Agora que está na moda avançar no tema das presidenciais, relembro as palavras que Sottomayor Cardia dedicou a Cavaco Silva, aquando da sua despedida da Assembleia da República (em 1991).
Penso que tem algum interesse. Atentem:
«Com efeito, V. Ex.ª [Cavaco Silva] é o grande e vitorioso gestor do servilismo. É essa a razão pela qual os indomáveis espíritos liberais de Portugal repelem na figura de V. Ex.ª a imagem de um estranho. Honro-me de pertencer a um universo cívico, que não é o de V. Ex.ª, e de pertencer V. Ex.ª a um universo feudal que não é o meu.
Decerto me satisfaz que os valores do meu universo cívico – simbolizados nesta Casa [Assembleia da República] – tenham corrompido a antecedente e resistente visão do mundo de V. Ex.ª É essa uma das mais maiores virtudes da democracia: seduz adversários, enrola-os na tolerância de que vive, atrai-os às regras do jogo eleitoral e parlamentar.
Penso que tem algum interesse. Atentem:
«Com efeito, V. Ex.ª [Cavaco Silva] é o grande e vitorioso gestor do servilismo. É essa a razão pela qual os indomáveis espíritos liberais de Portugal repelem na figura de V. Ex.ª a imagem de um estranho. Honro-me de pertencer a um universo cívico, que não é o de V. Ex.ª, e de pertencer V. Ex.ª a um universo feudal que não é o meu.
Decerto me satisfaz que os valores do meu universo cívico – simbolizados nesta Casa [Assembleia da República] – tenham corrompido a antecedente e resistente visão do mundo de V. Ex.ª É essa uma das mais maiores virtudes da democracia: seduz adversários, enrola-os na tolerância de que vive, atrai-os às regras do jogo eleitoral e parlamentar.
De facto, não há pequena alma de ditador, nem mesmo grande (tranquilize-se!), que resista a uma vitória eleitoral, análoga àquela que a V. Ex.ª foi oferecida em 1987.
Assim, o essencial na ocorrência é que V. Ex.ª logrou, do alto do seu universo senhorial, corroer e domesticar os valores cívicos de demasiados líderes de opinião do universo da democracia. Logrou e logrou lograr. São em número excessivo os conduzidos ao redil ou às prudentes cercanias.
Outra não é a obra de V. Ex.ª: refeudalizar a sociedade portuguesa.
E refeudalizou-a enquanto ela se modernizava à custa dos fundos comunitários e enquanto no mundo ruíam dezenas de ditaduras.
Possuímos, hoje, uma vasta legião de sensibilidades feudais, como a de V. Ex.ª, em demasiadas chefias de serviço, de secção, de repartição e de divisão.
Um liberal vencido, mas em nada convencido, pode desdenhosa e ironicamente saudar quem o venceu e quem domesticou a liberdade. Desde que o faça de pé, com altivez, sem curvatura e com sentido de humor. É o que ora acontece.
Uma esperança me anima, todavia. E parafraseando o que, neste hemiciclo, disse o deputado Miller Guerra, em 1973, sempre direi que vivemos tempos difíceis para o pluralismo, mas os valores da liberdade renascerão e vencerão.»
É este o candidato de todos os portugueses? O tal príncipe salvador? O candidato único?
Eu penso, e espero, que não…
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