quarta-feira, abril 09, 2008

Semibreves


Semibreves


Diz-nos Weber ser a ética protestante o berço do espírito do capitalismo. Abraço a tese. Há muito que a desenvolvo perante os meus alunos de Sociologia. Quando viajo, para fora do meu País – fisicamente, lendo, vendo filmes - a observação dos povos tocados por essa ética tem confirmado a tese weberiana.

A ética protestante trouxe, ao mundo católico, a ideia do trabalho como salvação e ajudou a construir burgos ricos e indústrias prósperas. Reforçou o poder da burguesia que, para trilhar os passos da aristocracia, apoiou as artes e as letras.

E trouxe um individualismo que permitiria múliplas literacias: a leitura individual da Bíblia foi o caminho para termos povos letrados; a leitura e o canto, nas igrejas nuas e despojadas, dos salmos em letra de música, foi o caminho traçado por povos que, desde a Reforma e em tenras idades, aprenderam a linguagem musical e praticaram a música.

A ética protestante permitiu o nascimento de uma estética democratizada. A democratização das várias literacias[1] – leitura, música lida e cantada – consolidou o exercício democrático. A Europa central, que alguns dizem ser um mito judaico, é exemplar no mundo da produção musical erudita, barroca, clássica, romântica ou contemporânea como Berg e Stockhausen, e da produção literária. Também por lá se produziu a obra de Kafka, o pensamento de Nietszche, Freud, Goethe, Marx e “O Homem Sem Qualidades” (Musil). Aqui nasceram as ideias de Homem Novo que tantos dramas humanos, guerras e totalitarismos causariam.

Por que não adoptar, no mundo cristão, as “boas práticas” do mundo protestante? Se a missa vai passar a ser em latim, a Igreja Católica pode / deve incluir o estudo do latim nas aulas de catequese, juntar o estudo da música e fomentar, em cada crente, o hábito de ler, por si próprio, o Livro e os Cânticos, a letra e a notação musical.

Fica aqui o apelo, feito por uma agnóstica espiritual, ao Vaticano. Façamos da Europa um mundo de gente literata, nas Letras e na Música. E na vida pública.

Vera Santana
9 de Abril de 2008


[1] Claro que a Católica Itália tem tradições musicais, o que nos levaria para outras reflexões.

2 comentários:

Light my fire disse...

Eu acho bem as missas em latim. Uma língua morta é mesmo o melhor para a transmissão de ideias bafientas. O velho Marx cometeu muitos erros, mas tinha razão quando dizia que a religião é o ópio do povo. É claro que, hoje, o ópio deu lugar à heroína e ao crack - como o futebol, por exemplo - mas isso é outra conversa.
Já agora: como é que vai ser com as homilias? Vão ter legendas?
A propósito, não resisto a citar uma quadra do grande António Aleixo:

Os padres são, neste mundo
o melhor que há pr'as comadres.
Podem ser bons, mas no fundo
para mim são apenas padres


Órinemos ao Senhor...

Vera Santana disse...

Ainda bem que anda por aí, para trazer luz para aqui ...

A leitura do textinho deverá ser crítica e colocada em vários tempos. No passado, aquando da Reforma e agora.

Em 500 anos o que aconteceu nos países protestantes por comparação com os países católicos?

Ilumine estes 500 anos com a sua luzinha e vá fazendo a elencagem/listagem. Proponho que faça uma tabela de duas colunas: à direita, acontecimentos nos países católicos; à esquerda, acontecimentos nos países protestantes.

Logo se fará saldo.

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