sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Itália. Roma. Portugal. Lisboa.


Sobre as últimas notícias chegadas de Itália (e não nos referimos à vitória do Braga em Parma), queria destacar esta última reflexão do Daniel Oliveira. Pelo que percebi ou o Daniel entende por hobby o que anda a fazer pelo Bloco de Esquerda ou então preparamo-nos para, pelo menos, uma coligação em Lisboa (que, para mim, só faz sentido no cenário actual).

Vale a pena ler o texto todo, mas reproduzimos aqui algumas (muitas) partes

Vamos, por facilidade, entender neste texto por "esquerda" os que estão à esquerda dos partidos social-democratas tradicionais. Quase sempre é feita a esta esquerda a mesma pergunta: terá maturidade para participar em soluções de compromisso? É, na verdade, um problema sem solução. Hoje, as principais clivagens políticas não se fazem entre a esquerda e a direita. Nem em política externa, nem em políticas sociais, nem no debate sobre o papel do Estado. Por deslocamento da social-democracia tradicional para a direita? Por cegueira ideológica da esquerda? Porque no plano estrito dos governos nacionais não há alternativas ao "realismo" do que se vai fazendo? A verdade é que hoje são maiores as afinidades entre um neo-liberal e um dirigente de um partido social-democrata europeu do que entre as várias componentes da esquerda.

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Resta a dúvida contrária: havendo um fosso intransponível entre partidos social-democratas e os partidos que estão à sua esquerda, devem os últimos arredar-se do poder condenando-se a si próprios ao papel de resistência inútil, para sempre na oposição? Não estão assim a atirar o centro-esquerda para os braços da direita? Não vale a pena ficar no confortável plano dos princípios. A esquerda deve medir cada um dos seus passos e cada uma das consequências das suas opções. Em Itália, sendo o regresso de Berlusconi um risco, a Refundação Comunista deve aguentar-se firme, tal como está a fazer a sua direcção, com um alto custo para a unidade do seu partido. O preço que a Refundação pagaria pelo regresso de Berlusconi ao poder por sua responsabilidade - pela segunda vez- seria tão alto que ela não só pode como vai aguentar isto tudo e muito mais. Sobretudo agora que se juntam ao albergue os democratas-cristãos de centro-direita que nem a sua agenda "fracturante" vão deixar de pé.

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Dito isto, em situações normais (as que nunca ocorrem em Itália) os governos de unidade de esquerda são cada vez mais improváveis. Serão mais naturais os governos de bloco central. Concordam em política externa, em política social e em política económica. É normal que quem veja a democracia como um mero acto de gestão da alternância na continuidade discorde de mim, mas os governos de bloco central não são compostos por forças alternativas. O entendimento ideológico é obviamente mais fácil. E faz-se, sem grandes dramas, quando a urgência o exige. O problema desta constatação é que, perante ela, a esquerda fica condenada ao degredo. E tendo o poder como uma miragem, não se sente na obrigação de construir um programa viável, fazer as alianças necessárias e abandonar a cartilha ideológica ou o populismo de circunstância. Condenada a receber ciclicamente o voto de protesto mais não pode ambicionar do que ser uma força de protesto.

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Por isso, a resposta às repetidas dúvidas sobre a disponibilidade da esquerda para a governabilidade é esta: depende. Depende do governo, das circunstâncias, do peso de cada um. De tudo. Mas a disponibilidade não pode ser tão pouca que o poder seja apenas uma projecto sempre adiado. Nem tanta que o programa político seja apenas um objecto decorativo. Sendo certo que um partido que não se vê a si próprio no poder não é um partido. É um hobby. E se só imagina no poder daqui a cem anos é pior que um hobby. É uma perda de tempo.

Das questões levantadas interessa-me, sobre outras, estas duas:
1. Será assim tão inevitável que a esquerda não partilhe o Poder? e isso é assim porque [1] não se identifica com tal, [2] não tem o necessário espírito de compromisso necessário para suportar governos de coligação (como o Daniel induz) ou [3] é dele afastado?
2. Qual será a inevitabilidade da criação de blocos centrais no contexto da política europeia contemporânea? Será o exemplo alemão o caso a exportar? Ou, pelo contrário, poderemos esperar que a esquerda (ou parte dela) assuma compromissos com a gestão do Estado? E aí o onus da aproximação ao Poder estaria onde? No possiel futuro exemplo na CML, seria o Bloco a aproximar-se ao PS para, em coligação (sempre com o PCP), governar Lisboa; ou, pelo contrário, seria de esperar que fosse o PS a aproximar- do BE, convidando-o para a partilha do poder da autarquia?

Esperemos pelos próximos capítulos (que virão...).

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