quarta-feira, setembro 17, 2008

Quem é que anda a brincar com quem?

Ana,
Desculpa mas, apesar de entender a tua indignação, não concordo coloques no PS a responsabilidade total relativamente à questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Recordo-te que recentemente o líder parlamentar, Alberto Martins, reconheceu a importância do tema e pré-agendou-a para a próxima legislatura. Além dele, têm sido vários os dirigentes (quer do PS quer da JS e de outras estruturas do PS - como os PES Activists Portugal) que se tem manifestado de acordo com a alteração legal que impede o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Sempre na próxima legislatura (e de preferência com um debate alargado sobre o tema, debate que inclua também outros assuntos relacionados, como a questão da adopção, da doação do sangue, entre outras).
Neste cenário, julgo ser evidente que a intenção socialista é de resolver com um consenso alargado a questão, repito, na próxima legislatura. Acho sinceramente que todos já o tínhamos percebido.
O recente agenciamento do Bloco de Esquerda, perante estes factos, só pode ser entendido como uma jogada política para ficar com os louros (políticos) de uma votação positiva ou de culpar o PS pelo chumbo da proposta (como, como se vê, já está a acontecer). É, realmente, uma jogada inteligente do BE, pois é uma situação win-win (ganha sempre). Claro que às despesas de quem quer verdadeiramente alterar a lei, que são os milhares de homens e mulheres que querem que o seu amor por alguém do seu sexo tenha a mesma dignidade legal que o de entre sexos diferentes.
O problema Ana é que o BE sabia que o PS ai chumbar esta proposta, daí esta jogada ser apenas táctica, e não efectiva. Ou seja, o BE sabia - e sabe - que o único resultado é o chumbo e apenas procura culpabilizar o PS e colocar-se como o único defensor dos direitos LGBT (realidade que não corresponde - de todo - à verdade, como sabes). Claro que quem saí exposto e prejudicado são todos os casais homossexuais, que são apresentados – uma vez mais – como peças de um jogo político que não querem jogar (pois o que querem é poder casar, e adoptar, e dar sangue, etc) e vêem ser adiada a resolução desta questão.
Agora questiono: que mal viria ao mundo da política se o BE tivesse esperado pela próxima legislatura para, com o PS, apresentar uma proposta? Se a vontade é de que o problema seja resolvido, porque não esperar pela proposta do PS, prometida para a próxima legislatura?
Eu até arrisco uma resposta: é porque ao BE o interesse não é resolver a situação, ou aprovar a sua proposta. O interesse do BE é fazer política com o tema LGBT, apresentar-se como seu principal paladino e, no caminho, causar mossa no PS.
Mais, estou certo que esta questão será resolvida por proposta do PS, a apresentar e ser aprovada na próxima legislatura. Estou certo também que é intenção do PS que a solução a encontrar seja produto de um debate alargado que envolva a sociedade parlamentar e civil. Porque esta é a forma de trabalhar estes temas. Tratá-los com importância social e nacional. Nunca partidária, e nunca exclusivamente política.
Quem é que afinal anda a brincar?

Sem comentários:

Pesquisar neste blogue