Li, com atenção, a resposta do João Ribeiro e do João Boavida a este texto sobre o estado das secções do PS (em Lisboa), que merecem algumas reflexões, sobre a forma e o conteúdo de algumas ideias e/ou propostas que ficaram em cima da mesa.
1. Em primeiro lugar a forma.
Referi, meramente a título de exemplo, a possibilidade de Lisboa poder ter apenas 5 secções na sua área política, cada uma com 1000 militantes. Porquê? Porque uma secção com 1000 militantes consegue cativar uma dimensão humana e financeira de algum interesse, coisa que secções abaixo dos 300 militantes não conseguem. Assim, já seriam interessantes os recursos gerados, possibilitando às secções uma intervenção (publica e partidária) bem mais diversificada que a que geralmente tem tido. Claro que podemos falar de apenas secções, com 1250 militantes, uma vez que associado a esta proposta está uma ideia para a cidade de Lisboa, que não deve andar muito longe de quatro / cinco grandes zonas administrativas (ver os quatro Bairros Administrativos do Estado Novo no fim do texto).
Defendo ainda que estas secções deveriam existir em espaço físico, procurando no entanto que as novas (ou renovadas) sedes do Partido assumam uma nova forma de relacionamento entre o Partido e os cidadãos, estilo «Espaço PS», onde possam existir bibliotecas, centros de documentação, material político diverso, computadores de acesso público, salas para colóquios, exposições, debates, etc. Ou seja, toda a dinâmica Secção-Partido-Sociedade tem / deve ser reequacionada.
2. O conteúdo
Parece-me que quer João Boavida e o João Ribeiro percebem que o estado do Partido justifica algumas preocupações. Afinal, julgo, estamos - no PS - a atingir níveis de militância interna que justificam uma intervenção da cúpula. Isto porque não julgo que sejam as secções capazes de iniciar o processo de reorganização desejado.
Entendo a ideia vanguardista do João Ribeiro, não sei é se ela se adequa ao Partido Socialista, até porque os partidos de vanguarda são, por definição geral, elitistas e endógenos; enquanto o PS é, sempre foi, interclassista e politicamente plural. Dizia uma amiga, em conversa recente, que o Partido se encontra hoje entre a Filet Mignon e a Sardinha, simbolizando esses extremos a diversidade do próprio partido, e uma das razões para a dificuldade de operação de qualquer mudança.
O João Ribeiro refere ainda a pouca valorização que o Partido dá aos seus militantes, avaliação correcta, na generalidade; mas o problema não está na forma do Partido se organizar, antes pela capacidade mobilizadora dos seus diversos dirigentes eleitos.
Lembro ao João, que decerto não terá tomado conhecimento, que o projecto dos PES Activists Portugal, organizou recentemente um processo de consulta aberta dentro do Partido Socialista (e na sociedade civil próxima) para a apresentação de propostas para o Manifesto eleitoral que o PES (Partido Socialista Europeu) irá propor para as próximas eleições europeias. No decurso dessa iniciativa foram organizadas quatro conferências, descentralizadas (todas gravadas e online, e que podem ser vistas aqui), que contaram com a presença de diversos especialistas nas quatro áreas de trabalho (Europa e o Mundo, Democracia e Diversidade, Nova Europa Social, Nova Agenda Verde). Foram também contactados os militantes do Partido, que foram convidados a opinar sobre esses temas e também foram desafiadas diversas estruturas socialistas (a JS, o Departamento das Mulheres, o Grupo Parlamentar, o Governo, os EuroDeputados, as Federações envolvidas) e os resultados - na nossa opinião - foram fantásticos. Tivemos mais de 60 contribuições, entre militantes de base, deputados, Ministros e Secretários de Estado, Eurodeputados, assessores, adjuntos, anónimos, etc. O resultado final foi um pequeno documento que apresentava propostas concretas nas 4 áreas escolhidas (e que pode ser consultado aqui).
Regressarei ao tema. Deixo os quatro Bairros Administrativos do Estado Novo:
1.º Bairro - Anjos, Castelo, Coração de Jesus, Encarnação, Graça, Madalena, Mártires, Mercês, Pena, Sacramento, Santa Catarina, Santa Engrácia, Santa Justa, Santiago, Santo Estêvão, S. Cristóvão e S. Lourenço, S. José, S. Mamede, S. Miguel, S. Nicolau, S. Paulo, S. Vicente de Fora, Sé e Socorro;
2.º Bairro - Ajuda, Alcântara, Lapa, Prazeres, Santa Isabel, Santa Maria de Belém, Santo Condestável, Santos-o-Velho e S. Francisco Xavier;
3.º Bairro - Alvalade, Ameixoeira, Benfica, Campo Grande, Campolide, Carnide, Charneca, Lumiar, Nossa Senhora de Fátima, S. Domingos de Benfica, S. João de Brito e S. Sebastião da Pedreira;
4.º Bairro - Alto do Pina, Beato, Marvila, Penha de França, Santa Maria dos Olivais, S. João, S. João de Deus e S. Jorge de Arroios.
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