Aqui deixámos um curto post de noticia e de parabéns à historiadora Irene Fulsner Pimentel, que acaba de ser agraciada com o Prémio Pessoa 2007.
Agora dedico-lhe algumas palavras mais.
Não conheço pessoalmente a Irene Pimentel, só o seu trabalho, mas a regularidade do seu uso e a qualidade do seu labor permite-me construir uma relação de certa intimidade com a autora. Mais ainda, partilho com a Irene quer o período de estudo (o Estado Novo), quer a oportunidade de desenvolver trabalho junto do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.
Sinto-me, humildemente, e a anos luz de distancia, seu colega. E é nessa condição que aqui escrevo.
A Irene é daquelas historiadoras que não tem medo de ser opinativa, de intervir, de tomar posição, assumida. Afasta-se assim do politicamente correcto, da neutralidade da análise política contemporânea, que de tanto querer ser ausente se robotiza e se esquece de ser emotiva.
Que não se julgue, no entanto, que estamos perante uma historiadora panfletária, nada disso. Longe disso mesmo. O seu critério, rigor científico, capacidade de investigação e de análise colocam-na no patamar superior da elite académica portuguesa, e, sem dúvida, autora de destaque e de referência no período do Estado Novo; primeiro com os seus trabalhos sobre as organizações femininas, e, mas recentemente, com a sua monumental História da PIDE.
Aparte do seu trabalho como historiadora, a Irene Pimentel é uma personagem bem interveniente no activismo cívico, nomeadamente através do movimento «Não apagues a Memória», tantas vezes citado neste blogue.
Este galardão, e para terminar, premeia não só a historiadora, a mulher, a activista ou a militante. Premeia também a academia portuguesa e a historiografia contemporânea que, numa altura onde tanto se critica a falta de cultura geral, sabe produzir gentes e trabalhos da qualidade que a Irene nos tem habituado.
Parabéns Irene.
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Publicou diversos artigos em jornais e revistas científicas, de divulgação histórica e de colaborações em dicionários e obras colectivas.
Tem ainda os seguintes livros:
História das Organizações Femininas do Estado Novo. 1.ª ed. Lisboa: Círculo de Leitores, imp. 2000.
Cardeal Cerejeira: Fotobiografia de Manuel Gonçalves Cerejeira. 1.ª ed. Lisboa: Círculo de Leitores, imp. 2002.
Os Judeus em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial. Em fuga a Hitler e ao Holocausto. Lisboa: Esfera dos Livros, 2006.
Vítimas de Salazar. Estado Novo e Violência Política. Lisboa: Esfera dos Livros, 2007. (co-autora)
A História da PIDE. 1.ª ed. Lisboa: Círculo de Leitores, 2007.
Mocidade Portuguesa Feminina. Lisboa: Esfera dos Livros, 2007.
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Soube da distinção da Irene Pimentel no Womenage a trois, que me reencaminhou para este texto da Cláudia Castelo e do Daniel Melo no Peão, que, por sua vez, que sugeriram este texto da Irene Pimentel sobre o concurso «Os grandes portugueses» aqui.
1 comentário:
Também fiquei bastante agradado pelo prémio ter sido atribuído a uma historiadora. Porém, interrogo-me: será que se Irene Pimentel tivesse uma obra historiográfica tão importante como a que tem, e tão pertinente nos tempos que correm, mas sobre o século XIX e mesmo, arrisco, a 1ª República (embora aqui o caso não seja tão grave), tinha tido sequer hipóteses de ganhar?
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