quinta-feira, setembro 22, 2005

Berlim - Lisboa

«In elections, sometimes you win some, sometimes you lose some; and them there’s that little known third category»

Al Gore in «The Tonight Show with Jay Leno»

Esta maravilhosa tirada do agora cómico ex vice-presidente dos EUA, assenta como uma luva à actual situação alemã.

Quem ganhou as eleições? A quem deve ser dado a oportunidade de formar governo? Que lições e ilações para o Futuro próximo? Afinal, que Alemanha existe hoje? Que esperar das suas divisões profundas – Leste / Oeste; Norte / Sul?

Seis leituras rápida. Quem, ganhou as eleições foi:

1- A CDU/CSU, da Ângela Merkl, pois é o partido mais votado.
2- O SPD, pois a CDU/CSU é uma coligação eleitoral entre os Democratas-Cristãos da CDU mais os Democratas-Cristãos da Baviera (CSU), apresentando-se como uma coligação eleitoral. Logo «o partido mais votado» seria o SPD.
3- A Direita, pois no «arco governamental» a CDU/CSU + FDP vale mais que o SPD + Verdes.
4- A Esquerda, pois toda a esquerda junta – SPD + Verdes + Linken é superior a CDU/CSU + FDP
5- Não há vencedores.
6- Não acredito em «Blocos Centrais» (acho mesmo que são anti sistemas de certa maneira…)

Na segunda liga, claro vencedor foi o Linken, espécie de «Ala Alegrista» do SPD (liderada por Oskar Lafontaine) mais os ex-comunistas do PDS. Ao tornar-se a quarta-feira força política, com os seus 8.7 % (e 50 e tal deputados já eleitos), baralhou completamente as contas à esquerda. Fê-lo por retirar importantes votos ao SPD e aos Verdes e por impossibilitar, à priori, que a esquerda se possa apresentar com uma «grande coligação», integrando SPD, Verdes e Linken. Em segundo lugar (ou em primeiro?), o FDP, que, ultrapassando os Verdes, e tornando-se no terceiro mais votado, assume-se como o principal parceiro de coligação governamental de uma abúlica CDU/CSU. Ter o primeiro e o terceiro lugar deverá ser bastante para formar Governo. Por fim, os Verdes foram os grandes derrotados. Não só perderam eleitorado como perderam o lugar de promoção à Chancelaria de Berlim. No caminho, trocaram as voltas a Schroeder, que terá de contorcer-se em argumentos (e negociações) para preservar o emprego.

É claro que não houve vencedores claros e directos. É obvio que é necessário uma situação de coligação, o que não é problema para a democracia alemã, desde sempre habituada a situações de necessidade de coligação governamental (atenção – lição a retirar para quem defende a importação do sistema eleitoral Alemão). É obvio que essa coligação poderá não ser maioritária, caso se desenvolva nas esperadas combinações SPD+Verdes ou CDU/CSU + FDP. É também obvio que está na actuação dos três partidos minoritários a chave para a resolução deste interessante caso de Ciência Política. Por exemplo, basta que Lafontaine e Schroeder façam as pazes, para que uma «grande coligação» de esquerda governe.

Por outro lado, a Alemanha pode vir a ter de suportar uma situação insólita, a de ter um governo de coligação, minoritário, com um Bundestag de maioria contrária…neste caso, ou se produzem rapidamente alguns entendimentos de legislatura (e neste ponto os Verdes podem ser um parceiro privilegiado – basta que Merkl «compre» algumas das suas bandeiras) ou teremos eleições em breve.

Em todo o caso, ainda a procissão vai no adro.

E não se esqueçam que os resultados ainda não estão apurados. A diferença entre a CDU/CSU e o SPD, aparentemente, é de 2/3 deputados. E se os resultados de Bremen derem a vitória a Schroeder?... Tudo muda nesse instante. Ou não. É esta third category, que ameaça tornar-se estudo de Ciência Política…

Por fim uma provocação/ previsão: dia 9 de Outubro Lisboa será Berlim.
(empate técnico entre PS e PSD, vereadores eleitos pelo BE, PCP e PP, também eles em empate técnico…)

1 comentário:

Willespie disse...

É de facto uma situação caricata na Alemanha.

Mas em relação ao seu sexto ponto, de não acreditar em blocos centrais:

No actual cenário Alemão eu também não acredito visto que o FDP é apenas lixo neo-liberal, e liberal-clássico.

De resto eu acredito que blocos centrais são possíveis, e benéficos para o desenvolvimento qualquer país. Talvez não entre dois partidos de direita e esquerda mas sim entre dois partidos de esquerda e o centro liberal democrático.

Para além de eu me considerar de centro-esquerda liberal, existem tantos bons exemplos. Dinamarca, Canada, Belgica, Finlandia, e Noruega. Diga-se de passagens que são todos países com um nível de vida e desenvolvimento exemplares.

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