Foi somente após ter escrito este post, que me fui apercebendo que por toda a cidade estavam a ser espalhados cartazes-promessas a anunciar «projectos arquitectónicos personalizados». Em concreto refiro-me, ao que se vai anunciando em Alcântara (ali ao pé do Bingo, no final da 24 de Julho) com o projecto de Jean Nouvel. Sei, pelo que me dizem, que outros existem por aí espalhados, desde o Parque Mayer, à Encarnação e próximo do IADE (24 de Julho).
Retomo, então o debate sobre a utilização dos espaços públicos contemporâneos.
Como tinha aflorado, assistimos hoje a uma valorização excêntrica acerca do que se pode entender por «definição da nova urbanidade», no Espaço Público. Este é um ponto muito querido e polémico, e invariavelmente simboliza não só grandes investimentos financeiros, públicos e/ou privados, como manifestações estéticas, assumidas ou não, de regimes e/ou situações políticas. Vejam-se dois casos emblemáticos, ambos em Belém: o aproveitamento da Exposição do Mundo português de 1940 – Bairro do Restelo – um ex-libris do Estado Novo, e o recente CCB, o apogeu arquitectónico do cavaquismo.
Ambos os casos reflectem a clássica relação entre a Arte e o Poder.
É este o ponto, hoje, do nosso debate. E se habitualmente era relegado à Arte o lugar de parente pobre, nesta relação hierarquizada – onde era o Poder que encomendava à Arte a sua «participação» na obra, sempre mais de leitura política que artística – hoje esta relação está muito mais nivelada. Quem valoriza quem nesta relação? Ao se anunciar o nome do «Artista-arquitecto» como mais valia e dínamo do projecto a erigir (seja este projecto um bloco de apartamentos, um Museu, um Jardim ou um Aeroporto) retira-se ao promotor o Poder de liderança e de iniciativa; ou seja, perde poder o Poder. Valoriza-se o Artista, subentende-se o Político.
Ontem, a valorização da opinião poderia ser controlada por aqueles que ostentavam o Poder. Essa era a regra. Hoje, em sociedades democráticas, transparentes e com fluxos informativos livres, a formação de opinião e de taxas de aprovação obedece a linhas bem mais subtis que as manejadas por um António Ferro ou um Duarte Pacheco em acordo com um Conttinelli Telmo. Hoje a Obra a apresentar já não se justifica apenas nas «necessidades politicas ou sociais», é também justificada pelas «necessidades culturais». Estas são, hoje, bens de primeira importância política.
Cabe então ao político moderno saber explorar esses novos contornos da convivência com os novos artistas-vedetas. O problema é que essa relação pode descambar entre duas relações de «forma» em vez de «conteúdos»; ou seja, neste binómio Político-Artista em vez de um comunicação «conteúdo» / «conteúdo» termos apenas uma relação de «forma» / «forma». Essa é, e será sempre, não só desinteressante como danosa, quer financeiramente como artisticamente. O caso aqui citado, dos tais cartazes, aparenta uma clara valorização política da visibilidade dos «Artistas-Vedetas» citados – Jaen Nouvel (responsável pela recente ampliação do Museu Reina Sofia), Frank Gerry (supra-sumo da arquitectura mundial, responsável, entre outras obras, pelo Guggenheim de Bilbau) –, numa evidente tentativa de colagem do poder político promotor (a CML) a uma imagem cultural que não tem e quer promover.
Mas há uma questão anterior: que tipo de projectos estamos a promover, enquanto entidades políticas? Que benefícios trarão para o bem-estar da Cidade? Para a melhoria da sua qualidade de vida? Que contributo para a sua «urbanidade», para a sua «contemporaneidade» e «modernidade»?
Estas são as questões. Não me importa que sejam Gerrys ou Sizas a assinar. Importa-me sim o que eles vão fazer, o que vão valorizar e que conceitos criarão. Importa-me saber, como cidadão e como utilizador de «espaços públicos culturais», que tipos de políticas públicas e culturais estão a ser conceptualizadas pelos nossos poderes políticos. Afinal são esses que decidem as ordens de pagamento dos milhões de Euros envolvidos: X para o Artista, Y para o construtor, Z para...
[tema ainda a regressar…]
Retomo, então o debate sobre a utilização dos espaços públicos contemporâneos.
Como tinha aflorado, assistimos hoje a uma valorização excêntrica acerca do que se pode entender por «definição da nova urbanidade», no Espaço Público. Este é um ponto muito querido e polémico, e invariavelmente simboliza não só grandes investimentos financeiros, públicos e/ou privados, como manifestações estéticas, assumidas ou não, de regimes e/ou situações políticas. Vejam-se dois casos emblemáticos, ambos em Belém: o aproveitamento da Exposição do Mundo português de 1940 – Bairro do Restelo – um ex-libris do Estado Novo, e o recente CCB, o apogeu arquitectónico do cavaquismo.
Ambos os casos reflectem a clássica relação entre a Arte e o Poder.
É este o ponto, hoje, do nosso debate. E se habitualmente era relegado à Arte o lugar de parente pobre, nesta relação hierarquizada – onde era o Poder que encomendava à Arte a sua «participação» na obra, sempre mais de leitura política que artística – hoje esta relação está muito mais nivelada. Quem valoriza quem nesta relação? Ao se anunciar o nome do «Artista-arquitecto» como mais valia e dínamo do projecto a erigir (seja este projecto um bloco de apartamentos, um Museu, um Jardim ou um Aeroporto) retira-se ao promotor o Poder de liderança e de iniciativa; ou seja, perde poder o Poder. Valoriza-se o Artista, subentende-se o Político.
Ontem, a valorização da opinião poderia ser controlada por aqueles que ostentavam o Poder. Essa era a regra. Hoje, em sociedades democráticas, transparentes e com fluxos informativos livres, a formação de opinião e de taxas de aprovação obedece a linhas bem mais subtis que as manejadas por um António Ferro ou um Duarte Pacheco em acordo com um Conttinelli Telmo. Hoje a Obra a apresentar já não se justifica apenas nas «necessidades politicas ou sociais», é também justificada pelas «necessidades culturais». Estas são, hoje, bens de primeira importância política.
Cabe então ao político moderno saber explorar esses novos contornos da convivência com os novos artistas-vedetas. O problema é que essa relação pode descambar entre duas relações de «forma» em vez de «conteúdos»; ou seja, neste binómio Político-Artista em vez de um comunicação «conteúdo» / «conteúdo» termos apenas uma relação de «forma» / «forma». Essa é, e será sempre, não só desinteressante como danosa, quer financeiramente como artisticamente. O caso aqui citado, dos tais cartazes, aparenta uma clara valorização política da visibilidade dos «Artistas-Vedetas» citados – Jaen Nouvel (responsável pela recente ampliação do Museu Reina Sofia), Frank Gerry (supra-sumo da arquitectura mundial, responsável, entre outras obras, pelo Guggenheim de Bilbau) –, numa evidente tentativa de colagem do poder político promotor (a CML) a uma imagem cultural que não tem e quer promover.
Mas há uma questão anterior: que tipo de projectos estamos a promover, enquanto entidades políticas? Que benefícios trarão para o bem-estar da Cidade? Para a melhoria da sua qualidade de vida? Que contributo para a sua «urbanidade», para a sua «contemporaneidade» e «modernidade»?
Estas são as questões. Não me importa que sejam Gerrys ou Sizas a assinar. Importa-me sim o que eles vão fazer, o que vão valorizar e que conceitos criarão. Importa-me saber, como cidadão e como utilizador de «espaços públicos culturais», que tipos de políticas públicas e culturais estão a ser conceptualizadas pelos nossos poderes políticos. Afinal são esses que decidem as ordens de pagamento dos milhões de Euros envolvidos: X para o Artista, Y para o construtor, Z para...
[tema ainda a regressar…]
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