Há muito que queria acrescentar alguma refllexão a esta nossa troca de ideias. Como imaginas, a campanha tem sido dura e exigente, pelo que não tenho tido muito tempo para escrever.
Vejo, sem espanto, que temos poucas são as diferenças que nos separam. Na verdade concordo com grande parte do que dizes.
Permite-me apenas algumas considerações.
Permite-me apenas algumas considerações.
Em primeiro lugar os agentes políticos devem procurar o equilíbrio entre os recursos disponíveis, numa por vezes estranha dança entre o que se quer e o que se pode fazer. Claro que era bom que pudéssemos ter recursos ilimitados, que estes pudessem ser colocados nos melhores projectos, em prol do desenvolvimento da cidade. Mas, como sabes, os recursos são escassos e a distribuição de recursos por projectos é bem deficiente.
É por isso que considero importante que antes das tomadas de decisões (i.e. da distribuição de recursos), se tome o tempo necessário para que os projectos sejam bem elaborados, e obedeçam a necessidades estratégicas para o desenvolvimento da cidade.
No caso dos arquivos, também eu (como imaginas) queria vê-los abertos amanhã, com óptimas condições de armazenamento, com bases de dados construídas e publicadas na net, com óptimos espaços de consulta e de trabalho. Infelizmente isso não é possível. Pelo menos no imediato. Mas é possível pensar sobre o que queremos fazer. Qual o quadro onde queremos desenhar as novas formas de colaboração e de articulação entre as diversas entidades que, necessariamente, tem de se envolver. É sobre esta construção que penso, quando afirmo que é necessário ter o esquema bem pensado, antes de voltar a abrir os arquivos.
Entretanto, pode-se aproveitar os arquivos existentes. Do arquivo do Arco do Cego lembro-me de um bom par de investigações que se podem fazer. Umas ligadas a conteúdos eleitorais (ainda mais quando, em 2008, faz 100 anos da vitória republicana nas eleições municipais de Lisboa), outras à arquitectura. Pelo menos sei que existem amplos acervos nessas áreas.
Agora, não se podem desperdiçar novas oportunidades. E a próxima CML terá de ter a atenção necessária à memória e à identidade cultural da cidade de Lisboa. Há, repito, que incentivar a criação de projectos multidisciplinares de investigação olissipográfica, definindo áreas, temas ou épocas estratégicas para a construção identitária de Lisboa, para a edificação de uma melhor «Marca», produto de consumo turístico, e para se criarem as condições necessárias para um hype à volta de Lisboa, para que se crie – por cinco, seis anos - um movimento sustentado de investigação criativa articulada estrategicamente com a necessidade de criar em Lisboa não só uma marca reconhecível como um espaço urbano de vivência estruturada.
Quando se fala de marcas de cidades, num estranho sentido macro-económico e «marqueteiro», esquece-se que a Marca não é mais que uma identidade consolidada e pronta para consumo. E Lisboa perdeu, há muito, o sentido da sua identidade.
Há que refazê-la. Na História e na Memória.
A próxima CML, se liderada por António Costa, terá todas as condições para colocar em marcha estas ideias. Tenho poucas dúvidas disso.
[Entretanto verifiquei que também o Daniel opinou sobre a necessidade de preservar a memória da cidade. Este texto é, assim, um pouco para os dois.]
(Texto também publicado no Costa do Castelo)
2 comentários:
Zé,
É muito importante que, paralelamente à reflexão sobre a solução definitiva para o problema do Arquivo Municipal de Lisboa (que deverá demorar algum tempo), se tome, no curto prazo, a decisão de permitir o acesso à documentação que se encontra no depósito do Alto da Eira. A obra de adaptação da cave/garagem das instalações do Bairro da Liberdade está parada, mas só falta concluir o sistema de detecção e extinção de incêndios. Não deve ser nenhum valor astronómico, que o novo Executivo não possa viabilizar. Se for de todo impossível terminar aquela obra, há outra solução, também ela provisória, mas que seria um sinal claro de que a nova CML deseja respeitar o direito constitucional de acesso dos cidadãos à informação. Os leitores faziam previamente o pedido da documentação que precisavam de consultar e, em vez de lhes ser taxativamente negado o acesso (contrariando a Constituição da República Portuguesa, a lei de acesso aos documentos administrativos e a missão de qualquer Arquivo), marcava-se um dia, ia-se buscar ao Alto da Eira os documentos requisitados e a consulta podia decorrer na sala de leitura do Bairro da Liberdade. Isto só é inviável se não houver vontade política.
[Apaguei o post anterior, praticulamente igual a este, apenas por uma questão de vírgulas.]
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