Inauguro hoje esta crónica, com o título de «Momento» (em homenagem à celebre crónica do Raul Rego no República), que procurará servir para breves reflexões sobre a política portuguesa em geral, e os seus Momentos actuais, em particular. Procurarei que a sua regularidade seja a mais coerente e sagaz.
Começarei pelo assunto das presidenciais.
Quando no final de 2002 partilhava um jantar académico com o professor Medeiros Ferreira, este, no seu estilo provocatório, avançava com o nome de Mário Soares como não só o melhor candidato da esquerda para a presidência, mas como o que melhor colocado à esquerda se posicionava para um esperado embate com Cavaco Silva. Devo reconhecer que, apesar da graça e pertinência reconhecidas no proponente, pensei que a esquerda não só tinha mais e melhores soluções como que o futuro candidato deveria ser alguém substancialmente mais jovem, alguém que conseguisse aguentar uma corrida presidencial intensa e desgastante, e alguém que antecipasse a sua reeleição. Na altura, também convêm lembrar, ainda Guterres estava na corrida a Belém, e Durão Barroso liderava o país.
Hoje tenho dúvidas em sustentar o mesmo argumento.
Não só porque Guterres não anda por cá. Não só porque a esquerda não parece andar a produzir muitos candidatos individuais (ao contrário dos colectivos, que são muitos – cada facção do PS tem o seu…). Não só porque Sampaio obrigou (ao usar «a bomba») a que estas presidenciais sejam as mais exigentes da história democrática portuguesa.
Não consigo expor o mesmo argumento porque Soares se apresenta, provavelmente, como o melhor e mais bem colocado candidato para manter a esquerda em Belém.
Atentemos: [1] é o candidato com espírito mais jovem (por irónico que pareça); [2] porque me parece que Cavaco tem medo de Soares; [3] porque Soares velaria para que o governo Sócrates cumprisse o seu mandato (e governasse à esquerda); [4] e porque sinto que Soares olharia para o mandato presidencial como o seu último contributo ao país, um contributo que se sente urgente, institucional e solidário. Digo mais, tenho a sensação que Cavaco espera para ver o que Soares poderá fazer; digo mesmo que Cavaco só avançará, se puder, depois da esquerda definir o seu candidato. A esquerda poderá é apresentar vários candidatos (ao estilo das primárias de 85/86) …
No entanto, qualquer eleição com Soares teria de se revestir de um carácter excepcional. Não cogito que ele possa pensar na presidência como um culminar de carreira (já o fez em 1985/86), nem que o cargo lhe agrade sobremaneira. Soares só avançará se perceber que a esquerda não apresentará candidato (ou se apresentar Freitas?) e se entender que a direita espera por Cavaco para mandar o governo abaixo. Alguns desses sinais já foram avançados por recentes declarações de Ribeiro e Castro (ao pedir a moção de confiança do governo na Assembleia) e de Santana Lopes.
Nestas condições, Soares apresentar-se-á a votos para tutelar e garantir que o governo do PS atingirá o final da legislatura.
Neste caso, assistiremos a um ex-presidente em campanha (o que seria estranho) e o mito da reeleição cairia por terra. Não creio que Soares se apresentasse, à priori, com 85 anos a uma reeleição para um quarto mandato.
Penso, no entanto, ainda o seguinte: é vital que seja a esquerda a ganhar as próximas eleição presidenciais. Se a direita ganhar, com o espírito revanchista que para aí anda, temo que a legislatura não atinja 2009; que tenhamos eleições gerais lá para 2007, e aí, nesse cenário, poderíamos assistir a novas situações de coligação, de instabilidade, de uma atitude de «política presente», ao invés de «política futuro». Este governo, sempre sujeito a críticas, propõe-nos uma ideia de futuro. Resultará? Não sei. Mas se depositámos nele a esperança de 4 anos, que o deixemos apresentar resultados.
O país não pode suportar mais uma crise institucional. Temos de nos habituar a respeitar os prazos eleitorais. 4 anos são 4 anos. Como queremos crescer como democracia, como sistema democrático, se não cumprimos os seus fundamentos básicos? Como poderemos proceder a um processo de reflexão e de crítica, sobre a situação do país, do seu presente e futuro, sobre a necessidade de reformar o sistema político nacional, os partidos políticos e as instituições, se não conseguimos dotar as experiências políticas de tempo robusto? Como poderemos apontar futuros se não conseguimos segurar os presentes?
Necessitamos de estabilidade. E de respeito institucional. E esse a direita, pelos discursos recentes, não o tem. Está muito chamuscada com a última experiência governamental e retirou da atitude de Sampaio, como muita gente, o aspecto discricionário do uso da «bomba» presidencial.
Sampaio, ao rasgar os «acordos SALT» existentes na política portuguesa inaugurou uma nova fase nesta verdadeira «Guerra-fria». Não só não largou a bomba quando devia (por receio de uma vitória de Santana, por receio do PS de Ferro, por receio de Durão não ser indigitado, por esperar por Sócrates, etc.), como a detonou quando o governo ainda apresentava uma maioria parlamentar assumidamente estável e funcional.
Ao deixar este exemplo do uso discricionário dos poderes presidenciais, Sampaio elevou, em muito, a urgência da escolha do próximo ocupante de Belém. Na campanha, os candidatos terão de se explicar, e muito bem, em que condições utilizarão «a bomba». Novo SALT terá de ser assinado…
Nesse aspecto, como em outros, Soares poderá dar muitas lições, a muita gente.
É neste sentido que conta com o meu apoio.
Começarei pelo assunto das presidenciais.
Quando no final de 2002 partilhava um jantar académico com o professor Medeiros Ferreira, este, no seu estilo provocatório, avançava com o nome de Mário Soares como não só o melhor candidato da esquerda para a presidência, mas como o que melhor colocado à esquerda se posicionava para um esperado embate com Cavaco Silva. Devo reconhecer que, apesar da graça e pertinência reconhecidas no proponente, pensei que a esquerda não só tinha mais e melhores soluções como que o futuro candidato deveria ser alguém substancialmente mais jovem, alguém que conseguisse aguentar uma corrida presidencial intensa e desgastante, e alguém que antecipasse a sua reeleição. Na altura, também convêm lembrar, ainda Guterres estava na corrida a Belém, e Durão Barroso liderava o país.
Hoje tenho dúvidas em sustentar o mesmo argumento.
Não só porque Guterres não anda por cá. Não só porque a esquerda não parece andar a produzir muitos candidatos individuais (ao contrário dos colectivos, que são muitos – cada facção do PS tem o seu…). Não só porque Sampaio obrigou (ao usar «a bomba») a que estas presidenciais sejam as mais exigentes da história democrática portuguesa.
Não consigo expor o mesmo argumento porque Soares se apresenta, provavelmente, como o melhor e mais bem colocado candidato para manter a esquerda em Belém.
Atentemos: [1] é o candidato com espírito mais jovem (por irónico que pareça); [2] porque me parece que Cavaco tem medo de Soares; [3] porque Soares velaria para que o governo Sócrates cumprisse o seu mandato (e governasse à esquerda); [4] e porque sinto que Soares olharia para o mandato presidencial como o seu último contributo ao país, um contributo que se sente urgente, institucional e solidário. Digo mais, tenho a sensação que Cavaco espera para ver o que Soares poderá fazer; digo mesmo que Cavaco só avançará, se puder, depois da esquerda definir o seu candidato. A esquerda poderá é apresentar vários candidatos (ao estilo das primárias de 85/86) …
No entanto, qualquer eleição com Soares teria de se revestir de um carácter excepcional. Não cogito que ele possa pensar na presidência como um culminar de carreira (já o fez em 1985/86), nem que o cargo lhe agrade sobremaneira. Soares só avançará se perceber que a esquerda não apresentará candidato (ou se apresentar Freitas?) e se entender que a direita espera por Cavaco para mandar o governo abaixo. Alguns desses sinais já foram avançados por recentes declarações de Ribeiro e Castro (ao pedir a moção de confiança do governo na Assembleia) e de Santana Lopes.
Nestas condições, Soares apresentar-se-á a votos para tutelar e garantir que o governo do PS atingirá o final da legislatura.
Neste caso, assistiremos a um ex-presidente em campanha (o que seria estranho) e o mito da reeleição cairia por terra. Não creio que Soares se apresentasse, à priori, com 85 anos a uma reeleição para um quarto mandato.
Penso, no entanto, ainda o seguinte: é vital que seja a esquerda a ganhar as próximas eleição presidenciais. Se a direita ganhar, com o espírito revanchista que para aí anda, temo que a legislatura não atinja 2009; que tenhamos eleições gerais lá para 2007, e aí, nesse cenário, poderíamos assistir a novas situações de coligação, de instabilidade, de uma atitude de «política presente», ao invés de «política futuro». Este governo, sempre sujeito a críticas, propõe-nos uma ideia de futuro. Resultará? Não sei. Mas se depositámos nele a esperança de 4 anos, que o deixemos apresentar resultados.
O país não pode suportar mais uma crise institucional. Temos de nos habituar a respeitar os prazos eleitorais. 4 anos são 4 anos. Como queremos crescer como democracia, como sistema democrático, se não cumprimos os seus fundamentos básicos? Como poderemos proceder a um processo de reflexão e de crítica, sobre a situação do país, do seu presente e futuro, sobre a necessidade de reformar o sistema político nacional, os partidos políticos e as instituições, se não conseguimos dotar as experiências políticas de tempo robusto? Como poderemos apontar futuros se não conseguimos segurar os presentes?
Necessitamos de estabilidade. E de respeito institucional. E esse a direita, pelos discursos recentes, não o tem. Está muito chamuscada com a última experiência governamental e retirou da atitude de Sampaio, como muita gente, o aspecto discricionário do uso da «bomba» presidencial.
Sampaio, ao rasgar os «acordos SALT» existentes na política portuguesa inaugurou uma nova fase nesta verdadeira «Guerra-fria». Não só não largou a bomba quando devia (por receio de uma vitória de Santana, por receio do PS de Ferro, por receio de Durão não ser indigitado, por esperar por Sócrates, etc.), como a detonou quando o governo ainda apresentava uma maioria parlamentar assumidamente estável e funcional.
Ao deixar este exemplo do uso discricionário dos poderes presidenciais, Sampaio elevou, em muito, a urgência da escolha do próximo ocupante de Belém. Na campanha, os candidatos terão de se explicar, e muito bem, em que condições utilizarão «a bomba». Novo SALT terá de ser assinado…
Nesse aspecto, como em outros, Soares poderá dar muitas lições, a muita gente.
É neste sentido que conta com o meu apoio.
1 comentário:
Muito bem...
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