a conceptualizo como um novo Guggenheim. Parece-me que a Arte, como exposta nas suas instalações, continuará a ser o dínamo do conjunto. Já estive no Gugga de Bilbau, e sinceramente não me peçam para lhes referir a exposição permanente. Talvez me engane, mas não estou a ver a escultura do Roy Litchenstein, no novo pátio, ser o «Puppy» (de Jeff Koon) de Madrid.

Há ainda uma outra reflexão: que relação da Arte com o Património (a relação do Edificio Sabatini, do século XVIII e a nova «ala» é simplesmente fabulosa), nomeadamente no contexto europeu. Estes cresceram e evoluíram em palácios e palacetes com séculos de tradição histórica mas munidos de péssimas condições de exposição (em termos de iluminação, fixação de obras, logística, etc). A sua renovação é imperativa, para que neles se criem as condições de recepção do novo e desejado turista cultural.
Sabemos que já não se vendem «Museus de Arte Antiga» e «Museus dos Coches» como antigamente. Sabemos que os novos Espaços Públicos se querem dinâmicos, irreverentes, funcionais, apelativos e chocantes. Sabemos que tem de ter Obras de Arte importantes, vanguardistas, contemporâneas, definidoras, clássicas.

Numa altura em que para Lisboa se anunciam Frank Gerrys e 300 milhões de Euros para o Parque Mayer, um novo Museu de Arte Contemporânea para a colecção Berard, o que pretender e como conceber estes novos espaços públicos? Como interagir com eles? Que privilegiar? A arquitectura ou a Arte exposta? Quem atrai, hoje, o nicho «urbano e moderno» do turismo cultural? Frank Gerry ou Rothko? Siza Vieira ou Pollock?

É verdade que este novo turismo cultural é cada vez mais bem informado e exigente. É namorado por todas as capitais do planeta. E também é verdade que a arquitectura hoje vende, e muito, imagem. Imagem de dinamismo. Imagem de modernidade. Imagem de urbanidade. (vejam-se as recentes construções asiáticas e no golfo pérsico). Mas também é verdade que «recheio» sem «conteúdo» apenas satisfaz uma vez.

Questionando um artista sobre o tema, ele dirá: «que privilegiem sempre a Arte!»; A um Arquitecto: «a Arquitectura também é uma arte própria. Que se privilegie o Edifício!». A um Promotor: «o que importa é que isto renda. Um pouco de ambas».

E um Político? Que diria? E um simples cidadão?

quarta-feira, setembro 28, 2005

Chegou via e-mail. Não resisti:
Um Presidente de Câmara é atropelado e morre. A alma dele chega ao Paraíso e dá de cara com São Pedro.

- «Bem-vindo ao Paraíso!»; diz São Pedro. «Antes que você entre, há um problema a resolver. Raramente vemos políticos por aqui, sabe, e não sabemos bem o que fazer com você».

- «Não vejo problema, é só deixar-me entrar", diz o antigo presidente

- «Eu bem que gostaria, mas tenho ordens superiores em contrário. Vamos fazer o seguinte: Você passa um dia no Inferno e um dia no Paraíso. Aí, pode escolher onde quer passar a eternidade».

- «Não precisa, já resolvi. Quero ficar no Paraíso». Diz o ex-presidente.

- «Desculpe, mas terá de ser, é que temos as nossas regras."

Assim, São Pedro acompanha-o até o elevador. Ele desce, desce, desce até o Inferno. A porta abre-se e ele vê-se no meio de um lindo campo de golfe. Ao fundo vislumbra o clube, onde estão todos os seus amigos e outros políticos com os quais havia trabalhado. Todos muito felizes em traje social.

Ele é cumprimentado, abraçado e eles começam a falar sobre os tempos em que ficaram ricos às custas do povo. Jogam uma partida descontraída e depois comem lagosta e caviar.

Quem também está presente é o Diabo, um cara muito amigável que passa o tempo todo dançando e contando piadas. Eles se divertem tanto que, antes que ele perceba, já é hora de ir embora.

Todos se despedem dele com abraços e acenam enquanto o elevador sobe.

Ele sobe, sobe, sobe e a porta abre-se outra vez. São Pedro está esperando por ele. Agora é a vez de visitar o Paraíso.

Ele passa 24 horas junto a um grupo de almas contentes que andam de nuvem em nuvem, tocando harpas e cantando.

Tudo vai muito bem e, antes que ele perceba, o dia se acaba e São Pedro retorna.

- «E aí? Você passou um dia no Inferno e um dia no Paraíso. Agora escolha a sua casa eterna».

Ele pensa um minuto e responde:

- «Olha, eu nunca pensei... O Paraíso é muito bom, mas eu acho que vou ficar melhor no Inferno».

Então São Pedro leva-o de volta ao elevador. Ele desce, desce, desce até o Inferno. A porta abre e ele vê-se no meio de um enorme terreno baldio cheio de lixo. Ele revê os amigos com as roupas rasgadas e sujas catando o entulho e colocando em sacos pretos.

O Diabo vai ao seu encontro e passa o braço pelo ombro do ex-presidente.
- «Não estou entendendo», - gagueja o presidente - "Ontem mesmo eu estive aqui e havia um campo de golfe, um clube, lagosta, caviar, e nós dançamos e nos divertimos o tempo todo. Agora só vejo esse fim de mundo de lixo e meus amigos arrasados!!!»

O Diabo olha para ele, sorri ironicamente e diz:

«Ontem estávamos em campanha. Agora, já conseguimos o seu voto...»

As Eleições Autárquicas, os Independentes e a Demagogia

Começou este semana a campanha oficial para as eleições autárquicas deste ano. Para muitos este marco tem pouca importância, visto que é notório, em Portugal, que a pré-campanha já se distingue pouco da campanha propriamente dita. Já vimos os candidatos a efectuar comícios, a fazer acções de campanha, e, sobretudo, já os vimos em debates televisivos, para muitos os únicos que vão ter antes das eleições. Este serviço público prestado pela SIC-N, e em menor escala pela RTP-N, poderá ser em muitos concelhos o factor decisivo da escolha entre os candidatos, tendo acontecido antes da campanha oficial. Assim se poderá dizer que há eleições cujo desenlace já é um factor conhecido, ou ficou determinado pela pré-campanha.

O grande tema destas eleições é, contudo, os denominados “candidatos-arguidos”: autarcas que são arguidos em processos criminais, e que após terem perdido a confiança dos respectivos partidos, avançaram com candidaturas independentes e que estão em excelentes condições de serem reeleitos. Estamos a falar de Isaltino Morais, Fátima Felgueiras, Avelino Ferreira Torres e Valentim Loureiro. A mediatização destes casos, por um lado, e a evidência inequívoca de que são consecutivamente apontados como vencedores das eleições, levou os profetas do fim do regime a afirmar que a democracia em Portugal está (mais uma vez) a morrer, porque, o povo não sabe o que está a fazer, ao permitir a eleição de tais personagens pérfidas. Assim, ¾ dos nossos “opinion-makers”, estão consciente ou inconscientemente a fazer a apologia do salazarismo.

A situação chegou a um ponto tal, que num debate ontem, na SIC-N, Jorge Coelho, coordenador autárquico do PS, chegou a afirmar, como opinião pessoal, que era contra a actual lei que permitia a candidatura de independentes aos órgãos do poder local, porque a lei estava a servir apenas para a candidatura de ressabiados dos partidos, ou para a criação de listas contranatura, (PS-CDS?) apoiadas por partidos, e não para a verdadeira expressão da cidadania, que seriam as candidaturas de cidadãos apartidários.

O meu comentário é simples: mas alguém esperava o contrário desta lei?
Para quem não saiba, para se conseguir fazer uma campanha competitiva é preciso ter dinheiro, muito dinheiro, e uma máquina de apoio, partidária ou quasi-partidária. O sonho romântico de conjugações de cidadãos comuns a juntarem-se e a concorrerem e ganharem câmaras e assembleias municipais é isso mesmo: um sonho. Apenas nas juntas de freguesia, nas de reduzido tamanho, é possível haver candidaturas apartidárias de poucos recursos, em tudo o resto é impossível competir com os partidos. A não ser que sejamos milionários, mas eu pessoalmente não considero milionários, pessoas comuns.

Contudo, muitos poderão dizer que o exemplo dos candidatos-arguidos contraria o meu argumento, afinal candidatos que não são apoiados por nenhum partido vão ganhar a candidatos partidários. Eu poderia dizer que é notório, nestes quatro casos, que as máquinas locais dos seus antigos partidos foram subvertidas, ou pelo menos divididas, pelos incumbentes. Eu poderia também dizer que os recursos financeiros que apresentam são de tal forma elevados que denotam empréstimos de sobrinhos na Suíça. Mas não o farei, porque que é a minha opinião que a vitória destes candidatos se deverá ao facto que os grandes partidos assim o desejam.

Onde é que está o grande candidato do PS para Oeiras, Jorge Coelho? Como é que se admite que Felgueiras tenha um candidato de terceira linha? Algo que deveria ser um caso de honra para o PS, afinal nós tivemos o presidente da Distrital do Porto a ser lá agredido e não se faz nada? E Dias Loureiro, Gondomar deve ser ali um concelho de pequena importância para o PSD, não? Afinal só estamos a falar num membro da lista dos dez maiores! E Amarante é como se não existisse!

Em todos estes casos, se os dois grandes partidos tivessem avançado com figuras de renome nacional, apoiados em grande escala, e com máquinas partidárias locais informadas das reais consequências de apoiarem candidatos extra-partidários, poderiam ter reais hipóteses de ganhar. Como está hoje, apenas Oeiras talvez não seja ganha por Isaltino.

Resumindo e concluindo, o que Jorge Coelho e Dias Loureiro fizeram ontem à noite poderá ser chamado simpaticamente de demagogia. Para mim, acho que são os principais responsáveis desta história!

terça-feira, setembro 27, 2005

Última Hora: Candidato Autárquico Assassinado a Tiro!

Autárquicas: Assassinado a tiro candidato PSD à Junta de Freguesia de Vila Franca das Naves, Trancoso.

Lisboa, 27 Set (Lusa) - O candidato do PSD à junta de freguesia de Vila Franca das Naves, concelho de Trancoso (Guarda), Miguel Madeira foi morto a tiro hoje de manhã naquela localidade, disse à agência Lusa fonte da GNR.
Miguel Madeira, actualmente presidente da Junta de Freguesia daquela localidade, era também era o comandante dos Bombeiros Voluntários de Vila Franca das Naves.
O candidato cumpria hoje o primeiro dia de campanha eleitoral para as autárquicas de 09 de Outubro.

http://www.lusa.pt/print.asp?id=SIR-7353995

segunda-feira, setembro 26, 2005

Zé Ninguém

Num semanário de referência, de entre as suas diversas rubricas, aparecem algumas que nitidamente existem para encher páginas, justificando o epíteto "Espesso" com que foi popularmente apelidado.
Deixando os critérios editoriais para segundo plano, neste sábado o caderno de Economia, na sua habitual página com um "Perfil", aparece um jovem de 37 anos (hoje em dia só há jovens e velhos, não sei se já se aperceberam?), com um cargo de responsabilidade, apesar de não ter formação académica, e de se confessar incapaz de perceber, ou sequer, apreciar uma exposição de fotografias (certamente uma tarefa hercúlea). Não é de estranhar que também tenha pouco tempo para ler, mas gosta muito de livros históricos. Apenas não os lê. Mas isso agora não interessa nada. Hobbies? Conduzir um Porshe e yoga. Mas em separado. Penso eu. O seu apelido? Champalimaud.
Onde é que eu quero chegar com esta conversa? As mentes mais lerdas e fracas de espírito vão-me chamar de invejoso, palerma e outros adjectivos menos elogiosos. A verdade? É que isto não é de espantar em Portugal. Acontece com demasiada frequência para serem coincidências. Quando todos falam de qualificação para progredir, de aposta na formação pessoal, de trabalhar muito para alcançar patamares de superior evidência, os exemplos são um tudo nada nebulosos. Há os que trabalham muito e nunca passam da cepa torta, e os que trabalham muito e têm nomes que lhes abrem portas.
Não só as mulheres não conseguem alcançar as chefias nos locais de trabalho, com as desculpas da sua opção pessoal em serem as gestoras do lar e da família, como se elas não fossem capazes de conciliar ambas as situações se tiverem qualidades para tal, como qualquer "Zé Ninguém" tem de trabalhar pelo menos o dobro para ser um "Zé Alguém".

sábado, setembro 24, 2005

Que saga...

Há pessoas que tudo fazem para verem qualquer um menos Mario Soares de volta a Belém...

O que terá feito o ex-Presidente para ter que aturar esta saga?

Um exemplo:
Depois de ter dado a entender que só Cavaco poderia servir como ponto de equilíbrio no sistema político nacional, eis que Paulo Gorjão retoma um Alegre reciclado. Ele é blogues…Ele é sondagens... ele é apoios

Enfim, os que acompanham o poeta ainda não entenderam que ele não pertence a este filme presidencial. Que é apenas um actor secundário, com um papel pequeno, apenas com falas de ocasião, ocupando pelicula.

Não entendo, de tanto debate por fazer porquê perder tempo com um fenómeno redutor como «Alegre» (o suposto movimento, não a pessoa).

Porque não discutir o desenho do sistema político, avançando mesmo com alternativas concretas – Presidencial, semi-presidencial de carácter parlamentar, semi-presidencial de carácter presidencial ou mesmo parlamentar.

Porque não elaborar sobre as diversas necessidades sistémicas existentes hoje? Porque não procurar e apresentar argumentos que sustentem as diversas leituras dos poderes presidenciais? Porque não debater as diversas propostas existentes em cada candidatura? Porquê perder tempo com um pseudo-proto-quase-candidato que avança-não-avança janta-não-janta, que nada vale que meia dúzia de pontos ao outro candidato socialista?

Qual é o ponto, senhor Gorjão?

Tenho-o em melhor consideração. Que queira defender um candidato, que o faça. Eu tenho o meu. Agora, que defenda todos os que vierem contra Soares, já me parece pouco sustentável e pouco digno de si. Deve, com ceteza, ter as suas razões. Espero que se esclareça...

sexta-feira, setembro 23, 2005

Felgueiras: As Instituições e o Povo

O caso Fátima Felgueiras parece ser mais uma machadada na já débil reputação das instituições políticas e judiciais nacionais. Uma foragida à justiça, que deliberadamente viajou para o estrangeiro para evitar ser presa preventivamente sobre um caso em que era arguida, volta triunfantemente para se recandidatar à autarquia que é acusada de ter desfalcado.

Levada pela polícia para responder no tribunal de Felgueiras, a decisão da prisão preventiva, atribuída por um tribunal superior, é revogada por não já terem razão os pressupostos legais desta medida de coacção. Sabendo que um dos pressupostos, largamente divulgados pela comunicação social, é o perigo de fuga de arguidos, torna-se incompressível para o senso comum como é que alguém que efectivamente fugiu do país, não representa um perigo de fuga no futuro?

Obviamente, o que vem à baila nas conversas, por portas e travessas, é que a juíza terá agido em função de pressões ou de interesses pessoais, e não no estrito cumprimento da justiça. Curiosamente, ninguém aponta uma única prova nesse sentido, para além do próprio sentido da decisão da magistrada.

Da mesma forma, poderá se ter dificuldade em perceber como é que uma foragida à justiça consegue liderar as sondagens em Felgueiras, e que provavelmente ganhará a câmara, como se vê aqui no "Margens de Erro".

Assim, também parece para muita gente que a democracia portuguesa possui fracos níveis de qualidade, ao permitir que arguidos possam concorrer a eleições e sobretudo que as possam ganhar. Afinal, para muitos, Fátima Felgueiras é obviamente culpada.

Contudo, ao contrário da grande maioria, eu acredito que poderá advir deste caso o reforço das instituições, em especial da sua legitimidade. A razão para isso é simples: a legitimidade do sistema judicial é uma questão de crença.

O sistema judicial é legítimo enquanto a população o considerar legítimo. Isto é, em última análise nós temos crença no sistema judicial, apesar de todos os possíveis erros, apesar de ser constituído por pessoas falíveis, pela simples razão que nós temos que ter crença na justiça para que ela possa funcionar. Nós temos que acreditar que as leis, os magistrados e os advogados conseguem apurar a verdade, ilibando os inocentes e punindo os culpados. Nós temos que acreditar que o sistema é justo e que funciona, simplesmente porque não existe alternativa. Se nós deixarmos de acreditar na justiça, não só deixarmos de recorrer a ela, como passaremos a fazer justiça pelas próprias mãos. Da mesma forma, deixaremos de a apoiar e de tudo fazer para que ela descubra e aja sobre a verdade. Quando isso acontecer, deixaremos de ser uma sociedade e passaremos a ser uma anarquia.

Não quero com isto dizer que o sistema judicial não deva ser reformado, eu até acho que sim, mas temos que ter atenção que a justiça tem de existir e que este é o sistema para a executar. A justiça pode ser lenta, pode não ter meios, as leis podem ser malfeitas e inaplicáveis, mas o pressuposto fundamental tem que se manter: os magistrados são justos nas suas decisões. Mesmo que individualmente possam haver falhas, o sistema é designado para que um só indivíduo não detenha o poder. Existem recursos, existem tribunais superiores e existem reabertura de processos. Mas, mais uma vez, esgotadas todas as possibilidades de recurso, e a decisão final transitada em julgado, temos que crer que o resultado é justo e corresponde à verdade dos factos. É assim que o sistema funciona e tem que funcionar.

Afinal, e se Fátima Felgueiras está inocente?

Já pensaram nisso?

quinta-feira, setembro 22, 2005

O Discurso



My friends, fellow Democrats, fellow Americans:

I’m going to be candid with you. I had hoped to be back here this week under different circumstances, running for re-election. But you know the old saying: you win some, you lose some. And then there’s that little-known third category.

But I didn’t come here tonight to talk about the past. After all, I don’t want you to think that I lie awake at night counting and recounting sheep. I prefer to focus on the future, because I know from my own experience that America’s a land of opportunity, where every little boy and girl has a chance to grow up and win the popular vote.

I love this country deeply. Wasn’t BeBe Winans great? I believe that’s the best national anthem I’ve ever heard sung. I love this country deeply, and even though I always look to the future with optimism and hope, I do think it’s worth pausing for just a moment as we begin this year’s convention, to take note of two very important lessons from four years ago.

The first lesson is this: Take it from me, every vote counts. In our democracy, every vote has power. And never forget that power is yours. Don’t let anyone take it away from you or talk you into throwing it away.

And let’s make sure that this time every vote is counted. Let’s make sure that the Supreme Court does not pick the next president, and that this president is not the one who picks the next Supreme Court.

And never has that been more true than in 2004, because let’s face it our country faces deep challenges. These challenges we now confront are not Democratic or Republican challenges; they are American challenges that we all must overcome together as one people, as one nation.

And it is in that spirit, that I sincerely ask those watching at home tonight who supported President Bush four years ago: did you really get what you expected from the candidate you voted for? Is our country more united today? Or more divided? Has the promise of compassionate conservatism been fulfilled? Or do those words now ring hollow? For that matter, are the economic policies really conservative at all? For example, did you expect the largest deficits in history, year after year? One right after another? And the loss of more than a million jobs? By the way, I know about the bad economy. I was the first one laid off. And while it’s true that new jobs are being created, they’re just not as good as the jobs people have lost. And incidentally, that’s been true for me too. Unfortunately, this is no joke for millions of Americans. And the real solutions require us to transcend partisanship. So that’s one reason why, even though we meet here as Democrats, we believe this is a time to reach beyond our party lines to Republicans as well.

And I also ask tonight for the consideration and the help of those who supported a third party candidate in 2000. I urge you to ask yourselves this question: Do you still believe that there was no difference between the candidates? Are you troubled by the erosion of America’s most basic civil liberties? Are you worried that our environmental laws are being weakened and dismantled to allow vast increases in pollution that are contributing to a global climate crisis? No matter how you voted in the last election, these are profound problems that all voters must take into account this Nov. 2.

And of course, no challenge is more critical than the situation we confront in Iraq. Regardless of your opinion at the beginning of this war, isn’t it now abundantly obvious that the way this war has been managed by the administration has gotten us into very serious trouble? Wouldn’t we be better off with a new president who hasn’t burned his bridges to our allies, and who could rebuild respect for America in the world? Isn’t cooperation with other nations crucial to solving our dilemma in Iraq? Isn’t it also critical to defeating the terrorists?

We have to be crystal clear about the threat we face from terrorism. It is deadly. It is real. It is imminent. But in order to protect our people, shouldn’t we focus on the real source of this threat: the group that attacked us and is trying to attack us again: Al Qaeda, headed by Osama bin Laden? Wouldn’t we be safer with a president who didn’t insist on confusing Al Qaeda with Iraq? Doesn’t that divert too much of our attention away from the principal danger?

I want to say to all Americans this evening that whether it’s the threat to the global environment or the erosion of America’s leadership in the world, whether it is the challenge to our economy from new competitors or the challenge to our security from new enemies, I believe we need new leadership that is both strong and wise. And we can have new leadership, because one of our greatest strengths as a democracy is that when we’re headed in the wrong direction, we can correct our course. When policies are clearly not working, we, the people, can change them. If our leaders make mistakes, we can hold them accountable: even if they never admit their mistakes. I firmly believe America needs new leadership that will make us stronger at home and respected in the world.

And we’re here this week to present to the nation the man who should be and will be our new president: John Kerry. John and I were elected to the United States Senate on the same day 20 years ago and I have worked closely with him for all that time. So I want to say a personal word about John Kerry the man. He is a friend who will stand by you. His word is his bond. He has a deep patriotism that goes far beyond words. He has devoted his life to making America a better place for all of us.

He showed uncommon heroism on the battlefield in Vietnam. I watched him show that same courage on the Senate floor. For example, he had the best record of protecting the environment against polluters of any of my colleagues bar none. He never shied away from a fight, no matter how powerful the foe. He was never afraid to take on difficult and thankless issues that few others wanted to touch. like exposing the threat of narcoterrorism and tracing the sources of terrorist financing. He was one of the very first in our party to take on the issue of drastic deficit reduction. And he’s developed a tough and thoughtful plan to restore our economic strength and fiscal discipline. To put it simply, those of us who have worked with John know that he has the courage, integrity and leadership to be a truly great president of the United States of America. And he showed wisdom in his very first decision as the leader of our party when he picked as his running mate an inspiring fighter for middle class families and families struggling to reach the middle class: John Edwards of North Carolina.

John Kerry and John Edwards are fighting for us and for all Americans, so after we nominate them here in Boston and return back to our home states across this land, we have to fight for them. Talk to your friends and neighbors, go to ”JohnKerry.com,” raise money, register voters, get them to the polls, volunteer your time, and above all: make your vote count. To those of you who felt disappointed or angry with the outcome in 2000, I want you to remember all of those feelings. But then I want you to do with them what I have done: focus them fully and completely on putting John Kerry and John Edwards in the White House in 2004 so we can have a new direction in America, a new president, a new vice president, new policies, a new day, a brighter future. What this country and what our people deserve.

Fellow Democrats, when I look out and see so many friends who have meant so much to me in my own public service, my heart is full tonight. I thank you for all the love you’ve shown to Tipper and me. You will forever be in our hearts.

And there’s someone else I’d like to thank, and that’s the man who asked me to join him on the ticket at our convention 12 years ago, my friend and my partner for eight years: President Bill Clinton. I will never forget that convention or that campaign the way we barnstormed our country, carrying a message of hope and change, believing with our whole hearts that America could be made new again. And so it was. And with your help, and with the leadership of John Kerry and John Edwards, so it shall be again. Thank you, God bless you and may God bless the United States.

Errata

Pequena errata em relação ao texto do José Reis Santos (desculpa lá, Zé...)

A frase é

"You win some, you lose some. And then there’s that little-known third category."


E foi dita pela primeira vez na Convenção Democrata para a nomeação do candidato às Presidenciais de 2 de Novembro de 2004.

P.S. - É um preciosismo, eu sei, mas eu gostei imenso deste discurso de Al Gore... e da presença dele no "The Tonight Show with Jay Leno" também...

Berlim - Lisboa

«In elections, sometimes you win some, sometimes you lose some; and them there’s that little known third category»

Al Gore in «The Tonight Show with Jay Leno»

Esta maravilhosa tirada do agora cómico ex vice-presidente dos EUA, assenta como uma luva à actual situação alemã.

Quem ganhou as eleições? A quem deve ser dado a oportunidade de formar governo? Que lições e ilações para o Futuro próximo? Afinal, que Alemanha existe hoje? Que esperar das suas divisões profundas – Leste / Oeste; Norte / Sul?

Seis leituras rápida. Quem, ganhou as eleições foi:

1- A CDU/CSU, da Ângela Merkl, pois é o partido mais votado.
2- O SPD, pois a CDU/CSU é uma coligação eleitoral entre os Democratas-Cristãos da CDU mais os Democratas-Cristãos da Baviera (CSU), apresentando-se como uma coligação eleitoral. Logo «o partido mais votado» seria o SPD.
3- A Direita, pois no «arco governamental» a CDU/CSU + FDP vale mais que o SPD + Verdes.
4- A Esquerda, pois toda a esquerda junta – SPD + Verdes + Linken é superior a CDU/CSU + FDP
5- Não há vencedores.
6- Não acredito em «Blocos Centrais» (acho mesmo que são anti sistemas de certa maneira…)

Na segunda liga, claro vencedor foi o Linken, espécie de «Ala Alegrista» do SPD (liderada por Oskar Lafontaine) mais os ex-comunistas do PDS. Ao tornar-se a quarta-feira força política, com os seus 8.7 % (e 50 e tal deputados já eleitos), baralhou completamente as contas à esquerda. Fê-lo por retirar importantes votos ao SPD e aos Verdes e por impossibilitar, à priori, que a esquerda se possa apresentar com uma «grande coligação», integrando SPD, Verdes e Linken. Em segundo lugar (ou em primeiro?), o FDP, que, ultrapassando os Verdes, e tornando-se no terceiro mais votado, assume-se como o principal parceiro de coligação governamental de uma abúlica CDU/CSU. Ter o primeiro e o terceiro lugar deverá ser bastante para formar Governo. Por fim, os Verdes foram os grandes derrotados. Não só perderam eleitorado como perderam o lugar de promoção à Chancelaria de Berlim. No caminho, trocaram as voltas a Schroeder, que terá de contorcer-se em argumentos (e negociações) para preservar o emprego.

É claro que não houve vencedores claros e directos. É obvio que é necessário uma situação de coligação, o que não é problema para a democracia alemã, desde sempre habituada a situações de necessidade de coligação governamental (atenção – lição a retirar para quem defende a importação do sistema eleitoral Alemão). É obvio que essa coligação poderá não ser maioritária, caso se desenvolva nas esperadas combinações SPD+Verdes ou CDU/CSU + FDP. É também obvio que está na actuação dos três partidos minoritários a chave para a resolução deste interessante caso de Ciência Política. Por exemplo, basta que Lafontaine e Schroeder façam as pazes, para que uma «grande coligação» de esquerda governe.

Por outro lado, a Alemanha pode vir a ter de suportar uma situação insólita, a de ter um governo de coligação, minoritário, com um Bundestag de maioria contrária…neste caso, ou se produzem rapidamente alguns entendimentos de legislatura (e neste ponto os Verdes podem ser um parceiro privilegiado – basta que Merkl «compre» algumas das suas bandeiras) ou teremos eleições em breve.

Em todo o caso, ainda a procissão vai no adro.

E não se esqueçam que os resultados ainda não estão apurados. A diferença entre a CDU/CSU e o SPD, aparentemente, é de 2/3 deputados. E se os resultados de Bremen derem a vitória a Schroeder?... Tudo muda nesse instante. Ou não. É esta third category, que ameaça tornar-se estudo de Ciência Política…

Por fim uma provocação/ previsão: dia 9 de Outubro Lisboa será Berlim.
(empate técnico entre PS e PSD, vereadores eleitos pelo BE, PCP e PP, também eles em empate técnico…)

Provocação barata

Eu quero ser um FDP

segunda-feira, setembro 19, 2005

Paul Verlaine

A porta envidraçada do café abriu-se a custo num movimento musical.
Com o vento enregelante de Novembro, cliente habitual, entra um intruso, o que lhe paga sempre as bebidas, o que lhe abre sempre gentilmente a porta.
A gentileza trá-la nas pernas coxas.
É um homem acamado, de longas barbas a grisalhar que desesperadas tentam esconder as concorrentes mais novas, ruivas e selvagens, presas na roda da Inquisição jesuíta.

Acamado?
Sim, amarrou a cama para poder escapar.

Por entre as lutas selvagens das suas barbas, dois olhos orientais: um, francês, o líder desde a infância, o outro, alemão, o rebelde com quem combatera há um quarto de século, pelas ruas da Utopia, brandindo a caneta e o papel nas mãos como armas de guerra.

Senta-se.

O dono do café já sabe.

É um vício. Até certa altura só conhecera nele a alegria e o cambalear...depois, o matar de mães, o queimar de cabelos de mulheres... finalmente, o devaneio do desconhecido. Nessa altura entrou no baile do Grande Maldito. Uma criança soprou-lhe o século XX ao ouvido, ele não resistiu e abandonou tudo por um triunvirato vagabundo. Eles e a poesia. Só eles e a poesia.
Mas, a poesia é um material facilmente inflamável. Por vezes, arde-nos nas mãos, outras vezes, na cabeça... e ainda assim, das suas cinzas crescem coisas maravilhosas.

A criança recusou-se a continuar a ser profeta e partiu em direcção ao Sol e ele ficou sozinho com as cicatrizes das queimaduras do seu fogo. Nunca mais o esqueceu. Por vezes, ainda julga vê-lo...na esquina de um delírio ou no intervalo de uma insónia.

O copo enche-se de verde e torna-se bola de cristal. Os fumos eróticos do Desconhecido afagam-lhe as narinas invisíveis, tomam a forma de mãos adolescentes, finas, ríspidas, quentes...e ele sabe, sente que a visita diária está a chegar tal qual há vinte e cinco anos atrás, como um barco bêbado entra num cais em derrocada.


Publicado em 4 de Setembro no DN Jovem - Diário de Notícias

domingo, setembro 18, 2005

Eleições Alemãs: Resultados Provisórios

CDU/CSU- 35%

SPD- 34.2%

FDP- 10%

Linke.PDS (Extrema-Esquerda)- 8.7%

Grune (Verdes)- 8.2%

A confirmarem-se estes resultados, os Conservadores de Angela Merkel, juntamente com os Liberais, não terão a maioria absoluta.

Para assegurar a maioria dos deputados, só poderão existir 3 possibilidade de coligação, visto que tanto Merkel como Schroeder recusam negociar com a Extrema-Esquerda:

Grande Coligação (CDU/SPD)- Em que Merkel seria Chanceler e Schroeder não estaria no governo.

SPD/Verdes/Liberais- Que permitiria a Schroeder permanecer como Chanceler.

CDU/Liberais/Verdes- Merkel seria Chanceler, mas tal cenário parece muito improvável.

Nos termos da Constituição Alemã, caberá ao Presidente apresentar à Câmara Baixa do Parlamento o seu candidato a Chanceler, que terá de ser aprovado pela maioria dos deputados.

Caso não o seja, a Câmara Baixa terá de eleger por maioria absoluta dos deputados, no prazo de 14 dias a contar da eleição dos deputados, um Chanceler.

Caso não se consiga, a Câmara Baixa efectuará, no prazo de 7 dias, nova votação para Chanceler, em que o candidato mais votado (tenha ou não maioria absoluta) será nomeado Chanceler.

Caso esse Chanceler-Indigitado não tenha tido o apoio da maioria absoluta dos deputados, o Presidente decidirá se o confirma Chanceler ou se convoca eleições parlamentares antecipadas.

Ou seja, é possível governos minoritários na Alemanha. Se juntarmos a isto o facto de para deitar abaixo um governo no Parlamento ser necessário uma moção de censura constructiva (que aprove um outro Chanceler), os governos minoritários tem possiblidades de sobrevivência mais elevadas do que em Portugal.

É claro que um governo minoritário CDU/Liberais nunca conseguiria ver aprovadas reformas neo-liberais num Parlamento maioritário de esquerda.

Em qualquer um dos casos, aposto que dentro de 1 ano ou 2 anos, estamos em eleições antecipadas (outra vez) na Alemanha.

Teremos que acompanhar a evolução do escrutínio.

Resta afirmar, que estas eleições só terminam em Outubro, visto que um dos candidatos a um círculo uninominal faleceu, sendo que teremos o prolongar das eleições nesse círculo.

É amanhã.
(As últimas sondagens analisadas pelo Pedro Magalhães).
Estou curioso.

Curioso com os resultados. Em saber se mesmo ganhando a CDU (alemã) pode haver uma maioria alargada de esquerda - SPD/Verdes/PE-PDS. Em saber se, na eventualidade de servir de «pêndulo», Oskar Lafontaine negociaria com Schroeder e asseguraria um terceiro mandato ao socialista.

Curioso em saber se uma mulher dirigirá os destinos da Alemanha.

Curioso com o comportamento do Partido de Esquerda-PDS, de Oskar Lafontaine (novo partido composto pelos ex-comunistas do PDS com «ala esquerda» do SPD) e dos Verdes, de Joschka Fischer.
(sobre as eleições, um breve resumo)

Estou curioso em acompanhar as diversas leituras que por essa Europa fora se fará.

Curioso em acompanhar a cobertura nacional.
Curioso em saber se se vai aproveitar estas eleições, renhidas, para abordar o assunto do sistema eleitoral. é que é do sistema misto alemão que tem vindo grande parte da inspiração para a reforma do nosso sistema eleitoral...(sobre este tema, um texto sobre o sistema eleitoral alemão, e um outro, do Vital Moreira, sobre a reforma do nosso sistema eleitoral, referindo-se ao sistema misto).
Pena é que não tenhamos aproveitado esta oportunidade (mea culpa) para pudermos ter discutido esta importante temática. Poderiamos ter iniciado o processo de «educação» necessário para que a alteração do nosso sistema eleitoral se processe de uma forma não só participada como informada. É verdade que o Clube «Loja de Ideias» já tem pré alinhada duas conferências sobre «sistemas eleitorais em funcionamento», onde tratará o sistema misto alemão; mas esse alinhamento está previsto para Fevereiro/Março de 2006.

sábado, setembro 17, 2005

Meu caro,

O argumento não evolui em torno do «eu sou socialista e voto em Soares». Seria demasiado redutor.

Temos de ver o seguinte:

O que é que está em discussão na próxima eleição presidencial?

1. É a forma do sistema?

Há quem queira ver o Presidente da República com mais poderes. Tudo bem, que se discuta. Há quem queira tornar o nosso semi-presidencialismo, de carácter parlamentar, ou num sistema semi-presidencial de pendor presidencialista (à «francesa») ou mesmo num sistema puro de executivo presidencial (tipo «americana»). Tudo bem, que se discuta.

Nada tenho contra estas discussões sistémicas, que fique claro, mas em Janeiro não vamos referendar possíveis alterações constitucionais; vamos eleger um Presidente dentro da corrente orgânica constitucional.

Sobre a forma do sistema, talvez ele não seja perfeito (não é nem nunca o vai ser), e é bem provável que necessite de alguns aperfeiçoamentos. Logo, que se discuta.

Agora, é dentro deste conjunto de regras que deverá evoluir o próximo Presidente. Soares conhece bem as regras, ele as definiu. E Cavaco?

2. É a ideia de um «Presidente para o Futuro de Portugal»?

Em volta do argumento da idade, evolui a ideia de que Cavaco seria um Presidente de futuro e que Soares não, que seria só uma repetição do passado já sem soluções e propostas para o país.

Pois bem, a verdade é que ambos não são soluções de Futuro. A diferença é que, enquanto Cavaco não se consegue libertar do Passado, onde de resto se manteve; Soares soube alcançar o Presente. Na minha opinião, e digo-o com alguma infelicidade, ainda não conseguimos, como sistema, produzir candidatos presidenciais de futuro. Todos são, de alguma maneira, projecções do passado; encarando Belém como o final da carreira política nacional.

Será necessário uma nova interpretação da posição do Presidente no sistema. Para quando?

Agora, perante esta constatação, resta perguntar: quem melhor representa o Presente?

Estes dois pontos, de outros argumentos a desenvolver, procuram dois efeitos: identificar a premente discussão acerca dos poderes presidenciais – que será um dos pontos a ser bem explicado por todos os candidatos –, desmistificar a inevitabilidade da eleição de Cavaco.

Fica em aberto a construção discursiva de cada um dos candidatos.

Ficam também em aberto outros argumentos, outras polémicas, outras discussões.


Ao que vamos…

Será que Cavaco Silva sabe ao que vai, se se candidatar a Belém?... Não preferirá ele tratar primeiro de uma revisão constitucional que o transforme num possível Chirac (pelo menos…). Ou quererá ele deixar esse pormenor para depois?...

Imaginam Cavaco sem poder de intervenção??? Sem poder real? Sujeito a um «magistério de influência» à distância? Remetido à figura de «garante do sistema», relegado para um plano quasi decorativo?

Eu tenho dificuldade em o imaginar em presidências abertas, rodeado de desfavorecidos, enquanto vai discorrendo sobre a sua visão de «cidadania do século XXI». Vejo-o mais facilmente com poderes reforçados, agindo à francesa, com um PM da sua confiança, e fazendo Política (e não apreciando a Política dos outros). Neste sentido, talvez a teoria da dissolução, num cenário com Cavaco a Presidente, não seja assim tão disparatada.

Logo, eu pergunto: saberá Cavaco ao que vai?

Soares, por outro lado, sabe muito bem ao que vai. Esta será a sua terceira vez.

E a verdade é que Soares não só entendeu bem o papel que o Presidente deve ter, dentro do nosso actual sistema constitucional, como o definiu. Será, com certeza, um Presidente acertivo, crítico q.b. e potenciador de novas ideias para o país. Estranho? Não. Soares, contrariamente a Cavaco, não se refugiou em silêncios calculados, ocasionalmente desfeitos (e sempre sob um cínico calculo político) por um artigo posto aqui ou ali. Soares viveu os últimos 10 anos; esteve atento ao Mundo, reflectiu, interveio e polemizou. Incorporou o século XXI no seu discurso. Manifesta hoje, talvez mais que nunca (pelo menos do que eu me lembro), uma agilidade mental e uma actualidade política de uma juventude impressionante. Dos dois, sinceramente, não sei quem será o «jovem», quem será o «velho».

Ao encarar, de forma muito definida, clara e honesta, esta sua candidatura como um situação de quase urgência sistémica, Soares contribui não para uma definição de futuro, mas para o final deste primeiro grande ciclo democrático (que engloba os últimos 30 anos). E se ainda não produzimos essas soluções, porque não o são Cavaco, Jerónimo de Sousa ou Francisco Louçã, resta-nos saber terminar o Presente.

E só Soares o saberá.

E aí sim, Soares sabe bem o que é e ao que vai.
Não entendo este fascínio por Cavaco

Agora, se o que se pretende alcançar é um certo «equilíbrio» no sistema… Então mais uma razão para um não-voto em Cavaco e para um novo mandato de Soares.

Soares será sempre crítico com Sócrates.

Cavaco ou se apresentará como um Presidente decidido, interventivo e «francês» ou se limitará a refugiar-se em apontamentos de lápis de armazém, lembrando aqui ou ali que devemos alguma coisa e que deixará de fiar….

É entre um crítico, construtivo; e um contabilista, destrutivo, que iremos escolher.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Bela

Não reparei onde entraste.
Só reparei quando te sentaste. Ali, à minha frente.
Tive dificuldade em continuar a ler. As letras perderam o interesse.
A tua simplicidade cativou-me. Essa simplicidade com a qual deves perder algum tempo.
Como esses óculos que te dão um ar mais intelectual. A seriedade num rosto cansado, provocado pelo andar constante com o peso da educação no teu colo.
Estavas à minha frente!
Vinhas a falar com a tua mãe.
Não ouvi, nem quis ouvir o quê. Só sabia que vinhas à minha frente.
Bela!
Simples!
Serena!
Quis te falar.
Para te dizer!
Para te dizer que te achava bela!...
Mas não é o meu estilo. Não tenho a coragem para estes momentos...
Sabes, até o podia ter dito...
Noutro dia...
Noutro lugar...
Noutra ocasião...
Não to disse à momentos atrás, naquele comboio para Cascais.
Digo-te agora, se me estiveres a ler.
Ou se alguém te disser que o escrevi.
Ou somente na minha imaginação!

És bela!

A Teimosia

É mais ou menos aceite pela generalidade das pessoas que a Lei de Despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez foi chumbada por uma questão de mobilização no dia da votação. Enquanto que os apoiantes do Não estavam mobilizados para a "luta", os do Sim viam a questão como uma mera ratificação. O resultado é conhecido, e o debate tem sido, provavelmente, o mais acalorado e duradouro de que há memória na República Portuguesa, pós 25 de Abril.

Pessoalmente, e após ter apoiado a primeira moção que introduziu a discussão no seio da JS (moção essa que foi derrotada – e os argumentos hoje utilizados para atacar o Sim já eram por mim e por outros ouvidos na altura) continuo a achar que é uma (boa) inevitabilidade. Como em todos os estados de génese laica, Portugal vai despenalizar a IVG. Até lá, a luta é essencialmente política e visa sobretudo o atraso da implementação da lei.

Não deixa de ser interessante perceber que quem trava esta batalha o faz por convicções, o que torna o debate acesso e inflamado, concluindo-se que cada dia que passa sem a aprovação da lei é uma vitória para os que defendem a manutenção do actual quadro legal, assim como uma (dura) derrota para quem opta pela despenalização mais alargada. Só assim se compreende a introdução deste ponto no acordo de regime celebrado entre Durão Barroso e Paulo Partas para a formação do XV e XVI Governo Constitucional. Só assim se compreende que haja uma veemência tão grande, de ambos os lados, na questão da legislatura (sem querer entrar na questão de ser ou não ser uma nova sessão legislativa, até por desconhecimento de causa). Porque não estou a ver outro assunto que levantasse tanta polémica numa questão técnica.

Mas que, mais cedo ou mais tarde, a despenalização da IVG vai ser uma realidade até às dez semanas, não me restam grandes dúvidas. A questão é saber quando!

P.S. - Também publicado no Esquerdices.

De regresso à luta…

Pelo que por aí leio, na blogosfera, aparentemente já temos decisão em relação ao próximo Presidente da República: Aníbal Cavaco Silva.

São diversas as razões pelas quais me inclino a esta conclusão:

As sondagens.

O Pedro Magalhães, lendo as sondagens já publicadas, e sem nos adiantar análises políticas, e sem querer ler nele alguma agenda política, aponta-nos a enorme vantagem já granjeada pelo quase-mas-ainda-não-candidato de Boliqueime. Mais do que referir uma mais que provável eleição de Cavaco à primeira volta, as sondagens apontam para uma dispersão de votos à esquerda que preocupa não por dividir aí o voto (que naturalmente o faz), mas por não assistirmos a uma transferência de votos para Soares, em caso de uma segunda volta. Não sei se será assim tão liquido…

Os diversos apoios, directos ou enviesados

Entendo os que provêem de uma direita ainda mal refeita do fenómeno PSL, que se encara em processo refundador e que deseja desalmadamente os mitos dos professores de finanças, de preferência provenientes de terras pouco sujas pela urbanidade e pelo frenesim da cidade. Entre Santa Comba e Boliqueime, de lápis atrás da orelha, o figurino do fiel de armazém molda uma sombra de contornos já definidos. Que estranha atracção esta pela pacatez disciplinadora da ruralidade. Enfim…

Já estranho as posições derrotistas de comentadores, blogistas, que desenvolverem uma qualquer aversão a Mário Soares. Deles, individualizo o Paulo Gorjao, não porque não tenha direito à opinião (que obviamente a tem), não porque utiliza o seu espaço para procurar impor alguma agenda pessoal (que nem tem tido todo o sucesso, mas o seu trabalho e a sua persistência são de louvar), mas porque não entendo os seus argumentos. Bem, parece-me que procura condicionar uma qualquer atitude mais Alegre, não deve andar satisfeito com os candidatos de esquerda. Deve ser também dos que consideram que à esquerda ainda há espaço para mais uma candidatura. Na verdade, ainda falta um Pintassilgo ao casting…

A Imprensa escrita.

Como no ponto anterior, nada me espanta que venha da direita (sempre na senda do Expresso). Espanta-me é a generalidade com que encaram Soares como «acabado», «velho» e «derrotado». Como granjeou o outro contender, esse jovem algarvio, esta verdadeira aura de inevitabilidade vencedora. E se o senhor nem avançar? Como é? E quando avançar, o que espero e desejo, irá ter, mais cedo ou mais tarde, de falar, de abrir a boca, de interagir diariamente numa campanha que não será nem fácil nem dócil. Aí, é minha convicção, Cavaco iniciará a sua inevitável descida. Hoje, quando ainda só tem silêncio para gerir, está no seu auge. Amanhã, falará.

Como procuro aparentar, não considero de todo que Cavaco ganhará. Mais, não considero que possa ser um bom Presidente, que seja o Presidente necessário hoje.

Considero também que Soares pode não ser o melhor candidato da esquerda. Guterres ou Vitorino, pela (aí sim) juventude e dinamismo com que empestariam Belém, trariam o cargo de Presidente para uma nova dimensão. Não foi este o tempo para essa geração. A Presidência da República ainda se apresenta, para eles, como um fin de route político (e por isso ainda é indesejada por quem está e quer estar muito activo).

No entanto Mário Soares, com um apuradíssimo instinto felino, sentiu que à esquerda era ele a única solução. E avançou. É um Presidente para o futuro? Não. Nem ele o assume. É um Presidente para o Presente. Para este Presente.

[a voltar]

Aí Lisboa, aí Lisboa

Depois de ver o debate, pergunto-me porque é que mudei o meu recenseamento para Lisboa?...

Tão bem que estava em Loures...
As coisas que nos sugerem quando vagueamos na blogosfera…

Bom texto este, via bloguítica.

quinta-feira, setembro 15, 2005

Foi bom, mas já foi

É.
É com muito gosto que vejo que este pequeno projecto se cimenta e progride.
Passo a passo, sem ambições desmedidas ou egos a satisfazer.
Não somos o centro do mundo. Também não o queríamos ser.
Melhorámos. Amanhã, creio, será melhor.

Pela minha parte, e para quem me lia, devo esclarecer que me encontro com os tempos bastante mais apertados, quer por razões profissionais (tese por acabar) quer por razões que se prendem com a organização dos diversos eventos do Clube «Loja de Ideias» (que, acreditem, me toma bastante atenção e tempo…).

São estas as razões porque não tenho escrito com tanta ocorrência como no passado.

Espero voltar a ter mais tempo, anda por aí muita gente à solta…

Foi bom, mas já foi.
Já temos algum passado, já existimos.
Ainda pequenos.
E o futuro?
E nós?

Sem mais lamechas, sem mais introspecções, sempre com devaneios.
O passo à construção envolve múltiplas experiências.

Esta foi uma delas.

Já foi.

O que daí virá?

quarta-feira, setembro 14, 2005

Bom, muito bom... (V)

Bom, muito bom... (IV)

Bom, muito bom... (III)

Bom, muito bom... (II)

Obrigado a quem nos promoveu, na Imprensa («Público»), e na blogosfera.

Ao Acidental, ao Bloguítica, ao Correio-Mor, ao Independências, ao Geosapiens.

Obrigado a todos.

(é sem intenção o provavel esquecimento de alguém...)

Obrigado.

Bom, muito bom... (I)

Obrigado a todos.

Correu muito bem a conferência sobre o 11 de Setembro.

Ao Diogo os parabéns maiores.

Parabéns pela organização, parabéns pelas «achas» iniciais que potenciaram o debate para uma noite «acesa» e parabéns pela difícil moderação.

Obrigado aos conferencistas convidados:

Ao Vasco Rato, substituindo à última hora o João Marques de Almeida, que incendiou a sala e o debate com as suas já conhecidas posições relativamente à política externa dos EUA. Por compromissos (políticos?) previamente assumidos, disse que tinha de se ausentar pelas 23h, saiu, quase contrariado pela meia-noite, tão empolgado estava.

Ao Paulo Gomes, «destacado» pelo MAI, que estoicamente aguentou o «furacão Rato» (por razões de necessidade de previa ausência, remeteu-se a primeira parte do debate somente para o Vasco Rato), iniciando o seu debate já para lá da meia-noite. Ainda assim, e apesar do adiantado da hora, a sala encontrava-se composta, proporcionado mais um belo debate, agora mais técnico, sobre a realidade do terrorismo em Portugal.

Obrigado ao público que ocorreu, compondo a sala com uma heterogeneidade sentida, intrageracional, multipartidária e muito interessada.
Obrigado

domingo, setembro 11, 2005

O que deveria ter mudado 4 anos depois...


Sempre que vejo as imagens dos aviões a irem contra as duas torres gémeas do complexo do World Trade Center, não consigo deixar de me emocionar e de no mínimo, sentir um nó na garganta e pensar nas centenas de pessoas que morreram com os dois impactos iniciais dos aviões, depois fico mais angustiado quando me relembro das imagens seguintes, de pessoas a saltarem para o vazio em desespero e do colapso das mesmas com a consequente perca de milhares de vidas, de cidadãos que morreram como resultado desse colapso, sendo centenas destes bombeiros, socorristas e membros das forças de segurança, que, sabendo do risco que corriam e de forma temerária se aventuraram na ajuda ao próximo, nos dois edifícios gémeos mais altos do mundo e que por esse motivo pereceram.

Já passaram quatro anos e desde então deveria ter mudado muita coisa, dos escombros das duas torres gémeas deveria ter nascido um repudio e uma condenação tão forte dos que perpetuaram o ataque e uma solidariedade que o choque de civilizações, tão propalado por Huntington (já agora, alguém já leu o livro, é que este é de uma mediocridade histórica e analítica extrema) deveria ser uma miragem, a Guerra no Afeganistão deveria ter sido o primeiro passo (não sou dos que era contra esta Guerra, nem que seja pela opressão das mulheres eu era pela intervenção internacional naquele território), mas revelou-se uma “Vitória de Pirro”.


Em vez disso um Presidente, com tiques de Imperador Puritano e tão extremista como aqueles que condena, e governante do país afectado pelos atentados do 11 de Setembro, deitou tudo a perder atacando um estado, para que as companhias que financiaram a sua campanha eleitoral e garantir o apoio destas para a campanha seguinte, tivessem negócio, enganando no processo aliados de boa fé, acabando desse modo, com a possibilidade de se constituir uma frente mínima para lutar nessa guerra que envolvesse, pelo menos, os povos dos territórios ditos “Ocidentais”.

Entretanto os atentados sucederam-se na Ásia, Médio Oriente, Oceânia e Europa (África já tinha sido devastado por estes), originando em cada um dos continentes pelo menos um atentado terrorista atribuído aos extremistas islâmicos e fazendo com que as esperanças de se alcançar a paz através do diálogo e várias intervenções armadas cirúrgicas se esboroassem.


Enquanto isso, o Planeta, esta nave em que viajamos todos, continuou a rodar e a cirandar no espaço fazendo mais ou menos quatro voltas elípticas à estrela mais próxima de nós, durante essas voltas a potência Imperial enfrenta problemas que só deveria haver no terceiro mundo, o preço do petróleo (esse que desbaratou as costas da minha amada Galiza) subiu 200% sem ter sido preciso haver atentados e o mundo tornou-se num lugar mais fechado e ao mesmo tempo mais aberto.

A contradição nesta ultima afirmação deve-se ao facto de que por motivos de segurança e de contenção dos fluxos migratórios a Europa e as duas Federações Norte Americanas bem como a Austrália levantaram barreiras á circulação de pessoas doutras partes do mundo que queiram emigrar para estes territórios, mas ouve uma maior abertura pelo conhecimento que as pessoas tem sobre esta Nave planetária e os povos e culturas que a frequentam, houve intercâmbios de ideias e conhecimentos e, mesmo havendo muitos info-excluidos, decuplicou o número de pessoas com acesso á Internet e a outro meio de informação.

Das zonas, dos Desertos, vêm noticias timidamente positivas, veremos se em vez do ódio nascem flores no deserto...

P.S. – Reflexão também publicada no Geosapiens.

sábado, setembro 10, 2005

Presidenciais 2006

Em entrevista ao Expresso de hoje, Francisco Louçã, entre verborreias vulgares e num discurso banal como muitos outros do Bloco de Esquerda, com o habitual "picanço" com o PCP (todos sabemos que o BE é um modelo de virtudes), refere uma verdade: o silêncio de Cavaco Silva é a sua força actual, que, obviamente, vai ter o seu desfecho. Os candidatos que já se perfilaram no terreno receberam as críticas habituais dos seus adversários em altura de pré-campanha: ora são muito velhos (Soares), ora são desistentes antecipados (Jerónimo) ora são miúdos birrentos em disputa com o PCP (o jovem acima mencionado).
Cavaco Silva tem que subir ao ringue, mais cedo ou mais tarde. E quando o fizer, as pessoas vão-se lembrar do seu legado, e o debate vai revelar a sua sede de poder, o seu desejo de alteração para um modelo Presidencialista com intervenções marcantes e predominantes na governação do país, utilizando o argumento das finanças públicas, como se tal estivesse preconizado nos poderes presidenciais.
Todas as recentes sondagens lhe dão uma vitória confortável na 1ª volta. Nada de mais conveniente, ou não fosse uma delas da Universidade Católica, entidade com a qual o Professor nunca teve qualquer tipo de relação profissional (aparte a ironia, já devem ter percebido que não acredito nas sondagens de um modo geral). A imprensa precisa dele para as suas manchetes e consequente aumento das tiragens, e esta consonância de resultados previstos aparecem como um chamariz, um isco demasiado óbvio.
Uma última observação para o possível apoio do CDS/PP a Cavaco. Para além da gritante falta de figuras no partido que é constatado, da pouca identificação dos seus militantes com o candidato (lembram-se do director do Independente no reinado cavaquista?), e da pouca ou nenhuma importância que ele terá para com o CDS caso surja vencedor da contenda, a direita fica reduzida a um combate desigual, pelo menos em termos numéricos, contra 3 adversários experientes e qualificados, o que lhe pode causar um desgaste, em última instância, fatal para as suas aspirações. Respeitando o seu timing, parece-me que esta será a razão primordial para o seu relativo "atraso" no anunciar da candidatura.

A diferença entre a Caridade e a Doação.

Existem claras distinções entre os dois conceitos:

Caridade é um acto que serve para aliviar as consciências momentaneamente e tem um sentido religioso inerente, por exemplo ser caridoso é ajudar o próximo ou por acção momentânea ou por doação em dinheiro, a chamada esmola, outros sentidos também atribuídos ou relacionados com a Caridade, têm a ver com a compaixão a bondade e a benevolência, enfim, as tretas do costume para quem quer ficar de bem com a sua consciência sem se comprometer muito.

Doação é em termos bastantes simples o acto ou efeito de doar da parte de um particular ou da sociedade civil, enquanto acto este pode ser momentâneo ou mais comprometido, mas o efeito desta Doação tem que se revestir de um compromisso pois tem que gerar um resultado ou uma consequência, por esse motivo é que a Doação é revestida de uma forma jurídica e a Caridade não.

Quando falamos em oferecer “x” euros para uma causa estamos pura e simplesmente a entrar no campo da Caridade, estar no terreno e comprometermo-nos por essa causa, implica uma Doação e um investimento de tempo pessoal, e de forma indirecta de dinheiro pois nessa altura poderíamos estar a efectuar alguma coisa que nos desse mais rentabilidade financeira, mas com a certeza de que esta não seria tão compensadora como a satisfação emocional que muitas pessoas tiram do acto de Doar.

Um cidadão Bombeiro Voluntário está a fazer uma Doação a uma causa que é a ajuda ao próximo através das acções em que está envolvido, seja a de apagar os fogos ou a ajuda aos acidentados, mas outras pessoas e grupos de pessoas também se dedicam á Doação a causas, por exemplo quem actua em Organizações Não Governamentais (O.N.G.´s) ou Associações politicas com objectivos claros, e de alguma maneira isolado ou em grupo luta para que o mundo fique melhor, está a Doar o seu tempo e o seu dinheiro para a causa a que se associa, pode-se é pôr em causa se esta será ou não a mais correcta ou a mais compensadora, mas para a pessoa que Doa ou grupo de pessoas é com certeza.

Porquê?

Para além da falada compensação emocional, existe uma outra razão para que a Doação seja muito mais do que a Caridade, quando doamos (na totalidade da acepção dada) fazemo-lo por um altruísmo inexplicável e podemos até dizer que algumas o fazem por “amor” á causa ou á humanidade e não pela “fé” ou a recompensa momentânea e futura que a salvação lhe dará, por esse motivo é quem se entrega a uma causa religiosa ou age em nome da mesma, seja em termos de ajuda ou cometendo um acto terrorista, age por Caridade.

O Estado faz Doações ou Caridade?

Não o Estado (pelo menos o governado com um mínimo de princípios democráticos) cumpre as suas obrigações, reparte aquilo que os seus cidadãos lhe dão, ou seja dá á sua sociedade o que dela retira.

E porquê esta afirmação que há partida parece lógica?

Tem-se vindo a desenvolver uma tese em sectores “intelectuais” liberais que o apoio do Estado a catástrofes naturais ou a outras situações, mesmo as que não são excepcionais, se reveste de uma Doação (ou para outros numa pertença Caridade), como vimos nem é uma coisa nem outra, apenas mentes pouco complexas e básicas a que o epíteto de intelectual soa a ofensivo para os verdadeiros, se lembrariam de tal ideia.
P.S. – Reflexão também publicada no Geosapiens.

Quando a lei confessional é aplicada em estados laicos...

A outra federação estadual da América do Norte, que actualmente se denomina Canadá, tem leis e princípios constitucionais bastante peculiares, que na sua grande maioria revertem a favor dos seus habitantes, as contradições são gritantes, esta federação que ainda admite que um ditador (neste caso ditadora, pois é a “Rainha” dos Ingleses e do que resta do Império Britânico nas ilhas Britânicas) a represente formalmente como chefe de estado tem provavelmente o único partido do mundo reconhecido intitulado “Partido da Marijuana do Canadá” que defende abertamente a legalização das drogas leves e duras sendo esse o seu principal objectivo eleitoral.

Um dos princípios constitucionais tem a ver com a possibilidade da criação e existência, nas comunidades e aos habitantes a que estes aderem, de “Tribunais Arbitrais específicos”, isto deve-se a factores culturais específicos canadianos, o mais importante tem a ver com as diferentes minorias indígenas e autóctones que vivem nesse território e que querem que se aplique asa suas leis tradicionais outro não menos irrelevante tem a ver com a comunidade francófona, que vive não só no Quebeque (onde tem leis e tribunais específicos e uma larga autonomia judicial), mas também espalha pelos restantes estados do país e que quer que o direito que se lhe aplicava no Quebeque se aplique nos estados onde vivem.

Entretanto e ao abrigo desta especificidade foram criados “Tribunais Arbitrais específicos” para aplicação da charia (lei islâmica), que como lei comunitária que é, foi reconhecida na sua legitimidade para ser aplicada ás pessoas de credo islâmico, não obstante de esta ter um fundamento religioso que, entre outras coisas, não reconhece a igualdade entre homens e mulheres, na resolução de questões de família e, designadamente, em assuntos de divórcio, de tutela de crianças e de herança.

A instituição de um tribunal com esta especificidade própria levou á criação de desigualdades entre pessoas que não só vivem dentro do mesmo território como até têm a mesma nacionalidade, tal situação levou á criação de um
movimento de contestação dentro do país e de movimentos internacionais laicos que manifestando a sua solidariedade com a campanha internacional, desenvolvem acções de protesto contra o reconhecimento da aplicação das leis da charia no país, visto que tais leis já provocaram conflitos e até injustiças gritantes.

E porquê contestar a aplicação de tais leis e não as que são aplicadas pelas tribos indígenas autóctones, estas ultimas baseiam-se em casos jurisprudências vindos do concelho dos mais velhos que têm muitas vezes assento mulheres, é procurado a justiça pelo consenso e com a colonização ocidental estes assumiram diversos valores como também seus, ou seja, a sua aplicação leva a raras injustiças (pelo menos pela sensibilidade ocidental e laica) do que a aplicação das leis da charia.

Mas mais importante do que a noção de justiça ou injustiça e a susceptibilidade que a mesma provoca, a aceitação da aplicação de leis religiosas em estados laicos é por sí só uma aberração, indo contra qualquer principio basilar de tolerância religiosa, pois a criação de guetos religiosos onde á uma auto aplicação da justiça (um dos pilares de estabilidade das sociedades e regimes minimamente democráticos) pode criar situações de guerras e atomizações desnecessárias numa sociedade em que a aplicação da lei que se presume geral e abstracta (mesmo os regimes com regra de precedente baseia-se em regras e normas gerais e abstractas para os mesmos serem aceites) não só porque assim todas as partes são tratadas por igual aumentando-se a segurança na aplicação das normas como a aceitação das normas é mais consensual, no fundo o contrário do que aconteceu com esta situação criada.

As sociedades baseadas num legalismo laico têm que se precaver contra sistemas jurídicos que se baseiam num legalismo confessional, pois a subversão como vemos neste caso é facilmente imposta, estejamos então atentos e não só aos islâmicos, mas também porque esses são mais sub-reptícios nas sociedades ocidentais, ao legalismo influenciado pelo dogmatismo católico apostólico romano ou puritano protestante ou evangélico.

P.S. – Reflexão também publicada no Geosapiens.

quarta-feira, setembro 07, 2005

O lado errado do rio

Se há concelho que me faz confusão não progredir, esse concelho é o de Almada. É dos concelhos que mais potencialidades de progresso tem, e com espaço para promover essa evolução. No entanto, estranhamente, o concelho não evolui, a não ser "por obrigação" (leia-se por projectos que têm apoio comunitário).

Há vários casos sobre os quais se pode divagar:

  1. Cacilhas
    Esta localidade é conhecida por duas situações distintas - os barcos e os restaurantes. Mas podia ser também conhecida pela sujidade e pelo ostracismo. Para uma localidade junto ao rio, e com bons acessos, Cacilhas podia ser muito mais "rentabilizada" se para tal fosse cuidada. Uma recolha de lixo mais eficiente, com limpeza das ruas, arranjo de passeios e reordenação do parque automóvel seria o mínimo indispensável para a localidade se tornar mais aprazível. Se a isto juntarmos um novo, mais moderno e ordenado terminal rodoviário, a localidade ficaria logo com uma nova cara. Depois disto poder-se-ia pensar na requalificação de todo o passeio junto ao rio, podendo inclusive desenvolver um projecto semelhante, embora mais pequeno, ao das Docas, criando uma zona de lazer desde o porto fluvial até à Ponte 25 de Abril;
  2. Almada
    Almada, então, parece que parou no tempo. As únicas obras efectuadas foram feitas englobadas no âmbito do Fórum Almada. Tudo o resto parou (Há uma rotunda ou outra feita, mas muito pouco). De Almada aproveito para frisar a fraca iluminação. Candeeiros altos, de luz branca e fraca. Basta haver umas árvores na via pública para que já não haja luz suficiente. A iluminação já há muito devia ter passado para candeeiros mais baixos e de luz amarela. Almada sofre também de alguns males idênticos a Cacilhas, como por exemplo uma fraca recolha de lixo e limpeza da via pública (embora não sendo um caso tão grave como o de Cacilhas) e um completo caos no parque automóvel.
  3. Trafaria
    Só tenho uma pergunta: Existe? Além de um porto, alguém mais liga a esta localidade? Não merecia um projecto de requalificação? Se acharem que a Trafaria não tem potencialidades para mais, vão até lá e olhem para o outro lado do rio. Decerto encontrarão algumas diferenças...
  4. Costa da Caparica
    A Costa da Caparica é um caso de gritante de políticas de ordenamento erradas. Podia ser um sítio extremamente aprazível, mas desde uma marginal caótica ao nível de trânsito, muito por culpa dos sinais para a passagem de peões, ao estacionamento desordenado (mais uma vez - aliás, é uma constante em todo o concelho), ao comércio ambulante quer junto à marginal, quer junto à praia, ao trânsito no meio da vila, tudo contribui para que a Costa viva uma qualidade de vida muito abaixo das potencialidades que as condições da mesma permitiria. A construção de uma maior capacidade de estacionamento para automóveis, o fechar ao trânsito das ruas interiores da vila, a remoção da venda ambulante quer da zona das praias, quer da zona da marginal (colocando este comércio noutro sítio) seriam medidas de simples aplicabilidade, aliadas às já anteriormente faladas para outros pontos do concelho (sobre a recolha do lixo e da limpeza das ruas) que em muito melhorariam a qualidade de vida de quem lá vive.

Por outro lado, a construção do metro de superfície (ou eléctrico, como se chamava há uns anos atrás), sendo um projecto arrojado e de grande importância, deveria ter uma construção mais cuidada. Não é compreensível como é que os acessos e estradas adjacentes, também recém construídas (ou melhoradas) não têm espaço que permitam aos transportes públicos fazerem manobras sem dificuldade. E tudo indica que, embora ainda estejam a fazer acabamentos, não façam a devida correcção em tempo útil (provavelmente haverá outro projecto para o fazer).

Em suma, um concelho que, tendo tido sempre a mesma força política desde o 25 de Abril de 1974 (tendo portanto a necessária estabilidade política) com muitas potencialidades de crescimento, vive numa estagnação há anos, contrastando com os concelhos da outra margem do Rio Tejo, com os quais tem "contacto visual" (Lisboa, Oeiras e Cascais). Almada vive de "mínimos olímpicos" que parece contentar as pessoas que lá vivem e exercem as suas actividades. E nada foi falado sobre as localidades do interior, como a Charneca da Caparica ou a Cova da Piedade, nem do não aproveitamento dos pólos universitários que lá existem ou do próprio hospital. A verdade é que os maiores progressos que se efectuaram no concelho de Almada foram todos patrocinados pelo Governo central (excepção feita às melhorias já atrás faladas, incluídas no projecto do Fórum Almada), perante a estagnação e passividade dos órgãos autárquicos e respectivos eleitores. Não conheço nenhuma sondagem para este concelho para as próximas eleições, mas não estranharia que tudo ficasse na mesma. E que o concelho de Almada perdesse mais quatro anos (por opção própria, obviamente).

P.S. - Também publicado no Esquerdices.

domingo, setembro 04, 2005

A minha ditadura é mais liberal que a tua...

Porque é que sempre que alguma direita escreve sobre o Estado Novo tem necessidade de mitigar a repressão, a censura, a falta de liberdades do regime?

É impressionante, mesmo quando escreve sobre Economia, num artigo sobre o PREC, a transición e as consequências económicas, sente a urgência de esclarecer que Hitler matou milhões, que tinha campos de concentração (aqui também havia o Tarrafal, mas enfim, não é Auschwitz…); que Franco fuzilou aos milhares (no contexto do pós Guerra Civil) e que o nosso pacato António de Oliveira Salazar, malgrado alguns tiques autoritários, além de não ser fascista (como podia…) era, surpresa das surpresas, um liberal dos sete costados…

(a voltar ao tema…)

Proxima iniciativa do Clube:


Dia 12 de Setembro 2005

Biblioteca-Museu República e Resistência

21 Horas

«11 de Setembro: 4 Anos depois, onde estamos?»

Dentro do contexto que assume os ataques a Nova Iorque como inauguradores de uma nova fase da nossa contemporaneidade, apresentando-se como marco fundador, é nossa intenção procurar contribuir para que as reflexões sobre o 11 de Setembro se compliquem, no sentido de serem abandonadas as preocupações exclusivamente militares ou civilizacionais e serem abordadas e valorizadas algumas das múltiplas dimensões em análise neste tão complexo tema da actualidade.

Neste sentido, é nossa intenção apresentarmos o nosso debate envolto em duas linhas de reflexões: [1] uma linha de apreciação internacional, o impacto nas Relações Internacionais, as consequências estratégico-militares; e [2] uma linha de considerações internas, de análise das possíveis respostas no âmbito da segurança interna portuguesa (como responderíamos a um eventual ataque) e como vê e sente a comunidade islâmica portuguesa o impacto dos acontecimentos dos últimos anos.

Esta actividade contará com a presença dos seguintes conferencistas:

João Marques de Almeida
Director do Instituto de Defesa Nacional (IDN)

David Munir
Imã da Mesquita de Lisboa

Paulo Gomes
Gabinete Coordenador de Segurança do Ministério da Administração Interna (GCS-MAI)

Diogo Moreira
Clube «Loja de Ideias»

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