Texto de Manolo Piriz no Peão
O Carnaval brasileiro tem sua origem no Entrudo português, onde, entre os séculos 15 e 16, as pessoas encontraram uma maneira muito estranha de se divertirem. Depois de se empanturrarem de comida e bebida, jogavam umas nas outras água, ovos e farinha. Os mais agressivos e de mentes diabólicas, no entanto, iam mais além: injetavam no interior de laranjas e limões substâncias mau-cheirosas e as utilizavam como verdadeiro arsenal de “guerra” contra os mais incautos. E foi exatamente este Entrudo, com influência das festas carnavalescas da Itália e França, que desembarcou em Terras Brasilis quase dois séculos depois.
No final do século 19 e início do 20, começam aparecer no Brasil os primeiros blocos carnavalescos [1], cordões [2] e os corsos. Este último se tornou mais popular em 1907 e foi o que deu origem aos carros alegóricos dos desfiles de Carnaval. Ao contrário dos componentes dos blocos e cordões, os participantes dos corsos eram da elite econômica carioca que desfilavam em seus automóveis jogando confetes, serpentinas e esguichadas de lança-perfume (proibido na década de 1960 por ser considerado entorpecente) nos pobres mortais, que tinham como única diversão o direito de serem meros espectadores das excentricidades burguesas da época. Foi justamente deste contraste que nasce a primeira Escola de Samba [3], criada pelo sambista carioca Ismael Silva (1905 - 1978), em 1928 – a Deixa Falar, que anos mais tarde leva o nome de Estácio de Sá. A partir dai, o Carnaval de rua brasileiro começa a ter um novo formato. Surgem novas escolas no Rio de Janeiro e em São Paulo. E é este o tema de meu post. O desfile das Escolas de Samba, não só como um evento festivo, mas, acima de tudo, como manifestação artística, criada a partir da cultura popular.
Ao contrário do mau gosto e aquela coisa caótica que é o Carnaval brasileiro, o desfile das Escolas de Samba é o resultado final da eficiência, da organização e da disciplina. É, sobretudo, a maravilhosa fusão de diferentes linguagens artísticas, o que lhe dá um conceito estético bem peculiar. O desfile das Escolas de Samba se apóia no enredo e seus temas são dramatizados pelos integrantes das alas através da música (samba-enredo), dança (sambistas e passistas [4]), fantasia e carros alegóricos. Bateria, samba-enredo e harmonia são quesitos essencialmente musicais. Alegoria, fantasia e adereço pertencem à estética visual. Em outras palavras, a amálgama de todos estes elementos artísticos dão forma a um imenso teatro-visual surrealista a céu aberto. Por ser mais perceptível, o componente visual ganhou muita força no decorrer dos anos, dando à figura do carnavalesco [5] papel de relevante importância na hierarquia da escola.
Na realidade, o desfile das Escolas de Samba é uma expressão plástica tanto para quem assiste como para quem dele participa. É um turbilhão de símbolos, formas, cores e sons, que deixa fluir harmoniosamente em nosso intelecto e retinas o imaginário e o real, onde os sambistas tornam-se verdadeiras esculturas-vivas, que bailam ao ritmo da sedução e do encanto, dando aos seus corpos um intenso movimento de elegância, provocação e rara beleza. Em suma, a matéria-prima desta arte não é a tela e as tintas do pintor, nem o barro e o metal do escultor ou a palavra do poeta. A sua matéria-prima é essencialmente o ser humano. O ser humano metamórfico e efêmero que viverá em pleno êxtase por apenas 80 minutos. Depois disso, ele se desfaz.
No final do século 19 e início do 20, começam aparecer no Brasil os primeiros blocos carnavalescos [1], cordões [2] e os corsos. Este último se tornou mais popular em 1907 e foi o que deu origem aos carros alegóricos dos desfiles de Carnaval. Ao contrário dos componentes dos blocos e cordões, os participantes dos corsos eram da elite econômica carioca que desfilavam em seus automóveis jogando confetes, serpentinas e esguichadas de lança-perfume (proibido na década de 1960 por ser considerado entorpecente) nos pobres mortais, que tinham como única diversão o direito de serem meros espectadores das excentricidades burguesas da época. Foi justamente deste contraste que nasce a primeira Escola de Samba [3], criada pelo sambista carioca Ismael Silva (1905 - 1978), em 1928 – a Deixa Falar, que anos mais tarde leva o nome de Estácio de Sá. A partir dai, o Carnaval de rua brasileiro começa a ter um novo formato. Surgem novas escolas no Rio de Janeiro e em São Paulo. E é este o tema de meu post. O desfile das Escolas de Samba, não só como um evento festivo, mas, acima de tudo, como manifestação artística, criada a partir da cultura popular.
Ao contrário do mau gosto e aquela coisa caótica que é o Carnaval brasileiro, o desfile das Escolas de Samba é o resultado final da eficiência, da organização e da disciplina. É, sobretudo, a maravilhosa fusão de diferentes linguagens artísticas, o que lhe dá um conceito estético bem peculiar. O desfile das Escolas de Samba se apóia no enredo e seus temas são dramatizados pelos integrantes das alas através da música (samba-enredo), dança (sambistas e passistas [4]), fantasia e carros alegóricos. Bateria, samba-enredo e harmonia são quesitos essencialmente musicais. Alegoria, fantasia e adereço pertencem à estética visual. Em outras palavras, a amálgama de todos estes elementos artísticos dão forma a um imenso teatro-visual surrealista a céu aberto. Por ser mais perceptível, o componente visual ganhou muita força no decorrer dos anos, dando à figura do carnavalesco [5] papel de relevante importância na hierarquia da escola.
Na realidade, o desfile das Escolas de Samba é uma expressão plástica tanto para quem assiste como para quem dele participa. É um turbilhão de símbolos, formas, cores e sons, que deixa fluir harmoniosamente em nosso intelecto e retinas o imaginário e o real, onde os sambistas tornam-se verdadeiras esculturas-vivas, que bailam ao ritmo da sedução e do encanto, dando aos seus corpos um intenso movimento de elegância, provocação e rara beleza. Em suma, a matéria-prima desta arte não é a tela e as tintas do pintor, nem o barro e o metal do escultor ou a palavra do poeta. A sua matéria-prima é essencialmente o ser humano. O ser humano metamórfico e efêmero que viverá em pleno êxtase por apenas 80 minutos. Depois disso, ele se desfaz.
Para entender o que é avaliado num desfile
Bateria - A bateria sustenta com sua marcação a cadência indispensável ao desenvolvimento do samba, do canto e da evolução. Cada bateria possui identidade própria e liberdade quanto ao ritmo e a distribuição dos instrumentos. Veja aqui os principais instrumentos de uma bateria, que poderá ter até 400 ritmistas. Aqui vai um vídeo.
Harmonia – Harmonia em desfile de Escola de Samba é o entrosamento entre o ritmo (bateria), a melodia (canto) e a dança.
Samba-enredo - É a ilustração poético-melódica do enredo. Sua letra se refere ao enredo apresentado pela escola. Deve, portanto, haver compatibilidade entre o tema e a letra do samba. O samba-enredo possui estilo característico e versejar próprio e não deverá ser julgado como composição erudita, mas como expressão de linguagem popular. Ouça aqui um áudio.
Evolução - Aqui reside o ponto alto do conjunto e seus movimentos de dança. Devem ser observados em sua avaliação o vigor, a empolgação, a vibração, a agilidade, a precisão, a espontaneidade, a elegância e a criatividade dos sambistas das alas, que em movimentos progressivos e contínuos, produzirão a beleza do conjunto do desfile, garantindo sua unidade.
Mestre-sala e porta-bandeira – O mestre-sala e porta-bandeira têm a honra de conduzir a bandeira, o símbolo maior da agremiação. A função do mestre-sala é cortejar a porta-bandeira durante toda a apresentação, através de gestos e posturas elegantes que demonstrem a reverência a sua dama, respeitando e protegendo o pavilhão. O casal apresenta uma dança com passos e características básicas próprias, que vem sendo enriquecida em seus maneios e mesuras, através do tema.
Enredo - Enredo é o tema central de um desfile. Pode-se compará-lo a um roteiro de cinema ou teatro. A Escola de Samba desenvolve e transmite o seu enredo através de seus elementos dramáticos, musicais e visuais. A criatividade é um fator de fundamental importância neste quesito. E o tema pode ser o mais variado possível: histórico, folclórico, político, abstrato e tudo mais que a nossa imaginação permitir.
Fantasia - As fantasias devem retratar a época se o enredo girar em torno de acontecimentos históricos, ou os elementos tradicionais, regionais e etc... de acordo com o tema. O critério mais importante a ser observado neste quesito é o perfeito entrosamento ao tema e ao enredo propostos, não importando o material a ser usado e sim a criatividade, a originalidade, a graça e o belo.
Alegorias e adereços – As alegorias são elementos cenográficos sobre rodas (os carros alegóricos) e os adereços são objetos carregados pelos sambistas. São recursos que devem contribuir para um melhor esclarecimento e leitura do tema, assim como as fantasias, com as quais devem estar integradas.
Comissão de frente – A comissão de frente é um dos elementos tradicionais das escolas. Ela saúda os assistentes em nome da diretoria, dos componentes e pede passagem para a agremiação.
* Na média, uma Escola de Samba desfila com quatro mil componentes, dividida em 28 alas e seis carros alegóricos
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[1] Grupo de foliões que durante o Carnaval dançam e cantam nas ruas ao som de bateria.[2] Grupo de carnavalescos que saem juntos e muitas vezes com a mesma indumentária ou fantasia.[3] Foi baseado na estrutura da Escola Normal Estácio de Sá (bairro do Rio de Janeiro) que um grupo de malandros cariocas criou o nome Escola de Samba. O compositor Ismael Silva, primeiro a usar o termo, dizia que esta é a verdadeira origem e que a expressão foi adotada por causa dos professores da escola. “Se havia lá uma escola com professores e normalistas, por que não poderia haver também outra de samba, com seus mestres de samba e alunos?”[4] Pessoa que dança o samba com muita, técnica, agilidade e graça, destacando-se do conjunto dos sambistas das Escolas de Samba.[5] Geralmente um profissional de artes plásticas ou cenografia responsável pela concepção e desenvolvimento do enredo a ser apresentado, assim como a concepção, desenvolvimento e construção das alegorias e fantasias relacionadas ao enredo proposto.
[1] Grupo de foliões que durante o Carnaval dançam e cantam nas ruas ao som de bateria.[2] Grupo de carnavalescos que saem juntos e muitas vezes com a mesma indumentária ou fantasia.[3] Foi baseado na estrutura da Escola Normal Estácio de Sá (bairro do Rio de Janeiro) que um grupo de malandros cariocas criou o nome Escola de Samba. O compositor Ismael Silva, primeiro a usar o termo, dizia que esta é a verdadeira origem e que a expressão foi adotada por causa dos professores da escola. “Se havia lá uma escola com professores e normalistas, por que não poderia haver também outra de samba, com seus mestres de samba e alunos?”[4] Pessoa que dança o samba com muita, técnica, agilidade e graça, destacando-se do conjunto dos sambistas das Escolas de Samba.[5] Geralmente um profissional de artes plásticas ou cenografia responsável pela concepção e desenvolvimento do enredo a ser apresentado, assim como a concepção, desenvolvimento e construção das alegorias e fantasias relacionadas ao enredo proposto.
Manolo Piriz no Peão
1 comentário:
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