Vi ontem um programa muito interessante. Foi na 2 e era acerca da «guerra civil» entre Octaviano (mais tarde Augusto) e Marco António/ Cleópatra. Não vi grande novidade interpretativa, e, apesar da fraca qualidade dos efeitos, o programa tinha a mais valia de fugir à tradicional valorização romanceada no período em questão.
O que me interessou foi, além da apresentação do James Woods (que é sempre simpática), o enfoque possibilista do decurso da batalha de Actium. Na verdade não eram somente o destino do mundo romano que se decidia, era o nosso pilar constitutivo que emergia. Em causa estavam duas visões-mundo diametralmente opostas: a visão Helenista/Ptolemaica com sedes em Alexandria e Atenas e a visão Latina assente em Roma.
O que me interessou foi, além da apresentação do James Woods (que é sempre simpática), o enfoque possibilista do decurso da batalha de Actium. Na verdade não eram somente o destino do mundo romano que se decidia, era o nosso pilar constitutivo que emergia. Em causa estavam duas visões-mundo diametralmente opostas: a visão Helenista/Ptolemaica com sedes em Alexandria e Atenas e a visão Latina assente em Roma.
A 1 e 2 de Setembro de 31 AC o entroncamento da nossa contemporaneidade apresentava-se limpo. Os dois caminhos estavam bem assentes. Ao cruzaram-se, deixaram na História, de forma inequívoca, um dos poucos momentos-chave, contendo no seu desenlace a matriz definidora não só de um momento contextualizado mas de toda uma linha civilizacional. Com o triunfo de Marco António (e Cleópatra) dificilmente a raiz latina assumiria tamanha importância na expansão romana. O Império de Augustos, momento definidor da ideia de «Europa», não existiria e o Mediterrâneo evoluiria em torno do eixo Atenas/Alexandria (e não Roma), com as consequências perceptíveis. O advento do Cristianismo (o outro momento definidor) na zona de influência deste «novo» Império poderia implicar uma outra adaptação religiosa que a latina (que se verificou). Assim, e extrapolando, poderíamos supor que a evolução do culto a Cristo seguiria uma outra tendência (existente nos primeiros séculos e com bastante força até aos primeiros cismas do século VIII) organizativa e hierárquica onde a necessidade de copia ao modelo romano não era premente. Dizer isto é dizer que a Igreja Católica Apostólica e Romana nunca existiria, os Papas não seriam necessários e muitos dos dogmas e mitos eclesiásticos não teriam sido criados, pois a absorção das religiões autóctones do Norte da Europa, que «moldam» o Cristianismo moderno, não se teria dado com a intensidade que ocorreu. A tendência seria para uma área de importância geoestratégica mais virada a Oriente, facilmente englobando a Índia e, quem sabe, a própria China.
Teríamos um mundo muito diferente, sem dúvida, caso esse dia 2 de Setembro tivesse virado para outro lado. É estranho pensar nisso. Mas é também estranho não pensar nas consequências.
Raros são na História os momentos que, como este, se apresentam limpos, puros, com capacidade definidora. Este foi um.
E suscitou-me esta reflexão.
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