terça-feira, abril 22, 2008

Semibreves


A um comentário, de "Light my fire" sobre um post meu no qual comparo algumas consequências sociais e individuais da ética e das práticas do protestantismo com algumas consequências sociais e individuais da ética e das práticas do catolicismo, no qual "Light my fire" invoca o velho Marx e a conhecida afirmação "a religião é o ópio do povo", respondo com um trecho de Despestres sobre o Poeta da Negritude:

"Aimé Césaire ne pouvait manquer de retenir le trop bon marché que le marxisme à la soviétique a fait du drame intérieur des hommes. En voulant tout ramener, dans la vie en société, à la transformation des seules conditions matérielles, il avança sur la formation de des thèses qui faisaient cavalièrement l'impasse sur le sens du sacré dont a besoin de s'alimenter la part la plus intime de l'imaginaire humain chez l'individu.
Au lieu d'un aggrandissement des échelles du rêve et de la réalité, comme il nous est offert dans la pensée d'Aimé Césaire, sous ses formes soviétique, yougoslave, chinoise, vietnamienne, cubaine, la a imposé au monde une parodie sinistre du message évangélique; une caricature carnavalesque de l'état de compassion et de solidarité qui aurait dû féconder la situation affective et morale des individus et des groupes sociaux. Elle s'est essoufflée jusqu'à l'extrême épuisement dans le traitement du petit nombre de vieux conflits qui continuent de torturer le coeur humain: le passage de l'enfance à l'âge adulte, la sexualité, la solitude, la peur du vieillisement et de la mort inéluctables, les énigmes du cosmos, les troubles appels du désir et de l'inquiétude, la disposition des êtres à jouir du mal et à souffrir du bien, et tant d'autres phénomènes mystérieux de la vie que le pouvoir ouvrier préféra traiter en qu'il abandonna aux bas-côtés des routes de l'Histoire.
Soumis au vibrion tragique de son déterminisme aux abois, le système stalinien s'empressa de délester l'envers énigmatique de la vie intérieure des gens pour porter le seul fardeau de son matérialiste règlement de comptes. L'oeuvre entière d'Aimé Césaire, dans ses divers registres, prend acte de l'incapacité du socialisme à faire éclore et prospérer la charge d'une nouvelle civilisation qui eût été en mesure de réussir une percée jamais vue dans la voie de la démocratie grâce à une synthèse du savoir le plus moderne et des grands élans spirituels hérités des religions et des anciennes sagesses dont l'or court en filigrane dans la pâte des cultures de la planète.".

O reducionismo materialista do marxismo em praxis gerou um buraco negro nas almas dos povos africanos, diz o autor, a partir das teses de Aimé. Incapaz de propôr interpretações ou compreensões para questões cujas respostas poderão ser de índole antropológica ou psicanalítica - a morte, o desejo, a incompletude do ser humano - o marxismo em praxis encheu esse vazio com a sua própria teorização auto-eleita como via salvífica para o homem na terra, no presente e no futuro. As almas inquietas continuaram inquietas, à procura de algo que lhes faltava. A inquietude gerou Poetas do transcendente, malditos, como, por exemplo, Ossip Mandelstam, Ana Akhmatova, entre tantos outros, alguns queimados pelo fogo do frio siberiano. O Poeta morreu; lá, como cá. E o buraco negro das almas viria a ser preenchido - aqui concordo com o "Light my Fire" - com o consumismo, com o futebol. A Poesia e a Música não descem à rua todos os dias, para todas as pessoas. Como bem observa "Light my fire", numa sua obra, o marxismo cubano permitiu a vivência e o fortalecimento das práticas religiosas vindas de África o que terá, talvez, conferido ao povo de Cuba, a graça cintilante inexistente noutros países comunistas. Fidel fê-lo por respeito para com a Negritude ou por despeito para com a fé católica? Que respondam os conhecedores da Ilha e de outros regimes comunistas.
Para finalizar deixo uma nota sobre uma inquietação minha: o Estado chinês apropriou-se dos territórios do Tibete mas não esmagou, até ao desaparecimento total, os monges nem os mosteiros.

10 comentários:

Light my fire disse...

Ó Vera: onde é que eu alguma falei sobre Cuba?!

Vera Santana disse...

?

Ah! Conhece-me! Então identifique-se. decerto que eu estou equivocada...

Light my fire disse...

Não, lamentavelmente não a conheço, chamei-lhe Vera porque é esse o nome com que assinou o post.

Vera Santana disse...

E é o MEU nome. Não tenho senão UM nome. E o seu é...?
(Trata-se de uma tentativa de apresentação; se não corresponder agradavelmente, tant pis). Aguardo.

Light my fire disse...

João, muito prazer. Serve? Mas não se esqueça que na net somos todos virtuais, acho que esse é em simultâneo um dos encantos e dos terrores deste mundo dos blogs. Tudo pode ser o que parece e também o seu contrário, tal e qual como por vezes acontece na vida real.

Vera Santana disse...

Não serve. João Sem Nome não é personagem que interesse a este blog. Só João Sem Medo. Passe bem.

Light my fire disse...

João É nome. O MEU. Como supostamente Vera é o SEU. Quanto a medo, este João não tem mais nem menos que qualquer outro mortal. Até breve.

Vera Santana disse...

Por que razão não fala do que interessa? Do texto escrito, mesmo que seja para dizer que não interessa a ninguém? Ou de qualquer questão de interesse público, político, social, cultural, o que lhe der na mona.

É o João? Está bem. Pode ser aquele que ficou sem cabeça ... Hum... Pode ser o João do Grão. Pena que não seja o D. João V que tanto protegeu as Artes...

Como pode ver, e ao contrário de si, eu estou bem identificada: Vera Santana, Lisboa, Portugal, etc. Está no perfil. Não haverá outra. Para bem de muita gente. E clonagem não pratico.

Light my fire disse...

Ó Vera, não se zangue, tudo o que eu fiz foi responder a uma resposta sua a um comentário meu, em que você me atribuia a autoria de uma coisa qualquer sobre Cuba. Sobre as questões religiosas são um tema que dou por encerrado com o comentário que fiz anteriormente: não gosto, não tenho e não pratico. Por isso não vou gastar o meu tempo a escrever sobre o que o marxismo cubano permitiu ou deixou de permitir às "práticas religiosas vindas de África". Quero lá saber! Nem das práticas religiosas nem do marxismo cubano nem do que o Fidel fez ou deixou de fazer a esse respeito, é lá com eles.

Vera Santana disse...

Felizmente que o Fidel já não faz nada. Nem no campo religioso nem em nenhum. Está morto. Politicamente morto. Paz à sua alma... e que descanse ou não no Lugar das religiões africanas. Que nos dê descanso! Que enterro lhe quererá fazer a Filha? ...

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