António Costa é o principal vencedor das eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa. Além dele, ninguém nem nenhum partido político saíram vitoriosos.
Por isso mesmo, interessa perceber o efeito das "candidaturas independentes" e dos "movimentos de cidadãos" sobre o eleitorado. Ora, e a meu ver, esse efeito assemelha-se a um fogo cruzado ao dispararem em todas as direcções, os independentes acabaram por ser também vítimas do seu próprio jogo. Mais, ao pretenderem ocupar um espaço que está "de fora" do sistema político, jogaram com as mesmas regras e acabaram por limitar a capacidade de manobra e de decisão do agora eleito presidente da Câmara.
Se essa era a sua verdadeira intenção, se pretendiam colocar-se na posição – sempre cómoda – de quem critica a acção política dos outros, então esse objectivo foi, em larga medida, conseguido. Além do mais, a percentagem de distribuição de votos à Direita e à Esquerda manteve-se sensivelmente a mesma: o que sucedeu nos resultados eleitorais de Lisboa foi uma repartição do eleitorado do PS e uma considerável divisão dos eleitores do PSD. Ou seja: as candidaturas independentes não alteraram a distribuição dos votos e das tendências naturais de orientação política dos eleitores.
Serviram, isso sim, para dividir os eleitorados de origem dos candidatos ditos "do sistema" e – com este tipo de comportamento – tornaram ainda mais difícil a governação da cidade de Lisboa nos próximos dois anos. Parece-me, portanto, pouco verosímil que se possam tentar muitas extrapolações dos resultados de Lisboa para o resto do país e que se possa tentar alguma futurologia relativamente ao que seria este tipo de eleição se se tratasse de legislativas. Agora um facto verdadeiramente surpreendente nesta campanha eleitoral foi a capacidade para – em tempo recorde – se montarem duas campanhas de "movimentos de cidadãos", recolhendo as respectivas assinaturas e organizando uma máquina de propaganda.
E se – por definição – os movimentos não têm um carácter permanente e acabam por desaparecer com o tempo, é inevitável que as estruturas distritais de Lisboa do PSD e do PS retirem as respectivas conclusões dos resultados alcançados. E que aproveitem, bem, esta oportunidade de mudança.
Paulo Pereira de Almeida in Jornal de Notícias, 25/07/2007
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