segunda-feira, julho 18, 2005

Devaneios

Porque é que ele não me procura? O que é que eu lhe fiz de mal? Será que já não lhe dou prazer? Já não o entusiasmo? É normal que as coisas não sejam como no princípio, o tempo tem destas coisas, esmorece o arrebatamento inicial, a volúpia da descoberta do outro. E um homem é um bicho de impulsos, reage consoante as suas necessidades, nunca fui capaz de suscitar desejo propositadamente. Há quem o consiga, mas eu...

Porque é que ele não me procura? Sinto-me tão só. Estou aqui a um canto, só. Nem sempre foi assim, isso posso-vos garantir. Éramos inseparáveis. Estávamos sempre juntos a toda a hora. Era a companhia de manhã, no caminho para o trabalho, e no retorno para o sossego do lar. Juntos no banco do jardim, nas esplanadas (adoravas a da Graça, lembras-te?). Será que ele não percebe que eu estou triste sem ele? Estará completamente cego? Endoideceu de vez?

Porque é que ele não me procura? As minhas formas já não o agradam? Não estou diferente, talvez a erosão tenha feito alguns estragos. De qualquer forma, e apesar do comummente estebelecido, ele sempre gostou de mim pelo meu interior, o conteúdo sempre foi o elemento que fez com que me escolhesse. Ou pelo menos assim eu julguei...

Mas, espera! É ele que vem aí. Está-me a estender a mão. Ele vai agarrar-me com carinho e levar-me consigo. Vou fazer com que nunca mais tire os olhos de mim e que não haja um dia que passe sem a minha companhia...

“Tenho aqui algo que tenho a certeza que vais gostar”, diz Miguel, entusiasmado. Onde é que eu guardei aquele livro? Ah, aqui está ele.”

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