Caro Paulo, imagino que este seu desabafo tenha a ver com alguns incómodos pessoais, e que nada tenha a ver com os meus últimos comentários acerca do que tem escrito acerca das presidenciais.
Entendo, no entanto, que, e pelo que tenho aqui escrito, que lhe devo adereçar pelo menos dois comentários, suscitados pela sua recente descarga emotivo-política.
Um, genérico.
Ao referir-se ao facto de ser ou não ser uma referência na blogosfera, mostrando de imediato um gráfico de auto-propaganda (muito em voga em alturas eleitorais como as de agora), está a procurar desviar-se do ponto em questão e justificar a sua «existência» e «importância» com números e desenhos. Estranho.
Não o tomava por alguém que se refugiasse na frieza dos «diagramas esquemáticos». Sempre o tomei por alguém que privilegiasse o conteúdo, não a forma.
Devo confessar que nunca esperei que se assumisse como referência, seja ela política, intelectual ou académica. Nunca o vi como tal. Vejo-o como alguém que procura pensar a política, agir sobre ela de uma forma teórica (por vezes), académica (menos) e reactiva; sempre procurando deixar bem vincado a sua independência sistémica ou partidária, justificando essa equidistância na necessidade de um «julgamento sério» do facto político em causa.
Esperava assim que acompanhasse o seu comentário diário com uma coerência e uma clarificação politica. E assim o tem feito, mais exemplo menos exemplo.
Não quero dizer com isto que as opiniões não possam ser personalizadas, que não possamos ter ódios ou paixões de estimação, que o irracional não possa irromper na análise. Nada disso. Digo sim que a coerência deve ser privilegiada. Digo que ziguezagues sobre temas tornam a linguagem e o discurso errantes, inconsistentes entre si e sem interesse.
Essa é a questão. E no tema das presidenciais você tem mostrado uma incoerência discursiva deveras estranha.
Se espera ser levado a sério, de uma forma independente e académico-teórica tem de manter uma certa credibilidade. Se espera ser levado a sério por quem o lê, o que penso ser o caso, tem de manter um capital de confiança elevado. E isso não tem feito recentemente. Admita.
O outro apontamento, especifico.
A mim não me importa, nada, em quem votará. Se em Alegre, se em Soares, Jerónimo, Louçã, Cavaco ou outro. Com toda a honestidade, estou-me nas tintas para o seu voto, para as suas atitudes pessoais. É, hoje e sempre, livre de definir pessoalmente o critério do seu votar. Este ponto é claro.
Agora, interessa-me, isso sim, é a sua atitude pública. E quando escreve num blog, público e com alguma visibilidade, você tem que assumir a responsabilidade pelo que escreve. Se por nada, pelo menos por um critério intelectual, académico e cientifico.
Assim, ao vaguear no tema das presidenciais como um vagabundo sem ideias, agarrado a números, sondagens e diagramas, apresenta-se fútil e desinteressante, afastando-se das premissas e dos critérios de independência e de cientismo que, penso eu, procura nas suas intervenções.
Neste tema das presidenciais, já o vi a apoiar Alegre, a dizer que Cavaco é que é necessário; sempre numa atitude anti-Soares. Parece-me que não tem pensamento relativamente ao tema.
É um não-argumento: votem contra Soares!
É uma postura que condeno.
Condeno-a porque não a explica; condeno-a porque é negativista e suja. Condeno-a porque é política menor, motivada por razões personalistas.
Não é esta a minha forma de estar na política, quer activa quer passiva. Não é assim que construo a minha intervenção pública. Não tomo o objecto político por absoluto, é certo; ele é criticável. Mas são necessários critérios. É necessário uma relação ética entre a política, e quem a estuda e analisa, e o político, que a exerce. E o que tem feito, neste tema, não contribui para uma este desejo.
É com sinceridade, e amizade, que lhe digo: esperava melhor de si. Não por o tomar como uma referência, mas por o tomar como um par.
Cordialmente
José Reis Santos
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