sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Reflexão. O final?



Terminas a tua última exposição com este parágrafo:

Em relação às tuas questões finais, Zé, penso que as pessoas não participam porque nunca foram habituadas a tal. Os portugueses delegam tudo ao Estado, às instituições políticas, pensando que apenas a estes compete decidir sobre a direcção do país, da autarquia ou da freguesia. Um bom exemplo é a fraca participação nas eleições e nos referendos. Porém, quando as medidas tomadas pelos responsáveis políticos não lhes agradam, criticam, queixam-se, lamentam, e não tomam atitudes. Para além do facto de a nossa democracia ser muito recente, penso que uma outra razão se vislumbra para tal situação e que é a sociedade burguesa em que vivemos. Uma sociedade das rotinas trabalho - casa e casa - trabalho (com férias no Algarve no Verão), do lazer, do fazer pela "vidinha", enfim, de um círculo vicioso que reduzem as pessoas a "cadáveres adiados que procriam". Nascem, arranjam um emprego, casam-se, reproduzem-se e morrem, sem ter a mínima curiosidade ou interesse por saberem quem é o vizinho do lado, quanto mais por participarem na vida da polis.
Por outro lado, parece-me algo difícil os grupos de cidadãos independentes poderem competir com as bem oleadas máquinas partidárias. Podem mesmo correr o risco de a médio ou a longo prazo cairem nos mesmos vícios que os partidos, e que tu, muito melhor do que eu, sabes quais são.

Não posso concordar mais. Temo é que seja essa realidade que apresentas esteja condenada a ser sempre verdade. Conheces-me e sabes que tenho uma posição pró-activa nestes assuntos. Acredito que se pode exigir mais da «sociedade civil» (que mais não é que um update do «povo» do século XVII) e que ela, quando lhe é dada a possibilidade, participa. Basta ver o último referendo. Há que continuar a acreditar que essa participação dará os seus frutos. É isso, em parte, que justifica a existência do Clube «Loja de Ideias», como sabes, e gostamos de pensar que não só não estamos sozinhos (há muita coisa a acontecer, pelo menos em Lisboa) como podemos , humildemente, contribuir para a tal «revolução das mentalidades» que recentemente expunhas.

Bom, se quiseres continuar podemos alongar a nossa troca de argumentos. É, como sabes, um previlégio e um prazer poder trocar ideias contigo, mais ainda desta forma exposta (tentei picar o Macieirinha, mas ele não se picou...) e informada. Estes temas que tratámos são, no meu ponto de vista, decisivos para tratar e analisar a política contemporanea. Espero resposta?

1 comentário:

Ricardo Revez disse...

Devo confessar que quando escrevi aquela pergunta final do post sobre o quadro do Delacroix me passou pela cabeça que não irias resistir a tentar responder-lhe...
E não me enganei.

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