Agora que a minha televisão deu o berro, (já tinha 25 anos) limito-me a ver os debates presidenciais pela Internet. Pelo menos aqueles que posso, já que inexplicavelmente, as rádios resolveram não se entender com as televisões. Resultado, sexta-feira em vez de transmitirem o debate ouvia um locutor eufórico que anunciava que o jogo de abertura do mundial seria o Alemanha Afganistão, ou Turquistão ou outro ão qualquer.
Por força das necessidades, lá me liguei ao site da TVI e segui com atenção a segunda parte do debate Louçã / Cavaco. E foi com perplexidade que ouvi algumas pérolas da boca de um tal senhor Aníbal, o homem que domina os números e a economia.
Entre outras ideias expressas, afirmava que um dos seus medos em relação à imigração seria que não se poderiam abrir as portas, senão correríamos o risco de amanhã sermos menos portugueses do que estrangeiros. Entrarem 10 milhões de estrangeiros assim de rajada, dá vontade de rir e demonstra um total desconhecimento, para não dizer ignorância sobre o funcionamento do S.E.F. e das restantes polícias. Ao inverso daquilo que é percebido pelo senso comum, a Europa está cada vez mais controlada, restringido o acesso das suas fronteiras, mesmo quando todos os governos dos 15 (e não ainda 25) já admitiram a necessidade anual da entrada de milhares de pessoas para poder manter os fluxos económicos actuais.
A brilhante afirmação do senhor Aníbal, o wizard da economia, teria até graça pelo ridículo que pinta, se não escondesse veladamente atrás das suas palavras, um preocupante indício de xenofobia. Como dizia o filósofo Innerarity, os políticos dizem realmente aquilo o que pensam quando fogem aos discursos programáticos delineados pelos partidos e programas eleitorais. O senhor Aníbal parece que confirma a regra. Oxalá me equivoque, pois este arrisca-se a ser o “nosso” próximo presidente. Mas só dos portugueses. Imigrantes, pelos vistos, não! (Especialmente se até Janeiro passarem a ser a maioria da população. Grande medo!).
Vem-me à memória uma viagem que fiz há 10 anos a um pequeno enclave na Europa central chamado Luxemburgo. No segundo dia, enquanto caminhava pela rua, parei uns instantes a observar as obras de uma conduta de gás. De repente, qual não é o meu espanto quando oiço: Ó Zé, passa-me o martelo, caralh… Fod.-s. Quim, cuidado com essa merd.. que está quente. De facto eram todos portugueses mas não só aqueles, mas pelos vistos mais de 15% da população do Luxemburgo. Repito, 15%. Será que os Luxamburgueses também têm medo que os trabalhadores portugueses lhes venham usurpar a sua identidade nacional? Pelos vistos perceberam já há muito a importância dos fluxos migratórios na economia, especialmente para fazerem os trabalhos que já nenhum nacional se quer dedicar.
E nós por cá? Parece que o senhor Aníbal ainda não vislumbrou isto. Ou provavelmente gostaria de prepetuar as políticas do abre a porta do cavalo que temos umas obras para fazer, mas depois essas pessoas não passam de números e por sinal clandestinos. Uma vez findadas as obras que fazer com elas? É assim, com esse tipo de desresponsabilização social que se criam os focos de tensão.
Seria bom que o senhor Aníbal se deixasse de demagocias baratas e que olhe com atenção para a mal sucedida experiência de integração social francesa.
N’Dalo Rocha
N’Dalo Rocha
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