terça-feira, outubro 25, 2005

Praça da Figueira, c. 1900
Edição M.I.R.

«Construída em 1885, foi até à data da demolição (1949) o mercado central de Lisboa. No local, existe hoje um largo com uma estátua equestre.»

E, acrescento eu, um parque de estacionamento. Tudo sobre as ruínas do antigo Hospital de Todos-os-Santos, enterrado em 1755, no terramoto de há 250 anos.

Este antigo hospital, o principal da capital no século XVIII (e de dimensão europeia, acrescente-se), foi redescoberto aquando das escavações para o citado parque de estacionamento. Nunca foi posta a hipótese de se salvaguardar essa memória. Poucos se lembrarão do mercado da Praça da Figueira (e que bonito deveria ter sido o mercado, construído no apogeu do ferro).

Como se escolhe entre a necessidade de «evolução urbana da Cidade» com a preservação dos seus espaços públicos e colectivos. Como se escolhe entre a «memória» e a pressão urbanística?

Difícil decisão? Admito que sim.

Por onde começar a abordar esta questão?

Talvez por criar, definitivamente, uma política de património da Cidade, onde qualquer novo empreendimento, sob a malha edificada, deveria ser bem elaborado e debatido, envolvendo sociedade civil, autarquia e o sector imobiliário num tripé honesto e transparente.

Talvez por começarmos a pensar a cidade não só como uma perspectiva demagógica de Futuro mas como uma interligação entre o seu Passado e o seu Presente.

Talvez por não deixar que estes casos, como o do Parque da Praça Camões, no Bairro Alto e o da Praça da Figueira, se repitam com impunemente escondidos no obscurantismo de maquinarias silenciosas. Talvez por não deixar que se cometam verdadeiros atentados como o que se perpetra na Rua António Maria Cardoso, antiga sede da PIDE/DGS, hoje em trânsito para se transformar em mais um condomínio de luxo.

Talvez por começar por dizer NÃO!

Talvez…

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