Retirado daqui
Adiamento da exigência de ida às urnas pelas forças partidárias pode redundar no aumento do “cinismo político” por parte dos eleitores
A situação que se vive na Câmara de Lisboa é insustentável e a ida às urnas para eleições intercalares inevitável. Pelo menos, é isso que pensam vários analistas ouvidos pelo Público sobre a crise que se vive na maior autarquia do país.
“Esta Câmara está ferida de morte do ponto de vista da sua capacidade de acção”, considera o especialista em sociologia política André Freire, que julga ser “mais do que duvidosa” a “estratégia calculista de curto prazo” do líder do PSD, Marques Mendes, de querer manter a todo o custo um executivo camarário “sem condições para continuar em funções”.
O sociólogo Manuel Villaverde Cabral pensa também que a ida às urnas é uma inevitabilidade e só estranha que o actual cenário não tenha surgido há mais tempo, numa cidade dominada nas últimas três décadas “pela especulação imobiliária desenfreada ligada ao financiamento partidário, pela corrupção e pela perda de população” – “à excepção dos tempos de Jorge Sampaio”. O analista diz que o papel que os maiores partidos têm desempenhado nesta crise, evitando exigir eleições por questões de conveniência estratégica, pode resultar no aumento do cinismo político dos eleitores: “Passam a pensar: ‘As forças políticas são todas iguais, não vale a pena. ‘”
Esse é também o raciocínio do especialista em ciência política António Costa Pinto: se os partidos tradicionais continuarem a desapontar a sociedade civil, corre-se o risco de “os seus sentimentos anti-políticos associados à passividade e ao desinteresse evoluírem para uma conjuntura propícia ao surgimento dos partidos populistas e anti-sistema, que defendem que os políticos são todos corruptos – à semelhança do que aconteceu em países como a Holanda”.
Muito dos problemas agora surgidos radicam no actual modelo de funcionamento das grandes autarquias, observa o politólogo Manuel Meirinho, que para levar a sua função “se desdobraram em extensões empresariais não sujeitas a fiscalização”. O resultado está à vista, mas o modelo mantém-se, “acarinhado por todas as forças políticas por via da proliferação de cargos que gera para as clientelas partidárias”. Chegados ao “total descrédito dos agentes políticos”, seria de esperar que alguém – além do Bloco de Esquerda*, que já o fez – avançasse para o pedido de eleições. O que não acontece por razões de agenda política e também porque pegar numa autarquia endividada e com apenas ano e meio de mandato pela frente “pode ser suicidário”.
“Talvez fosse altura de os partidos pensarem mais no interesse geral, de darem sinais positivos e apresentar rapidamente alternativas à sociedade civil. Mesmo sabendo das dificuldades do próximo mandato, não deviam ter uma atitude tão prudente em relação às eleições intercalares”, opina Costa Pinto.“Os cidadãos são os que menos contam nisto tudo, e não devia ser assim”, critica Meirinho. “Deve estar-se sensível à sociedade lisboeta – o que não tem acontecido”, diz também o especialista em sistema de governação de Lisboa “extremamente fragmentada, desconexa e sem projecto, que fica mais facilmente à mercê dos lobbies”.
A situação que se vive na Câmara de Lisboa é insustentável e a ida às urnas para eleições intercalares inevitável. Pelo menos, é isso que pensam vários analistas ouvidos pelo Público sobre a crise que se vive na maior autarquia do país.
“Esta Câmara está ferida de morte do ponto de vista da sua capacidade de acção”, considera o especialista em sociologia política André Freire, que julga ser “mais do que duvidosa” a “estratégia calculista de curto prazo” do líder do PSD, Marques Mendes, de querer manter a todo o custo um executivo camarário “sem condições para continuar em funções”.
O sociólogo Manuel Villaverde Cabral pensa também que a ida às urnas é uma inevitabilidade e só estranha que o actual cenário não tenha surgido há mais tempo, numa cidade dominada nas últimas três décadas “pela especulação imobiliária desenfreada ligada ao financiamento partidário, pela corrupção e pela perda de população” – “à excepção dos tempos de Jorge Sampaio”. O analista diz que o papel que os maiores partidos têm desempenhado nesta crise, evitando exigir eleições por questões de conveniência estratégica, pode resultar no aumento do cinismo político dos eleitores: “Passam a pensar: ‘As forças políticas são todas iguais, não vale a pena. ‘”
Esse é também o raciocínio do especialista em ciência política António Costa Pinto: se os partidos tradicionais continuarem a desapontar a sociedade civil, corre-se o risco de “os seus sentimentos anti-políticos associados à passividade e ao desinteresse evoluírem para uma conjuntura propícia ao surgimento dos partidos populistas e anti-sistema, que defendem que os políticos são todos corruptos – à semelhança do que aconteceu em países como a Holanda”.
Muito dos problemas agora surgidos radicam no actual modelo de funcionamento das grandes autarquias, observa o politólogo Manuel Meirinho, que para levar a sua função “se desdobraram em extensões empresariais não sujeitas a fiscalização”. O resultado está à vista, mas o modelo mantém-se, “acarinhado por todas as forças políticas por via da proliferação de cargos que gera para as clientelas partidárias”. Chegados ao “total descrédito dos agentes políticos”, seria de esperar que alguém – além do Bloco de Esquerda*, que já o fez – avançasse para o pedido de eleições. O que não acontece por razões de agenda política e também porque pegar numa autarquia endividada e com apenas ano e meio de mandato pela frente “pode ser suicidário”.
“Talvez fosse altura de os partidos pensarem mais no interesse geral, de darem sinais positivos e apresentar rapidamente alternativas à sociedade civil. Mesmo sabendo das dificuldades do próximo mandato, não deviam ter uma atitude tão prudente em relação às eleições intercalares”, opina Costa Pinto.“Os cidadãos são os que menos contam nisto tudo, e não devia ser assim”, critica Meirinho. “Deve estar-se sensível à sociedade lisboeta – o que não tem acontecido”, diz também o especialista em sistema de governação de Lisboa “extremamente fragmentada, desconexa e sem projecto, que fica mais facilmente à mercê dos lobbies”.
In Público, 22.02.2007
Sem comentários:
Enviar um comentário