Quando me perco em leituras de pessoas que indagam sobre a vida e que são reconhecidas, embora na grande maioria das vezes sem se perceber muito bem a real extensão das mesmas, sem a percepção do verdadeiro sentido desses pensamentos partilhados com o mundo, coloco-me num sitio alto e olho a sociedade... Percebo que existe muita gente perdida...
Morrer lentamente
Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê, quem não ouve música,
quem destrói o seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is"
a um turbilhão de emoções indomáveis,
justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da
chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!
Pablo Neruda
1 comentário:
Grande.
Eu morro lentamente com um estranho ritmo diário. Não arrisco marcas, não mudo de supermercado. Arrisco pouco na cor.
Este texto merece mais que um comentário. será para breve...
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