quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Reflexão natural


Ricardo,

Realmente Delecroix merece mais alguma reflexão.

Não acho que desacordes das minhas posições, pelo contrário até reforças algumas ideias. Agora, parece é não vemos olho a olho a desconstrução da tríplice aliança «Liberdade – Igualdade - Fraternidade». Para mim só a Liberdade é sujeita de atitude revolucionário.
Tu, quando respondes que Para além da Liberdade, que está conquistada, mas que, repito, não é um dado adquirido, existe a Igualdade. Deve ser esse o propósito. Não me refiro à Igualdade política, que já existe, mas à socio-económica. Não me refiro à Igualdade absoluta, utópica, mas sim à Igualdade possível, no acesso qualificado à Saúde, à Educação, à Justiça e a um emprego seguro e decentemente remunerado. São estas as novas causas. Só depois, infelizmente, será exequível passar à próxima e derradeira fase: a busca de uma verdadeira Fraternidade. Todavia, eu não defendo que façamos revoluções políticas sem mais, nem menos. Penso que devemos tentar resolver os assuntos relacionados com as desigualdades através do sistema e de uma forma gradual. Isto leva-nos à forma como eu encaro o conceito de "revolução" hoje em dia. acrescentas que também a Igualdade e a Fraternidade devem ser alvo de atenção política. Eu sei que não defendes totalmente o carácter revolucionário do acesso à conquista desses direitos, mas então concordamos, não? Só a busca da Liberdade deve ser revolucionária, não? A procura do ideal da Igualdade e da Fraternidade devem ser políticas, e não revolucionárias.

Adiante acrescentas:

2-Em circunstâncias consideradas normais, ou seja, em democracias ocidentais consolidadas, as revoluções só devem ser de cariz político e socio-económico se houver uma ameaça às liberdades das populações, ou se estas já tiverem sido destruídas ou amputadas. Penso que existe um outro tipo de revolução que ainda tem espaço nos sistemas democráticos: a das mentalidades.

Aqui concordamos. E aqui também partilho do teu ímpeto revolucionário. Também eu defendo que são necessárias revoluções nos quadros mentais que sustentam s sociedade portuguesa (e ocidental?). Mas aí já estamos num outro patamar. Já não nos referimos à revolução política – e mesmo social – que nos referíamos anteriormente. Referimo-nos à revolução mental que sedimenta todas as anteriores.

Tem piada, ontem, depois de ter escrito o tal post de diálogo contigo, foi colocar uns ímanes no frigorífico – umas frases soltas sobre política, trazidas dos EUA, que a minha irmã me ofereceu pelo Natal – e fiz esta frase «every generation needs a revolution». Pu-la acreditando nela, e porque acredito que se as revoluções políticas para mim deixaram de fazer sentido (na maioria dos casos), já as revoluções mentais escasseiam. E aí partilhamos a análise, e voltamos aos livros: o papel do intelectual, dos grandes e das pequenas revoluções (é tão importante para mim uma mudança revolucionária nos manuais escolares – na superestrutura, portanto - como uma mudança revolucionária na sala de aula – na infraestrutura).

Mas, e com isto termino, ainda acredito que o político é possível. Ainda acredito que a boa acção política – na gestão da coisa pública, na criação das condições necessárias para a boa vivência social – pode ser revolucionária pelo exemplo. Deixo uma ideia. Lisboa está desgovernada. Totalmente abandonada e desacreditada. Não será possível criar um nova equipa que governe a cidade de forma a ela reganhar o elan que já teve? Não será possível criar um programa e angariar uma equipa que possa, em 10 anos, por Lisboa novamente no caminho da modernidade? Não será possível construir programas políticos que, alicerçados na Liberdade e baseados na Igualdade almejem a Fraternidade? Eu acho que sim. Ou pelo menos assim quero pensar…

1 comentário:

Ricardo Revez disse...

Como isto está só lá vai com uma Tomada da Câmara Municipal de Lisboa... (just kidding)

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