domingo, setembro 23, 2007

SexExtasy.


O trabalho preparado para o jornal da uma na RTP 1 sobre o SexExtasy veio comprovar que quando se quer também é possível se produzir bom jornalismo, em reportagens ou em notícias.

Parece que a ultima moda da noite, de algumas noites, é a mistura de Extasy com Viagra, num cocktail explosivo que procura aliar a desinibição do Extasy com o performance enhancer do Viagra. Claro que a dose necessita de sol, período da noite onde a festa realmente começa. Até lá, que se entretenham com álcool, cocaína e umas pastilhas.

Ainda me lembro quando sair era um processo social, colectivo, onde os grupos deambulavam na noite em quotidianos tribais, vagueando de bar em bar, em noites curtas de cerveja e ganza. Também me lembro do boom nocturno do início dos anos 90, quando o Excasy rebentou com a noite de Lisboa. As festas do Alcântara, do Kremlin, o culto dos DJ’s, os after no Jardim Constantino, no Garaje (mais tarde), os pequenos-almoços no miradouro da Graça, ou num belo bar na praia. Depois veio o consumo massivo, as festas – as privadas e a públicas -, o deboche, o abuso. O que era a experiência tornara-se a rotina.
Mas nada existia. Era uma vivência etérea, uma perpetuação do mito da eterna juventude, quando a invencibilidade é palpável e confirmada dia após dia com a história fresca da noite passada. No dia seguinte já não existia. Nunca existira.

Estive nessas noites, de cartão VIP (mas não tanto), entrada assegurada, quotas pagas e lugar à porta. Vivíamos em Tóquio, com horários inversos, onde tudo se passava entre as 4 e as 10 da manhã. Havia pessoal que ficava em casa a dormir, acordava pelas 4, para estar nos sítios pelas 5, num ritual estranho e perverso.
Havia quem acumulasse noites na noite. Até às 3 noite de Bairro, depois noite do social, e no fim noite de rave. As drogas, os líquidos, as gentes adaptavam-se aos sítios, às horas, às mokas. Era o pico da noite individual, rodava grupos e ambientes. Havia muito que explorar, onde ir, ir ver e ser visto, pertencer a uma cultura que colocava Lisboa no centro das rotas noctívagas europeias e mundiais.
Nesta altura abriu o Lux. E tudo o que havia melhorou. Ficou concentrado e elevou a fasquia. Mas a noite já não era notícia. A multidão era repetida. A imagem do Shining, quando o Jack Nicholson dança numa sala espelhada, cheia e confortável, só para ver, quanto procura o reflexo dos espelhos, que está sozinho num recinto frio, é mais séria que imaginada. É uma imagem forte. E um confronto intenso, que permite baixar os níveis, descansar e inscrever uma interessante reflexão sobre o que é, para nós, o Real. E onde nos interessa interferir.

Deixara de fazer sentido a correria, o não perder nada, o estar em todas. Qualidade em, detrimento da quantidade. Falar e ouvir. Trocar uma ideia. Ser intelectual. Não no sentido pedante do termo, mas na medida em que interessa o intelecto, o pensamento, a filosofia, a cultura. É uma outra noite. É a noite dos jantares em casa, das saídas curtas, do regresso ao Bairro, agora com apêndices novos, como a Bica. É o regresso à bela da ganza (que não fumo) e da jola. Da tranquilidade. É «fumar unzinho e ouvir Coltrane, não faço mais isso mas entendo muito bem» (Legião Urbana, Leila). É falar de política, de trabalho, de projectos, de futuro. É saber que existo para além de hoje.

Entendo bem o SexExtasy. Been there, done that. Mas já não lá estou.
Óptima reportagem / notícia (faltou a opinião de um sociólogo…)

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