quarta-feira, julho 27, 2005

Soares é Fixe

Mário Soares está em período de reflexão para uma eventual candidatura a Presidente da República. Mas este simples facto já foi o suficiente para por o País político em alvoroço. por todo o lado se vê a direita a menosprezar o "velho" leão (e velhos são os trapos, como sói dizer-se). A direita já interiorizou a vitória de Cavaco Silva, e despreza todo e qualquer adversário. Foi assim com Freitas, que apelidou de troca-tintas e portanto sem hipóteses. Foi assim com Manuel Alegre, por ser demasiado à esquerda. E é assim com Mário Soares. E neste caso já foram dadas duas razões (porque uma podia ser pouco). Uma, por Marcelo Rebelo de Sousa, de que o próximo presidente deve vir da área económica, e que Soares é fraco com números. A justificação de Marcelo é que esta é uma necessidade actual, dado o momento que atravessamos. Mas o que Marcelo se esqueceu de dizer, ou comentar, é que um Presidente não tem a mínima interferência com a política económica e orçamental de um governo. Logo, essa mais valia não existe, no cargo de Presidente da Republica. A outra, vinda de Guilherme Silva, e portanto mais oficial no que ao PSD diz respeito, é que "Cada político tem a sua época", e que Mário Soares já passou a sua época.

Mas será mesmo assim? Discordo. Soares foi intervertido ainda há bem pouco tempo, na questão do Iraque. Foi conhecida a sua posição, batalhou por ela, ajudou na organização e convocação de manifestações, deu opinião. Mantém-se activo no pensamento e na intervenção. Não se coíbe de fazer a sua análise à situação política, de tomar posições e estar sujeito à crítica. E Cavaco? Tirando o novo tabu, fala de aspectos económicos e lançou dois livros de memórias. Quem está mais actual???

Em 1986, a direita deu a eleição de Freitas como garantida... Errou! Soares venceu! Acredito que em 2006, 20 anos depois, vá acontecer mesmo!

P.S. - Texto também publicado no Esquerdices

1 comentário:

Ant.º das Neves Castanho disse...

Concordo totalmente.

Acho perigosa e irresponsável a ideia maciçamente propagada pelos vários sectores da Direita política e económico-financeira de que a governação, de um modo geral - incluindo assim a mais elevada magistratura da República -, se deve subordinar a(os seus) ditames económicos.

Trocando por miúdos, isto significaria que o resultado das eleições democráticas teria menos valor que a competência técnica a exigir aos governantes, ou seja, ganhassem ou perdessem as eleições, as políticas de Direita teriam sempre que ser aplicáveis, pois só assim seria garantida uma eficiente governação. É verdade, parece a história da carochinha, mas podemos lê-la todos os dias nos jornais, ouvi-la nás rádios e vê-la nas tv's. Até à náusea (e foi com base nela que se intercalou o infeliz consulado do Durão&suc.s).

Mas esta posição, de momento, é a única saída para quem não tem mais nada para dizer. E o facto é que, se Portugal parece estar num momento histórico caracterizável como de impasse, ou de "beco sem saída", em grande parte o deve à Direita: primeiro, porque foi ela que mais tempo nos tem governado - até mesmo desde a instauração da Democracia -, segundo e sobretudo porque, na actual conjuntura politico-económica, a Direita NÃO DISPÕE DE QUALQUER MODELO PARA O PAÍS! Dito de outro modo, a Direita em Portugal não tem qualquer ideia para o futuro de Portugal!

Daí que precise de prosseguir nesta dupla estratégia: 1º) Impedir a Esquerda de governar, instalando um contra-poder em Belém; 2º) Fingir que tem um projecto para o País, limitando toda a discussão em torno das questões conjunturais (o "défice")...

Para isto dispõe de um arsenal impressionante de meios de propaganda e intoxicação da frágil e desinformada opinião pública portuguesa... Quem levará a melhor, o neo-salazarismo mascarado de liberalismo, ou as ideias progressistas?

Desculpem o tamanho deste comentário...

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