O João Boavida, que tem escrito aqui e ali neste blogue (nas caixas de comentários, às vezes transposto para o corpo central) vai iniciar um periodo de «colaboração especial» com o Blogue Loja de Ideias.
Este é o seu primeiro texto.
Bem vindo Boa.
O Cartão do Cidadão
Enquanto estava a fazer a habitual troca do Público da semana passada, pelo Público desta semana (para mim o Público é um semanário, só compro quando sai o 007) o artigo sobre o Cartão do Cidadão chamou-me a atenção…
Que fique claro desde o inicio, para mim o Cartão do Cidadão não só vai aumentar a segurança dos nossos dados mas também vai facilitar a vida da maior parte dos portugueses… Ainda assim o titulo do artigo principal “Simplex ou Big Brother?” e o artigo de opinião “Eppur si muove…” de São José Almeida, dão a entender que são mais os riscos do que as virtuosidades do novo cartão, e apontam principalmente para 2 riscos, o risco do Estado abusar do seu poder e começar a cruzar dados indevidamente, e o risco de alguém usurpar a nossa identidade roubando o cartão ou usando uma máquina que clonasse o cartão. Interessante, a ideia de que os riscos vão aumentar com um novo cartão…
Em primeiro lugar, o Estado… se se põe a questão de o Estado poder livremente cruzar dados, isso realmente seria um abuso de poder, mas é por isso que foram instalados tantos controles e separações informáticas entre as bases de dados. Agora são estes controles falíveis? Sem duvida. Será que alguém pertencente ao aparelho do Estado poderia ultrapassar estes controles? Não, porque para o fazer precisaria de conhecimentos informáticos acima da média. Então e se esse alguém tivesse esses conhecimentos? Então ai sim, teria algum trabalho, mas eventualmente conseguiria ultrapassar todo o tipo de barreiras informáticas. O facto é que isso significa que, das pessoas que actualmente têm a possibilidade de fazer um cruzamento de dados ilegal, apenas 10% (estou a ser generoso) terá os conhecimentos informáticos para o fazer. Sim, porque o sistema actual é tão seguro que com um telefonema para o amigo que trabalha na Segurança Social, no Arquivo de Identificação, ou qualquer outro organismo estatal, fico a saber tudo o que o Estado sabe sobre mim! Pelo menos com um sistema informatizado é mais fácil manter um registo de todos aqueles que usam o acesso a dados pessoais para fins ilegais, e puni-los judicialmente…
Em segundo lugar, o roubar do Cartão do Cidadão… Eu normalmente ando com todos os cartões, que o Cartão do Cidadão vem substituir, na carteira, por isso é me indiferente se me roubam a carteira com um cartão ou com cinco, o resultado prático é mais ou menos o mesmo, com a diferença que o cartão de Contribuinte, e todos os cartões sem fotografia passam a ter fotografia. Agora as máquinas de clonar cartões, máquinas que conseguem aceder a um chip presente no cartão e criar uma cópia exacta, capaz de enganar todos? Isto parece-me um risco real, e eu ficaria preocupado, se não me lembrasse que, sem o chip, sem os novos elementos de segurança, a dificuldade de copiar todos os nossos cartões resume-se a… uma fotocopiadora? Algum talento no photoshop?
Talvez o medo do Cartão do Cidadão se prenda com o facto usar as novas tecnologias? O medo que existam informáticos, hackers, crianças que percebem tanto de computadores como o Bill Gates e que sejam capazes de fazer coisas que nós ainda nem sequer pensámos? O medo do desconhecido é algo sempre presente, e existem sempre Velhos do Restelo para nos alertarem dos perigos e das tormentas que se avizinham, mas nem por isso podemos parar de explorar, e de desafiar os limites do nosso quotidiano.
Toda e qualquer solução que se apresente para o Cartão do Cidadão é falível, no médio-longo prazo, e existem sempre riscos. Mas se o Cartão do Cidadão for menos falível e apresentar menos riscos do que o que existe neste momento, então é um passo na direcção certa.
Boavida
1 comentário:
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