Gosto de pensar que vivemos numa sociedade permissiva do ponto de vista da privacidade individual. Claro está que esta privacidade só pode ser mantida se o próprio indivíduo fizer um esforço (sim, porque nos dias que correm é preciso fazer um esforço para esquivar as diversas tentativas dos media, principalmente a televisão, de tornarem os ilustres anónimos em ilustres qualquer outra coisa), dizia eu, se o próprio indivíduo fizer um esforço por se manter “no escuro”. É evidente que, quando o cidadão pretende fazer-se notar (por vezes por caminhos demasiado tortuosos e incompreensíveis) se torna difícil escapar ao “chacotério” geral.
Tal é o caso de algumas figuras com quem convivo por vezes (e, impede-me a autocrítica de me excluir, é também o meu caso quando, porventura, sob o efeito de uma euforia extrema, aliada, ou não, a substâncias desinibidoras, digo o que não devo e, pior, a quem não devo – todos temos os nossos “momentos de glória”) dando azo a comentários que exprimem o espanto (e desagrado?) geral.
Ora, a situação torna-se ainda mais bizarra quando o tema é sexo. Entre muito risinho abafado e olhares de soslaio lá se vão largando as deixas que fulano, beltrano ou sicrano, num raro momento de excesso de zelo (e de informação) debitou em ouvidos pouco preparados para tais confissões. Pois bem, ditos há que a cultura portuguesa interpreta de forma antagónica. Por exemplo, virtudes públicas e vícios privados, haveria de querer dizer (passo a perversidade que ao longo da história acompanha a expressão) o que fazes em casa não o venhas contar para a rua.
Mas a verdade é que, pelo menos em Portugal, isto é a chamada “prata da casa” (e, nalguns casos, que prata, senhores!). Eu não sei se por querer brilhar no panteão do macho latino (com todas as características que lhe são inerentes) ou por uma necessidade impensada (e friso impensada porque há quem se dê verdadeiramente à morte, tendo por fito apenas sobressair entre os seus pares) de se sentir inserido num meio onde praticamente toda a gente larga uns comentários de uma forma razoavelmente inofensiva e até mesmo social.
Acontece que, quando o comentário ultrapassa as medidas que o seu produtor previu, e isto é fácil de verificar pelo ar de espanto e mutismo dos interlocutores (e eu sei porque já o vi), fica-se com a nítida noção de que já se fez asneira da grossa. E daí, há quem não se toque e prossiga. O meu conselho é o seguinte: o que se faz a dois (ou três, ou quatro, ou quantos sejam), não se conta a três (ou quatro, ou cinco, etc.) principalmente quando são temas do foro íntimo. Aos demais só me resta dizer, não sejais tão prestos a criticar os gostos dos outros, porque às vezes a vida reserva-nos surpresas e aquilo que jamais fariamos parece-nos, de repente, bastante apetecível. Além do mais, gostos são gostos, não se discutem, porventura lamentam-se.
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