terça-feira, setembro 09, 2008

Angola - Uma segunda opinião

Recebi, de fonte segura, este texto de Luanda. O autor do texto é um Sul-Africano, dos Serviços Sul Africanos (infelizmente não identificado).


A fraude foi massiva.

As informações de Luanda referem que em quase todos os municípios da cidade a fraude foi montada através de um expediente que conseguiu neutralizar os Gabinetes Municipais Eleitorais que passaram a ser influenciados por agentes do Sinfo, das administrações locais, agentes da DNIC e dos comités locais do MPLA, que ao terem sido credenciados tanto para funções de logística como para as de direcção das Assembleia de voto, vieram a ocupar o lugar dos membros das mesas previamente preparados pela CNE. É este expediente que permitiu deixar de fora os milhares de jovens de Luanda que se foram manifestando junto das estruturas da CNE nos municípios, na fase preparatória das eleições, numa tentativa de serem colocados nos seus postos. Aquele corpo de agentes que dominou os Gabinetes Eleitorais dos municípios), desarticulou todo o sistema, utilizando a simulação da rotura de boletins e influenciando directamente os eleitores, já que controlaram a maior parte das mesas. No caos criado ergueram o reino da fraude que o petróleo ajuda a esconder, com o silêncio da observação internacional.
A rotura no stock dos boletins de voto foi uma simulação para permitir a votação selectiva de apenas alguns eleitores previstos e arrastar a contagem dos votos para a noite, tal como já ocorreu em eleições de 1992, referiram fontes da oposição (FPD), que adiantam ainda que se tal facto não foi deliberado, certamente que a CNE processará a empresa responsável pela distribuição, o que servirá para provar que o MPLA nada teve a ver com o caso. Mas tal não vai acontecer, acrescentam as fontes.
Por seu turno, de outras fontes soube-se que as assembleias de voto reabastecidas, com boletins adicionais, foram criteriosamente seleccionadas e foram, em regra, as que poderiam ser visitadas pelos observadores internacionais, sobretudo, localizadas no casco urbano ou em zonas de claro apoio ao MPLA. Nas zonas pobres e mais populosas, e em todos os diversos feudos de apoio a oposição, todas interromperam a operação por falta de boletins, havendo perto de 500 assembleias de votação que não funcionaram. A CNE apenas referiu-se a cerca de 320 que não funcionaram.
Após o encerramento das urnas, cerca das 19:00 de 05 de Setembro, por falta de iluminação, propositada ou não, as urnas, em muitos casos, foram movimentadas para outros locais onde foram contados os votos, havendo casos em que se usaram expedientes para iludir ou mesmo afastar os delegados de lista, particularmente da Unita e de outros partidos como o PR S e o PDPANA. Temos relatos de que a UNITA tem neste momento três delegados de lista desaparecidos. Os outros partidos também se queixaram em vários pontos, de práticas ilícitas em várias assembleias.
Populares no Bairro da Petrangol viram urnas a serem enchidas com boletins ,na noite do dia 05, por cima de uma carrinha Toyota Hilux, idêntica a utilizada pela Valley Soft, no reabastecimento das A.V. em boletins.
Na manha de sábado chegaram relatos a Luanda de que no Município de Lukapa, os antigos postos administrativos de Lovua e Luange hoje chamados de comunas, as populações antes controladas pela UNITA e aldeias com forte apoio do PRS, não viram instalada uma única Assembleias de voto na sua área. (Lembra-se que uma comuna é o equivalente a uma Freguesia, em Portugal.
No Município do Lukapa desapareceram os materiais de votação. Uma série de boletins de voto foram encontrados em casa de uma autoridade tradicional. As cópias das actas distribuídas aos partidos, apareceram com escrituras indecifráveis e ninguém consegue adivinhar o que nelas estava escrito. O mais desolador para os que se revelam lesados é a presença irrelevante da Comunidade Europeia com uma viatura e dois elementos, que se recusaram a recolher as evidências no Lukapa, pois as irregularidades são, segundo relatos vários, mais do que evidentes.
Quanto a votação de sábado:
Alguns partidos referem que os órgãos eleitorais dos municípios não têm capacidade de gerir a continuidade da votação em todas zonas, prevista para este sábado, nem humana nem material, e nem eles próprios, os partidos, sabem ao certo onde tais assembleias foram posicionadas, para além de os seus delegados estarem fisicamente exaustos.
Seja como for, a desorganização continuou, no que se refere a falta dos materiais e até as 16:00, apenas cerca de 100 Assembleias de Voto estavam activas, de entre as mais de 350 Assembleias de Voto não activadas no dia 05.07.08. Esta tarde, fontes bem posicionadas, referiram que a CNE tinha sido golpeada, e de facto foram vistos os Generais José Maria e Veríssimo a visitarem várias Assembleias e naquelas onde houve rotura de boletins e alimentos, providenciaram o seu rápido abastecimento, por telemóvel.
Segundo os brigadistas a contagem será mais uma vez nocturna e possivelmente por falta de iluminação algumas urnas serão deslocadas para locais mais seguros para contagem.
Os brigadistas confirmaram que a distribuição dos boletins pelas assembleias envolve apenas, a polícia, funcionários da Comissão Executiva para o Registo, órgão do Ministério da Administração do Território e a empresa ValleySoft, estando a CNE excluída. Não foi por acaso que foi imposta a CNE a escolha desta empresa, refere fonte da oposição. Há evidências da ligação da Valley Soft, aos serviços secretos, pois no dia do escrutínio, a logística eleitoral ficou sob o controlo de oficiais do Sinfo, tendo sido referidos nomes como o de Ricardo Jorge e Noé, operando e gerindo os armazéns da CNE nos terminais portuários e aeroportuários integrados na ValleySoft de onde partiam os boletins adicionais distribuídos aleatoriamente pelas Assembleias de voto em Luanda.
Membros da sociedade civil já tinham previsto o envolvimento de vários órgãos nas eleições, mas não na magnitude da evidenciada agora.
Toda a operação foi gerida por Kopelipa que na fase terminal do processo , convocava e reunia, regularmente, com um grupo formado por Caetano de Sousa, o ministro do interior, e altas figuras do MPLA, como por exemplo o seu Vice Presidente, que também estava envolvido.
Nas Províncias, a estrutura de controlo e indução do voto é comandada pelo SINFO, DNIC, e administradores locais e reproduziu-se até as comunas, utilizando o mesmo esquema com a conivência de alguns quadros do Mpla integrados na CNE. Nas aldeias com o aumento do salário dos sobas já tudo estava gizado, com maior pressão sobre a população nos antigos territórios da Unita, enquanto rebelde, no centro e sul, onde o voto foi claramente induzido segundo oficiais da Unita.
O MPLA foi movendo uma campanha por uma maioria expressiva, tanto em Angola como cá fora, ao que se pensa confiante na máquina poderosa que construiu para comandar as eleições. Os municípios foram todos tomados pelos agentes do governo em conluio com a esmagadora maioria dos membros de que dispõe o MPLA na estrutura da CNE, Comissão Nacional Eleitoral, de topo a base, referem fontes da oposição.
Em Angola, o MPLA envolveu na campanha de sensibilização da opinião pública para a aceitação de um resultado exagerado, toda a média estatal, em regime de exclusividade, docentes universitários, ONGs criadas por si, a montagem de grandes cenários de propaganda e sua repetição incontida nos médias e com algumas obras conseguiu o silêncio da igreja, etc. Alguns Clérigos católicos e a quase generalidade de pastores protestantes foram induzidos. Tudo foi sendo feito, como se constata agora, para preparar toda a opinião para a aceitação de um resultado eleitoral que de certeza não reflectirá, nem por aproximação, o sentimento real dos eleitores. Tal resultado reflectira sim, e apenas, a desproporção dos meios do estado que os concorrentes tiveram.
A verdade sobre esta eleição, pé apenas conhecida dos angolanos.
Infelizmente muitos deles até a morte não irão conta-la, por terem sido embarcados numa eleição para consagrar uma ditadura de partido único, o que pode ser confirmado a breve trecho, mas apenas, pelos homens de boa vontade. Referiu um Clérigo Católico que pediu anonimato, acrescentando que ninguém embarca numa loucura destas sem garantir o silêncio das grandes potências, nesta fase.
Não fica excluída a possibilidade de o resultado, em si, servir de uma provocação que leve aos que reagirem a serem abafados por medidas mais enérgicas e domesticar a oposição. È que como a lógica é a de que tudo vale quando a questão é manter o poder, a oposição tem que ser muito cuidadosa, referiu um empresário local.
-O que me parece é que a prioridade é governar sem preocupações com críticas incómodas já quase silenciadas no exterior com a posição petrolífera e garantir as eleições presidências sem grandes sustos.
São as presidenciais que se pretendem garantir a partida o que justifica os meios.
Ficou também a impressão que o poder em África não se compadece com as credencias de transparência em eleições, como são raros os exemplos.
Alias, mesmo esta tão escassa observação internacional, pelo petróleo não se atreverá em apontar o dedo ao Governo. Agora que foi uma bagunça isso foi. Só não viu quem não quer ver. Muito povo não votou.
Rematou o empresário.

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