quarta-feira, abril 01, 2009

O que está em causa

Vejo, por alguns dos escritos neste blogue (como o Pedro Oliveira, o José Manuel Faria, ou o Vasco Campilho) que tem havido alguma confusão sobre o carácter das eleições de 7 de Junho de 2009 (bem sei que outras razões justificam o menosprezo).
São, imaginava que soubessem, eleições para o Parlamento Europeu.
Quer isto dizer que se vão eleger deputados de todos os Estados-membros da União Europeia para uma instituição que hoje tem uma importância decisiva nos desígnios europeus e, naturalmente, nos nacionais. Esta instituição é o Parlamento Europeu. Europeu, repito, e não nacional.
E, ao contrário do que alguns espíritos nacionalistas apregoam, a verdade é que a Europa política já existe hoje. É verdade que o desenvolvimento partidário europeu encontra-se ainda muito desnivelado. Há partidos que «não existem» (como o GUE), ou que são mantas de retalhos (PPE). O único Partido Político Europeu minimamente consistente, coerente e progressista é o Partido Socialista Europeu.
E o que tem feito nos últimos anos é verdadeiramente espectacular e tem de ser mais divulgado.
Ao nível legislativo (europeu), tem combatido, acerrimamente, as políticas neoliberais da direita, defendido os direitos dos trabalhadores europeus e procurado apresentar e desenvolver mais e melhores políticas de protecção social.
Ao nível da preparação e apresentação de propostas progressistas concretas, desenvolveu este manifesto político desenvolvido para que se perceba que as novas respostas para a Europa, que a nova direcção que se deseja para as políticas europeias, são defendidas no seio da família socialista progressista.
Por fim, e para aqueles que se questionam acerca do afastamento das pessoas, dos cidadãos comuns da dimensão europeia da política, é muito interessante observar o que o Partido Socialista Europeu tem feito e promovido ao nível da militância e do envolvimento dos cidadãos europeus nos seus processos de decisão política. O que o PES promoveu em torno da construção do seu manifesto político foi um sucesso.
De toda a Europa choveram ideias, propostas e contributos. De partidos políticos, sindicatos, organizações não governamentais, activistas, de universidades, de todo o lado. Este processo dinâmico e interactivo, totalmente inédito ao nível europeu, provou que (1) é possível envolver diversas camadas do mundo da política e fazer a ponte entre a sociedade civil, a sociedade política e a sociedade académica, (2) que é possível construir conteúdo político com o contributo qualificado destes actores e (3) que é possível respeitar e aceitar a ideias e os comentários de um alargado número de actores, saindo da tradicional visão reducionista e elitista que marca, infelizmente, a construção do conteúdo político contemporâneo.
Portugal, naturalmente, não se ausentou deste debate, e o Partido Socialista e o PES activists Portugal promoveram um alargado debate, envolvendo Universidades, Sindicatos, Juventude Socialista, Departamento das Mulheres Socialistas, Deputados, Eurodeputados, Ministros, activistas, militantes de base e outros (tema a regressar em breve – podem, entretanto, ir vendo o site que construímos e as propostas que apresentámos).
Os socialistas europeus tem assim demonstrado que é possível fazer política com e para as pessoas; que é possível construir um debate construtivo e progressista eficaz com o envolvimento de peritos, académicos, políticos, ministros, deputados, militantes, sindicalistas e de quem queira participar – de forma construtiva – no debate.
Espero que o debate político em torno destas eleições europeias reflicta esta realidade e que dê oportunidade aos eleitores portugueses e europeus de conhecerem as propostas dos diferentes actores políticos em contenda; e que estas propostas sejam apresentadas no seu verdadeiro contexto – no contexto europeu.
E aí, sinceramente, e se se quiser dar um novo rumo à Europa, só há um voto eficaz: o nos Partidos Socialistas, Sociais-democratas e Trabalhistas europeus.

14 comentários:

Vera Santana disse...

100% de acordo!

Afonso disse...

Ou seja, votar naqueles que adoptaram o neoliberalismo económico e social nos últimos 15 a 20 anos e que deu naquilo que está à vista, por favor, a EUROPA necessita de mudança, mudança de actos e actores, e não é mudar de "actos" com os mesmos actores, porque eles não conseguem mudar tanto.

Vera Santana disse...

Afonso,

Não o conheço. Faço apenas uma pergunta: o Parlamento Europeu tem uma maioria socialista?

Afonso disse...

Cingi-me a comentar a posta que termina com o ultimo paragrafo que diz:

E aí, sinceramente, e se se quiser dar um novo rumo à Europa, só há um voto eficaz: o nos Partidos Socialistas, Sociais-democratas e Trabalhistas europeus.

José Reis Santos disse...

Vera:
a primeira força parlamentar no PE é o PPE (os conservadores), que se aliam aos liberais. O PSE é a segunda força.

Afonso:
pelo que acima digo à vera, está a entender a necessidade da mudança. Sao as forças neo-liberais da direita europeia quem tem dominado a politica de uniao. É necessario uma mudança. De esquerda. Da esquerda progressita apresentada pelo Partido Socialista Europeu.

Afonso disse...

José Reis

Sócrates e Brown progressistas?

ainda à meia dúzia de meses atrás defendiam as politicas económicas neoliberais, defendiam o mercado como único regulador económico e agora vem falar em progressistas?

Desculpe que lhe diga mas entre o PS e o PSD que diferenças existem?
possivelmente as mesmas que existem no PE entre o PPE e o PSE.....nenhumas.

Pedro Cardoso disse...

Afonso

As diferenças que existem entre PPE e PSE são maiores do que aquelas que existem entre PS e PSD. E elas fazem a diferença.

Nestas eleições europeias o voto é para o Parlamento Europeu e estamos indirectamente a escolher uma maioria PSE ou PPE, não estamos a avaliar o governo Sócrates ou o governo Brown.

Vera Santana disse...

Zé,

Claro que tu sabias à resposta à minha pergunta, tal como eu a sabia. Como a sabe quem está interessado/a numa Europa em construção, com gente lá dentro.

Afonso,

Duvido que soubesse a resposta. Há um mau hábito português de dizer "eles em Bruxelas" . . . sem qualquer análise sobre quem são "eles". São "eles" i.e os maus. Ponto final. O poder é mau porque é poder. É objecto de resmungação permanente e indiscriminada. Fin de partie.

Se quer continuar a ser liderado pelos mesmos, então não vote ou vote PSD ou CDS (embora me pareçam ser partidos esvaziados) ou o que lhe der na real gana (aliás Afonso é nome de Rei).

Também pode optar por esperar pela revolução do proletariado preconizada por Marx . . .

Entretanto pode ler o manifesto do PSE, para ver as propostas. E, se encontrar um manifesto do PPE ou algo que com um manifesto se pareça, agradeço que me informe.

Pedro

A actual diferença mais significativa entre o PS e o PSD é que este último está esvaziado de ideias e de pessoas.

Afonso disse...

Pedro Cardoso

Eu sei que as eleições são para O PE
não faço confusão nem voto nestas eleições para "castigar" ou "louvar" o governo, agora sei que as politicas não vão mudar, são estas e ponto, quer ganhe o PSE ou o PPE as politicas são as mesmas, é isto, as mudanças têm, ou deviam ser mais profundas, mas isso só pode acontecer com outros, repare uma coisa e voltamos a falar aqui da nossa casa, quem é que governou este pais nos últimos 35 anos? se este pais não chegou a lado nenhum de quem é a culpa? olhemos para os indicadores antes da "crise" em que lugar é que estamos? temos o ordenado mínimo mais baixo da europa, o pior índice de produtividade, o pior nível de vida, a taxa mais alta de pobres, e por ai adiante, no entanto pagamos os ordenados mais altos a administradores, temos uma das maiores diferenças entre pobres e ricos, já me esquecia mas isto tudo é culpa do povo....

Vera Santana disse...

Quando se diz "e ponto" é quando se cruzam os braços. Desistiu, Afonso? De quê? De si, do "povo" (esta "noção" é o quê, sociologicamente?) ou do País?

Eu prefiro: point, à la ligne.

Afonso disse...

Não Vera Santana vou é votar noutros.

Vera Santana disse...

Está no seu direito, Afonso (desculpe mas não me disse o seu apelido). That´s democracy, is´nt it?

Afonso disse...

Apolinário, Afonso Apolinário

Vera Santana disse...

Afonso Apolinário: muito prazer!

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