segunda-feira, março 06, 2006

Morrer Lentamente

Quando me perco em leituras de pessoas que indagam sobre a vida e que são reconhecidas, embora na grande maioria das vezes sem se perceber muito bem a real extensão das mesmas, sem a percepção do verdadeiro sentido desses pensamentos partilhados com o mundo, coloco-me num sitio alto e olho a sociedade... Percebo que existe muita gente perdida...


Morrer lentamente

Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê, quem não ouve música,
quem destrói o seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is"
a um turbilhão de emoções indomáveis,
justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da
chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!

Pablo Neruda


1 comentário:

José Reis Santos disse...

Grande.
Eu morro lentamente com um estranho ritmo diário. Não arrisco marcas, não mudo de supermercado. Arrisco pouco na cor.
Este texto merece mais que um comentário. será para breve...

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