Toda a gente anda por aí a comentar (bem, toda a gente não - os comentadores e bloggers de direita! mas adiante) quando chega o FMI e o que virá fazer. Agora que estamos na casa dos 7% existem uns quantos encartados da blogosfera que acham que o FMI já deveria estar a aterrar na Portela, sem considerarem que a Irlanda está um bocadinho pior que nós e o FMI ainda não comprou bilhete para o aeroporto de Dublin.
Nos anos 80, se bem me lembro (felizmente não me lembro pois era muito novo nessa altura e não tinha a noção das dificuldades - desde que houvesse comida na mesa e escola no dia a seguir, o meu mundo estava a funcionar normalmente -, mas como sou um rapazinho curioso, perguntei aos meus pais e outras pessoas da mesma geração) a situação é ligeiramente diferente. Ligeiramente diferente a situação económico-financeira do país e ligeiramente diferente as condicionantes de intervenção do FMI.
Assim sendo, a quem interessa que chegue o FMI ?
E é aqui que quero chegar: O FMI, neste momento, não tem o bicho papão do comunismo ao lado da Europa Ocidental para contrapor com as medidas de mercado livre e desregulamentado que deseja. Neste caso, seria espectável que o FMI, uma vez aterrado na Portela, sugerisse que houvesse um conjunto de privatizações ainda maior do que aquelas já anunciadas pelo actual governo (e que, em alguns casos, são altamente discutíveis, para dizer o mínimo).
Assim, nesse pacote de privatizações não é difícil imaginar as seguintes:
- RTP
- Caixa Geral de Depósitos
- Parte da Segurança Social (esta é uma situação genérica, eu sei, mas não sou especialista na matéria, nem tento passar por um)
Ora, a quem interessa a privatização da RTP? A Pinto Balsemão, militante n.º 1 do PSD? À OnGoing, para onde foi trabalhar, deixando a Assembleia, Agostinho Branquinho, ex-deputado do PSD?
E a quem interessa a privatização da CGD, o maio banco nacional? (Ui! Que esta lista é enorme...) Alguém consegue imaginar quanto ganhariam todos os bancos (e pagaríamos todos nós) por uma simples consulta de multibanco? Um simples levantamento? (Mais que o valor da CGD, que é imenso, este era o verdadeiro pote no fim do arco-íris da privatização da mesma).
Em relação à parte da Segurança Social, toda essa questão estaria envolvida na principal vantagem que a actual turbe dirigente do PSD vê na chegada do FMI. A imposição do seu programa de governo, que foi tão bem demonstrado na agora esquecida proposta de Revisão Constitucional, e que, com o chapéu protector do FMI, poderiam impor ao país. Este é o verdadeiro Euromilhões do jogo político actual. Mais que mudarem as caras da administração e dos Jobs, o que a turbe que dirige o PSD quer, com o FMI em Portugal, é alterar profundamente a sociedade portuguesa, por forma a liberalizar todo o sistema laboral, retirando toda a protecção dada pelo estado. Está bem demonstrado no projecto de Revisão Constitucional, e eles não se esqueceram da verdadeira queda livre que deram nas sondagens quando o mesmo viu a luz do dia e se começou a esmiuçar o mesmo.
A quem interessa o FMI?
A este PSD. É óbvio. Não numa perspectiva eleitoralista (onde também iriam ganhar) mas numa perspectiva de alteração de paradigma da sociedade portuguesa. Este PSD é a direita que anda a reclamar do estado socialista. Este PSD é a direita que não está confortável com o fim de muitos aspectos do antigo regime. Este PSD é a direita que venera o Reaganismo e o Thatcherismo. Este PSD é o PSD que quer privatizar tudo aquilo em que o estado é contestado (pela esquerda e pela direita) para depois poder dizer que não tem nada a ver com isso, que isso são sectores privados (educação, saúde).
1 comentário:
Tu sabes que eu sempre fui crítico, para não dizer opositor a Sócrates, sempre achei e continuo a achar que Sócrates de Socialista nada tem, sempre achei, o que hoje se confirma, que Sócrates encheu o PS de uns rapazes bem engravatados com umas ideias neoliberais que levaram a que quem se sentisse minimamente socialista “desse o fora”, ou se o demonstrasse fosse marginalizado.
O PS ao longo da sua história foi abandonando os ideais socialistas passando pela social-democracia sem parar e hoje vai não se sabe bem onde, chegámos a um ponto onde não existe grandes diferenças entre PS e PSD, o que levou António Arnaut a dizer ao DN que se “encontra na extrema-esquerda do PS, isto é se ainda lá tiver lugar”, em termos eleitorais já há muito deixaram de ser alternativa para serem alternância, hoje, passados trinta e seis anos do 25 de Abril, chegámos a um ponto onde os únicos responsáveis da situação em que nos encontramos são o PS e o PSD, reconheço no entanto, que esta crise, a actual crise, tem contornos internacionais, que a Europa no seu conjunto se deixou ir na onda de políticas económicas importadas dos EUA que é quem verdadeiramente, após a queda do muro de Berlim, manda na economia mundial.
Este preâmbulo serve só para dizer que em termos económicos os governos de Sócrates são aqueles que menos contribuíram para o descalabro das contas públicas nacionais, outras culpas poderemos assacar-lhe mas esta não.
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