Lisboa Cidade Cri@tiva
Da campanha eleitoral do António Costa um tema tem-me despertado: a relação da CML com a Cultura e com a criatividade no que se pode consubstanciar na ideia da «Marca Lisboa».
Nas iniciativas do Teatro Aberto e do Maxime, especialmente dedicadas ao tema, ouviram-se muitas ideias, críticas e propostas. Pelo capital humano reunido, parece-me ser este um daqueles momentos, raros em política, onde um bom líder, com uma boa equipa e com um bom projecto (a conjugação destas três variáveis é raríssima) são suficientemente atractivos para reunirem à sua volta os que de melhor trabalham nas diversas áreas profissionais de intervenção no espaço urbano.
Parece que as condições para que se criem um excepcional momento para a vida da cidade estão criadas. A ligação entre a política, a academia, o mundo empresarial, tantas vezes ambicionada, é assumidamente estratégica. Os mundos da ciência, da política, da cultura, tantas vezes de costas voltadas, finalmente partilham as mesmas salas onde todos se podem confrontar a partilhar projectos, ideias e vontades. Esta ligação é definidora do que a cidade quer ser, do que a «Marca Lisboa» ambiciona ser, do que a capital de um país europeu, cidade com história e cultura impar, tem de ser.
Lisboa, com estas condições, pode criar as circunstâncias certas para fabricar um momento impar na sua história, um hype político e cultural que lhe permita, por uma década, estar na vanguarda europeia no que concerne à definição de um life style europeu, cosmopolita e moderno.
Lisboa tem, assim, de ser modernidade, tolerância, criatividade. Tem de ser competitiva e contemporânea. Lisboa tem de ser Cultura e Ciência. Lisboa tem de ter uma Ideia agregadora para servir de catalizador de uma nova fase de desenvolvimento na vida de Lisboa, atirando-a para a contemporaneidade e para a dinâmica do século XXI. E essa ideia pode ser a definição da «Marca» da cidade.
É necessário ter em atenção de que a Lisboa institucional ainda não entrou no novo século, mas que a sua sociedade civil sim. Hoje Lisboa pulula de ideias, iniciativas e projectos. Todos feitos à margem do poder autárquico. Este divórcio necessita de ser anulado. Do que tenho visto, lido e reflectido, parece-me que o conceito das «Cidades Cri@tivas», devidamente enquadrado na cultura lisboeta, pode e deve poder ser utilizado e desenvolvido. Este, congregando os «t’s»do Talento, da Tecnologia e da Tolerância, assume que as políticas de desenvolvimento sustentáveis e integradas nas cidades contemporâneas se assentam na maximização do seu potencial de criação sustentada na sua massa humana envolvente e envolvida. Esta Ideia sustenta que uma Cidade com capacidade de apoiar e promover criadores consegue ser atractiva e socialmente mais equilibrada e justa; que uma cidade com capacidade de se apoiar nas suas redes sociais e humanas pode transformar o seu cosmopolitismo transversal numa existência solidária e competitiva. Seria, então, através do aproveitamento das diversas redes já existentes na sociedade civil, devidamente enquadradas na prática política a ser desenvolvida na CML, que se desenvolveria a nova atitude para cidade. Uma vez retomada esta ligação, o potencial de construção multiplica-se.
E é possível começar a procura a identidade que queremos criar, começar a definir a «Marca Lisboa».
Mas a ideia da «Marca Lisboa» carece ainda de definição identitária. O que é, hoje, Lisboa? o que simboliza?
A definição da identidade tem de passar não só pela promoção do conceito de cidade criativa. Tem de passar ainda pela construção da memória e pela apropriação da cultura popular e urbana que vive na cidade. E hoje Lisboa está sem memória. Lisboa esqueceu de tratar do seu passado.
Não será, como se imagina, tarefa prioritária para o «período da Urgência», mas não tenho dúvidas que as questões da memória serão importantes. No muito que tenho ouvi, no decurso da campanha, a ideia de tornar Lisboa uma cidade agradável á investigação científica é algo muito atraente e que tem feito o seu caminho no discurso político de António Costa. Agora, esse discurso não pode ser restrito apenas às ciências exactas. Temos de fazer prevalecer a mais valia das ciências sociais, em especial as ciências históricas e documentais, importantíssimas na manutenção e na projecção – cultural, mas também política e económica – de Lisboa como cidade global. Sabemos que as novas tecnologias são essenciais na comunicação e na ligação entre os conteúdos e os consumidores finais. Mas não nos podemos distanciar da necessidade da produção de conteúdos, e estes podem, e devem, provir das ciências sociais e humanas. Serão estas que terão a responsabilidade de apontar as metas finais a atingir. Serão estas que definirão a identidade de Lisboa, retirada da espuma da História e da Cultura da Cidade.
Na construção da identidade da cidade, decisiva na sustentação da «Marca» é imperativo saber articular estas duas vertentes, simbolicamente apontadas para o Futuro e para o Passado da Ideia de Lisboa. Como é que se pode operacionalizar esta ideia?
Construindo equipas multidisciplinares que consigam interiorizar este projecto de redefinição da Ideia da Cidade de Lisboa, da sua identidade, da sua Marca. Promovendo o conceito de «Lisboa, Cidade Cri@tiva» em simultâneo com o desenvolvimento de um amplo projecto de investigação na memória e na identidade da cidade. Dos seus espaços e das suas gentes. Do passado projectar o futuro, definindo assim o presente.
Sabemos que aos agentes políticos cabe a procura do equilíbrio entre os recursos disponíveis e os recursos necessários, numa muitas vezes estranha dança entre o que se quer e o que se pode fazer. Por isso é importante que antes das tomadas de decisões (i.e. da distribuição de recursos), se tome o tempo necessário para que os projectos sejam bem elaborados, e obedeçam a necessidades estratégicas para o desenvolvimento da cidade.
Agora, não se podem desperdiçar novas oportunidades. E a próxima CML terá de ter a atenção necessária à memória e à identidade cultural da cidade de Lisboa. Há, repito, que incentivar a criação de projectos multidisciplinares de investigação olissipográfica, definindo áreas, temas ou épocas estratégicas para a construção identitária de Lisboa, para a edificação de uma melhor «Marca», produto de consumo turístico, e para se criarem as condições necessárias para um hype à volta de Lisboa, para que se crie – por cinco, seis anos - um movimento sustentado de investigação criativa articulada estrategicamente com a necessidade de criar em Lisboa não só uma marca reconhecível como um espaço urbano de vivência estruturada, que aposta no Talento dos seus criadores, na Tolerância das suas gentes e na Tecnologia dos seus cientistas.
Lisboa tem, hoje, um acervo histórico de valor incalculável; mas está depositado em armazéns fechados. Lisboa não pode voltar costas à sua história, uma vez que ela é, como já referimos, central na redefinição da «Marca Lisboa». Nesta coabitam a Lisboa Fenícia, a Lisboa Romana e a Lisboa Medieval e Renascentista. A Lisboa das Descobertas e a Lisboa do Império. A Lisboa do Terramoto e a Lisboa Pombalina. E a Lisboa Liberal, a Lisboa Modernista e a Lisboa Revolucionária. Quantas cidades têm tantas cidades?
Quando se fala de «Marcas», num estranho sentido macro-económico e «marqueteiro», esquece-se que a «Marca» não é mais que uma identidade consolidada e pronta para consumo. E Lisboa perdeu, há muito, o sentido da sua identidade.
Há que refazê-la. Na História, na Memória e na Criatividade.
A Ideia é, em suma, envolver a cidade na cidade, construindo um discurso mais inclusivo e moderno. A Cidade que defendo, albergando gentes de todas as raças, credos, tendências, géneros e formas de vida, é uma cidade que vive nela, de forma orgânica. É uma cidade que se solidariza e que cria. É uma cidade de várias ciências, de várias tendências, de várias vidas. É uma cidade que atrai e compete. É uma cidade que projecta e cumpre. É uma cidade que assume uma «Marca» e uma cidade que se revê na sua identidade.
Este seria o desafio para um «quarto tempo», nunca assumido no programa de António Costa: o Tempo de uma Geração.
Da campanha eleitoral do António Costa um tema tem-me despertado: a relação da CML com a Cultura e com a criatividade no que se pode consubstanciar na ideia da «Marca Lisboa».
Nas iniciativas do Teatro Aberto e do Maxime, especialmente dedicadas ao tema, ouviram-se muitas ideias, críticas e propostas. Pelo capital humano reunido, parece-me ser este um daqueles momentos, raros em política, onde um bom líder, com uma boa equipa e com um bom projecto (a conjugação destas três variáveis é raríssima) são suficientemente atractivos para reunirem à sua volta os que de melhor trabalham nas diversas áreas profissionais de intervenção no espaço urbano.
Parece que as condições para que se criem um excepcional momento para a vida da cidade estão criadas. A ligação entre a política, a academia, o mundo empresarial, tantas vezes ambicionada, é assumidamente estratégica. Os mundos da ciência, da política, da cultura, tantas vezes de costas voltadas, finalmente partilham as mesmas salas onde todos se podem confrontar a partilhar projectos, ideias e vontades. Esta ligação é definidora do que a cidade quer ser, do que a «Marca Lisboa» ambiciona ser, do que a capital de um país europeu, cidade com história e cultura impar, tem de ser.
Lisboa, com estas condições, pode criar as circunstâncias certas para fabricar um momento impar na sua história, um hype político e cultural que lhe permita, por uma década, estar na vanguarda europeia no que concerne à definição de um life style europeu, cosmopolita e moderno.
Lisboa tem, assim, de ser modernidade, tolerância, criatividade. Tem de ser competitiva e contemporânea. Lisboa tem de ser Cultura e Ciência. Lisboa tem de ter uma Ideia agregadora para servir de catalizador de uma nova fase de desenvolvimento na vida de Lisboa, atirando-a para a contemporaneidade e para a dinâmica do século XXI. E essa ideia pode ser a definição da «Marca» da cidade.
É necessário ter em atenção de que a Lisboa institucional ainda não entrou no novo século, mas que a sua sociedade civil sim. Hoje Lisboa pulula de ideias, iniciativas e projectos. Todos feitos à margem do poder autárquico. Este divórcio necessita de ser anulado. Do que tenho visto, lido e reflectido, parece-me que o conceito das «Cidades Cri@tivas», devidamente enquadrado na cultura lisboeta, pode e deve poder ser utilizado e desenvolvido. Este, congregando os «t’s»do Talento, da Tecnologia e da Tolerância, assume que as políticas de desenvolvimento sustentáveis e integradas nas cidades contemporâneas se assentam na maximização do seu potencial de criação sustentada na sua massa humana envolvente e envolvida. Esta Ideia sustenta que uma Cidade com capacidade de apoiar e promover criadores consegue ser atractiva e socialmente mais equilibrada e justa; que uma cidade com capacidade de se apoiar nas suas redes sociais e humanas pode transformar o seu cosmopolitismo transversal numa existência solidária e competitiva. Seria, então, através do aproveitamento das diversas redes já existentes na sociedade civil, devidamente enquadradas na prática política a ser desenvolvida na CML, que se desenvolveria a nova atitude para cidade. Uma vez retomada esta ligação, o potencial de construção multiplica-se.
E é possível começar a procura a identidade que queremos criar, começar a definir a «Marca Lisboa».
Mas a ideia da «Marca Lisboa» carece ainda de definição identitária. O que é, hoje, Lisboa? o que simboliza?
A definição da identidade tem de passar não só pela promoção do conceito de cidade criativa. Tem de passar ainda pela construção da memória e pela apropriação da cultura popular e urbana que vive na cidade. E hoje Lisboa está sem memória. Lisboa esqueceu de tratar do seu passado.
Não será, como se imagina, tarefa prioritária para o «período da Urgência», mas não tenho dúvidas que as questões da memória serão importantes. No muito que tenho ouvi, no decurso da campanha, a ideia de tornar Lisboa uma cidade agradável á investigação científica é algo muito atraente e que tem feito o seu caminho no discurso político de António Costa. Agora, esse discurso não pode ser restrito apenas às ciências exactas. Temos de fazer prevalecer a mais valia das ciências sociais, em especial as ciências históricas e documentais, importantíssimas na manutenção e na projecção – cultural, mas também política e económica – de Lisboa como cidade global. Sabemos que as novas tecnologias são essenciais na comunicação e na ligação entre os conteúdos e os consumidores finais. Mas não nos podemos distanciar da necessidade da produção de conteúdos, e estes podem, e devem, provir das ciências sociais e humanas. Serão estas que terão a responsabilidade de apontar as metas finais a atingir. Serão estas que definirão a identidade de Lisboa, retirada da espuma da História e da Cultura da Cidade.
Na construção da identidade da cidade, decisiva na sustentação da «Marca» é imperativo saber articular estas duas vertentes, simbolicamente apontadas para o Futuro e para o Passado da Ideia de Lisboa. Como é que se pode operacionalizar esta ideia?
Construindo equipas multidisciplinares que consigam interiorizar este projecto de redefinição da Ideia da Cidade de Lisboa, da sua identidade, da sua Marca. Promovendo o conceito de «Lisboa, Cidade Cri@tiva» em simultâneo com o desenvolvimento de um amplo projecto de investigação na memória e na identidade da cidade. Dos seus espaços e das suas gentes. Do passado projectar o futuro, definindo assim o presente.
Sabemos que aos agentes políticos cabe a procura do equilíbrio entre os recursos disponíveis e os recursos necessários, numa muitas vezes estranha dança entre o que se quer e o que se pode fazer. Por isso é importante que antes das tomadas de decisões (i.e. da distribuição de recursos), se tome o tempo necessário para que os projectos sejam bem elaborados, e obedeçam a necessidades estratégicas para o desenvolvimento da cidade.
Agora, não se podem desperdiçar novas oportunidades. E a próxima CML terá de ter a atenção necessária à memória e à identidade cultural da cidade de Lisboa. Há, repito, que incentivar a criação de projectos multidisciplinares de investigação olissipográfica, definindo áreas, temas ou épocas estratégicas para a construção identitária de Lisboa, para a edificação de uma melhor «Marca», produto de consumo turístico, e para se criarem as condições necessárias para um hype à volta de Lisboa, para que se crie – por cinco, seis anos - um movimento sustentado de investigação criativa articulada estrategicamente com a necessidade de criar em Lisboa não só uma marca reconhecível como um espaço urbano de vivência estruturada, que aposta no Talento dos seus criadores, na Tolerância das suas gentes e na Tecnologia dos seus cientistas.
Lisboa tem, hoje, um acervo histórico de valor incalculável; mas está depositado em armazéns fechados. Lisboa não pode voltar costas à sua história, uma vez que ela é, como já referimos, central na redefinição da «Marca Lisboa». Nesta coabitam a Lisboa Fenícia, a Lisboa Romana e a Lisboa Medieval e Renascentista. A Lisboa das Descobertas e a Lisboa do Império. A Lisboa do Terramoto e a Lisboa Pombalina. E a Lisboa Liberal, a Lisboa Modernista e a Lisboa Revolucionária. Quantas cidades têm tantas cidades?
Quando se fala de «Marcas», num estranho sentido macro-económico e «marqueteiro», esquece-se que a «Marca» não é mais que uma identidade consolidada e pronta para consumo. E Lisboa perdeu, há muito, o sentido da sua identidade.
Há que refazê-la. Na História, na Memória e na Criatividade.
A Ideia é, em suma, envolver a cidade na cidade, construindo um discurso mais inclusivo e moderno. A Cidade que defendo, albergando gentes de todas as raças, credos, tendências, géneros e formas de vida, é uma cidade que vive nela, de forma orgânica. É uma cidade que se solidariza e que cria. É uma cidade de várias ciências, de várias tendências, de várias vidas. É uma cidade que atrai e compete. É uma cidade que projecta e cumpre. É uma cidade que assume uma «Marca» e uma cidade que se revê na sua identidade.
Este seria o desafio para um «quarto tempo», nunca assumido no programa de António Costa: o Tempo de uma Geração.
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