A posse da colónia portuguesa de Angola foi reconhecida internacionalmente na conferência de Berlim, em 1885 e assim permaneceu até 11 de Novembro de 1975, dia da Independência Nacional. De todas as colónias portuguesas, Angola era a mais cobiçada e detentora do maior potencial económico. A título de curiosidade, foi o terceiro maior produtor mundial de café em 1973, para além de outras matérias-primas de elevado valor, como as madeiras, o petróleo e os diamantes.
Nas vésperas da Independência, a cidade de Luanda com excepção dos musseques, era uma capital moderna, ordenada, provida de grande planeamento urbanístico nos seus bairros, onde as avenidas e ruas largas, se interceptavam num moderno sistema ortogonal. A generalidade dos portugueses, possuía elevados níveis materiais de qualidade de vida, bastante superiores aos da maioria da população que habitavam na metrópole, nos idos anos 60 e início dos 70. (Já toda a gente ouviu algum retornado gabar-se que em Luanda ofereciam camarões na esplanada para acompanhar a cerveja.)
Verdade seja dita que, apenas uma minoria privilegiada da população africana tinha acesso a essa mesma qualidade em plenitude; Não obstante das barreiras sociais e raciais criadas pelo regime, não seria possível de todo comparar este sistema colonial de organização social, com por exemplo o Aphartheid Sul Africano, muito mais duro e intolerante.
A nível militar, apesar do 25 de Abril de 1974, a situação tornou-se relativamente estabilizada para os portugueses a partir de 1972. Uma das causas foram as cisões dentro dos movimentos de libertação, principalmente do MPLA, que havia adquirido muita relevância militar após 1966, com a abertura da frente leste.
O exército português controlava grande parte do território e praticamente quase todos os centros urbanos. Para além do exército regular, detinham no terreno tropas especiais africanas treinadas pela PIDE/DGS, conhecidos como os Flechas, a própria polícia política, forças militarizadas e as milícias da Organização Popular de Vigilância e Defesa Civil de Angola. Apesar da gigantesca dimensão geográfica do território, 14 vezes e meia maior que Portugal, nem sempre era fácil aos movimentos de libertação realizar operações militares de grande envergadura, optando muitas vezes por acções pontuais de efeito surpresa, servindo-se de tácticas de guerrilha.
O início das hostilidades da guerra colonial teve início em Angola em 1961, com o famoso ataque a Casa de Reclusão de Luanda, golpe reivindicado pelo MPLA, Movimento Popular de Libertação de Angola. Porém a nível militar, este movimento só começa a ter relevância depois de 1961, quando aumenta a sua logística e apoio militar externo. Devido à sua maior organização logística, ideológica e de quadros formados, seria este o movimento que receberia o testemunho de Portugal para formar o primeiro governo, ainda que, com a participação minoritária da UNITA, União Nacional pela Independência Total de Angola, do carismático Jonas Savimbi, e a FNLA, Frente Nacional de Libertação de Angola, de Holden Roberto.
Verdade seja dita que esta coabitação não resultou e logo após a Independência, a precária paz alcançada nos acordos de Alvor, entra em colapso. Durante meses, a pacata cidade de Luanda, assemelha-se a Beirute dos anos 80, onde os diversos grupos militares, paramilitares, milícias armadas, apoiantes e simpatizantes das mais diversas facções se guerreiam entre si. O MPLA sai vitorioso nos confrontos da capital, expulsando para o sul a UNITA e para norte a FNLA.
Todavia, já em Maio de 1977, o movimento sofre uma tentativa de golpe de estado interno com a revolta activa de Nito Alves, popular dirigente do partido.
Nos anos 80, Angola entra definitavamente na esfera da Guerra Fria, com o governo de Luanda apoiado pela ex-União Soviética e a recorrer à ajuda militar cubana, e por outro lado, a UNITA com o apoio de Reagan e dos EUA e também da África do Sul, que efectuou muitas incursões militares em território angolano, com o seu exército e batalhões de mercenários dos quais o mais famoso, o Búfalo. A FNLA ficou um pouco arredada deste jogo e em 1992, após a queda do muro de Berlim, tenta-se novamente uma tentativa para a paz, com os acordos de Bicesse.
Savimbi rejeita os resultados eleitorais e a UNITA é novamente “expulsa” com combates dramáticos. Em 1996, MPLA e UNITA voltam a Lusaka para tentar encontrar uma via negocial. Savimbi é morto em combate em 2002 e desde então Angola tem vivido um momento de paz, com forte interesse da comunidade internacional, para fazer grandes investimentos económicos. Para saber mais sobre este último tema, é aconselhável que se lei a especial destacável de 16 páginas do Expresso (edição 5 de Novembro de 2005) dedicado a Angola
N'Dalo Rocha
Sem comentários:
Enviar um comentário