segunda-feira, abril 21, 2008

Semibreves


D´Os Dias Da Música no CCB: a Música desceu à Rua
É com imenso prazer que tenho assistido à democratização da Música Erudita, de ano para ano, em Portugal. A criação de Orquestras, Conservatórios e Escolas de Música Regionais, o bom funcionamento da Orquestra Metropolitana de Lisboa, a integração da Orquestra Sinfónica do Porto na Casa da Música, o Programa desta, o interesse para com a composição musical portuguesa actual, em muito têm mudado o panorama da música em Portugal.

A gestão inteligente de um orçamento "diminuído", de há 2 anos para cá, aliado ao desenvolvimento institucional da Música em Portugal, acabou por transformar a fantástica Festa da Música do CCB, na qual brilharam, em Festas criteriosamente temáticas, durante anos, as grandes estrelas mundais da interpretação e da direcção, num acontecimento mais quotidiano, no qual, parafraseando Sophia no 25 de Abril, a música desceu à rua. Timidamente, em 2007, conscientemente, em 2008. O nível artístico mantém-se elevadíssimo. A participação de agrupamentos e de solistas portugueses e/ou que escolheram Portugal para o exercício da profissão artística musical parece ter aumentado incontestavelmente.

Nestes Dias, as peças, os Maestros, os Instrumentistas de renome, os Jovens Estudantes de Música, os sub-grupos que fazem música - erudita, jazz, outras; canto, instrumental, orquestral, câmara, etc ... - , os melómanos mais habitués ou menos habitués, as famílias cruzam-se junto dos espaços formais - os palcos - e pelos espaços informais - os corredores onde qualquer pessoa pode fazer música porque os instrumentos estão à disposição, trocam de papéis - o instrumentista do recital das 11h assiste, à paisana e descontraído, com o seu instrumento ao ombro, ao concerto das 13h - descobrem-se, falam, dialogam.

E porque acredito nas afinidades electivas, acabam por encontrar-se, num mesmo recital (de entre tantas opções à disposição do público) velhos amigos e amigas de há décadas com os/as quais nunca se tinha sequer trocado uma palavra sobre gostos musicais. A Música pode ser uma linguagem muito universal.Um momento sublime, para o qual vai a minha subjectivissima preferência de simples melómana: a Sonata para Violoncelo e Piano op.19, em Sol menor, de Serguei Rachmaninov, divinalmente interpretada por Michal Kanka e Miguel Borges Coelho.

Faço votos para que esta literacia - a musical - iniciada com entusiasmo, em Portugal, na última década e meia, de forma constante e apoiada, e capaz de chegar, com imensa qualidade, a uma grande diversidade de pessoas - não seja interrompida por nenhuma epifania extemporânea e poderosa de horrendas personagens como as que se encontram também no CCB, na Galeria da CPS - Cooperativa Portuguesa de Serigrafia - calmamente quietas porque gravadas por Dali, numa ilustração d´O Inferno de Dante. A ver, também. Um Inferno Inquietante por onde passam Os Irados, Os Violentos, Os Ardilosos, os Usurários, os Hipócritas. Junto ao Inferno, está um Limbo, onde podemos encontrar "Almas Boas Ignorantes da Fé".

O Purgatório e o Paraíso de Dali para Dante encontram-se expostos por outras paragens da CPS, respectivamente em São Bento e nas Twin Towers. A escolha dos locais para exposição de cada um dos temas é, creio, da exclusiva responsabilidade do CPS.

Nota: a Orquestra e o Departamento de Música daFundação Calouste Gulbenkian, bem como a Orquestra Sinfónica Portuguesa, entre outras têm, desde sempre, desenvolvido actividades relevantes no âmbito da música. Neste pequeno texto referimos apenas aquilo que de novo, institucionalmente, tem surgido em Portugal.

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