Caros amigos,
A pedido de varias famílias de amigos, estou aqui para vos dar o testemunho sobre o dia de ontem e a experiência que vivi aqui em Londres.
Deixem-me desde já contar que trabalho a 300 metros de Liverpool Street, o epicentro desta tragedia, e que durante muito tempo apanhei o metro da «Northern line» para ir e vir do trabalho, por vezes a 200 metros da superfície num túnel negro e claustrofobico em Bank pensava sobre isto e que este atentado seria inevitável um dia. Isto encorajou-me a comprar 1 mota ainda mais.
Eu estava a caminho de trabalho na mota em frente ao Big ben às 10 para as 9H e o dia corria normalmente.
Quando cheguei ao trabalho a minha antiga chefe telefonou-me a perguntar se estava tudo bem, já tinha lido na net que o metro tinha um problema eléctrico em Liverpool st.
A minha irmã a escreveu-me a perguntar se estava bem e disse-lhe que era só falso alarme e brinquei que ainda não era o tão esperado ataque da Al Qaeda a esta cidade. Só depois fui verificar a net e comecei a ter a noção (estudei estas coisas em RI) do que realmente estava a acontecer, rapidamente escrevi o mesmo e-mail a minha irmã a afirmar que de facto estava tudo normal no escritório e nas redondezas.
Começa um verdadeiro alvoroço de carros de polícia e ambulâncias a passar depressa, helicópteros no ar, e alguma agitação na rua. Fumei um cigarro na rua obviamente quase deserta ( bem no centro da City).
Tinha um problema grande para resolver, uma amiga que é enfermeira veio cá para ver a cidade (sic) e pesquisar um pouco se tem oportunidades de trabalho aqui (claro).
A Carla aterrou em Standstead às 11h30m e a 1a coisa que fez foi atender a mãe a dizer-lhe que estavam a rebentar bombas no centro da cidade, não é a melhor forma e dia de aqui chegar. Eu vi logo que ela nunca conseguiria sair do aeroporto, por isso pus-me a pensar em a ir buscar de mota. Pedi um casco a 1 Inglês da Buccanam ao lado e preparei-me para na minha hora de almoço lá ir.
Sai e passei por (a caminho) Liverpool Street, estavam na rua milhares de pessoas mas metade delas tinham coletes fluorescentes, e metralhadoras: estavam sempre a passar carros de polícia a abrir: para ai uns 5 helicópteros parados no ar mas a zumbirem: a fachada enorme da estação completamente selada: inexplicavelmente milhares de pessoas na rua sem sentido.
Depois passei também por Aldgate já com esta estrada cortada, passei por muitos jornalistas especados ao pé de uma rulote numa azáfama desorganizada e a fazer directos. O irónico é que esta parte da cidade e bem árabe e eram estes que estavam com ar de chocados na rua!
Sair em grande confusão e meio perdido do centro da cidade. Quando estou para entrar na auto-estrada uma bicha de carros sem sentido, uns km assim e depois 1 carro da polícia com pinns a isolar duas faixas e depois uma mota parada abandonada com chaves e tudo, parecia que alguém a usou ate ali...
Uma chuvada das grandes (calcas jeans) para aumentar o dramatismo no caminho.
Cheguei ao aeroporto e stressei bastante para tentar achar a Carla que estava um pouco perdida sem conseguir chegar ao ponto de encontro, mais dramatismo porque alem de assustada nunca tinha andado de mota na vida e agora ia meter-se na boca do lobo...
Voltamos com grande confusão de trânsito no sentido oposto (fora da Cidade) e deserto quase no nosso.
A entrada da cidade a mesma coisa muito transito desorganizado, as ruas já todas cortadas e o grande aparato de sempre, com desvios e mobilidade de mota lá chegamos ao banco outra vez dentro da City.
Depois durante a tarde o trabalho foi responder a telefonemas sms e e-mails a informar sobre o sucedido.
Quando acabou o trabalho às 5 fui para casa todo refastelado por ter mota e poder demorar os mesmo 15 minutos de sempre, enquanto em Embankment ao pé do rio iam as milhares e milhares de pessoas a pé para casa, na sua maioria de fato ou tailleur o que dava uma imagem duma carreira de formigas negras sem fim.
Sempre confusão no transito e sempre a deixar passar a policia constantemente depressa. Cheguei a casa e esperei pela pobre da Carla que alem de ter tido de ficar na City à espera pois estava a trabalhar teve de ir a pé como toda a gente e como imaginam fazer 6 km no dia de chegada neste ambiente e duro.
Fomos depois comer as noticias e verificar em conversas ao telefone quando possível se os amigos estavam bem.
A noite reunimo-nos em casa de uma amiga e trocamos as nossas experiências e impressões. Estava tudo em ambiente de alguma tensão para aliviados por já ter passado.
Portanto como imaginam um dia único e complicado para uma cidade desta dimensão, mas que se portou bem pois sempre se manteve calma e dentro de uma grande organização que desde a muito antecipou este infeliz inevitável mau dia.
Penso agora que esta deve de ser a semana mais agitada desta terra desde há muito pois depois do Live 8, de ter ganho as Olimpíadas, com o G8 também, tinha de acabar desta forma tão dramática, mas os Londonners como eu tinham todos cara de orgulho de viver numa cidade tão dinâmica diversa e tolerante. Não vi ninguém aqui dizer que ia sair daqui por isto.
Espero que tenham gostado da prosa, decerto quando vos encontrar gradualmente conto mais detalhes e pormenores interessantes sobre esta experiência.
Um abraço a todos
From Battersea,
Guilherme Rosa
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