Branco – Situação. Preto – Oposição.
Poucos resultados práticos teve este primeiro congresso, aparte de servir de base às listas da oposição em 1957, nas eleições legislativas do mesmo ano; e de ter fornecido à PIDE dados sobre potenciais novos inquilinos (e muitos viriam a sê-lo). O processo irá repetir-se em outras duas ocasiões. Uma em 1967 e 1973, em vésperas do 25 de Abril.
Nesta efeméride urge recordar que nem sempre a Liberdade está assegurada, no que designamos de regimes políticos.
Hoje já não nos lembramos o que era viver sem ser em liberdade.
Hoje já não nos lembramos que Portugal já foi Birmânia.
Todos os dias experimentamos diversos quotidianos de liberdade: Uma imprensa livre, a possibilidade de exprimir e divulgar ideias próprias, sem que para isso se tenha de jurar fidelidade a um qualquer tipo de organização política.
Hoje temos o direito de votar livremente, de apresentarmos candidaturas, de organizarmos campanhas eleitorais de esclarecimento político.
Hoje temos a liberdade de podermos escolher os caminhos da nossa definição individual, do ponto de vista cultural, político, religioso, sexual, ou o que quer que seja. Hoje podemos ser.
Hoje já não nos lembramos o que era viver sem ser em liberdade.
Hoje já não nos lembramos que Portugal já foi Birmânia.
E a Birmânia ainda existe.
Deixo a memória e a notícia que o PS Lumiar publica.
Aveiro vai assinalar no dia 06 de Outubro, sob a égide do governo civil, a passagem dos 50 anos sobre a realização do I Congresso Republicano que reuniu os opositores ao Estado Novo.
Segundo o governador civil de Aveiro, Filipe Neto Brandão, que sublinha a importância de que revestiu o histórico congresso, «como elemento congregador da evocação do ideário republicano, fundador da modernidade social, política e cultural», as comemorações vão decorrer no mesmo local, o Teatro Aveirense, e serão inspiradas no programa de 1957.
Será também um momento para evocar a memória das personalidades que se constituíram em comissão organizadora do primeiro dos três congressos republicanos: Mário Sacramento, João Sarabando, João Seiça Neves, Manuel das Neves, Armando Seabra, Costa e Melo, Joaquim José Santana, Alfredo Coelho de Magalhães, Horácio Briosa e Gala e Álvaro Seiça Neves.
Figura incontornável dos acontecimentos da época foi também o então governador civil, Vale Guimarães, que sendo um homem comprometido com o Estado Novo, ousou autorizar a realização do congresso em Aveiro e, ao contrário de outros governadores, defendia que o regime não precisava de «chapeladas e da viciação eleitoral».
O regime acabou por substitui-lo, mas voltou ao cargo com Marcelo Caetano, o que viabilizou a realização, também em Aveiro, do III Congresso, o da Oposição Democrática, em 1973, precursor do 25 de Abril.
Em relação ao primeiro congresso, comenta Filipe Neto Brandão, «não pode deixar de ser particularmente tocante para todos os que apreciam a liberdade, saber que em 1957, numa cidade de província, em pleno Portugal amordaçado e bafiento, este tenha terminado, segundo os relatos da época, com os presentes repetindo vivas à República e à Liberdade e entoando, de pé, “A Portuguesa”».
«Foi a partir de Aveiro que o propósito de liberdade, democracia e cidadania, encontrou um tronco comum, que veio a culminar no 25 de Abril e nesse primeiro congresso os republicanos reencontraram-se na pureza do seu ideário fundador», explica o actual governador civil.
O programa que está a ser delineado para as comemorações vai estar centrado no Teatro Aveirense, com a realização de uma sessão evocativa, na manhã do dia 06 e, à noite, um concerto pela Filarmónica das Beiras com Mário Laginha e Bernardo Sassetti.
No mesmo espaço vai estar patente uma exposição de material alusivo à época, com um espólio constituído por fotografias, manuscritos e recortes de imprensa.
A efeméride será ainda assinalada pela cedência pelo Estado ao Município da peça «Liberdade», de Vieira da Silva, que integra a colecção de arte contemporânea.
Diário Digital/Lusa
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