segunda-feira, novembro 05, 2007

Porque não há uma ala crítica no PS?


Porque não há uma ala crítica no PS
Hoje o
Público insere um trabalho da jornalista São José Almeida sobre o desaparecimento da ala esquerda no PS.

Fui devidamente contactado, mas por me estar a dedicar a outras cogitações, apenas respondi por telefone. Ora recebi durante o dia várias chamadas que me davam conta de alguma perplexidade com essas declarações que reduziriam excessivamente a questão ao aparecimento da candidatura presidencial de Manuel Alegre.

O que penso então, sucintamente, desse apagamento das posições críticas dentro do PS?Em primeiro lugar, já na elaboração das listas para deputados José Sócrates tinha testado a fortaleza do grupo de críticos eliminando alguns a preceito e cooptando outros;

Em segundo lugar, o facto do PS ter alcançado uma maioria absoluta original criou um ambiente interno de grande expectativa e reconhecimento;

Em terceiro lugar, as forças que tinham levado às eleições antecipadas ampararam-se do palco público e apresentaram, com uma panóplia vasta de meios internos e externos, um plano financeiro imperativo e restritivo como há muito não acontecia;

Em quarto lugar, as eleições presidenciais desenrolaram-se num quadro de divisão das esquerdas com Manuel Alegre a empurrar Mário Soares, que vinha de uma vigorosa trajectória de esquerda, para o papel forçado de candidato oficial do socratismo;

Em quinto lugar, Alegre jamais soube o que fazer com a sua candidatura e muito menos com o milhão de votos que alcançou, circunstâncialmente ou não, empatando uma reoganização do espaço político da esquerda até hoje, uma atitude que ainda lhe pode valer a candidatura oficial pelo PS em 2010, caso Cavaco Silva esteja em boa forma;

Em sexto lugar, Sócrates , que não dorme em serviço , convenceu Alberto Martins a aceitar ser líder parlamentar na fase mais ingrata da produção legislativa contra o edifício frágil da segurança social, e continuou a afastar do parlamento outras vozes mais livres como João Cravinho ou o adiado Manuel Maria Carrilho;

Em sétimo lugar, o poder pessoal de José Sócrates crescia no país , apoiado por uma silenciosa direita social e perante a expectativa dos militantes do PS mais preocupados com a trajectória futura do partido depois desta experiência sui-generis.

Muito dificilmente sairá de dentro do PS o primeiro cartão amarelo a José Sócrates.

Só Mário Soares o poderia fazer e numa circunstância extrema.

Desta vez fui claro?

José Medeiros Ferreira



Caro Medeiros Ferreira


Deixe-me começar por dizer que sou membro do Partido Socialista, activo, e expresso livremente as minhas opiniões dentro das estruturas do Partido.

Com o respeito que merece, que sabe que é muito, acha que deve de ser o partido do governo a promover a oposição aberta a esse mesmo governo? Ou pelo contrário este deve mostrar-se solidário e apoiante? Isto não quer dizer, no entanto, que uma atitude crítica não se desenvolva no seio das suas diversas instituições, muito pelo contrário.

Sou da opinião que se soubermos desenvolver um criticismo construtivo dentro da estrutura estaremos mais bem preparados para os desafios que lá fora nos são colocados. E sobre este tema parece-me que algumas estruturas têm vindo a desenvolver bons debates sobre temas mais ou menos polémicos. É pena que estas iniciativas não encontrem eco nas notícias dedicadas à política como as que apenas se preocupam em criar ruído e crítica fácil.

Concerteza estará de acordo comigo, caro Medeiros Ferreira, que não será somente nos jornais e nas revistas que se deve «fazer política»? Se assim fosse, os partidos não seriam mais do que agências de comunicação, marketing e de emprego. A ser assim, mais valia acabarmos com estas estruturas, os partidos políticos; e avançarmos para instituições eleitorais mecânicas e robotizadas.

Essa ideia de que no Partido Socialista não existe o debate de ideias e um trabalho diário de reflexão e de construção de políticas alternativas é errada. É um trabalho por vezes subterrâneo e de pouca visibilidade, é verdade; e produzido por novos intervenientes e actores sem grande vontade de exposição.

Mas a política não pode ser feita só por vedetas. Não é isso que decerto defende, caro Medeiros. Nem pode ser reduzida ao que passa pelo crivo dos media, pois esse é medido por uma bitola na qual não me revejo de todo, nem julgo que o Partido se deva reger por: o sensacionalismo puro, o alarmismo constante, a provocação barata, a polémica de encomenda e a exaltação do negativo e do mau exemplo.

Posso, quando quiser, dar-lhe dezenas de bons exemplos do que de bom se faz em política, no seio do Partido Socialista, desde humildes Secções, a Concelhias, Federações, e à sede Nacional. Pena é que este trabalho não passe nos media de grande consumo.

Dou-lhe duas iniciativas: a próxima sessão da Comissão Política da Concelhia de Lisboa vai reunir com a vereadora da Cultura da CML: Rosália Vargas. Decerto uma boa iniciativa. Mas deixo-lhe ainda outra: o trabalho que, ao nível europeu, e nacional, o PES Activists Portugal têm desenvolvido, sempre com o apoio do Partido Socialista.

E podia dar-lhe mais 10 exemplos…
Vejo que temos mesmo de ir tomar o tal café…

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