Francisco Louçã, mais uma vez, não percebe ou não quer perceber que há uma diferença em ajudar os "pobre e desprotegidos" e permitir a criminosos que destruam propriedade privada e ataquem polícias que estão no cumprimento do seu dever. Há uma certa esquerda que não consegue, definitivamente, conviver com autoridade e que prefere acusar todos aqueles que defende o estado de direito desculpando os delinquentes que provocam os desacatos (escrevo desacatos para ser simpático) no bairro da Bela Vista.
Seria bom ouvir (ou, neste caso, ler) algo mais que o velho chavão de uma certa esquerda sobre as políticas para ajudar os coitadinhos. Num caso como o que está a ocorrer, o que é que um Governo BE faria? Pedia desculpa, a quem anda a roubar, pela acção das forças de segurança? Abria um inquérito ao trabalho da polícia? Demitia o Ministro da Administração Interna por responsabilidade política sobre o caso? Demitia-se por não ter conseguido encontrar uma política que ajudasse os "pobres e desprotegidos"?
Uma vez mais, o facto do Bloco de Esquerda se recusar a fazer parte da solução (ou seja, ser considerado como opção para parceiro de governo) torna-o parte do problema. Dá cobertura política a casos destes. Nada de novo, portanto…
P.S. - Também escrito no Eleições 2009 do Público e na Tertúlia do Garcia.
10 comentários:
Talvez fosse pertinente relembrar os ensinamentos da Escola de Chicago que foi criada precisamente para estudar e propôr soluções para a falta de coesão social dos bairros periféricos da cidade, no século passado . . .
Parece-me que primeiro temos de resolver o problema actual. Ou deixamos a polícia ser atacada impunemente, e ainda temos de pedir desculpa
Um criminoso não pode sê-lo antes de julgado. E quem julga? Nós ou os Tribunais?
Um coitadinho é assim "uma coisa" do tempo de Salazar . . . a quem a Senhora de Supico Pinto dava esmolas.
As dicotomias simplificam a percepção do real porque o empobrecem.
O criminoso que despoletou tudo isto foi apanhado em flagrante delito a roubar, fugiu à polícia e morreu após uma troca de tiros com a autoridade. A partir daí, vale tudo, desde cercos à esquadra até ataques com cocktails molotof.
Isto não tem nada a ver com outras situações. Um crime foi cometido, tendo a situação acabado da pior maneira, e agora os seus amigos estão a ripostar.
Rui,
Ser morto, por roubar, é um grande castigo e, ainda para mais, sem ir a Tribunal.
Ser morto, por roubar e estar "metido" em desacatos, públicos e "de gangs", contra a polícia, e, ainda para mais,sem ir a Tribunal, continua a ser um grande castigo.
Lá dizia o Emílio (Durkheim) que o castigo não se destina a punir o prevaricador mas a lembrar, à sociedade, a existência de normas sociais. Assim acontecia outrora nos espectáculos públicos de enforcamento. Assim acontece hoje nos espectáculos tornados públicos pelos media.
A velha questão do indivíduo e da sociedade, do indivíduo na sociedade. E a igualmente velha questão da relação entre castigo / classe social.
Vera,
O rapaz assaltou um multibanco. A polícia apanhou-0 em flagrante. Deu-lhe voz de prisão. Ele fugiu. A polícia perseguiu. Houve troca de tiros.
Querias que a polícia fizesse o quê?
O que tem isto de abuso, ou de uso de força excessiva?
Que sociedade democrática é esta onde cada um faz o que quer, sem respeito pela lei, que responde pela força de armas e a polícia é que é culpada?
Que sociedade democrática é esta quando a polícia é acossada por uma população de um bairro problemático e não pode impor a autoridade?
Consegues-me explicar?
Rui,
Consegue-se explicar se formos à origem da questão: os bairros-ghetos onde moram os excluídos, junto às cidades dos incluídos, estão, por toda a Europa, a rebentar.
Porque "a crise" não atinge todos de igual modo. Porque a democracia tem de ser mais justa a repartir o pão e a pancada.
Porque as forças da ordem pública tiveram, desde sempre, o seu lado injusto: durante o fascismo, a PIDE atirava a matar quando se tratava de revoltas operárias, dava umas pancadinhas quando se tratava de revoltas estudantis (os estudantes eram, na altura, os filhos da burguesia).
Não estou a dizer, obviamente, que "voltámos ao fascismo". Estou a afirmar, claramente, que a coercividade não é aplicada de olhos fechados, ie, sem olhar às origens sociais. Estou a afirmar que é preciso repensar modelos urbanos, laborais e policiais para não acontecerem fenómenos como os "des cités" ou "Le Pen".
E eu estou a dizer que isso é para fazer antes de um problema destes ou depois. Nunca durante! E esta situação mão tem nada, mas mesmo nada, a ver com manifestanções estudantis ou proletárias. É essa generalização que é perigosa.
Problemas de natureza diferente têm soluções diferentes. As situações por ti descritas são de uma natureza completamente diferente da que se passa nesta caso
. . . estás a cair em contradição: se "isso" (repensar modelos) é para fazer antes ou depois dos desacatos, então é porque a natureza do problema RESIDE AÍ, nos modelos.
Os desacatos são a síndrome do problema. Claro que é preciso controlar desacatos (se fossem no meu bairro, eu telefonaria para a polícia, obviamente), defender os espaços públicos e as instituições.
Mas:
1. não chega;
2. a punição deste desacato foi muito dura;
3. há crimes de "colarinho branco" que afectam um maior número de pessoas e cujas punições são bem menos duras.
A punição deste desacato foi muito dura??? Estás a falar do quê?
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