quarta-feira, julho 13, 2005

Sapos

Tenho reflectido um pouco sobre o recente processo autárquico, e rapidamente concluo que, para alguns militantes, pode ser difícil e estranho, por vezes, apoiar-se como algumas decisões do partido. Refiro-me à engenharia da construção de listas para as próximas eleições locais.

Se nos sentimos por elas representados, muito bem, apoiamos, com garra e vigor. E se não for esse o caso? Qual deve ser a nossa atitude?

Bem sei que as estruturas locais são soberanas na elaboração das listas de Vereação e/ou de Assembleias Municipais, e que, na maioria dos casos, é da responsabilidade da estrutura Nacional, a escolha e confirmação dos candidatos. Bem sei que fomos nós, militantes de base, que com o nosso voto elegemos as diversas estruturas, as locais e as nacionais. Mesmo se nelas não votámos, ou se apoiámos ou votámos em projectos perdedores, devemos ser por elas considerados e protegidos. Afinal, quando eleitas, estas estruturas, são-no para representarem não o eleitorado que as elegeu mas todo o eleitorado que representam. E eu, como militante, voluntário e assumido, reconheço nas estruturas esta legitimidade. Essa é a teoria. A prática é bem distinta.

Como imaginam, e sabem, à volta da Área Metropolitana de Lisboa houveram diversos exemplos que desdisseram, e bem, os pressupostos enunciados. Desde a candidata não aprovada pela sua Concelhia (empate crónico entre duas facções, que se digladiavam por tudo menos pela candidata em si, que é consensual); a candidatos-mistério (mesmo quando anunciados), a manipulações orquestradas por Concelhias, em plena imprensa de fim-de-semana (refiro-me ao Expresso), para condicionarem candidatos aos seus desígnios de distribuição de lugares.

Nestes casos, se não nos revermos nas atitudes assumidas, por vezes disfarçadamente, deveremos, por disciplina partidária, sufragar estes procedimentos? Ou deveremos exercer o direito cívico de votar segundo a nossa consciência? (E neste caso não votarmos nas listas apresentadas pelo partido).

Eu, por mim, não me revejo nas listas apresentadas a Lisboa pelo Partido Socialista. Não me revejo na campanha de condicionalismo perpetrada pelo presidente da Concelhia de Lisboa, que, todas as semanas ataca e manietava o candidato à CML. Não me revejo na atitude, mental e moral, defendida pelo presidente da Concelhia de Lisboa. Não me revejo na estratégia suicidária seguida pelo PS Lisboa que, em vez de apoiar o seu candidato, tudo o faz para o denegrir, para o ofuscar e isolar, dentro do partido e, inevitavelmente, do seu eleitorado.

Não me revejo na política deste senhor Coelho. E deverá ser responsabilizado por estas acções que toma. O Partido perde, todos os dias que aparece, votos, credibilidade e imagem. Se o PS não ganhar Lisboa, Miguel Coelho será, definitivamente, dos principais responsáveis.

Ele agora desmente que alguma vez tenha «atacado» o candidato Carrilho, oferecendo visões de harmonia e bem-estar entre ambos (foi o que referiu em reunião da comissão política concelhia). Nós sabemos que não foi bem assim. Eu também leio o Expresso. E a Capital. Será que não há fim a esta autêntica exposição de má fé política?

Com certeza que o presidente da Concelhia de Lisboa tem bem a noção do alcance das suas repetidas entrevistas. Inicialmente procurava condicionar o PS a apresentar um candidato da sua escolha (e tentou vários), depois procurou remeter Carrilho para uma posição defensiva, aquando da feitura das listas. Também já as conseguiu manietar (já viram as listas???). E ainda continua a ser entrevistado, opinando livremente sobre qual a estratégia que o PS deverá ter quando ganhar as eleições em Lisboa? Já o disse e repito: não tem este senhor a noção das suas responsabilidades? E tendo-as, porque pura os interesses do PS abaixo dos seus interesses pessoais? Saberá, com certeza, que enquanto tiver em cena, Carrilho não aparecerá. E sem Carrilho não há campanha. E sem campanha…

Mais, esse senhor, que nos pede, como militantes, que sejamos com ele solidário, pelo menos institucionalmente, não o é com o seu candidato. Que critério é esse? Em nome do «bom-nome» do partido, o senhor Coelho não aprecia a crítica livra, aparentemente divisionista, mas quando é para condicionar o candidato, já se sente livre. Dois pesos? E ninguém se importa.

Fechamos o ciclo. Que fazer, então? Votar PS na lista da Junta de Freguesia, num candidato do meu agrado? Não votar na lista proposta para a Assembleia Municipal, ou para a Vereação? Onde está a liberdade de voto? E a disciplina partidária? Qual o limite dos sacrifícios que fazemos pelo partido? São-no viáveis? Alguém os reconhece?

Bem sei que o PS se habituou, em Lisboa, a que o seu voto contribuísse para eleger membros de listas de um outro partido (que connosco estava coligado); mas era suposto que desta vez fosse diferente, não? Desta vez tínhamos a possibilidade e a oportunidade de apresentar uma equipa capaz, de gente da Cidade, com pensamento organizado sobre a Câmara, com experiência, com capacidades. E o que fazemos? Entregámos, discricionariamente, ao presidente da Concelhia de Lisboa, e aos seus apoios próximos, todo o poder para liderar o processo. Sem crítica nem avaliação, todos os critérios de qualidade foram sendo progressivamente abandonados. Assistimos ao triunfo do compadrio, do esquema, do favorecimento ou do arranjinho. Nada tenho contra o cacique, que é pedra importante neste nosso jogo da política, não gosta é de ver os seus métodos sujos e sombrios triunfarem, quando se clama por honestidade e transparência. Ética que palavra estranha para estes que se advogam das responsabilidades políticas.

Alguém critica estes comportamentos, de pessoas com responsabilidades? Não, ou poucas. Retirará, o presidente da Concelhia, algum ensinamento de todo este processo? Claro que não; ele, Miguel Coelho, nunca tinha tido tão à vontade para uma elaboração de listas autárquicas. Acham que, se o PS perder as eleições em Lisboa, ele se demitirá? Obvio que não. Continuará, e continuará a ser eleito, caso o queira, para a Concelhia. Todos o sabemos. Tem o seu sindicato de voto demasiadamente organizado. Tem muitos dependentes.

Para quem não concorda nem compactua com esta forma de fazer política, mas ainda se revê nos ideais e princípios do Partido Socialista, na sua história e exemplo político, que fazer? Sair? Não, isso era desistir da guerra que necessita de ser ganha. Devemos de nos mantermos eticamente sãos e disponíveis. Não pactuar com abusos. Denunciá-los. Criticar, objectivamente, o Partido quando seja para isso altura. Mas saber, no entanto, afastar tricas, quando o combate se quer lá fora.

Esta é altura de criticar. Só não entendo porque mais ninguém o faz.

Não sou comunista, nunca o fui, mas talvez seja altura de ter de engolir um grande Sapo.

(ou talvez não, uma vez que ainda estou registado em Loures…).

JRS

2 comentários:

Unknown disse...

Temos que arranjar urgentemente alguém de outro partido para aqui escrever... Isto está a ficar muito manietado!!! Até parece que o PS temo o exclusivo do caciquismo e manietismo!!!!

Ant.º das Neves Castanho disse...

O que se passou em Lisboa com a Esquerda é uma tragédia para a Cidade. Volta Sampaio, estás perdoado (quanto a mim, nunca devias era ter deixado a Câmara...)!

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