Na Casa de Usher, num dos seus últimos textos, o Ricardo Revez deambula sobre um programa que a RTP 2 deu recentemente (e que, curiosamente, também vi na sua parte final) sobre o famoso quadro de Delacroix A Liberdade Guiando o Povo».
Esta pintura, relativa à Revolução de 1830, que substitui Carlos X por Luís Filipe de Orleães (que seria, por sua vez, afastado em 1848 - desta vez por uma República), procura humanizar a revolução, tornando-a mundana, acessível e reconhecível. Nela, na Revolução, é o Povo que se envolve e decide. É a gentalha, o commun people, o petit borguoise que toma armas em mãos e procura interferir directamente com o destino, liderado, idilicamente, apenas pelos ideais-tipo da Liberdade, da Igualdade e da Justiça. Esta mole humana, apenas organizada na ideia, é, muitas vezes, apenas geneticamente reactiva, actua geralmente motivada por razões económicas e políticas. Procura resolver os seus problemas imediatos (maus anos agrícolas, fomes, inflação), mas, na essência luta pela sua Liberdade (política – cívica e económica).
É esta luta pela Liberdade que torna a causa revolucionária universal. Ela torna-se, durante esta primeira fase, apenas destrutiva. Procurava destruir o «Antigo Regime», esse mundo velho aristocrático, por um novo mundo possível, concebido com novas formas políticas – a República. E uma vez garantido o acesso a esta possibilidade construtiva a revolução deixa de fazer sentido. Urge, então, construir um Estado e um sistema político que possibilite a vida em sociedade com a Liberdade e a Justiça como suas premissas. Sou muito mais americano que francês (e percebi-o agora), porque acredito na construção política e não apenas na destruição de sistemas anacrónicos e injustos.
A frequência revolucionária é, então, associada à percepção do alcance das suas medidas, nomeadamente em períodos de indefinição sistémica e estrutural. Foi assim durante todo o século XIX, enquanto o acesso político não era permitido às camadas reivindicativas da população (e apenas a estas – repare-se na história do acesso ao voto das mulheres, ou dos analfabetos).
Concluímos que a luta pela Liberdade é a luta primordial, sem a qual nada se poderá construir. Estamos de acordo com a necessidade revolucionária. Mas, uma vez conquistadas essas liberdades, para onde partir? Se a Liberdade é uma característica comum às lutas revolucionárias do século XIX (a luta pela Liberdade política e cívica), e se hoje é comummente aceite que a alcançámos, quais devem ser as causas revolucionárias de hoje? Deve a causa revolucionária servir algum outro propósito que não seja a busca de Liberdade?
Aí, Ricardo, divergimos. Eu acredito na mudança política, programática e progressista. Acredito que, uma vez construído, deve o sistema político dar respostas às necessidades sociais, políticas e cívicas dos seus cidadãos. Aí só é necessária a Política, não a Revolução.
Referes, Nessa época, quando se queria fazer progredir a civilização, levantavam-se duas ou três dúzias de barricadas na capital de França e passado uns dias o mundo pulava e avançava. Agora, com o gás lacrimogéneo e as balas de borracha, já não dá para mudar seja o que for, a não ser de canal de televisão quando algo não nos agrada.
Isto deixa-nos uma última questão: quais as barricadas que podemos erguer hoje, no início do século XXI? O que deve substituir as pedras da calçada e os barrotes de madeira? Como resistir, como mudar?
Esta pintura, relativa à Revolução de 1830, que substitui Carlos X por Luís Filipe de Orleães (que seria, por sua vez, afastado em 1848 - desta vez por uma República), procura humanizar a revolução, tornando-a mundana, acessível e reconhecível. Nela, na Revolução, é o Povo que se envolve e decide. É a gentalha, o commun people, o petit borguoise que toma armas em mãos e procura interferir directamente com o destino, liderado, idilicamente, apenas pelos ideais-tipo da Liberdade, da Igualdade e da Justiça. Esta mole humana, apenas organizada na ideia, é, muitas vezes, apenas geneticamente reactiva, actua geralmente motivada por razões económicas e políticas. Procura resolver os seus problemas imediatos (maus anos agrícolas, fomes, inflação), mas, na essência luta pela sua Liberdade (política – cívica e económica).
É esta luta pela Liberdade que torna a causa revolucionária universal. Ela torna-se, durante esta primeira fase, apenas destrutiva. Procurava destruir o «Antigo Regime», esse mundo velho aristocrático, por um novo mundo possível, concebido com novas formas políticas – a República. E uma vez garantido o acesso a esta possibilidade construtiva a revolução deixa de fazer sentido. Urge, então, construir um Estado e um sistema político que possibilite a vida em sociedade com a Liberdade e a Justiça como suas premissas. Sou muito mais americano que francês (e percebi-o agora), porque acredito na construção política e não apenas na destruição de sistemas anacrónicos e injustos.
A frequência revolucionária é, então, associada à percepção do alcance das suas medidas, nomeadamente em períodos de indefinição sistémica e estrutural. Foi assim durante todo o século XIX, enquanto o acesso político não era permitido às camadas reivindicativas da população (e apenas a estas – repare-se na história do acesso ao voto das mulheres, ou dos analfabetos).
Concluímos que a luta pela Liberdade é a luta primordial, sem a qual nada se poderá construir. Estamos de acordo com a necessidade revolucionária. Mas, uma vez conquistadas essas liberdades, para onde partir? Se a Liberdade é uma característica comum às lutas revolucionárias do século XIX (a luta pela Liberdade política e cívica), e se hoje é comummente aceite que a alcançámos, quais devem ser as causas revolucionárias de hoje? Deve a causa revolucionária servir algum outro propósito que não seja a busca de Liberdade?
Aí, Ricardo, divergimos. Eu acredito na mudança política, programática e progressista. Acredito que, uma vez construído, deve o sistema político dar respostas às necessidades sociais, políticas e cívicas dos seus cidadãos. Aí só é necessária a Política, não a Revolução.
Referes, Nessa época, quando se queria fazer progredir a civilização, levantavam-se duas ou três dúzias de barricadas na capital de França e passado uns dias o mundo pulava e avançava. Agora, com o gás lacrimogéneo e as balas de borracha, já não dá para mudar seja o que for, a não ser de canal de televisão quando algo não nos agrada.
Isto deixa-nos uma última questão: quais as barricadas que podemos erguer hoje, no início do século XXI? O que deve substituir as pedras da calçada e os barrotes de madeira? Como resistir, como mudar?
Como mudar? Envolvendo-nos. Na Política.
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