quarta-feira, setembro 24, 2008

Maria Keil e o Metropolitano – Um esclarecimento necessário


A blogosfera por vezes tem destas coisas. Boas intenções são deturpadas e as suas consequências imparáveis. Parece que este texto d'As causas de Júlia (que conhecemos aqui) causou tanta confusão na blogosfera que muitos (nós inclusive) pensámos que se estava hoje a destruir a obra da Maria Keil no Metropolitano de Lisboa. Afinal nada disso é verdade, a destruição ocorreu há mais de 10 anos, e quer este Governo, quer a Câmara Municipal de Lisboa, quer a Administração do Metro de Lisboa ou mesmo o Ministério das Obras Públicas nada tem a ver com o caso.
Publicamos a resposta colocada n'As causas de Júlia na íntegra porque nos sentimos - indirectamente - responsáveis pela dimensão da situação criada, pois aqui mostrámos a nossa indignação ao que pensámos ser um atentado à memória e aqui solicitámos que subscrevessem a petição entretanto colocada online.
Deixamos o texto:

Um texto despretensioso deste blog acabou por dar origem a um autêntico furacão internético, e está a provocar algumas dores de cabeça à autora e aos visados. Peço, por isso, a vossa atenção para o esclarecimento que se segue.
Tudo começou com um apontamento breve inscrito neste blog a propósito dos 94 anos de Maria Keil no dia 9 de Agosto. De passagem, lembrei a história dos painéis que a Maria fez para o Metropolitano de Lisboa entre finais dos anos 50 e inicio dos 70 e que, aquando das obras de ampliação do metro, nos anos subsequentes foram parcialmente destruídos – tendo a estação dos Restauradores sido a mais afectada, acabando a obra de Maria Keil naquela estação por ficar completamente destruída; mas a celeuma na altura foi tanta e a Maria insurgiu-se de tal forma, que fez com que a administração do Metropolitano repensasse os processos da renovação que estava a ser efectuada, voltando atrás e acabando mesmo por encomendar à artista uma das novas estações, precisamente aquela que está há anos para ser inaugurada, a estação de São Sebastião, e que Maria Keil tem pronta, prevendo-se que o seja em 2009 aquando dos 50 anos do Metropolitano.
A verdade é que o assunto foi sanado e ultrapassado, até pela própria autora, e a referência que lhe fiz neste blog, nomeadamente com a transcrição de parte substancial da entrevista dada por Maria Keil a António Melo, em 1999, pretendia apenas lembrar esse episódio lamentável, sem quaisquer outras motivações nem acusações a ninguém.
Acontece que a chamada blogosfera é um meio de comunicação particularmente propício a leituras apressadas e frequentemente incorrectas da realidade. E a internet, pela capacidade de difusão rápida que permite, torna-se muitas vezes veículo, mesmo que involuntário, de meias verdades que a seguir se transformam em pequenas mentiras, as quais por sua vez degeneram não raras vezes em verdadeiras calúnias.
Foi mais ou menos isto que se passou com esta história. A partir deste apontamento, o assunto voltou a ser abordado, de forma mais contundente, no blog do Samuel, que na altura saudei, o qual foi por sua vez citado em numerosos outros espaços, com mais um ou outro pormenor, uma ou outra acusação.
A partir daqui gerou-se uma autêntica bola de neve que culminou com a criação, no blog de uma indignada “petição online” (que reproduz, no essencial, o texto do blog de Samuel) onde se exorta “o Conselho de Gerência do Metropolitano de Lisboa a, rapidamente, diligenciar obter os desenhos dos painéis destruídos e mandar executar, à empresa que produziu (a Viúva Lamego) novos painéis”.
Pelo meio ficam prosas para todos os gostos, umas a pedirem que o Ministro da Cultura se retrate, outras a pedirem explicações à administração do Metro, todas a dizerem mal do actual Governo e/ou da Câmara Municipal. Até Manuel António Pina embarcou na onda e escreveu uma crónica, com a qualidade irrepreensível que o caracteriza, clamando contra os “responsáveis”.
Tudo isto porque alguém tresleu as minhas palavras e catapultou para a ribalta, eventualmente com boa intenção, uma guerra que não existe – mas que, naturalmente, está a incomodar profundamente a Maria Keil. Porque é óbvio que nem o actual governo nem a administração em exercício do Metropolitano têm qualquer coisa a ver com o assunto (as obras em causa têm mais de dez anos!) e em parte alguma do texto que, involuntariamente, originou esta “tempestade” se diz que “no Metropolitano de Lisboa há juristas muito bons, que descobriram não ser obrigatório pedir nada, nem indemnizar a autora, exactamente porque ela não cobrou um tostão que fosse pela sua obra”. Essa foi, precisamente, uma leitura (extemporânea) do Samuel, e que acabou por funcionar como o fósforo que ateou a fogueira – acabando o fogo por se estender à imensa floresta dos blogs!
Há com certeza muitos motivos para discordar das políticas do governo e criticar o primeiro-ministro José Sócrates. Mas este não é, em definitivo, um deles. E só por desatenção, má fé ou desonestidade intelectual poderemos continuar a alimentar esta guerra sem sentido. Daí o meu apelo a que, de uma vez por todas, se ponha cobro a este lamentável episódio. De que, pela parte que me toca, desde já me penitencio. Mas que pode ter, pelo menos, a vantagem de nos levar a reflectir sobre o peso das palavras mal interpretadas e sobre as consequências de uma leitura apressada ou negligente daquilo que nos aparece no espaço virtual.
Desde já, as minhas desculpas públicas a Maria Keil.
Chamo a atenção para uma entrevista recente da autora, sobre o assunto.

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